quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Vivamos na luz

                                                 


                                     Vivamos na luz
 
Na passagem da Carta de Paulo aos Efésios (Ef 5,8-14), o Apóstolo nos coloca frente a uma escolha: luz ou trevas.
 
Viver na luz significa viver a bondade, a justiça e a verdade; mais ainda, consiste na acolhida do dom da Salvação que Deus nos oferece gratuitamente, aceitando e vivendo a vida nova que Ele nos propõe (viver na liberdade como filhos de Deus e irmãos uns dos outros).
 
De outro lado, viver nas trevas consiste em pautar a vida pelo egoísmo, orgulho e autossuficiência; viver à margem de Deus, e, consequentemente, recusar Suas propostas; prisioneiro das próprias paixões, dos falsos valores.
 
Ser batizado e viver como filhos da luz, portanto, não nos permite cruzar os braços diante da maldade, do egoísmo, da injustiça, da exploração, dos contravalores que a sociedade propõe, tornando menos bela a vida da humanidade.
 
Viver como filhos da luz exige que descruzemos os braços, abramos o nosso coração e nossas mãos, em alegres e solícitos gestos de partilha e solidariedade. Incomodar-se permanentemente com a escuridão do mundo, procurando todas as formas para torná-lo luminoso. Eis a nossa missão como batizados, discípulos missionários do Senhor.
 

Eternos aprendizes do amor divino

                                                    

Eternos aprendizes do amor divino

Reflexão sobre a passagem da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (1Cor 12, 31-13,13), sobre a fundamental virtude do Amor divino que nos move e nos impulsiona; pois sem esta, jamais viveremos a vocação profética, pois não suportaríamos o peso da cruz a ser carregada cotidianamente.

Trata-se do “hino ao amor” que já inspirou poetas e Profetas. Há quem chame esta passagem de “o Cântico dos Cânticos da Nova Aliança”, em que Paulo retrata o amor como o dom maior e eterno a ser vivido por todo aquele que segue Jesus.

O caminho do amor é o caminho mais seguro, mais acessível a todos. É o caminho insubstituível que conduz à Salvação, e este amor tem uma superioridade incontestável sobre qualquer outro carisma.

Trata-se do amor-ágape, onde não há resquícios de egoísmo, mas é o amor gratuito, desinteressado, sincero, fraterno, que se preocupa com o outro, sofre pelo outro, que procura o bem do outro sem nada esperar em troca.

O Apóstolo enumera 15 características ou qualidades do verdadeiro amor, sendo sete apresentadas de forma positiva, e as outras de forma negativa.

A passagem pode ser dividida em três partes:

1 - O confronto entre a caridade e os carismas – (13,1-3).
2 - As características principais e operativas da caridade – 13,4-7.
3 - A perfeição da caridade e sua perenidade – 13,8-13.

Reflitamos:

- Qual é a qualidade do amor que vivemos na comunidade cristã?
- Vivemos o amor cristão, o amor-ágape, o amor generoso, desinteressado e por pura gratuidade?

Concluindo: O amor é o “motor” de nossa missão, o amor-ágape: Cristo que ama em nós. Somos vocacionados para o amor, para a profecia, sob a ação do Espírito Santo.

Se inflamados por este amor, continuaremos nosso caminho vivendo a vocação profética, sendo no mundo luz, da terra o sal, sem jamais perder o sabor.

As perigosas tentações na vida cristã

                                                          


As perigosas tentações na vida cristã

 

Na Santa Missa do Crisma, de 06 de abril de 2023, o Papa Francisco, na homilia, refletiu sobre o Ministério Presbiteral, partindo do versículo do Evangelho de Lucas (Lc 4,18) – “O Espírito do Senhor está sobre mim”, anunciado na passagem de Isaías (Is 61,1).

Apresentou três perigosas tentações, que podem se fazer na vida de todo presbítero:

“Três perigosas tentações: a da acomodação, em que a pessoa se contenta com o que pode fazer; a da substituição, em que se tenta «recarregar» o espírito com algo diferente da nossa unção; a do desânimo – a mais comum –, em que, insatisfeitos, se avança por inércia.”

Acomodação, substituição e desânimo. Quem destas tentações está imune, Presbítero ou não?

À luz destas três tentações, uma breve reflexão:

Na vida de comunidade, na vivência da fé, todos podemos cair na tentação da “acomodação”, contentando-nos com o que já sabemos, ou com o que fazemos, sem atenção à Palavra do Senhor, que nos convida a lançar as redes em águas mais profundas (cf. Lc 5,1-11).

Acomodar-se às atividades restritas nos espaços internos da comunidade, ou da própria pastoral, sem maiores compromissos com a realidade social em que se encontra inserido.

Acomodar-se e se tornar indiferente, ou até mesmo surdo, aos clamores que brotam das dores de quem padece a fome, o abandono ou qualquer outra forma que vilipendia a existência.

Acomodar-se numa pastoral de manutenção e conservação, sem abertura ao Espírito, que nos acena para a necessária conversão, para maior proximidade, ternura, compromissos solidários e compaixão.

Acomodar-se numa postura eclesial pouco ou nada sinodal, sem a coragem de se pôr a caminho juntos, e enfrentar as dores possíveis de tantas pedras que se possam encontrar no caminho.

Na vida de comunidade, na vivência da fé, todos podemos cair na tentação da “substituição”, com práticas até mesmo de valor duvidoso, e que pouco ou nada possam reverter em mais vida e dignidade para si e para toda a comunidade.

Substituir o essencial pelo acessório, o eterno pelo passageiro, o verdadeiro esplendor pela luz que se apaga.

Substituições que aparentemente preenchem o tempo, mas mergulham aos poucos num vazio sem sentido, até mesmo irreversível.

Na vida de comunidade, na vivência da fé, todos podemos cair na tentação do “desânimo”e com ele, a inércia, o imobilismo, a perda do esplendor da graça do batismo; o não mais exalar do odor do amor, no dia da unção do crisma (no Sacramento da Crisma ou da Ordenação), compromisso um dia assumido; a não mais a santificação de si e do mundo; a não busca do aperfeiçoamento espiritual.

Desânimo, apatia, indiferença, vacilações na fé, esmorecimentos da esperança, e esfriamento da caridade, mais que indesejáveis, com consequências danosas e indizíveis.

Todos temos que lutar contra estas tentações, em todo o tempo, reavivando a chama do primeiro amor (2 Tm 1,6), viver a graça da unção (Lc 4,18).

Ouvir em todo o instante o Senhor, que nos olha com olhar terno e cheio de amor e compaixão:“Vem e segue-me” (Mt 19,21).

Em poucas palavras...

 


O Mistério do perdão

“A liturgia bizantina tem várias fórmulas de absolvição, em forma deprecativa, que exprimem admiravelmente o mistério do perdão:

«Deus, que pelo profeta Natan perdoou a David, quando ele confessou os seus próprios pecados, a Pedro depois de ele ter chorado amargamente, à pecadora depois de ela ter derramado lágrimas a seus pés, ao publicano e ao pródigo, este mesmo Deus vos perdoe, por intermédio de mim pecador, nesta vida e na outra, e vos faça comparecer, sem vos condenar no seu temível tribunal: Ele que é bendito pelos séculos dos séculos. Amém»” (1).

 

 

1) Euchológion tò méga (Atenas 1992) p. 222 – citado no parágrafo n. 1481 do Catecismo da Igreja Católica

A justiça social

                                                       

A justiça social

Uma síntese sobre a “Justiça Social”, apresentada nos parágrafos n.1928-1948 do Catecismo da Igreja Católica.

A justiça social é garantida pela sociedade, quando esta realiza as condições que permitem às associações e aos indivíduos obterem o que lhes é devido, segundo a sua natureza e vocação.

Ela, deste modo, está ligada ao bem comum e ao exercício da autoridade, tendo em vista o respeito pela pessoa humana:

A justiça social só pode alcançar-se no respeito da dignidade transcendente do homem. A pessoa constitui o fim último da sociedade, que está ordenada para ela: a defesa e promoção da dignidade da pessoa humana ‘foram-nos confiadas pelo Criador, tarefa a que estão rigorosa e responsavelmente obrigados os homens e as mulheres em todas as conjunturas da história’’”. (n.1929).

A falta deste respeito à pessoa humana, leva ao uso da força e violência para o alcance da obediência dos membros da sociedade.

Portanto, o respeito pela pessoa humana passa pelo princípio: “Que cada um considere o seu próximo, sem qualquer exceção, como ‘outro ele mesmo’, e zele, antes de mais, pela sua existência e pelos meios que lhe são necessários para viver dignamente” (n.1931).

Há uma igualdade de dignidade entre todos os homens e mulheres, porque criados à imagem do Deus único, dotados de uma idêntica alma racional, todos os homens têm a mesma natureza e a mesma origem.

Portanto, todos foram resgatados pelo sacrifício de Cristo, portanto, chamados a participar da mesma Bem-Aventurança divina.

Deste modo, “toda a espécie de discriminação relativamente aos direitos fundamentais da pessoa, quer por razão do sexo, quer da raça, cor, condição social, língua ou religião, deve ser ultrapassada e eliminada como contrária ao desígnio de Deus” (n.1935).

Quanto às diferenças entre as pessoas, fazem parte do desígnio de Deus, que quer que precisemos uns dos outros e devem estimular a caridade.

A igual dignidade das pessoas humanas exige esforços no sentido de reduzir desigualdades sociais e econômicas excessivas; conduzindo ao desaparecimento das desigualdades iníquas.

A solidariedade humana ou o princípio da solidariedade, também enunciado sob o nome de “amizade” ou de “caridade social”, é uma exigência direta da fraternidade humana e cristã:

“A solidariedade manifesta-se, em primeiro lugar, na repartição dos bens e na remuneração do trabalho. Implica também o esforço por uma ordem social mais justa, em que as tensões possam ser resolvidas melhor e os conflitos encontrem mais facilmente uma saída negociada’ (n.1940).

Há uma necessidade de se resolver os problemas socioeconômicos, com a ajuda de todas as formas de solidariedade: solidariedade dos pobres entre si, dos ricos com os pobres, dos trabalhadores entre si, dos empresários e empregados na empresa; solidariedade entre as nações e entre os povos.

E neste sentido, a solidariedade internacional é uma exigência de ordem moral, e dela depende em parte, a paz do mundo.

A solidariedade é uma virtude eminentemente cristã, e esta virtude vai além dos bens materiais, pois ao difundir os bens espirituais da fé, a Igreja favoreceu, por acréscimo, o desenvolvimento dos bens temporais, a que, muitas vezes, abriu novos caminhos.

Assim se verificou, ao longo dos séculos, a Palavra do Senhor: “Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo" (Mt 6, 33).

Conclui com as Palavras de PIO XII em seu discurso de 1º de junho de 1941:

«Desde há dois mil anos que vive e persevera na alma da Igreja este sentimento, que levou e ainda leva as almas até ao heroísmo caridoso dos monges agricultores, dos libertadores de escravos, dos que cuidam dos doentes, dos mensageiros da fé, da civilização, da ciência a todas as gerações e a todos os povos, em vista a criar condições sociais capazes de a todos tornar possível uma vida digna do homem e do cristão” (n.1942).

Tríplice Mistérios de Jesus Cristo

 


Tríplice Mistérios de Jesus Cristo

À luz dos parágrafos 516-518, reflitamos sobre os três traços comuns dos Mistérios de Jesus Cristo, nosso Salvador.

O primeiro Mistério é a Revelação do Pai: considerando que toda a Sua vida é revelação do Pai por Suas palavras, atos, silêncios, sofrimentos, modo de falar e de ser.

Ao Se encarnar no ventre de Maria e habitando entre nós (Jo 1,14), veio para cumprir plenamente a vontade do Pai (Hb 10,5-7).

Deste modo, pôde afirmar: “Quem Me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9); e o Pai pôde no-Lo apresentar: “Este é o meu Filho predileto: escutai-O” (Lc 9, 35), de modo que os pequenos pormenores de Seus Mistérios manifestam o imenso amor que Deus tem para conosco (1 Jo 4,9).

O segundo Mistério é o de Redenção: ela nos vem pelo Seu Sangue na Cruz (Ef 1,7; 1 Pd 1,18-19), mas revelado por Sua Encarnação, pela qual, fazendo-Se pobre, nos enriquece com a sua pobreza (2Cor 8,9); na vida oculta que, pela sua obediência, repara a nossa insubmissão Lc 2,51); na palavra que purifica os seus ouvintes (Jo 15,3); nas curas e expulsões dos demônios, pelas quais “toma sobre Si as nossas enfermidades e carrega com as nossas doenças” (Mt 8, 17: Is 53,4); na ressurreição, pela qual nos justifica (Rm 4,25).

O terceiro Mistério é de Recapitulação: tudo o que Jesus fez, disse e sofreu tinha por fim restabelecer o homem decaído na sua vocação originária: “Quando Ele encarnou e Se fez homem, recapitulou em Si a longa história dos homens e proporcionou-nos, em síntese, a salvação, de tal forma que aquilo que havíamos perdido em Adão – isto é, sermos imagem e semelhança de Deus – o recuperássemos em Cristo Jesus” (Santo Irineu de Lion), e ainda –“Aliás, foi por isso que Cristo passou por todas as idades da vida, restituindo assim a todos os homens a comunhão com Deus” (idem).

Contemplemos o tríplice Mistério de Jesus: Revelação, Redenção e Recapitulação, e por Ele termos sidos chamados para a missão evangelizadora, para firmamos os pilares da evangelização (Palavra, Eucaristia, Caridade e Ação Missionária).

Contemplemos e glorifiquemos o divino Mistério de Jesus, que cremos e professamos não apenas com nossos lábios, mas com o coração e com toda a nossa vida. Amém.

O Perdão Divino cura as feridas de nosso pecado

                                                              

O Perdão Divino cura as feridas de nosso pecado

Sejamos enriquecidos e iluminados com as palavras do Bispo Santo Agostinho (séc. V). 

Trata-se de um comentário ao Salmo 31, muito oportuno para refletirmos sobre nossa condição limitada, pecadora, necessitada de misericórdia e cura divina.

Se não reconhecemos nossa condição pecadora é como um paciente que “indo ao médico para ser curado, perdesse o juízo e a consciência e mostrasse os membros sadios, ocultando os enfermos. Deus é quem deve vendar as feridas, não tu; porque se, por vergonha, queres ocultá-las com bandagens, o médico não te curará. Deves deixar que seja o médico quem te cure e pense as feridas, porque ele as cobre com medicamentos.

Enquanto com as bandagens do médico as chagas se curam, com as bandagens do doente ocultam-se. E a quem pretendes ocultá-las? Àquele que conhece todas as coisas”.

A procura do perdão no Sacramento da Penitência exigirá de nós, antes de tudo, reconhecimento, tomada de consciência do mal, do pecado que realizamos. Somado a isto o arrependimento, a contrição, o bom propósito de correção e superação.

É preciso que compreendamos a beleza do Sacramento da Penitência instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo em várias passagens do Evangelho:

1.º Contrição – A palavra “contrição” significa fratura ou despedaçamento, como quando uma pedra é esmagada e reduzida a pó.  Trata-se de um desgosto da alma, pelo qual se detesta os pecados cometidos e se propõe não os tornar a cometer no futuro. Dá-se o nome de contrição à dor dos pecados, para significar que o coração duro do pecador se despedaça pela dor de ter ofendido a Deus.

2.º Confissão  é o momento da acusação distinta dos nossos pecados ao confessor (Sacerdote), para dele recebermos a absolvição e a penitência. Chama-se também acusação porque não deve ser apenas uma narração indiferente, mas uma verdadeira e dolorosa manifestação dos próprios pecados.

3.º Satisfação – é a boa oração ou outra boa obra que o confessor apresenta ao pecador em expiação dos seus pecados.

4.º Absolvição – É o momento que o Sacerdote, através de fórmula própria, pronunciada em nome de Jesus Cristo, absolve e perdoa o pecador.

Tendo oportunidade, como nos ensina a Igreja e a fé que professamos, procuremos  um Presbítero para uma frutuosa confissão de nossos pecados. 

O pecado nos fragiliza, o perdão nos cura e renova.

Reconheçamos, pois, nossa condição pecadora!


Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG