sábado, 2 de agosto de 2025

“Graça e Paz!”

                                  

“Graça e Paz!”

Nas Vésperas da Liturgia das Horas, rezamos a passagem da Carta de Paulo aos Colossenses (Cl 1,2b-6a):

“A vós, graça e paz da parte de Deus nosso Pai. Damos graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, sempre rezando por vós, pois ouvimos acerca da vossa fé em Cristo Jesus e do amor que mostrais para com todos os santos, animados pela esperança na posse do céu. Disso já ouvistes falar no Evangelho, cuja Palavra de verdade chegou até vós. E como no mundo inteiro, assim também entre vós ela está produzindo frutos e se desenvolve”.

Sejamos enriquecidos pela saudação Paulina: “Graça e paz da parte de nosso Pai”.

Todos precisamos desta graça divina, a fim de que sejamos fortalecidos na missão evangelizadora, como discípulos missionários do Senhor, com a força e a presença do Santo Espírito.

Da mesma forma, da paz verdadeira, que tão somente o Senhor pode nos conceder,  e  ela tem um nome, um rosto: é Jesus, o Filho amado do Pai, que nos comunica o “shalom”, a paz, a plenitude de todos os bens.

Troquemos orações mútuas, para que, revigorados e animados sejamos, e vivamos a graça batismal, a vida nova dos filhos e filhas de Deus – “Sempre rezando por vós”.

Revigorados na fé viva, sejamos como a comunidade de Colossas: “ouvimos acerca da vossa fé em Cristo Jesus”.

Renovemos a esperança de participar de um novo céu e uma nova terra: “animados pela esperança na posse do céu”.

Finalmente, seja nosso coração inflamado de amor, fortalecendo os vínculos da comunhão fraterna, em frutuosa partilha e solidariedade para com todos, e de modo especial, a quem mais precisar – “do amor que mostrais para com todos os santos”. Amém.

Templo e culto agradáveis a Deus

                                                              

Templo e culto agradáveis a Deus

“'Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!' Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: 'O zelo por Tua casa me consumirá'”

Celebramos no dia 09 de novembro a Festa da Dedicação da Basílica de Latrão, cuja dedicação ou consagração aconteceu no ano de 320.

Esta é a Catedral do Papa, enquanto Bispo de Roma, e por isto é a “Mãe de todas as Igrejas” espalhadas pelo mundo todo.

A Liturgia da Palavra nos apresenta, na primeira Leitura, a passagem da segunda fase do ministério do Profeta Ezequiel, que se dá a partir de 586 a.C. até cerca de 570 a.C., quando se encontravam em terra estrangeira (Ez 47,1-2.8-9.12).

A mensagem de Ezequiel é de esperança, por isto é chamado de “o Profeta da esperança”, anunciando aos exilados a chegada de uma nova era de felicidade e de paz sem fim. Deus mesmo assumirá a condução do Povo, como um “Bom pastor”, e o “coração de pedra” do povo será transformado em “coração de carne”, acolhendo e vivendo os Preceitos da Aliança com Deus.

Um sinal será a reconstrução do Templo de Jerusalém comunicando que Deus voltará a residir no meio de Seu Povo (Ez 40,1-47,12).

As imagens do Templo, água que jorra, deserto, fertilidade retomam a imagem paradisíaca do jardim do Éden, que expressa a vida em comunhão com Deus, na vivência e obediência às Suas Propostas, numa vida plena e feliz (Gn 2,9-14).

Esta imagem do Templo será retomada pelo Evangelista João (Jo 2,21) e também no Livro do Apocalipse (Ap 22,1-12): Jesus é o Novo Templo, e do trono sairá um rio de água viva.

A mensagem explícita de Ezequiel é de que Deus não desiste da humanidade, é sempre uma presença amiga e reconfortante na caminhada da humanidade, comunicando vida em abundância.

Para quem crê em Deus, os incontáveis sinais de morte que vemos não revelam a orfandade divina, ao contrário, despertam no coração uma renovada esperança, firme confiança e desejável serenidade.

O mundo não é um beco sem saídas, uma vez que Deus Se faz presente no meio de nós e isto nos anima no bom combate, cotidianamente.

É preciso, portanto, que a humanidade abandone os caminhos de orgulho e autossuficiência, aprendendo a escutar com humildade e simplicidade as Propostas que Deus tem sempre a nos oferecer.

Na passagem da segunda Leitura (1 Cor 3,9c11.16-17), o Apóstolo Paulo, escrevendo a comunidade de Corinto,   afirma que os cristãos são o templo de Deus onde reside o Espírito, e assim precisam viver uma nova dinâmica.

Em Corinto, cidade nova e muito próspera, servida por dois portos de mar, com característica de cidades marítimas, com população de todas as raças e religiões, também tinha comportamentos inapropriados.

É neste contexto que temos a comunidade de Corinto, uma comunidade viva e fervorosa, mas não livre destas influências.

Ela precisa aprofundar sua vivência na lógica de Deus, sem partidos, divisões, competições, e incoerências, dando melhor testemunho de Deus, vivendo a sabedoria de Deus que consiste na “loucura da Cruz”.

Como Edifício de Deus, precisa fortalecer os vínculos de fraternidade e unidade. Animadas pelo Espírito, são chamadas a esta dinâmica nova, seguindo Jesus no caminho do amor, da partilha, do serviço, da obediência a Deus e da entrega aos irmãos.

É preciso que a comunidade dê testemunho de que é templo de Deus, e nela reside o Espírito Santo que a conduz.

Nossas comunidades, portanto, precisam crescer em fraternidade, solidariedade, para o testemunho da “loucura da Cruz” com gestos concretos de amor, de partilha, de doação, de serviço.

É preciso evitar todo tipo de fragmentação, divisão, contradições, e que jamais se sobreponham os interesses e vaidades pessoais.

Que nelas, se vivendo a “sabedoria de Deus”, não haja luta sem regras pelo poder, pela influência, pelo reconhecimento social, pelo bem-estar econômico, pelos bens perecíveis e secundários. Tão somente assim poderá ser sinal e luz diante da “sabedoria do mundo”.

Na passagem do Evangelho (Jo 2, 13-22), Jesus, ao realizar a purificação do templo, anuncia que Ele mesmo é lugar do verdadeiro encontro com Deus.

Jesus é a verdadeira presença de Deus no meio da humanidade, o Verbo que Se fez Carne.

E, ao afirmar que pode destruir o templo e o edificar em três dias, preanuncia a Sua morte e Ressurreição, que será esta, por sua vez, a garantia de que Jesus veio de Deus, e que Sua atuação tem o selo de garantia de Deus.

O evangelista João situa o fato de a purificação acontecer nos dias que antecedem à Festa da Páscoa, momento em que grande multidão afluía para Jerusalém. Note-se que Jerusalém teria aproximadamente 55.000 habitantes, e nestes dias chegava a receber 125.000 peregrinos, com o sacrifício de 18.000 cordeiros na celebração pascal.

Evidentemente, o templo era lugar de grande comércio e muitos viviam dele; e aqui o sinal profético da sua purificação feita por Jesus.

O gesto de Jesus deve ser entendido neste contexto, como a comunicação de novos tempos messiânicos.

Jesus não propõe a reforma do templo, mas a abolição do culto porque era algo nefasto, ou seja, em nome de Deus o culto criava exploração, miséria, injustiça, em vez de favorecer uma sincera e frutuosa relação com Deus.

Jesus é, de fato, o novo Templo, isto é fundamental como mensagem. Ele Se faz companheiro de caminhada e aponta os caminhos de salvação, que não fican  restritos  nas mãos dos sacerdotes do templo. Ele é Aquele que vem ao mundo comunicar a Salvação à humanidade, em sinal de total e incondicional Amor a Deus, dando Sua vida em sacrifício para a nossa redenção.

Não há mais necessidade daquele templo e seus sacrifícios. Com Ele, Jesus, a humanidade pode alcançar vida, alegria, paz, salvação sem submeter à lógica sacrificial do templo, que havia se tornado casa de comércio, covil de ladrões.

Os cristãos, tendo aderido ao Senhor e a Sua Mensagem, tendo comido a Sua Carne, bebido do Seu Sangue, precisam se identificar com Ele.

Os cristãos são, portanto, pedras vivas desse novo Templo no qual Deus Se manifesta ao mundo e vem ao encontro da humanidade oferecendo vida e Salvação.

Cabe aos cristãos revelar ao mundo o rosto bondoso, misericordioso e terno de Deus, pelo que creem e pelo que vivem, sem dissociação, sem distanciamentos e incoerência, pois todo aquele que vive e crê no Senhor, terá a vida eterna, e já experimenta no tempo presente felicidade plena.

Reflitamos:

- Estarão nossos cultos agradando a Deus?
- Quais são as implicações em nossa vida a Eucaristia que celebramos?

- Como temos vivido a Palavra que proclamamos e ouvimos?
- Nossos cultos são solenes e ricos de conteúdos vivenciais, ou apenas belos sem maiores compromissos com a vida, com o Reino de Deus?

- Quando acorremos ao Templo para celebrar, o fazemos de forma ativa, consciente e piedosa de modo que molda o nosso viver?
- Sentimos a presença de Deus em nossas comunidades, verdadeiros templos de Deus?

- Há o Templo e os templos, nos quais Deus também fez Sua morada. Como cuidamos do Templo do Senhor, e também como cuidamos dos templos do Senhor?

- O que fazemos para que nossas Igrejas sejam belas e lugar da presença de Deus?

- E o que fazemos para que cada pessoa, lugar da presença de Deus, também tenha vida plena e feliz?

Celebrando esta Festa, renovemos a alegria de ser Igreja, amando e nos colocando a serviço dela, no compromisso com a vida e com o Reino, não esgotando nossa fé na prática de cultos e ritos, mas em sinceros e multiplicados gestos de amor, comunhão, fraternidade e solidariedade, e tão somente assim, nossos cultos serão agradáveis a Deus.

  

PS: Oportuno para a Celebração de Aniversário de uma Igreja Catedral

Se te sentires enfraquecido...

                                                           

Se te sentires enfraquecido...

Sejamos enriquecidos pela reflexão escrita pela Bispo e Mártir Santo Inácio de Antioquia a Policarpo, muito oportuna, sobretudo quando nos sentirmos debilitados, enfraquecidos; quando algum problema se nos apresentar querendo a paz nos roubar.

“Escutai o Bispo para que Deus vos escute. Estou pronto a dar minha vida por aqueles que são submissos ao Bispo, aos Presbíteros, aos Diáconos.

Oxalá tenha eu parte com eles em Deus. Colaborai uns com os outros... Juntos lutai, juntos correi. Padecei juntos. Adormecei em união, em união levantai-vos, como administradores, familiares e servos de Deus que sois... Nenhum seja desertor.

Vosso batismo seja a vossa arma; a fé o vosso capacete; a caridade, a vossa lança; a paciência, a vossa armadura completa. As vossas obras sejam vosso depósito para receberdes em justiça o que vos é devido.

Sede generosos e longânimes uns com os outros, com mansidão, assim como Deus em relação a vós. Quem me dera gozar para sempre de vosso convívio!...

O cristão não tem poder sobre si: é todo de Deus. Esta é obra de Deus e vossa, quando a tiveres realizado...”.

Uma carta memorável escrita no primeiro século da Era Cristã, tempo de perseguições e martírios; tempo de sangue derramado que gerou e fecundou a Igreja, suscitando novos cristãos.

A meditação nos faz mais corajosos, valentes, pacientes e configurados à vontade divina, que não nos imobiliza.

Deus não se relaciona conosco condenando-nos ao infantilismo espiritual, e assim o O Bispo compara a vida cristã à vida de um soldado.

Reflitamos:

- Vivemos o batismo com alma, com entusiasmo e coragem?
- A fé é o capacete que nos protege no bom combate da nossa vida?

- Amor que tudo transforma e tudo supera! Será a caridade a nossa verdadeira lança, para atingirmos amigos e inimigos?
- Do que nos revestimos para o êxito na missão por Deus confiada?

- Quais são as outras armaduras das quais devemos nos revestir para o bom combate da fé?

- Quais são as obras de misericórdia que temos a apresentar diante do Senhor, quando a Ele tivermos que nos submeter ao julgamento final?

Supliquemos a Deus a graça de bem viver o Batismo, que um dia recebemos como dom, para que Dele sejamos sal e luz. Vivendo a graça batismal sejamos:
                    
- Iluminados para Sua Luz irradiar;
- Amados para Seu infinito e imensurável amor comunicar;
- Agraciados para graças transbordar;
- Protegidos para a verdadeira proteção testemunhar;
- Fortalecidos para a verdadeira fonte de toda força anunciar;
- Alimentados pelo Pão da Palavra para a fome do mundo saciar;
- Inebriados pelo Vinho da Salvação, para que na redenção do mundo possamos participar! 

Deus é, enfim a saciedade plena de tudo quanto possamos desejar, e quem d’Ele se alimenta nem fome, nem sede jamais terá: a não ser a sede d’Ele mesmo, porque somos incapazes de esgotar as maravilhas que Ele pode nos conceder.

Com o Salmista digamos: “A minha alma tem sede de Deus...” (Sl 41, 1-12). 

O Amor de Deus experimentado, jamais será renegado, tão pouco exaurido, de modo que tudo o que temos e somos, de Deus procede. Quando partilhados, não nos diminui em nada, absolutamente nada, ao contrário, multiplica-se.

Com Deus quando o que de bom partilhado, aparentemente, subtraído:
 Multiplica-se, aumenta, transborda. Mais uma vez, de fato, a matemática de Deus nos surpreende!

No Banquete da Eucaristia, somos refeitos

                                                                 



No Banquete da Eucaristia, somos refeitos

“Ó Deus, ao participarmos da alegria da Salvação que encheu de júbilo são Mateus, recebendo o Salvador em sua casa, concedei sejamos sempre refeitos à mesa d’Aquele que veio chamar
à salvação não os justos, mas os pecadores.
Por Cristo, Nosso Senhor. Amém!”(1)

Mateus, a mesa para o Senhor e os pecadores preparou.
Pouco mais tarde é o Senhor quem o mesmo faria,
Mas não apenas a mesa prepararia...

Mais que mesa preparada, servo na Santa Ceia Se fez
E melhor Alimento a Mateus e a nós ofereceu:
Seu Corpo verdadeira Comida, Seu Sangue verdadeira Bebida.

No banquete de Mateus há um sustento necessário, provisório,
No Banquete do Divino, o Cordeiro, Alimento de eternidade,
Que nos compromete com o presente, Reino de Fraternidade.

No banquete de Mateus, acolhida e amizade partilhadas;
Refazem-se os laços fraternos, sinaliza-se a urgência da comunhão,
Banquete da misericórdia, sem barreiras e exclusão.

No Banquete do Deus da Vida, Eucaristia recebida,
Refeitos nós somos para continuarmos longa travessia,
Comprometidos com a defesa da vida, com a Força da Eucaristia.

Em cada Eucaristia celebrada, somos refeitos!
Refeitos para o sonho, o canto, a luta, a poesia;
Refeitos na coragem para reavivar a chama da profecia.

Em cada Eucaristia celebrada, somos refeitos!
Refeitos para atenta escuta aos clamores que procedem
Dos esmagados, pisoteados, marginalizados, sofridos.

Em cada Eucaristia celebrada, somos refeitos!
Refeitos, renovados, restaurados, reconciliados,
Pecados destruídos, vida nova celebrada e vivida.

Em cada Eucaristia celebrada, somos refeitos!
Refeitos, olhos abertos para caminhos novos,
Enriquecidos para viver as divinas virtudes.

Em cada Eucaristia celebrada, somos refeitos!
Refeitos, porque nossa alma tão bem enriquecida
De todos os dons preciosos, tão divinos, tão necessários.

Em cada Eucaristia celebrada, somos refeitos!
Refeitos para as mãos generosas estender,
Aquecer, abençoar, cuidar, plantar...

Em cada Eucaristia celebrada, somos refeitos!
Refeitos para a alegria da solidariedade, da comunhão...
Compromissos renovados para construir mundo mais irmão.


PS: Inspirado na  Oração pós-Comunhão da Festa de São Mateus (1) 

“Se calarem a voz dos Profetas...”

                                                            

“Se calarem a voz dos Profetas...”
 
Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 14,1-12), em que Herodes manda cortar a cabeça de João Batista, num ímpio banquete de morte.
 
“Também na morte o Batista é ‘precursor’, e Jesus o põe em relevo. Esta morte é um típico exemplar do que muitas vezes acontece no mundo: a supressão violenta dos inocentes, dos verdadeiros heróis, por parte dos seres abjetos, cobertos de prestígio e poder, e por motivos inconfessáveis: ambição, cálculo, inveja, ciúme, falsa moral...
 
Triste espetáculo é ver-se a opinião pública (os convidados) assistir impassível, se não divertida, ao fato de exatamente o honesto, que corajosamente denuncia o adultério e a expoliação, ser trucidado pelos desonestos e delinquentes.
 
Cumpre criar uma opinião pública contrária, ter a coragem de desmascarar o erro de quem julga tudo lícito, porque pode fazê-lo com franqueza.
 
João não era inimigo de Herodes e este o estimava (Mc 6,20); no entanto, por covardia, fá-lo calar para sempre. Engano! Aquele martírio jamais se calará” (1)
 
João foi o último dos Profetas, e o Precursor do Senhor, tanto do nascimento, como de sua morte, ao derramar sangue por causa da Verdade e da incondicional fidelidade à Palavra do Senhor.
 
Ontem como hoje, Deus suscita profetas para falarem em seu nome, para serem a sua divina voz a denunciar tudo quanto fira a vida, roubando-lhe a beleza e a sua sacralidade, desde sua concepção ao seu declínio natural.
 
Vozes proféticas no campo e na cidade, em defesa de princípios éticos dos quais não podemos prescindir; denúncia de tudo aquilo que fomenta o consumismo, bem como a exploração de nossa Casa Comum, a Terra; vozes que não se calam em tantas outras situações que possam ser mencionadas.
 
Renovemos a graça da vocação profética, que Deus nos concedeu no dia de nosso Batismo, para termos a coragem de João Batista, em amor e fidelidade incondicional à vontade divina.
 
Lembremos as palavras de Santo Agostinho: João é a voz no tempo; Cristo é, desde o princípio, a Palavra eterna.”
 
Um canto para finalizar: “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão...”
 
 
(1) Missal Cotidiano – Editora Paulus – p.1099
PS: Proclamado no sábado do 17º sábado do Tempo Comum, e oportuno para a Celebração da Memória do Martírio de São João Batista, quando se proclama a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 6,14-29).
 

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Proximidade e separação

                                                          

Proximidade e separação

Maria viveu “uma mistura de
proximidade e de dolorosas separações”

Retomo parte da reflexão feita pelo Bispo Dom Bruno Forte, na 52ª Assembleia dos Bispos do Brasil (2014), em que retrata os diversos testemunhos da fé, dentre os quais Maria:

“Maria é capaz de um amor atento, concreto, alegre e terno... Maria se aproxima sob o signo da ternura, isto é, do amor que gera alegria, que não cria distâncias, que antes aproxima os distantes, fazendo com que se sintam acolhidos e os enche com o espanto e a beleza de descobrir-se objeto de puro dom...

Mãe atenta e terna, vive as expectativas, os silêncios, as alegrias e as provas que toda mãe é chamada a atravessar: é significativo que nem sempre compreenda tudo sobre Ele.

Mas vai adiante, confiando em Deus, amando e protegendo a seu modo aquele Filho, tão pequeno e tão grande, numa mistura de proximidade e de dolorosas separações, que a tornam modelo de maternidade: os filhos são gerados na dor e no amor por toda a vida”.

- Do que se trata esta mistura de “proximidade e dolorosas separações” com seu Filho, a partir do que nos dizem os Evangelhos?

- Quando aconteceu, nos diversos momentos, desde o anúncio do Anjo que Ela seria Mãe do Salvador por obra do Espírito, até a Morte do seu Filho?

Proximidade e separação, já subentendida no medo sentido e no diálogo, quando do anúncio do Anjo. Maria não deu ouvidos ao medo, mas confiou na promessa de Deus. Ele ficou tão próximo no ventre de Maria, mais do que em qualquer outra criatura, e ela teve que suportar a dolorosa separação, no momento ápice da Morte de Seu Filho.

Proximidade e separação, já experimentada na fuga para o Egito, ao lado do esposo José, na defesa do Menino, tão cedo, tão pequeno, tão frágil, mas já causando medo aos poderosos de Seu tempo.

Proximidade e separação, indiscutivelmente sentida, acolhida e meditada no silêncio do coração, quando da apresentação do Menino Jesus no templo, e as palavras do justo Simeão: “Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma.” (Lc 2, 35).

Proximidade e separação, quando depois de três dias de procura O encontra discutindo com os doutores e sábios no Templo, e guarda, contemplativa, as Palavras do Filho no coração: “Por que me procuravam? Não sabiam que Eu devo estar na casa do meu Pai?” (Lc 2, 49).

Proximidade e separação, quando vê os parentes mais próximos e conterrâneos ficarem estupefatos e escandalizados pelos sinais que o Filho realizava: Esse homem não é o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Joset, de Judas e de Simão? E Suas irmãs não moram aqui conosco? E ficaram escandalizados por causa de Jesus.” (Mc 6, 3).

Proximidade e separação, quando começa a chamar discípulos para O seguirem; multidões arrebanhando, mas na hora decisiva, abandonado, negado, traído, solitário. Ela, porém, como Mãe inseparável, irredutível, acompanhando passo a passo o ápice da alma e do corpo vivido pelo Filho.

Proximidade e separação, acompanhada de lágrimas, dor tão intensa, profunda e indescritível. Como podem crucificar e matar o Amor que um dia se Fez Carne em Seu Ventre? Matam Aquele que se fez Carne em seu Ventre pela ação do Espírito Santo.

Proximidade, separação, pranto, lágrimas...
Quem suportaria tamanha dor?

Lá, ao pé da Cruz...
Proximidade do Filho para ouvir Suas últimas Palavras:
“Mulher, eis aí o seu Filho”; “Filho, eis aí a sua Mãe” (Jo 19, 26).

Desde então, Maria se tornou Mãe da Igreja e Mãe de toda a humanidade.

E lá, nas primeiras páginas dos Atos dos Apóstolos, encontramos Maria, tão próxima, novamente unida ao seu Filho, em Oração, junto com Seus Apóstolos: “Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na Oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.” (At 1, 14).

Como a Igreja nos ensina, cremos que, se na proximidade suportou a separação, isto a fez merecedora de com Ele para sempre estar, na glória da eternidade, Assunta ao céu e Coroada Mãe e Rainha por toda a eternidade.

Com Maria aprendamos a viver imensurável proximidade, com a maturidade de também suportar a dor da separação, das renúncias, do peso e exigências da cruz cotidiana.

Tão somente assim, desejosos de um dia vê-la no céu, e o encontro definitivo com o Pai, o Filho e o Espírito Santo, comunhão profunda e eterna de amor viver, na plenitude de luz mergulhar, com os Anjos e Santos que nos precederam. 

Maria, sempre Maria!
Proximidade, separação, pranto, lágrimas...
Proximidade, comunhão, eterna e plena alegria.
Amém.

Rezando com o Salmos - Sl 71 (72)

 


Ao Senhor, toda honra, glória e poder

“–1 Dai ao Rei Vossos poderes, Senhor Deus,
Vossa justiça ao descendente da realeza!
–2 Com justiça Ele governe o Vosso povo,
com equidade Ele julgue os Vossos pobres.

–3 Das montanhas venha a paz a todo o povo,
e desça das colinas a justiça!
=4 Este Rei defenderá os que são pobres,
os filhos dos humildes salvará,
e por terra abaterá os opressores!

–5 Tanto tempo quanto o sol há de viver,
quanto a lua através das gerações!
–6 Virá do alto, como o orvalho sobre a relva,
como a chuva que irriga toda a terra.

–7 Nos Seus dias a justiça florirá
e grande paz, até que a lua perca o brilho!
–8 De mar a mar estenderá o Seu domínio,
e desde o rio até os confins de toda a terra!

–9 Seus inimigos vão curvar-se diante d’Ele,
vão lamber o pó da terra os Seus rivais.
–10 Os reis de Társis e das ilhas hão de vir
e oferecer-lhes Seus presentes e Seus dons;

– e também os reis de Seba e de Sabá
hão de trazer-Lhe oferendas e tributos.
–11 Os reis de toda a terra hão de adorá-Lo,
e todas as nações hão de servi-Lo.

–12 Libertará o indigente que suplica,
e o pobre ao qual ninguém quer ajudar.
–13 Terá pena do indigente e do infeliz,
e a vida dos humildes salvará.

–14 Há de livrá-los da violência e opressão,
pois vale muito o sangue d’Eles a Seus olhos!
=15 Que Ele viva e tenha o ouro de Sabá! †
Hão de rezar também por Ele sem cessar,
bendizê-Lo e honrá-Lo cada dia.

–16 Haverá grande fartura sobre a terra,
até mesmo no mais alto das montanhas;
– as colheitas florirão como no Líbano,
tão abundantes como a erva pelos campos!

–17 Seja bendito o Seu nome para sempre!
E que dure como o sol Sua memória!
– Todos os povos serão n’Ele abençoados,
todas as gentes cantarão o Seu louvor!

–18 Bendito seja o Senhor Deus de Israel,
porque só Ele realiza maravilhas!
–19 Bendito seja o Seu nome glorioso!
Bendito seja eternamente! Amém, amém!

O Salmo 71(72) retrata o poder régio do Messias, e anuncia um  reino que haverá de vir:

“Anúncio de um reino justo e benéfico, tempo de felicidade para os pobres. Este salmo é considerado uma profecia messiânica, que para nós se realiza em Cristo.” (1)

Somos remetidos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 2,11), quando aos magos vindo do oriente oferecem a Jesus, ouro, incenso e mirra.

Como vemos, os magos do Oriente dão ao Menino Deus o que têm de melhor. Reconhecem na Criança a realeza (Ouro), Ele é o grande Rei; a divindade (Incenso), porque Ele é o sumo Deus; a humanidade (Mirra), pré-anunciando a sepultura.

De fato, Jesus é divindade visibilizada na fragilidade de Sua humanidade e é Rei e Senhor de todas as nações: n’Aquela Criança, reconheçamos a realeza, a divindade e a humanidade.

Cremos e adoramos Jesus, a verdadeira e imprescindível riqueza (ouro), único mediador (incenso) e Aquele que garante que exalemos o mais belo Perfume de Amor (mirra).

Tão somente assim. mais que ouro, ofereçamos a Ele o melhor que temos, em nossas famílias, comunidade e sociedade.  Juntamente com os incensos nas Solenes Liturgias e orações, ofereçamos santos desejos que sobem aos céus, acompanhados de sagrados compromissos, para que se tornem uma realidade; e quanto à mirra, seja as unções tantas que possamos multiplicar, curando feridas, perseverando e salvaguardando a dignidade e sacralidade da vida, desde sua concepção ao seu declínio natural.

A exemplo dos Magos, ofereçamos nossos presentes a Jesus, o que de melhor possuímos, pois quem ama dá o melhor de si em tudo e em favor de todos. Amém.

 

 

(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – pág. 785

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