sexta-feira, 2 de maio de 2025

A fé no Ressuscitado, o amor e a partilha

                                                             

A fé no Ressuscitado, o amor e a partilha

Na Liturgia da 2ª sexta-feira do Tempo Pascal, ouvimos a passagem do Evangelho de João (Jo 6,1-15), em que Jesus realiza o sinal da multiplicação dos cinco pães e dois peixes.

Oportuna é a reflexão de Santo Hilário de Potiers, Doutor da Igreja (séc. IV).

“Como os discípulos lhe aconselhavam a que enviasse as multidões para as cidades mais próximas para que pudessem comprar alimentos, ele lhes respondeu:

‘Não há necessidade de irem’. Assim demonstra que aqueles dos quais cuidava não necessitavam se alimentar de uma doutrina colocada à venda, e também não tinham necessidade de voltar para a Judeia para comprar alimentos; por isso manda aos Apóstolos que lhes deem sua própria comida.

Acaso o Senhor desconhecia que os apóstolos não tinham nada para dar-lhes? Aquele que conhecia as profundezas do espírito humano não conhecia, acaso, a pequena quantidade de comida que as mãos dos Apóstolos possuíam?

Na verdade, era necessário manifestar completamente uma razão tipológica. Ele ainda não tinha concedido aos Apóstolos o consagrar e o oferecer o Pão do Céu como Alimento de Vida Eterna. Por isso Sua resposta era dirigida para a compreensão espiritual.

De fato, eles responderam que só tinham cinco pães e dois peixes, porque ainda se encontravam sob o império dos cinco livros da Lei – os cinco pães -, e se alimentavam do ensinamento de dois peixes, ou seja, dos Profetas e de João.

Nas obras da Lei a vida estava como no pão, e a pregação dos Profetas e de João reanimava a esperança da vida humana mediante a força da água.

Assim, os Apóstolos ofereceram estas coisas em primeiro lugar porque ainda se encontravam debaixo daquele regime. Mas também indica que a pregação dos Evangelhos, difundindo-se a partir dessas origens, se desenvolve fazendo crescer mais e mais sua força.

O Senhor tinha tomado os pães e os peixes. Levantou os olhos ao céu, disse a bênção e os partiu, ao mesmo tempo em que dava graças ao Pai porque, depois do tempo da Lei e os Profetas, Ele Se transformava em Alimento evangélico.

Em seguida o povo foi convidado a sentar-se na relva. Já não está estendido sobre a terra sem motivo, mas apoiado na Lei, e cada um se estende sobre os frutos de seu trabalho como sobre a erva da terra.

Os pães foram dados também aos Apóstolos: é através deles que os dons da graça divina deviam repartir-se. O povo se alimentou dos cinco pães e dos dois peixes e, uma vez saciados os convidados, os pedaços de pão e de pescado eram tantos que encheram doze cestos.

Isto quer dizer que a multidão se saciou com a Palavra de Deus que vem do ensinamento da Lei e dos Profetas, e em seguida do ministério do Alimento eterno. A abundância do poder divino reservada para os povos pagãos transborda até a plenitude dos doze Apóstolos. (1)

Destaco o paralelo feito entre os cinco pães e os dois peixes:

- Cinco pães, aludindo aos cinco Livros da Lei, aos cinco primeiros Livros da Sagrada Escritura (Pentateuco): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio;

- Os dois peixes aludindo aos Profetas que precederam Jesus e o último dos Profetas, João Batista.

De fato, todos ainda estavam ancorados na Antiga Aliança, sob a Lei e os Profetas.

Com Jesus, inaugura-se um novo tempo, e Ele veio dar pleno cumprimento da Lei e dos Profetas, como vemos na Sua Transfiguração, no Monte Tabor, com a presença de Moisés e Elias (o primeiro simbolizando a Lei, e o segundo os Profetas).

Jesus é Aquele que vem trazer o Alimento Eterno, Ele próprio Se dá em verdadeira Comida e verdadeira Bebida (Jo 6).

Iluminados por Sua Palavra de Vida Eterna, aprendizes e obedientes a Seus Ensinamentos, e também por Ele saciados com o Pão Vivo e Verdadeiro, somos chamados a viver com alegria, o amor e a partilha, inseridos numa nova lógica, que vai gerar um mundo novo.

O sinal realizado tem tons Eucarísticos, prefigura o Banquete Provisório da Eucaristia, que nos prepara para o Banquete de Eternidade, como tão bem expressou o Salmista (Sl 23).

A multiplicação dos pães e peixes é a mais bela lição de amor e partilha, condição indispensável para uma sociedade da saciedade, e não da fome, da morte, da exploração do outro.

Vivamos, não mais sob o jugo da Lei, mas iluminados e conduzidos pelo Espírito; saibamos colocar nossos pães e peixes em comum, para que todos tenham vida plena e feliz.

O Sinal realizado aponta para um mundo novo que todos temos que construir, aprendendo os sagrados ensinamentos do Divino Mestre do Amor e da Partilha: Jesus.


Lecionário Patrístico Dominical – Ed. Vozes - Pág. 436-437.

Rezando com os Salmos - Salmo 36(37)

 


Peregrinos da esperança e a mansidão necessária


“– 1 Não te irrites com as obras dos malvados
nem invejes as pessoas desonestas;

– 2 eles murcham tão depressa como a grama,
como a erva verdejante secarão.

– 3 Confia no Senhor e faze o bem,
e sobre a terra habitarás em segurança.

– 4 Coloca no Senhor tua alegria,
e ele dará o que pedir teu coração.

– 5 Deixa aos cuidados do Senhor o teu destino;
confia nele, e com certeza ele agirá.

– 6 Fará brilhar tua inocência como a luz,
e o teu direito, como o sol do meio-dia.

– 7 Repousa no Senhor e espera nele!
Não cobices a fortuna desonesta,

– nem invejes quem vai bem na sua vida
mas oprime os pequeninos e os humildes.

– 8 Acalma a ira e depõe o teu furor!
Não te irrites, pois seria um mal a mais!

– 9 Porque serão exterminados os perversos,
e os que esperam no Senhor terão a terra.

– 10 Mais um pouco e já os ímpios não existem;
se procuras seu lugar, não o acharás.

– 11 Mas os mansos herdarão a nova terra,
e nela gozarão de imensa paz.

– 12 O pecador arma ciladas contra o justo
e, ameaçando, range os dentes contra ele;

– 13 mas o Senhor zomba do ímpio e ri-se dele,
porque sabe que o seu dia vai chegar.

– 14 Os ímpios já retesam os seus arcos
e tiram sua espada da bainha,

– para abater os infelizes e os pequenos
e matar os que estão no bom caminho;

– 15 mas sua espada há de ferir seus corações,
e os seus arcos hão de ser despedaçados.

– 16 Os poucos bens do homem justo valem mais
do que a fortuna fabulosa dos iníquos.

– 17 Pois os braços dos malvados vão quebrar-se,
mas aos justos é o Senhor que os sustenta.

– 18 O Senhor cuida da vida dos honestos,
e sua herança permanece eternamente.

– 19 Não serão envergonhados nos maus dias,
mas nos tempos de penúria, saciados.

– 20 Mas os ímpios com certeza morrerão,
perecerão os inimigos do Senhor;

– como as flores das campinas secarão,
e sumirão como a fumaça pelos ares.

– 21 O ímpio pede emprestado e não devolve,
mas o justo é generoso e dá esmola.

– 22 Os que Deus abençoar, terão a terra;
os que ele amaldiçoar, se perderão.

– 23 É o Senhor quem firma os passos dos mortais
e dirige o caminhar dos que lhe agradam;

– 24 mesmo se caem, não irão ficar prostrados,
pois é o Senhor quem os sustenta pela mão.

= 25 Já fui jovem e sou hoje um ancião,
mas nunca vi um homem justo abandonado,
nem seus filhos mendigando o próprio pão.

– 26 Pode sempre emprestar e ter piedade;
seus descendentes hão de ser abençoados.

– 27 Afasta-te do mal e faze o bem,
e terás tua morada para sempre.

– 28 Porque o Senhor Deus ama a justiça,
e jamais ele abandona os seus amigos.

– Os malfeitores hão de ser exterminados,
e a descendência dos malvados destruída;

– 29 mas os justos herdarão a nova terra
e nela habitarão eternamente.

– 30 O justo tem nos lábios o que é sábio,
sua língua tem palavras de justiça;

– 31 traz a Aliança do seu Deus no coração,
e seus passos não vacilam no caminho.

– 32 O ímpio fica à espreita do homem justo,
estudando de que modo o matará;

– 33 mas o Senhor não o entrega em suas mãos,
nem o condena quando vai a julgamento.

– 34 Confia em Deus e segue sempre seus caminhos;
ele haverá de te exaltar e engrandecer;

– possuirás a nova terra por herança,
e assistirás à perdição dos malfeitores.

– 35 Eu vi o ímpio levantar-se com soberba,
elevar-se como um cedro exuberante;

– 36 depois passei por lá e já não era,
procurei o seu lugar e não o achei.

– 37 Observa bem o homem justo e o honesto:
quem ama a paz terá bendita descendência.

– 38 Mas os ímpios serão todos destruídos,
e a sua descendência exterminada.

– 39 A salvação dos piedosos vem de Deus;
ele os protege nos momentos de aflição.

= 40 O Senhor lhes dá ajuda e os liberta,
defende-os e protege-os contra os ímpios,
e os guarda porque nele confiaram.”
 

Com o Salmo 36(37), refletimos sobre o destino dos maus e dos bons:

“Este salmo alfabético procura ensinar uma atitude de fé: dar mais valor à vida com Deus do que a felicidade passageira dos maus, e acreditar que realmente feliz é só o justo que confia em Deus.” (1)


Nisto consiste a Bem-Aventurança que o Senhor Jesus nos apresentou no Sermão da Montanha:

“Bem-aventurados os mansos, pois eles herdarão a terra.” (cf. Mt 5,5).

Roguemos a Deus a mansidão e sabedoria necessárias para que firmemos nossos passos, como peregrinos da esperança, na fidelidade ao projeto de Deus a nós confiado, com renovados compromissos com a promoção do bem, porque tão somente assim, felicidade plena alcançaremos. Amém.

 




(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – pág. 756

Em poucas palavras...

                                                             


O poder do Espírito Santo

“Pelo poder do Espírito Santo, nós tomamos parte na Paixão de Cristo, morrendo para o pecado, e na Sua Ressurreição, nascendo para uma vida nova. Somos os membros do Seu corpo, que é a Igreja (1 Cor 12), os sarmentos enxertados na videira, que é Ele próprio (Jo 15,1-4):

‘É pelo Espírito que nós temos parte em Deus. [...] Pela participação no Espírito, tornamo-nos participantes da natureza divina [...]. É por isso que aqueles em quem habita o Espírito são divinizados’.” (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – n. 1988 – citando Santo Atanásio.

Em poucas palavras...

                                                               


A Liturgia terrena: uma antecipação da Liturgia celeste 

“Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a já, na Liturgia celeste celebrada na cidade santa de Jerusalém, para a qual, como peregrinos nos dirigimos e onde Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo (Ap 21,2; Cl 3,1; Hb 8,2); por meio dela cantamos ao Senhor um hino de glória com toda a milícia do exército celestial, esperamos ter parte e comunhão com os Santos cuja memória veneramos, e aguardamos o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, até Ele aparecer como nossa vida e nós aparecermos com Ele na glória (Fl 3,20; Cl 3,4).” (1)

 

(1) Sacrosanctum Concilium – parágrafo n. 8 - apropriado para a passagem da Carta aos Hebreus (Hb 12,18-19.21-24)

Celebremos exultantes de alegria os Mistérios da Fé

                                                                   

Celebremos exultantes de alegria os Mistérios da Fé

“Participando da Liturgia terrena saboreamos
antecipadamente a Liturgia que se celebra
na Santa Cidade, a Jerusalém Celeste.”


Entre tantas riquezas, o Concílio Vaticano II nos agraciou com a Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. Embora inúmeras vezes citada, é possível que ainda seja desconhecida para alguns. Volto a ela, pois, sempre nos renova na Presidência de nossas Celebrações Eucarísticas.

“Cristo está sempre presente em Sua Igreja, principalmente nas Ações Litúrgicas. Está presente no Sacrifício da Missa, tanto na pessoa do Ministro, pois quem o oferece agora, através do Ministério dos Sacerdotes, é Aquele mesmo que Se ofereceu na Cruz, como, mais intensamente ainda, sob as Espécies Eucarísticas.

Está presente pela Sua virtude nos Sacramentos, pois quando alguém batiza é Cristo quem batiza. Está presente por Sua Palavra, pois é Ele quem fala, quando se lê a Sagrada Escritura na Igreja. Está presente, enfim, na Oração e Salmodia da Igreja, Ele que prometeu: Onde dois ou três se reúnem em meu nome, aí estou no meio deles.

De fato, nesta obra tão grandiosa em que Deus é perfeitamente glorificado e santificados os homens, Cristo une estreitamente a Si Sua esposa diletíssima, a Igreja, que invoca seu Senhor e, por Ele, presta culto ao eterno Pai.

Portanto, com razão, considera-se a Liturgia como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, onde os sinais sensíveis significam e, do modo específico a cada um, realizam a santificação do homem.

Assim, pelo Corpo místico de Jesus Cristo, isto é, Sua Cabeça e Seus membros, se perfaz o culto público integral. Por este motivo, toda Celebração Litúrgica, por ser ato do Cristo Sacerdote e de Seu Corpo, a Igreja, é a ação sagrada por excelência, cuja eficácia nenhuma outra obra da Igreja iguala no mesmo título e grau.

Participando da Liturgia terrena saboreamos antecipadamente a Liturgia que se celebra na Santa Cidade, a Jerusalém Celeste, para onde nos dirigimos como peregrinos, lá onde Cristo Se assenta à direita de Deus, Ministro do Santuário e do verdadeiro Tabernáculo.

Juntamente com todos os exércitos celestes, cantamos hinos de glória ao Senhor. Venerando a memória dos Santos, esperamos ter parte em sua companhia. Finalmente, estamos na expectativa do Salvador, nosso Senhor Jesus Cristo, que aparecerá, Ele, nossa vida, e nós também apareceremos com Ele na glória.

A Igreja, seguindo a tradição dos Apóstolos cuja origem remonta ao próprio dia da Ressurreição, celebra o Mistério Pascal cada oito dias, que por isto se chama Dia do Senhor ou Domingo.

Neste dia devem os fiéis reunir-se para escutar a Palavra de Deus e participar da Eucaristia, a fim de se lembrarem da Paixão, Ressurreição e Glória do Senhor Jesus, dando graças a Deus que os recriou para a esperança viva pela Ressurreição de Jesus Cristo, dentre os mortos.

Assim é o Domingo a Festa primordial e, como tal, seja apresentado e inculcado à piedade dos fiéis para que se lhes torne dia de alegria e de descanso dos trabalhos.

Todas as outras celebrações, a não ser que sejam realmente de máxima importância, não passem à sua frente porque é o fundamento e o cerne de todo o Ano Litúrgico.” (n.7)

Vemos que na Liturgia “Cristo une estreitamente a Si Sua esposa diletíssima, a Igreja, que invoca seu Senhor e, por Ele, presta culto ao  eterno Pai.”, portanto, seja aquele que preside, seja aquele que da Missa participa, deve deixar-se envolver pelo esplendor daquilo que se celebra.

Sem desrespeitar as rubricas litúrgicas, sem esvaziar o conteúdo e a estrutura dos  Ritos com que se celebra, devemos nos empenhar a fim de que nossas Missas sejam mais participadas, sejam verdadeiramente plenas, ativas, conscientes, frutuosas e piedosas.

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente

                                           

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente

O Concílio Vaticano II nos agraciou com a Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, e nos apresenta um parágrafo que nos convida a contemplar a presença de Jesus Cristo Ressuscitado em diversos momentos (n.7).

Oremos:

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente em Sua Igreja, principalmente nas Ações Litúrgicas.

Contemplo-Vos, ó Cristo, presente na Sagrada Liturgia como o Vosso exercício do múnus sacerdotal, onde os sinais sensíveis significam e, do modo específico a cada um, o que realizam na santificação do homem.

Contemplo-Vos, ó Cristo, presente na Celebração Litúrgica, por ser ato Vosso, do Cristo Sacerdote e de Seu Corpo, a Igreja, que é a ação sagrada por excelência, cuja eficácia nenhuma outra obra da Igreja iguala no mesmo título e grau.

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente no Sacrifício da Missa, tanto na pessoa do Ministro, pois quem o oferece agora, através do Ministério dos Sacerdotes, é Aquele mesmo que Se ofereceu na Cruz, como, mais intensamente ainda, sob as Espécies Eucarísticas.

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente pela Vossa virtude nos Sacramentos, pois quando alguém batiza é Cristo quem batiza.

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente por Vossa Palavra, pois sois Vós quem fala, quando se lê a Sagrada Escritura na Igreja.

Contemplo-Vos, ó Cristo, sempre presente, enfim, na Oração e Salmodia da Igreja, pois Vós prometestes: “Onde dois ou três se reúnem em meu nome, aí estou no meio deles” (Mt 18,20).

Contemplo-Vos, ó Cristo, unindo estreitamente a Vós, a Vossa esposa diletíssima, a Igreja, que invoca seu Senhor e, por Ele, presta culto ao eterno Pai. Amém. 

A Árvore de todas as árvores: A vivificante Cruz de Cristo!

                                                      

A Árvore de todas as árvores: A vivificante Cruz de Cristo!

Sejamos enriquecidos por um dos Sermões de São Teodoro Estudita (séc. IX), no qual nos convida, como o Apóstolo Paulo, a nos gloriarmos na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo (Gl 6,14).

“Ó preciosíssimo dom da Cruz! Vede o esplendor de sua forma!
Não mostra apenas uma imagem mesclada de bem e de mal, como aquela árvore do paraíso, mas totalmente bela e magnífica para a vista e o paladar.

É uma Árvore que não gera a morte, mas a vida, que não difunde as trevas, mas a luz; que não expulsa do paraíso, mas nele introduz.

A esta Árvore subiu Cristo, como um rei que sobe no carro triunfal, e venceu o demônio, detentor do poder da morte, para libertar o gênero humano da escravidão do tirano.

Sobre esta Árvore o Senhor, como um valente guerreiro, ferido durante o combate em Suas mãos, em Seus pés e em Seu lado divino, curou as chagas dos nossos pecados, isto é, curou a nossa natureza ferida pela serpente venenosa.

Se antes, pela árvore, fomos mortos, agora, pela Árvore recuperamos a vida; se antes, pela árvore fomos enganados, agora, pela Árvore, repelimos a astúcia da serpente.  

Sem dúvida, novas e extraordinárias mudanças!
Em vez da morte, nos é dada a vida; em lugar da corrupção, incorrupção; da vergonha, a glória.

Não é sem razão que o Apóstolo exclama: 'Quanto a mim, que eu me glorie somente na Cruz do Senhor Nosso, Jesus Cristo. Por Ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo' (Gl 6,14).

Pois aquela suprema sabedoria que floresceu na Cruz, desmascarou a presunção e a arrogante loucura da sabedoria do mundo; toda a espécie de bens maravilhosos, que brotaram da Cruz, extirparam inteiramente a raiz da maldade e do pecado.

Já desde o começo do mundo, houve figuras e alegorias desta árvore que anunciavam e indicavam realidades verdadeiramente admiráveis. Repara bem, tu que sentes um grande desejo de saber. Não é verdade que Noé, com seus filhos e esposas e os animais de toda espécie, escapou da morte do dilúvio, por ordem de Deus numa frágil arca de madeira? E o que dizer da vara de Moisés?

Não era figura da Cruz quando transformou a água em sangue, quando devorou as falsas serpentes dos magos, quando separou as águas do mar com o poder do seu golpe, quando as fez voltar ao seu curso normal, afogando os inimigos e salvando aqueles que eram o Povo de Deus?

Símbolo da Cruz foi também a vara de Aarão, quando se cobriu de folhas num só dia para indicar quem devia ser o sacerdote legítimo.

Abraão também prenunciou a Cruz, quando colocou seu filho amarrado sobre o feixe de lenha. Pela Cruz, a morte foi destruída e Adão recuperou a vida. Pela Cruz, todos os Apóstolos foram glorificados e todos os mártires coroados e todos os que creem, santificados. Pela Cruz, fomos revestidos de Cristo ao nos despojarmos do homem velho. Pela Cruz, nós, ovelhas de Cristo, fomos reunidos num só rebanho e destinados às moradas celestes”.

Meditemos sobre a Árvore de todas as árvores:

A Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por ela nos veio a Salvação, no Corpo que nela foi elevado, sacrificado.

Aos seus pés, nasceu a Igreja, e para sempre de Seu lado trespassado se nutriu.

Foi do lado de Cristo, adormecido na Cruz, que nasceu o admirável Sacramento de toda a Igreja.

Oremos:

Senhor, em Vossa morte, a morte do Verbo na Cruz, a morte da morte para a perene Páscoa, que nos abriu as portas da eternidade, para convosco viver, na comunhão de amor com Vosso Pai e o Espírito Santo para sempre. Amém. Aleluia!

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG