terça-feira, 3 de setembro de 2024
Sagrada Escritura: indispensável fonte de espiritualidade
Sagrada Escritura: indispensável fonte de espiritualidade
Como Igreja, dedicamos o mês de setembro à Sagrada Escritura, dada sua importância em todo o tempo.
A Bíblia é a Palavra que irradia luz; é Pão que alimenta; Água cristalina para a sede de vida nova e amor saciar; Boa-Nova para o mundo reencantar e reinventar, e horizonte inédito poder encontrar.
O Papa São João Paulo II, no início do seu pontificado, disse: “Cristo Se faz presente pela Sua Palavra proclamada na assembleia e que é comentada na homilia: Tal Palavra deve ser ouvida com fé e assimilada na oração. Tudo isto há de resultar da dignidade do Livro e do lugar escolhido para a proclamação da mesma Palavra de Deus, da apresentação do leitor e da consciência que ele demonstra de sentir porta-voz de Deus diante de seus irmãos”.
O Bispo e Doutor da Igreja, Santo Agostinho, explicitou todo o esplendor e sua importância da mesma em nossa vida: “A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.
A Sagrada Escritura ajuda-nos a decifrar o mundo, com seus segredos, mistérios e desafios; buscar respostas para as questões humanas; alento nas questões que nos pedem esperança; certeza nas coisas que nos pedem unidade; instrumento precioso e indispensável no alimentar da caridade.
A Palavra de Deus lida, meditada e vivida, aponta novos caminhos, alarga horizontes mesquinhos; rompe o barulho da pós-modernidade, levando-nos ao mergulho no amor da Trindade.
Ouvida no silêncio, para melhor Deus escutar, é a Palavra útil, oportuna e necessária, para instruir, corrigir, animar e exortar.
A Sagrada Escritura nos devolve o olhar da fé e da contemplação: quando muitos em mais nada acreditam, ela emerge renovando a esperança, contra toda esperança humana.
Lida na perspectiva da fé, podemos transpor montanhas, inaugurar novos tempos e novos espaços; criar e fortalecer elos de comunhão, solidariedade, perdão, refazendo nossos sonhos.
Com ela deslumbramos o inédito no mundo, sem olhares pessimistas e derrotistas; e assim firmamo-nos na âncora da esperança – Jesus Cristo, que refaz nossas forças para o bom combate da fé.
Seja a Sagrada Escritura acolhida no mais profundo de nosso coração, para contemplarmos os mistérios de Deus, na busca constante e incansável de um novo olhar.
A Sagrada Escritura no coração enraizada, acompanhada de gestos concretos, transforma a realidade numa grande revelação de Deus: a Palavra que tem germe de transformação, força de mudança, acompanhada do apelo constante de conversão do pensamento e atitude, rompendo com toda e qualquer mesquinha omissão; e assim continuamos a participar da transformação da realidade e do mundo, conferindo ao nosso olhar o brilho de uma grande revelação.
Haverá de surgir um mundo mais justo e fraterno, em que “a verdade e o amor se encontrarão”; “justiça e paz se abraçarão”, de modo que não serão apenas as palavras e sonhos do salmista (Sl 85), mas a expressão mais pura e verdadeira presente em todo coração.
Sagrada Escritura: luz para o nosso caminho
“Tua Palavra é lâmpada para os meus pés
e luz para o meu caminho” (Sl 119,105)
Como bem expressou o Salmista acima, é imensurável valor da Sagrada Escritura, que ilumina nossa vida, nosso caminho, em todo tempo e lugar.
Entretanto, tão doce e tão amarga é a Palavra, porque nos conforta, alimenta, sacia a nossa sede, nos orienta, mas também exige de nós compromissos irrenunciáveis na transformação da realidade, por vezes, difícil e sombria em que vivemos, como sal da terra, luz do mundo e fermento na massa.
Por isso é necessário que nos empenhemos em conhecer cada vez mais a Sagrada Escritura, não o conhecimento pelo conhecimento, não apenas como assíduos ouvintes, mas colocando em prática seus ensinamentos, como afirmou São Tiago (cf. Tg 1,22)
E indispensável para conhecer e praticar os ensinamentos bíblicos, é a Leitura Orante, tesouro da Tradição de nossa Igreja, com seus passos: leitura, meditação, contemplação, oração e ação.
Deste modo, nutridos pela Palavra, viveremos o que afirmou o Bispo Santo Agostinho (séc. V):
“A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.
De fato, a Palavra de Deus sendo acolhida como luz, tudo faremos para que surja um mundo mais justo e fraterno, onde “a verdade e o amor se encontrarão”; “justiça e paz se abraçarão”, tornando realidade, a mais pura verdade, porque as palavras e sonhos do salmista estarão presentes também em nosso coração.
Iluminados e alimentados pela Palavra de Deus, num contínuo processo de conversão, vivamos de tal modo que a nossa chama profética possa reluzir cada vez mais forte; e a chama do primeiro amor do encontro pessoal com Jesus, que deu novo sentido à nossa vida e alargou nossos horizontes fique para sempre acesa, até que possamos contemplar o esplendor da luz eterna.
Do ativismo estéril livrai-nos, Senhor!
Do ativismo estéril livrai-nos, Senhor!
A Homilia do Papa São Gregório Magno (séc. VI), sobre a vocação do Profeta Ezequiel é oportuna para refletirmos sobre o Ministério Presbiteral e toda vocação da Igreja; para nos iluminar em nossas atividades, para que não nos cansemos ou nos esvaziemos neste indesejável ativismo, com complicadas consequências.
“Por amor de Cristo, me consagro totalmente a Sua palavra Filho do homem, Eu te coloquei como sentinela da casa de Israel (Ez 3,16). É de se notar que o Senhor chama de sentinela aquele a quem envia a pregar.
A sentinela, de fato, está sempre no alto para enxergar de longe quem vem. E quem quer que seja sentinela do povo deve manter-se no alto por sua vida, para ser útil por sua providência.
Como é duro para mim isto que digo!
Ao falar, firo-me a mim mesmo, pois minha língua não mantém, como seria justo, a pregação e, mesmo que consiga mantê-la, a vida não concorda com a língua.
Eu não nego ser culpado, conheço minha inércia e negligência. Talvez haja diante do juiz bondoso um pedido de perdão no reconhecimento da culpa. Na verdade, quando no mosteiro podia não só reter a língua de palavras ociosas, mas quase continuamente manter o espírito atento à oração.
Mas depois que pus aos ombros do coração o cargo pastoral, meu espírito não consegue recolher-se sempre, porque está dividido entre muitas coisas.
Sou obrigado a decidir ora questões das Igrejas, ora dos mosteiros; com frequência ponderar a vida e as ações de outrem; ora auxiliar em certos negócios dos cidadãos, ora gemer sob as espadas dos bárbaros invasores e temer os lobos que rondam o rebanho sob minha guarda.
Por vezes, devo encarregar-me da administração, para que não venha a faltar o necessário aos submetidos à disciplina da regra. Às vezes devo tolerar com igualdade de ânimo certos ladrões, ora opor-me a eles pelo desejo de conservar a caridade.
Estando assim dispersa e dilacerada a mente, quando voltará a recolher-se toda na pregação, e não se afastar do Ministério da Proclamação da Palavra?
Por obrigação do cargo, muitas vezes tenho de encontrar-me com seculares; por isso sempre relaxo a guarda da língua. Pois se constantemente me mantenho sob o rigor de minha censura, sei que sou evitado pelos mais fracos e nunca os atraio para onde desejo.
Por esta razão, muitas vezes tenho de ouvi-los pacientemente em questões ociosas. Mas, sendo eu mesmo fraco, arrastado aos poucos pelas palavras vãs, começo a dizer sem dificuldade aquilo que a princípio tinha ouvido com má vontade; e ali onde me aborrecia cair, agrada-me permanecer.
Que, pois, ou que espécie de sentinela sou eu, que não estou de pé no monte da ação, mas ainda deitado no vale da fraqueza? Poderoso é, porém, o Criador e Redentor do gênero humano para conceder-me, a mim, indigno, a elevação da vida e a eficácia da palavra. Por Seu amor, me consagro totalmente a Sua Palavra.”
A cada dia, as atividades se multiplicam, a realidade do rebanho nos consome, e nos debatemos com a necessidade de muito para fazer e com tão pouco tempo; com atividades múltiplas a serem feitas, mergulhando-nos num perigoso ativismo...
Oportuno retomarmos a indagação apresentada no final da Homilia:
“Que, pois, ou que espécie de sentinela sou eu, que não estou de pé no monte da ação, mas ainda deitado no vale da fraqueza?”
No “monte da ação”, devemos estar de pé. Mas sem vigilância e oração, fortalecimento da fé, revigoramento com o Pão da Eucaristia, jamais êxito teremos.
Sem contemplarmos o Senhor, e Sua Palavra não ouvirmos em belas e santas Liturgias, sem nos nutrirmos do Pão de Eternidade, remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, deitar-nos-emos no vale da fraqueza, sucumbidos e enterrados no vale da morte, na triste mansão dos mortos!
O “monte da ação” nos desafia todo dia com múltiplos apelos e compromissos. Jamais sucumbir às dificuldades, provações, inquietações, incertezas, jamais ficar deitados no vale de nossa fraqueza!
Não podemos perder o horizonte por Deus para nós querido; pondo-nos sempre de pé, como sentinelas, no monte da ação e com coragem o subamos.
E ainda que o vale da fraqueza tivermos que enfrentar, e se no monte da ação de lutar nos cansarmos, lembremo-nos que Deus sempre tem a última palavra e não nos deixará sucumbir no vale de nossa fraqueza.
Nutrindo uma espiritualidade essencialmente eucarística,
pelo vale da fraqueza passaremos,
e “no monte da ação” momentaneamente de pé estaremos,
e “no monte da ação” momentaneamente de pé estaremos,
até que um dia possamos adentrar nas alturas onde Deus se encontra: Céu!
Hosana no mais alto dos céus!
Do vale da fraqueza livrai-nos, Senhor! Amém.
PS: Oportuna para o 16º Domingo do Tempo Comum - ano B
Fiquemos firmes no Senhor!
Fiquemos firmes no Senhor!
“Portanto, meus irmãos, a quem amo e de quem tenho saudade,
vocês que são a minha alegria e a minha coroa, permaneçam
assim firmes no Senhor, ó amados!” (Fl 4,1)
São Gregório Magno,em uma de suas homilias, assim se interrogou:
“Que, pois, ou que espécie de sentinela sou eu, que não estou de pé no monte da ação, mas ainda deitado no vale da fraqueza?”
Com a mesma inquietação do Santo, contemplemos o Senhor, e Sua Palavra e O ouçamos em belas e santas Liturgias, nutrindo-nos com o Pão de Eternidade, remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, pois tão somente assim, não nos deitaremos no vale da fraqueza, e não seremos sucumbidos e enterrados no vale da morte, na triste mansão dos mortos, e já podemos nos alegrar com a certeza do êxito alcançado.
O “monte da ação” nos desafia todos os dias, com múltiplos apelos e compromissos, para vencermos as dificuldades, provações, inquietações, incertezas, cansaços e nunca nos deitarmos no vale de nossa fraqueza, pois, com Deus, “somos mais que vencedores”, e “tudo podemos n’Aquele que nos fortalece”.
Enfim, que nossa espiritualidade seja genuinamente Eucarística, e se pelo vale da fraqueza passarmos, não permaneceremos para sempre, pois como zelosas sentinelas do Senhor nos colocaremos de pé no “no monte da ação”, até que um dia possamos adentrar nas alturas onde Deus Se encontra: Céu! Hosana no mais alto dos céus! Com o Espírito do Senhor, permaneçamos firmes no Senhor em total fidelidade a Deus que tanto nos ama.
Do vale da fraqueza, livrai-nos, Senhor!
De pé, no “monte da ação”. firmai-nos, Senhor!
Zelosas sentinelas Vossos sejamos.
Em poucas palavras...
O amor de Deus é eterno
“O amor de Deus é «eterno» (Is 54, 8): «Ainda que as montanhas se desloquem e vacilem as colinas, o meu amor não te abandonará» (Is 54, 10). «Amei-te com amor eterno: por isso, guardei o meu favor para contigo» (Jr 31, 3).”
(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 220
“Usemos as coisas temporais, mas desejemos as eternas”
“Usemos as coisas temporais, mas desejemos as eternas”
“Se não podeis deixar as coisas do mundo,
fazei uso delas de tal modo que não vos prendam a ele...”
Sejamos enriquecidos pela Homilia do Papa São Gregório Magno (séc. V) sobre os Evangelhos, que nos fala sobre a verdadeira atitude de cristãos diante dos bens que passam e dos que não passam.
“Desejaria exortar-vos a deixar tudo, mas não me atrevo. Se não podeis deixar as coisas do mundo, fazei uso delas de tal modo que não vos prendam a ele, possuindo os bens terrenos sem deixar que vos possuam.
Tudo o que possuís esteja sob o domínio do vosso espírito, para que não fiqueis presos pelo amor das coisas terrenas, sendo por elas dominados.
Usemos as coisas temporais, mas desejemos as eternas. As coisas temporais sejam simples ajuda para a caminhada, mas as eternas, o termo do vosso peregrinar.
Tudo o que se passa neste mundo seja considerado como acessório. Que o olhar do nosso espírito se volte para frente, fixando-nos firmemente nos bens futuros que esperamos alcançar.
Extirpemos radicalmente os vícios, não só das nossas ações, mas também dos pensamentos. Que o prazer da carne, o ardor da cobiça e o fogo da ambição não nos afastem da Ceia do Senhor!
Até as coisas boas que realizamos no mundo, não nos apeguemos a elas, de modo que as coisas agradáveis sirvam ao nosso corpo sem prejudicar o nosso coração.
Por isso, irmãos, não ousamos dizer-vos que deixeis tudo. Entretanto, se o quiserdes, mesmo possuindo-as, deixareis todas as coisas se tiverdes o coração voltado para o alto. Pois quem põe a serviço da vida todas as coisas necessárias, sem ser por elas dominado, usa do mundo como se dele não usasse.
Tais coisas estão ao seu serviço, mas sem perturbar o propósito de quem aspira às do alto. Os que assim procedem têm à sua disposição tudo o que é terreno, não como objeto de sua ambição, mas de sua utilidade. Por conseguinte, nada detenha o desejo do vosso espírito, nenhuma afeição vos prenda a este mundo.
Se amarmos o que é bom, deleite-se o nosso espírito com bens ainda melhores, isto é, os bens celestes. Se tememos o mal, ponhamos diante dos olhos os males eternos. Desse modo, contemplando na eternidade o que mais devemos amar e o que mais devemos temer, não nos deixaremos prender ao que existe na terra.
Para assim procedermos, contamos com o auxílio do Mediador entre Deus e os homens. Por meio d’Ele logo obteremos tudo, se amarmos realmente Aquele que, sendo Deus, vive e reina com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém.”
Os cristãos estando no mundo não são do mundo e devem ter atitude diferente frente aos bens, de modo especial nos exorta o Papa, de modo que quanto mais Eucarísticos e Pascais formos:
Maior será nossa liberdade e desprendimento diante de tudo e de todos para maior fidelidade ao Senhor;
Maior também será nossa disponibilidade para amá-Lo e servi-Lo na pessoa do nosso próximo;
Maior será nosso contentamento com o que possuímos, afinal não precisamos muito para ser feliz quando nosso coração encontrou no Senhor o divino deleite e inebriamento;
Maior será também a gratidão pelo que possuímos, sem cairmos no consumismo que não dá o verdadeiro sentido e preenchimento da alma.
Maior alegria sentiremos quando menos trêfegos formos e soubermos trafegar entre as privações e provações da vida, com toda confiança no Senhor, buscando as coisas do alto onde habita Deus, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo – “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus.” (Cl 3,1).
Em poucas palavras...
Curai-nos, Senhor
Passagem do Evangelho: Lc 13,10-17
Jesus cura a mulher há 18 anos encurvada em dia de sábado
Comentário de São Gregório Magno (séc VI):
“Quem está encurvado olha sempre para a terra, e quem olha para baixo não se lembra do preço pelo qual foi redimido”
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