sexta-feira, 18 de abril de 2025

O poder do Sangue de Cristo nos revela o puríssimo Amor

                                                                  

O poder do Sangue de Cristo nos revela o puríssimo Amor 


“Contudo um dos soldados
Lhe furou o lado com uma lança,
e logo saiu Sangue e Água” (Jo 19,34)
 

Na Sexta-Feira Santa, de modo especialíssimo, contemplamos o Amor de Deus por nós, testemunhando por Jesus na Cruz. 

Contemplemos Suas incontáveis lições de Amor à luz do texto “Das Catequeses de São João Crisóstomo”, Bispo (Séc. IV).

“Queres conhecer o poder do Sangue de Cristo?

Voltemos às figuras que o profetizaram e recordemos a narrativa do Antigo Testamento: Imolai, disse Moisés, um cordeiro de um ano e marcai as portas com o seu sangue (cf. Ex 12,6-7).

Que dizes Moisés?

O sangue de um cordeiro tem poder para libertar o homem dotado de razão? É claro que não, responde ele, não porque é sangue, mas por ser figura do Sangue do Senhor.

Se agora o inimigo, ao invés do sangue simbólico aspergido nas portas, vir brilhar nos lábios dos fiéis, portas do templo dedicado a Cristo, o Sangue verdadeiro, fugirá ainda mais para longe.

Queres compreender mais profundamente o poder deste Sangue?

Repara de onde começou a correr e de que fonte brotou. Começou a brotar da própria Cruz, e a sua origem foi o lado do Senhor.

Estando Jesus já morto e ainda pregado na Cruz, diz o evangelista, um soldado aproximou-se, feriu-Lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu Água e Sangue: A Água, como símbolo do Batismo; o Sangue, como símbolo da Eucaristia.

O soldado, traspassando-Lhe o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias. Assim aconteceu com este cordeiro. Os judeus mataram um cordeiro e eu recebi o fruto do sacrifício.

De Seu lado saiu Sangue e Água (Jo 19,34). Não quero, querido ouvinte, que trates com superficialidade o segredo de tão grande mistério. Falta-me ainda explicar-te outro significado místico e profundo. Disse que esta Água e este Sangue são símbolos do Batismo e da Eucaristia.

Foi destes Sacramentos que nasceu a santa Igreja, pelo banho da regeneração e pela renovação no Espírito Santo, isto é, pelo Batismo e pela Eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Pois Cristo formou a Igreja de Seu lado trespassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa.

Por esta razão, a Sagrada Escritura, falando do primeiro homem, usa a expressão osso dos meus ossos e carne da minha carne (Gn 2,23), que São Paulo refere, aludindo ao lado de Cristo. Pois assim como Deus formou a mulher do lado do homem, também Cristo, de Seu lado, nos deu a Água e o Sangue para que surgisse a Igreja. 

E assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia também Cristo nos deu a Água e o Sangue durante o sono de Sua morte. Vede como Cristo Se uniu a sua esposa, vede com que alimento nos sacia. Do mesmo alimento nos faz nascer e nos nutre. 

Assim como a mulher, impulsionada pelo amor natural, alimenta com o próprio leite e o próprio sangue o filho que deu à luz, também Cristo alimenta sempre com o Seu sangue aqueles a quem deu o novo nascimento”. (1)

Retomemos as palavras do Bispo: 

“Estando Jesus já morto e ainda pregado na Cruz, diz o Evangelista, um soldado aproximou-se, feriu-Lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu Água e Sangue: a Água, como símbolo do Batismo; o Sangue, como símbolo da Eucaristia”. 

Seja este dia favorável para meditação sobre o Supremo Amor de Deus pela humanidade, que de tanto amor não poupou o próprio Filho, para que n’Ele crendo alcancemos a Vida Eterna. 

Com esta Catequese, sejamos mais uma vez elevados com as maravilhas que Deus realiza em nosso favor, porque é bondoso, compassivo, clemente e cheio de misericórdia. 

Contemplemos o puríssimo amor de Deus por nós, que nos possibilitou nascer do Seu sono mais profundo, o sono da morte, bem como contemplemos o Mistério do amor divino e o poder do Sangue de Cristo.

Contemplemos, de modo especial, o Coração trespassado do Senhor, do qual nascemos e nos nutrimos: Água que é como soro do pericárdio ou exsudação pleural. O que mais, por nós, poderia Deus ter feito? Quem suportaria tanta dor, senão movido por um Amor que nos ama e nos ama até o fim?

Contemplemos os Mistérios Dolorosos, e renovemos nosso compromisso com os crucificados da história, que possuem tantos rostos e nomes.

Façamos deste dia de silêncio, Oração, jejum, recolhimento, ocasião propícia para vivermos intensamente o Tríduo Pascal, ontem iniciado com a Missa da Ceia do Senhor, em que Jesus instituiu a Eucaristia, como memorial da Nova e Eterna Aliança, também instituiu o Sacerdócio e o nos deu o Seu Novo Mandamento: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”.

Deste modo, não nos ocupemos por demais em compreender o amor de Deus, mas muito mais em vivê-lo, pois somente amando a Deus como Ele nos ama é que encontraremos a felicidade. Somente nos amando mutuamente, como Deus nos ama, é que viveremos a desejada fraternidade.

Mistério da Paixão e Morte contemplado, acreditado e vivido num contínuo movimento, edificando a Igreja Sinodal, e escrevendo uma nova História, confessando o Cristo que não foge da Cruz, mas a assume para a redenção da Humanidade.

Mistério da Paixão e Morte, assim vivido tão intensamente, é certeza de que a fraqueza dará lugar à força divina, a escuridão cederá lugar à luz e a morte à vida.

Do mesmo lugar nascemos: de Seu lado trespassado do mesmo lugar nos nutrimos: no Seu Sangue jorrado. Extremo gesto de Amor, para que não apenas nascêssemos, mas jamais morrêssemos, e fôssemos para sempre alimentados: no Mistério de Sua presença na Santa Eucaristia.

Calemo-nos, em absoluto silêncio, e o infinito Amor de Deus por nós, contemplemos!

Aprofundemos o nosso amor por Ele, Jesus Cristo, Nosso Senhor, e bem mais amados, felizes, redimidos, para sempre, nos sentiremos,  pois ninguém nos amou como Ele nos amou.

Caminhemos em passos silenciosos, mais que meditativos, contemplativos, para que possamos exultar de alegria na madrugada da Ressurreição, entoando o grande Aleluia! Ninguém nos amou como Ele! 


(1) Liturgia das Horas -Volume Quaresma/Páscoa - pág. 415-417


A Cruz e a Glória

                                                              

A Cruz e a Glória

“Prestai bem atenção às palavras que vou dizer:
O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens” (Lc 8,44)

Senhor, ouvindo Tuas palavras, contemplo-Te caminhando entre os pobres e os pequenos, teus preferidos, rumo a Jerusalém, onde consumaste teu divino projeto de amor em favor de nós, amando-nos até o fim, na morte do Inocente, do justo na Cruz.

Senhor, antes, Te vejo caminhando no meio do povo, uma presença mansa, discreta. Portadora de bem, vida plena para todos, atraindo ódio daqueles que à Tua Palavra e anúncio do Reino se fecharam, porque incomodados em seus privilégios e interesses.

Senhor, ajudai-nos a Te ver além das aparências e dos entusiasmos fáceis, amando-Te por aquilo que és: verdadeiramente homem, verdadeiramente Deus, nosso Redentor, que nos chama para Te seguir, em fidelidade incondicional, com renúncias necessárias.

Senhor, afastai de nós toda a tentação de falsas esperanças de soluções fáceis diante das provações e dificuldades que possamos enfrentar, confiando em tua Palavra, que não engana e nos pede coragem e maturidade para o carregar da cruz cotidiana.

Senhor, afastai a tentação do desejo da glória da Ressurreição sem passar pelo Mistério da Cruz, e ensinai-nos a seguir Teus passos, e viver como viveste, em total fidelidade à vontade do Pai, entregando-Te nas mãos dos homens, Tu, que recebeste do Pai todo o poder.

Senhor, como membros de Tua Igreja, ajudai-nos a fortalecer os vínculos da comunhão fraterna, convictos que também no interior da vida da comunidade, o caminho da harmonia comunitária passa pela caridade e humildade; o caminho para a glória passa pela Cruz.

Senhor, enviai o Teu Espírito sobre nós, para que na fidelidade ao Teu Pai de amor, compreendamos melhor a missão que a nós confias, para que cristãos de fato sejamos, seguindo-Te primeiro nos sofrimentos e depois na glória. Amém.

Pelo amor e para o amor fomos criados

                                                            



Pelo amor e para o amor fomos criados

Sejamos amados pelo que somos e não pelo que pretendemos ser.

Se amados formos pelo que somos não faremos sombras,
não deixaremos o outro com reticências e explicações fúteis.

Há uma miopia crônica de não saber-se amado,

Isto leva a situações desagradáveis, constrangedoras, indesejáveis...
Quando se é amado percebe-se sua múltipla manifestação.

Não imploro o Amor de Deus, peço apenas a graça
de contemplar Sua ação e manifestação.

Em poucas palavras...

 


Derramai a Vossa Misericórdia! 

“Cristo Jesus, salvai-nos e derramai a vossa misericórdia sobre o povo que vive na esperança da Ressurreição; 

– conservai-nos, hoje e sempre, livres de todo o mal.”  (1)

 

 

(1) Prece das Laudes da  Liturgia das Horas

 

A Crudelíssima Morte ou a Pleníssima Vida! (I)

                                                     

A Crudelíssima Morte ou a Pleníssima Vida!

Contemplemos o Amor de Jesus, Sua humanidade, Sua divindade, Sua entrega por Amor na Cruz, Sua crudelíssima Morte na Cruz por causa de nossa infidelidade, crueldade, pecado…

Vejamos o que nos disse o Papa Bento XVI, quando ainda Cardeal Joseph Ratzinger, de nossa responsabilidade diante da morte de Jesus, do Deus Homem, Homem Deus:

“Deus morreu e nós O trespassamos. Nós O matamos encerrando-O no invólucro deteriorado das ideias rotineiras, exilando-O em forma de piedade sem conteúdo ou em preciosismos arqueológicos; matamo-Lo pela ambiguidade da nossa vida que lançou um véu obscuro sobre Ele”.

Dito de outra forma: Deus morreu e nós O matamos.
Quando?

Quando O fechamos no revestimento apodrecido das ideias superficiais, nos pensamentos sem densidade de conteúdo evangélico, desacompanhado do germe do novo, mas de braços dados com a falta de sinceros e vitais compromissos éticos…

Assim como disse o Papa:

“O encerramos no invólucro deteriorado das idéias rotineiras”
Quando não nos deixamos transformar por Sua Palavra, tão lida, ouvida e conhecida e tão pouco vivida… Para além do conhecimento e acesso, a Palavra deve ser vivida…

“O exilamos em forma de piedade sem conteúdo”.
Quando lançamos Deus para fora de nossa existência, quando nossa vida de oração fica a desejar, ou ainda, quando expressa é em tantas horas e momentos, mas sem conteúdo de vida, sem testemunho. Belas liturgias, como há de ser sempre, mas sem belas ressonâncias na vida, para que se tornem mais belas, mais bonitas também…

Matamos Deus pelos preciosismos arqueológicos, sofisticados estudos que não levam a novos renascimentos, ao compromisso com o Reino.

Quando se procura conhecer o Homem Jesus no Seu tempo, sem a acolhida da Boa Nova de Seu Evangelho que transcende todo tempo – Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre!

Matamos Jesus pela ambiguidade de nossa vida, percebida tristemente na incoerência do que se crê e do que se vive; incoerência entre propósitos e atitudes; divórcio e distanciamento da fé professada e da fé vivida.

Matamos Jesus quando:

- perdemos a característica própria do fermento que somos na massa. Não mais levedamos o mundo com o fermento do amor;

- deixamos de ser sal, deixamos de dar o sabor de Deus à vida, porque somos muitas vezes seduzidos por outros sabores que a vida nos oferece;

- empanturramos com o pão que passa, empanzinados pelo consumo materialista que não nos satisfaz, porque preterimos o Pão da Vida, desprezando-O ou menosprezando Sua força que nutre toda a nossa vida;

- lançamos véu obscuro sobre Ele. Pode ser que não vejam em nós, Cristo e Sua luz, porque deixamos morrer a luz que no Batismo foi acesa. Apaga-se a luz quando perdemos a esperança, quando não revitalizamos a fé, não mantemos acesa a chama da caridade.

Estamos na Semana Santa, a Semana Maior e é tempo de novas posturas, novos e salutares compromissos com a Boa Nova do Senhor.

Não entremos no cortejo dos que promovem a crudelíssima morte de Jesus.

Procuremos dar nossa resposta de amor ao Deus de Amor, assumindo nossa cruz, diremos um sim ao Amor autêntico.

Não vivamos promovendo crudelíssima morte de Jesus, e tudo que temos que fazer é multiplicar esforços para que Ele não morra mais em cada criança famélica, abandonada, desassistida, vítima da prática abortista, assim como em outras inúmeras situações...

Sejamos, portanto, atraídos por Ele, tenhamos a coragem de ser como grão de trigo que morre ao cair na terra, para não ficar só e produzir muitos frutos.

Chorar a crudelíssima morte de Jesus ou fazer da mesma, compromisso com a sacralidade da Vida, em sinais e gestos Pascais.

Depende de cada um de nós:
A Crudelíssima Morte ou a Pleníssima Vida como
Ele nos propôs! 

A crudelíssima morte ou a pleníssima vida! (II)

                                                                           


A crudelíssima morte ou a pleníssima vida! 

Na Semana Santa, contemplando os Evangelhos, refletimos sobre a Hora na qual Jesus Se prepara para ser glorificado, não fugindo da cruz, onde testemunhará, com Sua entrega, a expressão máxima do amor de Deus.

Chegando a Hora, como ainda não o era nas Bodas de Caná, com Seu Sangue derramado, sela a Nova e Eterna Aliança de Amor de Deus com a humanidade…

Do Coração trespassado jorra a tinta do Amor: Seu Sangue, para escrever no coração da humanidade esta Aliança irrevogável, esta reconciliação tão desejada.

A Hora de Jesus possibilita-nos eternizar nossa vida, concede-nos força para a hora presente, leva-nos a alcançar a Hora da eternidade do Amor Divino.

Ressoa em nosso coração Suas próprias palavras, em que transborda toda Sua humanidade dizendo – “Agora sinto-Me angustiado...” (Jo 12,27), e a Carta aos Hebreus (Hb 5,7-8)  – “Cristo, nos dias de Sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas Àquele que era capaz de salvá-Lo da morte. E foi atendido, por causa de Sua entrega a Deus. Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus, por aquilo que sofreu” .

Contemplemos Jesus, verdadeiramente homem, verdadeiramente Deus!

O Papa São Leão Magno (séc V), assim se referiu a Jesus:
“Como poderá ficar fora da comunhão com Cristo, quem recebe Aquele que assumiu a sua própria natureza e é regenerado pelo mesmo Espírito, por obra do qual nasceu Jesus?

Quem não reconhece n'Ele as fraquezas próprias da condição humana? Quem não vê que alimentar-se, buscar o repouso do sono, sofrer angústia e tristeza, derramar lágrimas de compaixão, eram próprios da condição de servo?” (Lit. Horas p. 281 – Vol.II).

Nossas horas terão densidade de vida, sentido, esplendor… se assumirmos a grande Hora de Jesus, na radicalidade da proposta, de tomar nossa cruz de cada dia para segui-Lo.

Em empenho sincero com a vida, com a realização do Reino, superando todo e qualquer sinal de morte que nos cerque: analfabetismo, fome, nudez, violência, conflitos étnicos, gastos com armas, exploração de toda forma, destruição do meio ambiente, enfermidades...

Vivendo cada hora até a hora de nossa morte, quando pelo mérito da Hora de Jesus, poderemos adentrar na eternidade, vivendo intensamente e eternamente a Hora de Deus, contemplando-O, ao lado da Rainha dos céus, dos Seus Santos, Santas e Anjos!  

Em poucas palavras...

                                                  


A mais bela História do Amor de Deus

 

O Evangelista São João convida a contemplar o Amor plenamente revelado por meio de Jesus, como o próprio exclama :

 

“Deus amou tanto o mundo que nos deu o Seu Filho para que quem n’Ele crê não morra, mas tenha a vida eterna”  (Jo 3,16). 

 

Contemplemos e fiquemos abismados diante da mais bela História do Amor de Deus por nós: Jesus Cristo, 0 Filho Amado do Pai.

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