quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Eternos aprendizes do perdão

                                                           

Eternos aprendizes do perdão

Na Liturgia da quinta-feira da 19ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 18,21-19-1), que nos fala sobre a prática do perdão, que devemos viver nos relacionamentos fraternos, dentro e fora da Comunidade.

Retomemos o que nos diz o Apóstolo Paulo sobre a vivência da caridade, como pleno cumprimento da Lei: “Não devais nada a ninguém. A não ser o amor mútuo, pois quem ama o outro cumpriu a Lei.” (Rm 13,8).

De fato, há uma dívida que todos somos mais ou menos insolventes: a dívida do amor recíproco:

“Deveríamos preocupar-nos verdadeiramente com isto. Por isto sentimos que é para nós a exortação de Paulo, que apela a que vivamos o ‘amor mútuo’. Amar é entregar-se totalmente a um outro, é passar da lógica consumista do ‘tu és meu’, para a oblativa do ‘eu sou para ti’: uma experiência a que não é possível colocar limites” (1)

Mas para viver este amor a um outro (próximo) é preciso sentir-se amado por Deus, o totalmente Outro, que nos ama e quer que o mesmo façamos:  “Dou-vos um Mandamento novo: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 13,34).

Sentir-se amado por Deus leva-nos ao empenho de correspondência ao Seu amor, e isto se dá concretamente na restituição do amor na caridade fraterna, corrigindo e permitindo que sejamos corrigidos, sem marcas de presunção, rivalidade ou despeito.

Vejamos o que nos diz o Lecionário Comentado:

“Não podemos estar em relação com a infinita riqueza de Deus se não estivermos em relação com a pobreza do irmão” (2)

Somos encorajados a viver como reconciliados; empenhados na busca da paz, ajudando-nos e deixando-nos ajudar, de modo a criar vínculos mais sólidos e fraternos na comunidade em que participamos:

“Preocupemo-nos em deixar este mundo depois de termos desatado ou ajudado a desatar todos os vínculos, então as portas do Céu abri-se-ão para nós (Mt 18,18)” (3).

Oportunas são as palavras do Bispo Santo Agostinho (séc. IV), que aplicou exatamente à correção fraterna as palavras do Apóstolo Paulo sobre a caridade: 

“Ama e faze o que queres. Seja que cales, cala por amor, seja que fales, fala por amor; seja que corrijas, corrige por amor; seja que perdoes, perdoa o amor. Esteja em ti a raiz do amor, porque desta raiz não pode nascer outra coisa a não ser o bem”.

Sendo assim, que Deus nos conceda coração e espírito novos, para nos tornarmos mais sensíveis ao nosso próximo, no pleno cumprimento da Lei, o Mandamento do Amor, que consiste no compêndio de toda a Lei.

Supliquemos a Ele, para que jamais desistamos deste aprendizado, desta difícil e revitalizante expressão de amor, que sabe corrigir sem desencorajar e lutar sem ofender.

De fato, na escola do Divino Mestre do Amor, somos todos eternos aprendizes. Há muito que aprender, sem cansaços, recuos e desistências.

Somente deste modo, não veremos o perdão como a fraqueza de quem não sabe fazer valer as suas razões, mas como a novidade que rompe as cadeias, que tornam a pessoa amarrada a si mesma (4).

  
(1)  Lecionário Comentado - Editora Paulus - p.281.
(2)  Idem – p. 157
(3)  Idem - p.284.
(4)  Idem – p. 158

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG