terça-feira, 3 de setembro de 2024

A verdadeira caridade

                                                     

A verdadeira caridade

Para aprofundarmos sobre a prática da caridade, sejamos enriquecidos pelo Tratado escrito pelo Papa e Doutor da Igreja São Gregório Magno (séc. VI):

“A Lei de Deus, da qual se fala neste lugar, deve entender-se que é a caridade, pela qual podemos sempre ler em nosso interior quais são os preceitos de vida que temos que praticar.

A respeito desta Lei, diz Aquele que é a própria verdade: Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros. A respeito dela diz São Paulo: Amar é cumprir toda a Lei. E também: Ajudai-vos uns aos outros a carregar os vossos fardos, e deste modo cumprireis a Lei de Cristo.

O que melhor define a Lei de Cristo é a caridade, e esta caridade a praticamos de verdade quando toleramos por amor as cargas dos irmãos.

Porém, esta Lei abrange muitos aspectos, porque a caridade zelosa e solícita inclui os atos de todas as virtudes. O que começa somente por dois preceitos se estende a inumeráveis facetas.

Esta multiplicidade de aspectos da Lei é enumerada adequadamente por Paulo, quando diz: O amor é paciente, afável; não tem inveja; não é presunçoso nem é vaidoso; não é ambicioso nem egoísta; não se irrita, não guarda rancor; não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.

O amor é paciente, porque tolera com serenidade os males que lhe são infligidos. É afável, porque devolve generosamente o bem pelo mal. Não tem inveja, porque, ao não desejar nada deste mundo, ignora o que é a inveja pelos êxitos terrenos. Não é presunçoso, porque deseja ansiosamente o prêmio da retribuição espiritual, e por isto não se vangloria dos bens exteriores. Nem é vaidoso, porque tem por único objetivo o amor de Deus e do próximo, e por isto ignora tudo o que se afasta do reto caminho. Não é ambicioso, porque, dedicado com ardor ao seu proveito interior, não sente desejo algum das coisas alheias e exteriores. Nem é egoísta, porque considera como alheias todas as coisas que possui aqui de modo transitório, já que só reconhece como próprio aquilo que perdurará juntamente com ele. Não se irrita, porque, ainda que sofra injúrias, não se deixa levar por desejos de vingança, pois espera um prêmio muito superior aos seus sofrimentos. Não guarda rancor, porque sua alma está livre de toda maquinação doentia. Não se alegra com a injustiça, porque, desejoso unicamente do amor para com todos, não se alegra nem da ruína de seus próprios adversários. Alegra-se com a verdade, porque, amando aos outros como a si mesmo, ao observar nos outros a retidão, alegra-se como se fosse de seu próprio progresso. Vemos, portanto, como esta Lei de Deus abrange muitos aspectos.” (1)

O Tratado do Papa São Gregório em muito nos ajuda à compreensão do Mandamento dos inseparáveis amores, o amor a Deus e ao próximo.

Ainda mais, nos ajuda à compreensão do que consiste a verdadeira caridade, que o Apóstolo Paulo tão bem expressou em sua Carta (1 Cor 13).

No seguimento de Jesus Cristo, como discípulos missionários d’Ele, somos eternos aprendizes destes Mandamentos, para que cresçamos na prática esforçada da caridade, e assim seremos atuantes na fé e firmes na esperança, nas mais diversas realidades e âmbitos da existência.


(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – p.238-239

Multipliquemos os talentos por Deus concedidos (30/08)

 


Multipliquemos os talentos por Deus concedidos

Sejamos enriquecidos pelo Sermão escrito por São Gregório Magno, Papa e Doutor da Igreja (séc. VI) com vistas ao aprofundamento da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 25,14-30).

“Mas deve-se saber que não existe nenhum ocioso que esteja seguro de não ter recebido algum talento, porque não existe ninguém que diga com verdade: ‘Eu não recebi nenhum talento, portanto não estou obrigado a prestar contas’; pois com o nome de talento se deve entender aquilo que qualquer pobre recebeu, por menor que isso seja.

Um, pois, recebeu o entendimento da pregação, e este deve o ministério como talento; outro recebeu bens terrenos e deve distribuir ou administrar o talento destas coisas; outro ainda não recebeu a compreensão das coisas interiores nem a abundância de bens, mas aprendeu uma arte, com a qual se sustenta, e essa arte se considera como o talento que recebeu; o seguinte não alcançou nada destas coisas, mas talvez mereceu a amizade íntima com algum rico: recebeu, portanto, o talento da amizade. Portanto, se não fala ao rico em favor dos miseráveis, é condenado por retenção do talento.

Então, quem tem entendimento, esforce-se por não estar sempre calado; quem tiver bens abundantes, vigie para não se descuidar de exercitar a misericórdia; quem possui uma arte pela qual se sustenta, procure com grande diligência que o próximo participe de seu uso e utilidade; quem tem oportunidade de falar ao rico, tema ser castigado por retenção do talento se, podendo, não intercede junto dele em favor dos pobres, porque o Juiz que virá exige de cada um de nós o talento, ou seja, aquilo que nos concedeu.

Consequentemente, para que, quando volte o Senhor, alguém se encontre seguro da conta de seu talento, pense cada dia com temor no que recebeu. Cuidem que já está próximo o retorno d’Aquele que foi para longe; porque, mesmo que pareça ter-se distanciado aquele que foi para longe desta terra em que nasceu, porém volta em breve para pedir prestação de contas dos talentos; e se formos preguiçosos, nos julgará com mais rigor sobre os dons concedidos.

Consideremos, pois, o que é que temos recebido, e estejamos atentos para empregá-lo bem. Que não exista algum cuidado terreno que nos impeça a vida espiritual, para que não venha a acontecer que, escondendo o talento na terra, provoque-se a ira do Senhor do talento.

O servo preguiçoso, quando o juiz já pede contas das culpas, desenterra o talento; existe, portanto, muitos que se afastam dos desejos e obras terrenas, por aviso do juiz, quando já são entregues ao suplício eterno. Vigiemos, portanto, antes que nos seja solicitada a conta de nosso talento, para que, quando o juiz já estiver ameaçando com o castigo, sejamos libertos dele pelo lucro que tivermos alcançado.” (1)

Compreendamos, portanto, “talento” como aquilo que qualquer pobre recebeu.

De fato, ninguém pode dizer que não possui “talento” algum, e deste modo, todos devemos nos colocar a serviço do Reino.

Talento partilhado é talento multiplicado e é o que Deus espera de todos nós.

Na espera do Senhor que virá gloriosamente, a nossa vigilância deve consistir nesta multiplicação, contando sempre com a Sabedoria e presença do Santo Espírito.

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pág.250-251

 

Vivamos a caridade, a plenitude da Lei (súplica)

 


Vivamos a caridade, a plenitude da Lei

Oremos:

Ó Deus, ajudai-nos, para que seguindo os passos do Vosso Amado Filho, com a presença do Espírito Santo, vivamos a Caridade, pois assim, viveremos a plenitude do Amor (Rm 13,10).

Ajudai-nos, Senhor, a vivê-la na graça de sermos discípulos missionários do Vosso Filho, com a presença e ação do Espírito Santo; a caridade que:

-  é paciente, e tolera com serenidade as afrontas recebidas;

- é benigna, porque retribui os males com bens generosos;

- não é invejosa porque, nada cobiçando neste mundo, não tem por onde invejar os êxitos terrenos;

- não se ensoberbece; pois deseja ansiosamente a retribuição interior e  não se exalta com os bens exteriores;

- não age mal, pois somente se dilata com o amor a Deus e ao próximo, por isto ignora tudo quanto se afasta da retidão;

- não é ambiciosa porque, cuidando ardentemente de si no íntimo, não cobiça fora, de modo algum, as coisas alheias;

- não busca o que é seu, pois tudo quanto possui aqui considera-o transitório e alheio, sabendo que nada lhe é próprio a não ser aquilo que permanece sempre com ela;

- não se irrita, pois, quando insultada, não se deixa levar por sentimentos de vingança, já que por grandes trabalhos espera prêmios ainda maiores;

- não pensa mal, porque, firmando o espírito no amor da pureza, arranca pela raiz todo ódio e não admite na alma mancha nenhuma;

- não se alegra com a iniquidade, porque o seu único anseio consiste no amor para com todos sem se alegrar com a perda dos adversários;

- rejubila, porém, com a verdade porque, amando os outros como a si próprio, enche-se de gozo ao ver neles o que é reto como se se tratasse do progresso próprio. Amém.

 

PS: Livre adaptação dos Comentários escritos do Papa São Gregório Magno (séc. VI) sobre o Jó.

 

 

“O edifício da caridade”

“O edifício da caridade”

Assim nos fala o papa São Gregório Magno (séc. VI) em sua homilia sobre o Profeta Ezequiel:

“Os que estão próximos uns dos outros apoiam-se mutuamente, e graças a eles surge o edifício da caridade [...].

Se eu, portanto, não faço o esforço de suportar o teu caráter, e se tu não te preocupas de suportar o meu, como poderá levantar-se entre nós o edifício da caridade se o amor mútuo não nos une na paciência?

Num edifício, já o dissemos, cada pedra sustenta as outras e é por elas sustentada”.

Viver em comunidade é construir, com pequenos gestos cotidianos de amor, o “edifício da caridade”.

Bem disse o Apóstolo Paulo aos Coríntios – “O amor é paciente” (1 Cor 13, 4), e fundamental aos relacionamentos, nos  diversos espaços da existência: família, trabalho, comunidade...

Oremos:

Ó Deus, sem o Vosso auxílio ninguém é santo, ninguém é forte. Redobrai de amor para conosco para que tomemos consciência de que somos pedras vivas e escolhidas na construção do edifício da caridade.

Renovai em nós a paciência para com nosso próximo, respeitando as diferenças que nos enriqueçam, da mesma forma que suplicamos Vosso amor e paciência para conosco, pois não somos tão perfeitos como vós desejais. Amém.

Vivamos a caridade, a plenitude da Lei! (2)

                                               


Vivamos a caridade, a plenitude da Lei

Sejamos enriquecidos pelos escritos do Papa São Gregório Magno (séc. VI) sobre o Jó, e assim, aprofundemos sobre a Lei do Senhor, que é múltipla.

“Nesta passagem, o que se deve entender por lei de Deus a não ser a caridade? Pois por meio dela sempre se pode encontrar na mente como traduzir na prática os preceitos de Deus. Sobre esta lei de Deus, é dito pela palavra da Verdade: Este é o meu mandamento, que vos ameis uns aos outros. Desta lei fala Paulo: A plenitude da lei é o amor. E ainda: Carregai os fardos uns dos outros e cumprireis assim a lei de Cristo. O que de melhor se pode entender por lei de Cristo senão a caridade, vivida na perfeição, quando suportamos os fardos dos irmãos por amor?

No entanto, esta mesma lei pode-se dizer ser múltipla, porque com zelosa solicitude a caridade se estende a todas as ações virtuosas.

Começando por dois preceitos, ela vai atingir muitos outros. Paulo soube enumerar a multiplicidade desta lei ao dizer: A caridade é paciente, é benigna; não é invejosa, não se ensoberbece, não age mal; não é ambiciosa, não busca o que é seu, não se irrita, não pensa mal, não se alegra com a iniquidade, mas rejubila com a verdade.

Na verdade, é paciente a caridade, pois tolera com serenidade as afrontas recebidas. É benigna porque retribui os males com bens generosos. Não é invejosa porque, nada cobiçando neste mundo, não tem por onde invejar os êxitos terrenos. Não se ensoberbece; deseja ansiosamente a retribuição interior, por isso não se exalta com os bens exteriores. Não age mal, pois somente se dilata com o amor a Deus e ao próximo, por isto ignora tudo quanto se afasta da retidão.

Não é ambiciosa porque, cuidando ardentemente de si no íntimo, não cobiça fora, de modo algum, as coisas alheias. Não busca o que é seu, pois tudo quanto possui aqui considera-o transitório e alheio, sabendo que nada lhe é próprio a não ser aquilo que permanece sempre com ela.

Não se irrita, pois, quando insultada, não se deixa levar por sentimento de vingança, já que por grandes trabalhos espera prêmios ainda maiores. Não pensa mal, porque, firmando o espírito no amor da pureza, arranca pela raiz todo ódio e não admite na alma mancha nenhuma.

Não se alegra com a iniquidade: o seu único anseio consiste no amor para com todos sem se alegrar com a perda dos adversários. Rejubila, porém, com a verdade porque, amando os outros como a si próprio, enche-se de gozo ao ver neles o que é reto como se se tratasse do progresso próprio. É múltipla, portanto, a lei de Deus.” (1)

De fato, a Lei do Senhor é múltipla, e a vivência do amor se expressa de múltiplas formas, como nos fala a Carta de São Paulo aos Coríntios (1 Cor 13,1-13).

 

Vivamos a caridade, a plenitude da Lei! (3)

                                                                

Vivamos a caridade, a plenitude da Lei!

“O amor não faz nenhum mal contra o próximo.
Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei.” (Rm 13,10)

Uma reflexão à luz da passagem da Carta de Paulo aos Romanos (Rm 13,8-10), sobre a prática da caridade como a plenitude da Lei.

O Apóstolo Paulo nos exorta a colocar no centro da vida cristã o Mandamento do Amor, uma dívida que jamais será plenamente saldada.

É preciso orientar a vida pelo Mandamento do Amor, porque cristianismo sem amor se torna uma mentira, e como cristãos jamais podemos deixar de amar nossos irmãos. 

Em nossa experiência cristã, somente o amor é essencial, e as demais coisas são secundárias: 
O amor está no centro de toda a nossa experiência religiosa. No Mandamento do Amor, resume-se toda a Lei e todos os preceitos. Os diversos Mandamentos não passam, aliás, de especificações da exigência do amor. A ideia de que toda a Lei se resume no amor não é uma ‘invenção’ de Paulo, mas é uma constante na tradição bíblica (Mt 22,34-40).” (1)

A comunidade tem sempre à frente um desafio: multiplicar as marcas do amor, diminuindo, ou melhor ainda, eliminando toda marca de insensibilidade, egoísmo, confronto, ciúme, inveja, opressão, indiferença, ódio.

Esta dívida do amor nos pede sempre algo novo para com o próximo:

“Podemos, todos os dias, realizar gestos de partilha, de serviço, de acolhimento, de reconciliação, de perdão... mas é preciso, neste campo, ir sempre mais além.

Há sempre mais um irmão que é preciso amar e acolher; há sempre mais um gesto de solidariedade que é preciso fazer; há sempre mais um sorriso que podemos partilhar; há sempre mais uma palavra de esperança que podemos oferecer a alguém. Sobretudo, é preciso que sintamos que a nossa caminhada de amor nunca está concluída.” (2)

Este é o caminho que Jesus nos propôs: ser misericordioso como Deus é misericordioso, buscando nossa perfeição e santificação e também de nosso irmão.

Neste sentido, a vivência do Mandamento do Amor é a máxima expressão de nossa fé no Senhor, e de nosso compromisso como discípulos missionários do Reino que Ele inaugurou.

O caminho é longo!
Iluminados pela Palavra divina e revigorados pelo Pão da Eucaristia, continuemos passo a passo, sem jamais desistir.   



(1) (2) – cf. www.Dehonianos.org/portal

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Em poucas palavras...

                                                      


Os efeitos da Palavra de Deus

 

“Agradecemos a Deus sem cessar por vós terdes acolhido a pregação da palavra de Deus, não como palavra humana, mas como aquilo que de fato é: Palavra de Deus, que está produzindo efeito em vós que abraçastes a fé.” (1 Ts 2,13)

 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG