sexta-feira, 4 de julho de 2025

O nosso sim de cada dia

                                                         

O nosso sim de cada dia

Há pequenas grandes palavras em nossa vida:
mãe, pai, amor, fé, sim e não...

Sim palavra tão pequena, mas tão densa de conteúdo.
Palavra tão dita, mas muitas vezes desdita.

Palavra tão sonora, mas às vezes transformada em desagradável ruído.

Palavra sagrada, tantas vezes pronunciada, mas muitas vezes esquecida...

É preciso repensar os nossos sins. 
Tantos sins que viraram nãos, tantos nãos que viraram sins. 
Sins que não foram dados, que foram adiados, covardemente calados, e que não poderiam ter sido omitidos.
Sins de imperativos revigoramentos!

Nãos que deveriam ser dados e para sempre confirmados.
Nãos que deveriam ser revogados e nunca existidos...

Não a Deus dado no Paraíso, pecado introduzido,
arrogância, afastamento, onipotência, diálogo rompido,
presunção assumida, amizade perdida...

Mas o sim do Amor de Deus falou mais alto que o não da humanidade, de nossos primeiros pais, ontem, hoje e sempre.

O sim do Amor de Deus, anunciado e cantado pelos profetas, rezado pelos salmistas, visibilizado em Jesus, pleno e indefectível sim a Deus: Amor que ama até o fim!

Fidelidade vivida, comprovada, testemunhada com o Sangue derramado. 
Que mais poderia por nós fazer, o Divino Amado? 
Sim pelo Pai acolhido e para sempre confirmado,
quando à Sua direita o Filho foi exaltado, glorificado.

Sim de um Deus Encarnado, que para sempre fosse amado,
adorado, obedecido: “Tenhamos em nós os mesmos sentimentos que existem em Cristo Jesus” (Fl 2,5).

Sim que venceu as correntes do inferno e do pecado; Satanás vencido. Vida nova, plena de graça de mais belo e suave sentido.
Sim! Palavra tão pequena e tão importante!

Seja para o forte, seja para o fraco; seja para o hesitante, seja para o decidido; seja para o tímido, seja para o extrovertido; temerosos e corajosos; batizados ou não batizados, mas de boa vontade e de bons propósitos movidos!

Continuemos refletindo sobre outros tantos sins:
O SIM de Maria no Mistério da Encarnação de Jesus e sua participação da obra da Redenção da Humanidade.

O sim dado no dia de nosso Batismo, no dia da primeira Eucaristia, no dia da Crisma, no casamento celebrado diante do Altar Sagrado.

O sim dado num dia de Ordenação Diaconal,   Presbiteral e Episcopal.
Sim que foi dado a um amigo em promessa de lealdade, fidelidade, solidariedade.

Sim que se assumiu em compromissos éticos e profissionais.
Sim dado por tantos políticos em promessas que hão de se cumprir. 
Sim nas pequeninas coisas para que o sejamos fiéis nas grandes.

Sim a compromissos firmados, promessas e juras feitas...

A Eternidade não se alcança pelas tantas promessas que se faz,
mas pelo sim amorosamente esforçado e dedicado, 
intensamente vivido.

Disse Jesus que os céus serão abertos para quem a
Ele se voltou e Seu Projeto aceitou.

Quem antes era um não a Deus,
n'Ele encontrou nova possibilidade,
um sim para o serviço da vinha ressoou...

Sumos sacerdotes, anciãos no povo, pretensamente justos,
sim a Lei, o Verbo recusou, a Ele se fechou.

Ainda mais: O crucificou...
Quem deveria ser sim a Deus em nosso meio,
um cruento não se tornou.

Tentaram calar o Sim do Amor de Deus,
mas o não da maldade foi vencido, o veneno foi expelido.
Da Árvore da Vida, o sim da vida mais forte
do que o não da morte falou:
Cristo, Verbo de Deus, na
Força e Vida do Espírito,
O Pai Ressuscitou...

Sim! Palavra tão pequena...

Rezando com os Salmos - Sl 61 (62)

 


Somente em Deus confiamos e esperamos

“–1 Ao maestro do coro. Sobre Iditun. Salmo de Davi.
–2 Só em Deus a minha alma tem repouso,
porque d’Ele é que me vem a salvação!
–3 Só Ele é meu rochedo e salvação,
a fortaleza, onde encontro segurança!

–4 Até quando atacareis um pobre homem,
todos juntos, procurando derrubá-lo,
– como a parede que começa a inclinar-se,
ou um muro que está prestes a cair?

–5 Combinaram empurrar-me lá do alto,
e se comprazem em mentir e enganar;
– enquanto eles bendizem com os lábios;
no coração, bem lá do fundo, amaldiçoam.

–6 Só em Deus a minha alma tem repouso,
porque d’Ele é que me vem a salvação!
–7 Só Ele é meu rochedo e salvação,
a fortaleza, onde encontro segurança!

–8 A minha glória e salvação estão em Deus;
o meu refúgio e rocha firme é o Senhor!
=9 Povo todo, esperai sempre no Senhor,
e abri diante d’Ele o coração:
nosso Deus é um refúgio para nós!

–10 Todo homem a um sopro se assemelha,
o filho do homem é mentira e ilusão;
– se subissem todos eles na balança,
pesariam até menos do que o vento:

–11 Não confieis na opressão, na violência
nem vos gabeis de vossos roubos e enganos!
– E se crescerem vossas posses e riquezas,
a elas não prendais o coração!

=12 Uma palavra Deus falou, duas ouvi:
"O poder e a bondade a Deus pertencem,
pois pagais a cada um conforme as obras".

O Salmo 61(62) nos convida a colocar em Deus nossa esperança.

O salmista vive uma realidade de perseguição, mas coloca toda a confiança em Deus, que é o Seu apoio e força. Deste modo, exorta o povo a confiar em Deus e não nas ilusórias demonstrações de forças humanas (1).

De fato, a esperança deve estar em Deus, pois ela não nos decepciona (Rm 5,5), e tão somente n’Ele encontramos a verdadeira paz.

Em outra passagem, assim falou o Apóstolo Paulo aos Romanos:

“Que o Deus da esperança vos encha de toda alegria e paz em vossa fé. Assim, vossa esperança abundará, pelo poder do Espírito Santo (Rm 15,13).

Coloquemos também em Deus toda a nossa confiança e esperança. Amém.

(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – p.776


“Cria em mim, ó Deus, um coração puro”

                                                                     

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro

Reflitamos sobre qual o sacrifício querido por Deus, ou seja, um espírito contrito, conforme veremos no Sermão do Bispo e Doutor Santo  Agostinho (Séc. V).

Reconheço o meu pecado, diz Davi. Se eu o reconheço, perdoa-me, Senhor! Mesmo procurando viver bem, de modo algum tenhamos a presunção de ser sem pecado. Que demos valor à vida em que se pede perdão. Os homens sem esperança, quanto menos atentam para os próprios pecados, com tanto maior curiosidade espreitam os alheios. Procuram não o que corrigir, mas o que morder. Não podendo escusar-se, estão prontos a acusar.

Não foi este o exemplo de rogar e de satisfazer a Deus que Davi nos deu, dizendo: Porque reconheço meu crime e meu pecado está sempre diante de mim. Davi não estava atento aos pecados alheios. Caía em si, não se desculpava, mas em si mesmo penetrava e descia cada vez mais profundamente. Não se poupava, e por isso podia confiadamente pedir para si o perdão.

Queres reconciliar-te com Deus? Repara como procedes contigo, para que Deus te seja propício. Presta atenção ao salmo, onde lemos: Porque se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente; não te causam prazer os holocaustos. Então ficarás sem sacrifício para oferecer? Nada oferecerás? Com nenhuma oblação tornarás Deus propício? Que disseste? Se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente; não te causam prazer os holocaustos. Continua, escuta e dize: Sacrifício para Deus é o espírito contrito; o coração contrito e humilhado Deus não o despreza. Rejeitado aquilo que oferecias, encontraste o que oferecer. Como os antepassados, oferecias vítimas de animais, ditos sacrifícios: Se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente. Não queres mais este gênero de sacrifícios, no entanto, procuras um sacrifício.

Não te causam prazer os holocaustos. Se não tens prazer com os holocaustos, ficarás sem sacrifício? De modo algum. Sacrifício para Deus é o espírito contrito; o coração contrito e humilhado Deus não o despreza. Tens o que oferecer. Não examines o rebanho, não aprestes navios e não atravesses as mais longínquas regiões em busca de perfumes. Procura em teu coração aquilo de que Deus gosta. O coração deve ser esmagado. Por que temes que o esmagado pereça? Lê-se aqui: Cria em mim, ó Deus, um coração puro. Para que seja criado o coração puro, esmague-se o impuro.

Sintamos aborrecimento por nós mesmos quando pecamos, porque os pecados aborrecem a Deus. Já que não estamos sem pecado, ao menos nisto sejamos semelhantes a Deus: o que lhe desagrada, desagrade também a nós. Em parte tu te unes à vontade de Deus, por te desagradar em ti aquilo mesmo que odeia aquele que te fez”.
Retomo parte do Sermão:

“Procura em teu coração aquilo de que Deus gosta. O coração deve ser esmagado. Por que temes que o esmagado pereça? Lê-se aqui: Cria em mim, ó Deus, um coração puro. Para que seja criado o coração puro, esmague-se o impuro.

Sintamos aborrecimento por nós mesmos quando pecamos, porque os pecados aborrecem a Deus.”

No seguimento do Senhor, como discípulos missionários Seus, precisamos sempre rever nossos pensamentos, palavras, ações ou mesmo omissões.

Vigilantes para perceber o que possa criar raízes em nosso coração. e que não é do agrado de Deus.

Coragem de esmagar o que for preciso dentro dele, para que nosso coração seja criado por Deus, como um coração puro, em que todas as impurezas que não correspondam ao Evangelho sejam purificadas, e assim, vivamos segundo o espírito e não segundo a carne, como nos falou o Apóstolo aos Romanos (Rm 8,1-21).

Urge que sintamos aborrecimento por nós mesmos quando pecamos, e de coração contrito e humilhado, voltarmos para Deus, que é rico em misericórdia, com novas posturas, novo e sagrados compromissos.

Da mesma forma, aceitarmos o amoroso convite do Senhor, que revela a inefável bondade divina:

“Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para as vossas almas, pois meu jugo é suave e meu fardo é leve” (Mt 11,28-30).

Nada pode nos paralisar

                                                     

Nada pode nos paralisar

Com a passagem do Evangelho da quinta-feira da 13ª semana do Tempo Comum (Mt 9,1-8), refletimos sobre o  poder que Jesus tem, não somente de perdoar os pecados da humanidade, bem como de libertá-la das possíveis paralisias físicas, e também de outras com maiores consequências: a paralisia espiritual.

Jesus é a manifestação da misericórdia de Deus que pode ser experimentada de diversos modos, e um deles é através do Sacramento da Penitência com uma sincera, válida, e frutuosa confissão junto a um Presbítero da Igreja.

Há aqueles que não gostam de se confessar, por vezes pela dificuldade de como e o que confessar. Evidentemente, que podemos confessar diretamente com Deus, mas não podemos prescindir e ignorar a forma salutar da confissão individual; quando o penitente reconhece a sua miséria, com seus limites e imperfeições, e curva-se diante da misericórdia de Deus.

Confessar é no mínimo um ato de humildade e de coragem; de colocar-se diante de si mesmo, do outro e de Deus, numa abertura necessária para reconhecer os pecados cometidos, as faltas que possam ter prejudicado os relacionamentos com Deus e com o outro.

Há uma forma de paralisia que brota da ausência do perdão, matando amizades, amores, convivências, lares, projetos, sonhos, conquistas...

Reflitamos sobre a misericórdia de Deus e a nossa realidade incontestável de pecadores que somos, assim como sobre as paralisias das quais temos que ser libertos.

Quanto ao paralítico curado, como não pensar nas múltiplas manifestações de paralisias das quais podemos estar acometidos?

Muitos pelas dificuldades enfrentadas, e a maior delas, a morte de um ente querido, são levados até mesmo à perda do sentido e da razão de viver.

Não podemos paralisar nem mesmo diante da morte de um ente querido, ainda que esposo/esposa, mãe/pai, filho/filha, irmão/irmã, e mesmo um amigo que tenhamos apreço como a um irmão.

Os Apóstolos não ficaram paralisados diante da morte de Jesus, ao contrário, fazendo a experiência de Sua Ressurreição, contemplando Sua nova presença, redimensionaram e reorientaram os passos da Igreja nascente.

A fé na Ressurreição, a força do Ressuscitado rompe as portas fechadas do medo que nos paralisa, fragiliza, e nos faz sucumbir em possíveis mediocridades dos recuos.

Oremos:

Ó Deus, fonte de Misericórdia,
Suplico Vosso perdão,
Reconheço meus pecados, em pensamentos,
palavras, atos e omissão.

Coloco-me em Vossas mãos,
Que Vossa misericórdia penetre as fibras mais íntimas do meu ser.
Renovai-me, Senhor, revesti-me com Vosso Amor.
Fazei-me uma nova criatura, para a Vossa imagem melhor refletir.

Libertai-me, Senhor, de toda e qualquer paralisia,
Que me impeça sinceros compromissos com o Vosso Reino.
Que Vossa Palavra ressoe no mais profundo de mim,
Para que a vocação profética do Batismo se reacenda.

Que me alegre ser Vossa presença, Vossa voz,
A tantos que precisarem de Vossa Palavra ouvir.
Quero tão apenas, Senhor, por Vós ser perdoado e liberto.
E a quem precisar ser um sinal de Vossa misericórdia e poder. Amém! 

Em poucas palavras...

 


“O Reino de Deus [...] é justiça, paz e alegria no Espírito Santo”

“«O Reino de Deus [...] é justiça, paz e alegria no Espírito Santo» (Rm 14, 17). Os últimos tempos em que nos encontramos são os da efusão do Espírito Santo. Trava-se desde então um combate decisivo entre «a carne» e o Espírito (Gl 5,16-25):

«Só um coração puro pode dizer com confiança: "Venha a nós o vosso Reino". É preciso ter passado pela escola de Paulo para dizer: "Que o pecado deixe de reinar no vosso corpo mortal" (Rm 6, 12). Quem se conserva puro nos seus atos, pensamentos e palavras é que pode dizer a Deus: "Venha a nós o vosso Reino!"» (São Cirilo de Jerusalém).” (1)

 

(1)Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n.2819

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Rezando com os Salmos - Sl 60 (61)

 


A oração e o clamor do justo sobem aos céus

 
“–1 Ao maestro do coro.
Com instrumentos de corda. De Davi.
 
–2 Escutai, ó Senhor Deus, minha oração,
atendei à minha prece, ao meu clamor!
–3 Dos confins do universo a Vós eu clamo,
e em mim o coração já desfalece.
– Conduzi-me às alturas do rochedo,
e deixai-me descansar nesse lugar!
–4 Porque sois o meu refúgio e fortaleza,
torre forte na presença do inimigo.
–5 Quem me dera morar sempre em Vossa casa
e abrigar-me à proteção de Vossas asas!
–6 Pois ouvistes, ó Senhor, minhas promessas,
e me fizestes tomar parte em Vossa herança.
–7 Acrescentai ao nosso rei dias aos dias,
e seus anos durem muitas gerações!
–8 Reine sempre na presença do Senhor,
Vossa verdade e Vossa graça o conservem!
–9 Então sempre cantarei o Vosso nome
e cumprirei minhas promessas dia a dia.”
 
O Salmo 60(61) é a oração do exilado; uma oração do justo que espera a vida eterna (Santo Hilário):
 
“No meio de sua angústia, um israelita exilado eleva seu clamor, pensando na sombra protetora de Deus (v.5), que habita no templo de Jerusalém. Pede confiante uma longa vida, com o favor de Deus.” (1)
 
Subam a Deus também nossos clamores cotidianos, confiando na bondade, onipotência e força divinas que vêm em socorro de nossas fraquezas.
 
Como Igreja, peregrinando na esperança de um novo céu e nova terra, coloquemo-nos abertos e sensíveis no caminho da conversão e do renovado compromisso com Jesus, para que sejamos uma Igreja testemunha e, para tanto, que antes se faça discípula.
 
Urge que sejamos uma Igreja verdadeiramente Eucarística, nutrida pela  Palavra de Deus, renovando e empenhando toda sua força e vida, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para assim evangelizar e deixar se evangelizar, na mais perfeita expressão e concretização das virtudes divinas (fé, esperança e  caridade)
 
(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – pág. 776

Muito mais do que uma fábula

                                                          

Muito mais do que uma fábula

Houve uma reunião com todos os animais, e cada um deles deveria dizer o que tinha de específico, que o identificasse diante dos humanos, e que despertasse o coração até mesmo dos mais insensíveis. Foi lavrada uma ata para que tomássemos conhecimento.

Vamos então ouvir a ata:
“Aos vinte dias do mês de julho de dois mil e onze, começou a reunião com todos os animais da floresta. Após longa espera pelos últimos, foi dada a palavra a quem quisesse dizer o que o caracteriza cada um diante dos olhos humanos.

O primeiro a tomar a palavra foi o coelho:
— “Sou ágil, rápido. Nada pode me acompanhar. Admiram-me pela rapidez e também pela fertilidade. Claro que tenho também outras qualidades, como também limitações. Nenhum animal é perfeito, bem sabemos.”

O segundo foi a águia:
— “Faço voos altos. Contemplo as coisas lá de cima. Minhas asas me sustentam em voos invejáveis. Muitos ficam olhando para minhas manobras. Como o coelho, também tenho outras qualidades; meu processo de renovação e prolongamento da vida, mas também tenho limitações. Nenhum animal é perfeito, bem sabemos.”

Em seguida, um peixe por um momento apontou no mar e gritou bem alto:
— “Também faço parte desta reunião. Não posso ficar muito tempo fora da água, terei que ser breve. Mergulho nas profundezas do mar, conheço coisas que muitos animais não conhecem. Não tenho tempo para descrevê-las, quanto mais profundo o mergulho mais coisas posso revelar.”

Quando começou a falar de suas limitações (e  uma delas é não poder ficar muito tempo fora da água), mergulhou novamente no mar. Se tempo tivesse com certeza diria: “nenhum animal é perfeito, nós peixes, também aqui o sabemos”.

Depois de um longo silêncio a tartaruga falou de sua especificidade, de como é conhecida pelos humanos, sua lentidão e sua vida longa (décadas). Mas a reunião tinha tempo limitado, e como havia muitos animais, nem todos puderam falar. A tartaruga nem tempo teve de falar sobre suas naturais limitações; mal pode se esquivar como os demais e nos ensinar dizendo: “Nenhum animal é perfeito, bem sabemos”.

Não havendo mais tempo para outros pronunciamentos, foi encerrada a reunião e para constá-la...”

Fábula? Muito mais do que uma fábula.
Como Igreja, temos muito que aprender com esta fábula. Somos diferentes, como os animais nos falaram. Temos nossas especificidades, nossas virtudes e limites. As diferenças se tornam nossas riquezas. Um só é o Espírito, diversos os dons, ministérios e carismas como nos falou o Apóstolo Paulo (1Cor 12 e Ef 4).

Assim é a Igreja, uma comunidade de eleitos, cada um podendo dar o melhor de si com amor para que o Reino de Deus aconteça.

Temos que aprender com o coelho a agilidade e a fecundidade. Há coisas que não podem ser morosas — o amor, a caridade, a solidariedade, o perdão, a partilha, a alegria, a comunhão, a fidelidade, a doutrina... Fecundidade do Espírito — quando a Ele nos abrimos não nos faltam respostas aos desafios da pós-modernidade. Urge que sejamos fecundados pela ação do Espírito para fazer frutificar a Semente do Evangelho.

Aprender com a águia a fazer voos mais altos, sondando as alturas divinas com a ajuda do Espírito. Buscar as coisas do alto onde Deus Se encontra (Cl 3,1). Buscar o amor, a verdade, a justiça, o direito, a paz, a fraternidade, a liberdade, o respeito, a defesa da vida e sua beleza sacral, bem como da Terra, a nossa Casa Comum, numa necessária ecologia integral.

Como os peixes, mergulhar nas profundezas dos Mistérios Divinos. Mergulhar profundamente no Mistério do Amor Trinitário, como diz aquele belíssimo canto “quero mergulhar nas profundezas do Espírito de Deus, descobrir suas riquezas, em meu coração...”. Fazer o mais desafiador e necessário mergulho dentro de nós mesmo para Deus encontrar. Afinal, Ele quis habitar no mais profundo de nós; somos Seu templo, Sua morada, e Ele o nosso mais Belo Hóspede...

Aprender com as tartarugas! “Mas é lenta demais”, dirão. Mas assim é a Igreja, assim são as “coisas” divinas, assim é o Reino de Deus como muito bem vemos nas Parábolas de Jesus (Mt 13) e no Salmo 85. Deus é assim conosco: lento na ira, paciente e misericordioso.

Ele espera pacientemente nossa conversão, pois somos lentos em construir vínculos verdadeiramente fraternos, lentos ao perdoar, lentos em compreender as imperfeições do outro, como se fossemos a medida da perfeição.

Paciência, pois o joio e o trigo crescem juntos (cf. Mt 13,24-30) e Deus, no tempo oportuno, fará a colheita, ou ainda, fará a separação dos peixes bons e ruins... Não nos cabe julgar, rotular, classificar, excluir ninguém da Misericórdia e Salvação Divina.

Acolhida a fábula, poderíamos nos colocar em atitude de revisão de nosso caminhar.

Reflitamos:

- O que ela nos diz?
- Em que temos que nos converter e melhorar?

Precisamos ter coragem para olharmos para nós mesmos, para nossa comunidade e, com misericórdia, fazermos as mudanças necessárias para melhor o Reino servir, a ponto de podermos dizer:

O Reino de Deus é nossa maior riqueza, nossa mais bela pérola, nosso mais belo tesouro...”. 

Quem sou eu

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