segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Plena fidelidade à vontade divina

                                                            

Plena fidelidade à vontade divina

Esta Carta escrita pelo Papa São Clemente I (séc. I) nos convida a refletir sobre o empenho que devemos fazer na realização da vontade de Deus, sem jamais nos desviarmos dela.

“Tomai cuidado, diletos, para que os benefícios de Deus, tão numerosos, não se tornem condenação para todos nós, se não vivermos para Ele de modo digno e não realizarmos em concórdia o que é bom e aceito diante de Sua face. Pois foi dito em algum lugar: ‘O Espírito do Senhor é lâmpada que perscruta as cavernas das entranhas’ (Pr 20,27 Vulg.).

Consideremos quão próximo está e que nada lhe é oculto de nossos pensamentos e palavras. É, portanto, justo que não sejamos desertores de Sua vontade. É preferível ofendermos os homens estultos e insensatos, soberbos e presunçosos na jactância de seu modo de falar, a ofender a Deus.

Veneremos o Senhor Jesus, cujo Sangue foi derramado por nós, respeitemos nossos superiores, honremos os anciãos, eduquemos os jovens na disciplina do temor de Deus, encaminhemos nossas esposas para todo o bem. Manifestem o amável procedimento de castidade, mostrem seu puro e sincero propósito de mansidão, pelo silêncio deem a conhecer a moderação da língua, tenham igual caridade sem acepção de pessoas para com aqueles que santamente temem a Deus.

Participem vossos filhos da ciência de Cristo. Aprendam que grande valor tem para Deus a humildade, o poder da casta caridade junto de Deus, como é bom e imenso Seu temor, protegendo a todos que n'Ele se demoram na santidade de um coração puro. Porque Ele é o perscrutador dos pensamentos e resoluções da mente. Seu Espírito está em nós, e, quando quer, retira-O.

A fé em Cristo tudo confirma. Ele, pelo Espírito Santo, nos incita: ‘Vinde, filhos, ouvi-me; ensinar-vos-ei o temor do Senhor. Qual é o homem que quer a vida e deseja ver dias bons? Afasta tua língua do mal e não profiram teus lábios a mentira. Desvia-te do mal e faze o bem. Busca a paz e persegue-a’ (Sl 33,12-15).

Misericordioso em tudo, o Pai benigno tem amor pelos que O temem, concede com bondade e doçura Suas graças àqueles que se lhe aproximam com simplicidade. Por isso não sejamos fingidos nem insensíveis a Seus dons gloriosos”.(1)

Com a Carta, reflitamos parte da oração que o Senhor nos ensinou: “Seja feita a Vossa vontade assim na terra como nos céus”. 

Supliquemos a luz e força do Espírito para que jamais sejamos desertores de Sua vontade, ainda que difícil de realizá-la, porque nos desinstala, exige renúncias cotidianas.

Também seja suplicada, para que, nas mais diversas situações, saibamos, de fato, no que consiste a vontade divina, sem jamais impor a nossa a d’Ele.

Como discípulos missionários do Senhor, temos sempre um longo caminho a percorrer, e quanto maior compreensão e fidelidade à vontade divina, mais felizes seremos, e mais frutuoso será nosso testemunho, acolhendo sempre a Palavra divina, na alegria do Espírito que nos renova, recria e nos revigora.


(1) Liturgia das Horas – Vol. IV – pp. 384-385.

domingo, 26 de outubro de 2025

“Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim”

                                                              

“Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim”

Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim. Não quero ficar aqui, à beira do caminho, mendigando em eterna dependência, saboreando o amargo sabor da marginalização, indiferença e exclusão.

Ainda que queiram calar minha voz, a Ti, grito e, suplico, pois sei em quem confio e que não me deixarás gritar aos ventos, com minha dor, sofrimento, prantos e lamentos, e em Ti, tenho fé que podes me devolver o olhar, um novo olhar...

Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim. A exemplo daquela que curaste, que há dezoito anos encurvada se encontrava, e não podia olhar para o alto e ver o horizonte do inédito, pois apenas via o chão sórdido da dor, regado pelas lágrimas de sofrimento.

Não quero mergulhar meu coração na terra, como se não mais houvesse sinais de esperança, como que numa entrega, abandono, desistência, sem saídas possíveis, a não ser silenciá-lo, no chão duro dos que não mais querem viver, porque razões não há.

Nem cego, nem encurvado quero ficar, mas quero enxergar contra toda falta de esperança.

Quero me por de pé, olhando para o alto, e as coisas do alto para sempre buscar, como nos falou o Apóstolo Paulo - "Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas do alto onde Cristo está sentado à direita de Deus" (Cl 3,1).

Jesus, Filho de Davi, curai minha cegueira, e que não me curve jamais diante do mal, do medo, da apatia, da indiferença e de qualquer outra coisa que roube a beleza da vida
E o encantamento e paixão pelo Teu Reino. Amém


PS: Inspirado nas passagens bíblicas Mc 10,46-52; Lc 13,10-17;Lc 18,35-43)

Em poucas palavras... (XXXDTCC)

                                       


"A oração é a elevação da alma para Deus...”

“«A oração é a elevação da alma para Deus ou o pedido feito a Deus de bens convenientes» (São João Damasceno). 

De onde é que falamos, ao orar? Das alturas do nosso orgulho e da nossa vontade própria, ou das «profundezas» (Sl 130, 1) dum coração humilde e contrito?

Aquele que se humilha é que é elevado (Lc 18,9-14). A humildade é o fundamento da oração. «Não sabemos o que havemos de pedir para rezarmos como deve ser» (Rm 8, 26). A humildade é a disposição necessária para receber gratuitamente o dom da oração: o homem é um mendigo de Deus (Santo Agostinho)” (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo 2559

A autenticidade de nossas orações (XXXDTCC)

                                                        

A autenticidade de nossas orações

À luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 18,9-14), sobre a Parábola do publicano e do fariseu no templo, professemos nossa fé:

Cremos hoje com todo o coração, e professamos com toda a força, que Deus nos ama, não obstante sejamos pecadores.

Cremos e aprendemos com o publicano: “... o remorso o afastava, mas a piedade o aproximava; o remorso o rebaixava; mas a esperança o elevava” (cf. Santo Agostinho).

Cremos e aprendemos com o publicano e fariseu da Parábola: que, se publicano formos, nos encontramos ao relento precisando da acolhida divina; se fariseus, sentimo-nos seguros, paradoxalmente, em nossa casa construída sobre a areia.

Cremos, portanto, “que somos aqueles dois homens; um e outro ao mesmo tempo, porque, como o publicano, somos realmente pecadores e, como o fariseu, nos julgamos justos”.

Cremos que toda forma de injustiça que possamos praticar são pecados da paixão que nos desvia; assim como toda falsa justiça, é expressão de orgulho próprio, que nos afasta do amor de Deus.

Cremos que Deus nos justifica gratuitamente em Jesus Cristo, Seu Filho,  para que demos a Ele, que morreu e ressuscitou por todos nós toda a honra e glória.

Cremos que, assim como Deus nos deu Seu Amado Filho, jamais nos negará o que for necessário para coroarmos na glória esta aventura maravilhosa da Salvação, em que nos inserimos dia pós dia.

Cremos que a Deus agradam nossas boas obras, feitas para responder ao Seu infinito amor, e por isto, coloca em nossas mãos os dons necessários, como se fossem méritos nossos, embora não o seja de fato.

Cremos na lógica do amor que Jesus nos ensinou, e assim devemos amar, porque antes fomos amados:– “Mas amamos, porque Deus nos amou primeiro” (1 Jo 4,19).

Cremos que é muito mais difícil manter vivas as verdades que nos movem, do que tê-las descoberto no caminhar da fé.

Cremos, portanto, que a autenticidade da fé se dá quando ela se une à caridade e faz nascer o rebento da esperança, florescendo e frutificando novos tempos, novas linhas, nova história.

Cremos que o “sim” neste testemunho da fé, é verdadeiro e profundo, e não se dá sem sofrimento e por vezes a fadiga, por isto precisamos ao Senhor recorrer, quando cansados e fadigados, pois Ele é manso e humilde de coração, e assim nos convidou a sermos.

Cremos que precisamos nos tornar humildes e pequenos como crianças diante de todo este Mistério, e dizer: “Sim ó Pai, porque foi do Teu agrado!”. Amém.


PS: Livre adaptação da reflexão do Frei Raniero Cantalamessa em “O Verbo Se faz Carne” - Editora Ave Maria – 2013 - pp.760-766

Quanto mais próximos do Altar, maior será a exigência de Deus para conosco! (XXXDTCC)

                                                     



Quanto mais próximos do Altar, maior será a exigência de Deus para conosco!

Com a Liturgia do 30º Domingo do Tempo Comum (Ano C), refletimos sobre a nossa proximidade com o Altar e as exigências próprias no cotidiano, e também a nossa responsabilidade diante de Deus e da Comunidade.

A vivência da verdadeira religião consiste na fidelidade aos preceitos divinos, na defesa da vida, preferencialmente a defesa dos empobrecidos.

Contemplamos na Sagrada Escritura que Deus está sempre pronto para escutar e intervir na defesa dos empobrecidos, e por isto, a oração destes chega sempre aos Seus ouvidos e não fica sem resposta (1ª leitura – Eclo 35,15b-17.20-22a).

A proximidade do Altar pede confiança, generosidade, gratuidade, simplicidade, coerência e entrega da própria vida no bom combate da fé, como fez o Apóstolo Paulo (2ª Leitura - 2Tm 4,6- 8.16-18).

Trilhando com coragem o caminho da fé e do discipulado, Paulo tornou-se para nós modelo de crente, que nos leva a duas atitudes: reconhecimento dos nossos próprios limites e a confiança na misericórdia divina contra toda autossuficiência.

Na Parábola, da passagem do Evangelho (Lc 18,9-14), Jesus revela o rosto misericordioso de Deus, por aqueles que se reconhecem pecadores, de modo que a humildade acompanhada da confiança na misericórdia de Deus nos permite ser melhores - Deus não Se preocupa tanto com nossos pecados, mas com a autenticidade de nossa amizade com Ele. Quanto mais amigos de Deus formos, menos pecadores o seremos!

“Tende compaixão de mim porque sou pecador” há de ser nossa súplica diante de Deus. 

De modo poético, diz Santo Agostinho, referindo-se se ao pecador público nesta passagem mencionada: “... o remorso o afastava, mas a piedade o aproximava; o remorso o rebaixava; mas a esperança o elevava”.

Se de um lado o remorso sincero dos pecados rebaixa, por outro nos aproxima e nos eleva. Lição tão difícil de aprendermos, porém indispensável.

Aprendemos que não podemos nos colocar em relação ao outro como melhor, superior, perfeito.

A atitude de pequenez, para que se possa ser justificado e alcançar a misericórdia, o amor e a bondade de Deus é mais do que desejável.

Assim lemos No Missal Dominical:

“Hoje a suficiência farisaica não é mais a observância de uma lei: toma outro nome. Em muitos ela é a convicção de que o homem pode salvar-se como homem, apelando unicamente para os seus recursos.

O homem salva o homem mediante a ciência, a política, a arte... é por isso mais do que nunca necessário que os cristãos anunciem ao mundo Cristo como Salvador. A Salvação que Ele traz não se opõe a salvação humana, mas a conduz à plenitude.

Com a celebração dos Sacramentos, especialmente da Eucaristia, os cristãos dão testemunho da necessidade da intervenção divina na vida do homem, põem-se sob a ação do Deus presente, com Seu Espírito, e fazem a experiência privilegiada da justificação obtida mediante a fé em Jesus Cristo.

Devem, por isso, estar continuamente vigilantes para não participarem dos Sacramentos com espírito farisaico”.

Concluindo:

A proximidade do Altar significa proximidade com Deus? 

Não necessariamente, e aqui o perigo que a Parábola revela.

Uma boa dose dos sentimentos do publicano, nos levará a menor farisaísmo e orações mais autênticas que agradarão ao Senhor.

Firmemos os passos na caminhada de fé, no “bom combate da fé”, alimentados pela verdadeira atitude orante, na certeza de que Jesus caminha ao nosso lado e a glória de Deus é elevada sinceramente quando não separamos o culto da vida.

Quanto mais próximos do Altar,
maior será a exigência de Deus para conosco!

“Misericórdia, Senhor” (XXXDTCC)

                                                          

“Misericórdia, Senhor”

“Meu Deus, tende compaixão de mim,
que sou pecador” (Lc 18,13)

A Liturgia do 30º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos apresenta a conhecida passagem da Parábola sobre a oração do fariseu e do publicano, no templo (Lc 18,9-14).

Vejamos o que nos diz o Comentário do Missal Dominical sobre um e outro:
 “O fariseu diz a verdade, quando fala da sua fidelidade à Lei, em si mesma louvável. Por seu lado, o publicano é um pecador público; pelo seu ofício poder-se-ia dizer que vive ou enriquece, tal como Zaqueu – espremendo os seus concidadãos sobre quem recai o peso dos impostos para os invasores.”.

O que os diferencia é a atitude que têm diante da misericórdia divina; duas concepções distintas de religião:
“Mas o primeiro (o publicano) não só ‘batia no peito’, apelando humildemente para a misericórdia divina. Estas personagens, descritas com traços deliberadamente exagerados, encarnam duas concepções opostas de Deus e, por conseguinte, dois tipos de religião”.

A constatação de que a santidade é graça que nos vem de Deus, porque tão somente Deus é santo, e por meio do Seu Filho, nos vem graça e santificação:
“Só Deus é Santo. Se somos justos, é n’Ele e por Ele, não pelos nossos méritos”.

Deste modo, a Igreja é uma realidade santa e pecadora: santa, porque tem Jesus como seu divino fundamento; pecadora, porque formada de pecadores por Ele perdoados:
“A Igreja é uma comunidade de pecadores perdoados que dá graças pela Salvação obtida por Cristo e pelo dom do Espírito de santidade”.

Daqui decorre uma súplica do comentário, que temos que fazer constantemente por toda a Igreja, da qual somos membros pela graça do batismo:
“Que o Senhor guarde os Seus discípulos do farisaísmo que constantemente os ataca”.

Oremos:

Livrai-nos Senhor, do fermento do farisaísmo, e que sejamos levedados pelo fermento do Vosso amor, para amar como amastes a Deus e ao nosso próximo, na prática dos Mandamentos inseparáveis que nos destes, e sabemos que tão somente assim somos justificados e nossa oração Vos será sempre agradável. Amém.



PS: Citações extraídas do Missal Quotidiano, Dominical e Ferial – Editora Paulus – Lisboa –p.2145 

Em poucas palavras...

                                                         

Por que Deus não escuta nossas orações?

 

- 1.º -  porque não somos bons, nos falta pureza no coração ou retidão na intenção;

- 2º -  porque pedimos mal, sem fé, sem perseverança, sem humildade;

- 3º - porque pedimos coisas más, isto é, o que não nos convém, o que nos pode fazer mal ou desviar-nos do nosso caminho. (1)


 

(1) - cf. Santo Agostinho (Séc IV), Sobre o Sermão do Senhor no monte, II, 27, 73)

 

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