quinta-feira, 10 de abril de 2025

Celebremos mais um ano de Ministério Presbiteral (II)

                                                        

Celebremos mais um ano de Ministério Presbiteral (II)

Rever o caminho, alargar o horizonte...

- deve ser um homem sacramental, sinal visível do Amor de Deus, em todos os momentos, sobretudo quando celebra os Sacramentos, e celebra não para os outros, mas com os outros, deixando-se impregnar pelo Mistério celebrado, na mais perfeita mistagogia, sobretudo quando celebra a Eucaristia, quando a Palavra prega, quando o Mistério celebra...;

- Deve ser, portanto, um “mistagogo”, homem do Mistério e não misterioso;

- Ser um homem com autoridade não merecida, que não a confundirá com autoritarismo;

- Ter no coração a paciência e serenidade necessárias para ver as sementes do Reino crescer, sem imediatismos estéreis e inconsequentes...;

- Dar testemunho da pobreza, do desapego, da confiança incondicional em Deus, vivendo o celibato não como privação, mas como total liberdade para amar e servir o Povo de Deus, a Igreja que pelo Sacramento da Ordem se entregou;

- Ser alguém que experimentou a misericórdia de Deus quando chamado, porque não o foi por méritos, talvez até por não ter nenhum, mas para que Deus manifeste Sua onipotência através da misericórdia e muitas vezes multiplicada no Sacramento da Penitência;

- Ter a vida iluminada por Deus, portanto iluminadora, como bem disse o Profeta Isaías – “... Se acolheres de coração aberto o indigente e prestares o socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia”;

- Fazer com sua vida, obras, gestos de amor evangélico multiplicados, muito mais do que com suas palavras, a luz de Deus brilhar diante dos homens, multiplicando assim os louvores que sobem aos céus, ao Pai, porque a honra, a glória, o louvor somente a Ele pertencem;

- Ser consciente de que nada somos e poderíamos não fosse a graça de Deus. Se méritos há, a Deus tão apenas, porque servos inúteis o somos. Bem disse Santo Agostinho: “Vão pregador da Palavra de Deus externamente, quem não a escuta interiormente” e São Gregório Magno – “Que o pastor seja discreto no silêncio, útil na fala, para não falar o que deve calar, nem calar o que deve dizer”, pois tanto uma palavra inoportuna quanto o silêncio podem arrastar ao erro ou deixar de instruir. O mesmo acrescenta – “Muitas vezes, pastores imprudentes, temendo perder as boas graças dos homens, têm medo de falar abertamente o que é reto, por isso, agem como mercenários que fogem à vinda do lobo... Quando o pastor tem medo de dizer o que é reto, não é o mesmo que dar as costas, calando-se?”. Nunca é demais repetir nosso padroeiro: “Cessem as palavras, falem as obras, estamos cansados de palavras vazias...”;

- deve empenhar-se, incansavelmente, para tornar o mundo mais iluminado e segundo os desígnios de Deus; portanto, dever ter o gosto de Deus nos lábios, na boca, no coração, no fundo da alma; 

- Jamais parar no tempo, pois vive num contexto de mudança de época, pôr-se em atitude de formação permanente em todos os níveis, portanto não ter uma fé que o afaste do mundo, mas no diálogo com as ciências, procurar dar pertinência ao seu discurso, pregação, anúncio, denúncia. Não há presbítero que tudo saiba e nada mais tenha de aprender. A comunidade precisa de sábios Presbíteros que a ajude a compreender o mundo, que estejam inseridos no tempo presente vivido. Nisto consiste ser luz que brilha e não ofuscada, sem penetração, irradiação, iluminação...;

- Não ser arauto do relativismo de valores, subjetivismos, moralismos, dogmatismos, individualismos, egolatrias, e outros tantos empecilhos à moral cristã...

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Heroicas testemunhas de fidelidade ao Senhor

 


Heroicas testemunhas de fidelidade ao Senhor

Na quinta Quarta-feira do Tempo da Quaresma, ouvimos a passagem do Livro de Daniel (Dn 3,14-20.24.49a), sobre o conhecido episódio dos três jovens hebreus ilesos na fornalha ardente (Sidrac, Misac e Abdênago).

O Livro de Daniel foi escrito no século II a.C., a fim de fortalecer a confiança do povo de Israel em Deus, no período atormentado da helenização forçada e, por consequência, da perseguição de Antíoco IV Epifânio.

Esta narração sapiencial é contada com vivacidade e pormenores pitorescos, colocando em relevo a tensão entre a idolatria e a adoração ao Deus único, vivo e verdadeiro, além do conflito entre a autoridade política e  a fé.

Embora sofra a tentativa de abandono dos valores tradicionais, o povo eleito dever permanecer sólido na fé no Senhor, confiante no Seu auxílio.

A proteção de Deus não é sempre visivelmente maravilhosa e magnífica como na história dos três jovens:

“Às vezes Deus ‘manda Seu anjo’, ou seja, faz perceber exteriormente Sua intervenção, mas sempre e em toda parte os acontecimentos, em seu impulso fundamental, procedem d’Ele e a Ele conduzem por caminhos misteriosos. Esta foi a fé dos três jovens e de todos os márti4res. Esta deve ser a nossa fé.” (Missal Cotidiano)

A ameaça do imperador não aterroriza os três jovens porque eles conhecem o verdadeiro Deus e a verdadeira liberdade: “Se guardardes a minha Palavra, sereis de fato meus discípulos; conhecereis a verdade e a verdade os libertará” (Jo 8,32), dirá Jesus no Evangelho, pouco mais tarde.

Inclusive, Nabucodonosor, rei poderoso e opressor de Israel, se submeterá e reconhecerá que o Deus bíblico, é o único Deus, Senhor do Universo.

Fundamental esta página de heroico testemunho, porque os cristãos dos primeiros séculos foram buscar força ao exemplo destes três jovens para resistir durante as perseguições.

Também para nós, a narração oferece, em todo o tempo,  encorajamento e uma certeza consoladora: Deus nunca abandona quem a Ele é fiel.

Muitas são as “fornalhas ardentes das provações” em nosso cotidiano: tenhamos a mesma fidelidade e coragem e Sidrac, Misac e Abdênago. A Igreja e o mundo precisam de discípulos missionários como os jovens desta memorável página da Sagrada Escritura.

Peregrinos da esperança só o seremos se mantivermos a mesma fidelidade à Palavra de Deus. Portanto, fundamental que por ela sejamos iluminados e alimentados, nos mais diversos momentos de oração, dentre eles a Leitura Orante, e sobretudo, quando celebramos a Santa Missa, em que a Palavra de Deus é ricamente proclamada, para que se encarne em nossas vidas.

Das fornalhas ardentes de cada dia, livrai-nos, Senhor. Amém.

 

 

Fonte: Lecionário Comentado – Volume Quaresma/Páscoa – Editora Paulus – pág. 242-245e Missal Cotidiano – Editora pp. 299-300


Em poucas palavras...

                                             


A perfeição cristã

“«Todos os cristãos [...] são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade» (Lumen Gentium 40).

«A perfeição cristã só tem um limite: o de não ter nenhum» (São Gregório de Nissa).” (1)

 

(1)              Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 2028

Somente o Senhor nos dá a verdadeira liberdade

                                                              

Somente o Senhor nos dá a verdadeira liberdade

Ouvimos na quarta-feira da 5ª Semana da Quaresma, a passagem do Evangelho de João (cf. Jo 8,31-42), e refletimos sobre a verdadeira liberdade.

Por vezes pensamos que somos livres, mas podemos estar equivocados, porque existem muitas formas sutis de escravidão: a nossa tendência ao mal, as nossas imaturidades e as nossas fraquezas. Estas são as piores expressões de escravidão, porque brotam exteriormente.

Brotam exatamente lá dentro de nós, e ainda mais, têm o poder de nos enganar, porque pensamos que estamos fazendo a nossa vontade, quando, na verdade, estamos cedendo aos nossos desejos, que não nos deixam ser livres, e tornamos escravos de nós mesmos e de nossas vontades, vivendo uma pseudo e estéril liberdade, que levará à multiplicação de relações de escravidão em todos os âmbitos, esvaziando a beleza do conceito da liberdade.

Mas qual o caminho para que sejamos verdadeiramente livres? Há alternativa?

Somente permanecendo unidos a Cristo é que poderemos vencer a nossa natureza e sermos verdadeiramente livres.

Somente com Ele, e com Sua Palavra, nos tornamos verdadeiramente livres, porque nos liberta das paixões desordenadas, dos pensamentos que não edificam a fraternidade, de atitudes que maculam a história em todos os seus âmbitos.

Somente com o Senhor, nos sentiremos livres para amar como Ele ama, e muitos frutos produzir.

Somente quem crê e procura viver a Verdade, que é o próprio Jesus, Caminho, Verdade e Vida, viverá o verdadeiro amor; saberá se consumir para a luz reluzir, onde quer que esteja, para quem quer que seja. Concluímos com as palavras do Apóstolo Paulo aos Gálatas -  "É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5,1).

“A verdade vos libertará”

                                                     

“A verdade vos libertará”

A Liturgia da Quarta-feira da 5ª semana da Quaresma nos oferece a passagem do Evangelho em que Jesus Se apresenta aos judeus como "A Verdade que liberta” (cf. Jo 8,31-42).

Vejamos a afirmação de Jesus sobre a Verdade, que é Ele mesmo:

“Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.

O Missal Cotidiano nos apresenta uma reflexão que muito nos ajuda neste tempo favorável de conversão, para que sejamos mais autênticos discípulos missionários do Senhor, acolhendo e vivendo a Sua Palavra, tornando-nos filhos no Filho:

“Para dizer-se discípulo de Cristo não basta experimentar algum sentimento de simpatia por Ele e por sua doutrina, ou inflamar-se por Ele em alguma circunstância partilhar, mas cumpre a Ele aderir habitualmente, com adesão vital que inspire praticamente todas as atitudes.

A adesão cordial à verdade, o progresso na luz e a libertação das seduções do mal são três grandes marcos da vida espiritual em seus inícios, segundo a mística joânica.

A liberdade de que fala Cristo é a que nos permite permanecer habitualmente na casa do Pai. É A mesma pela qual Ele, que saiu do Pai e volta ao Pai, é uma só vontade com o Pai, a mesma com que enfrenta o Seu sacrifício, fiel a Deus e à própria missão até o extremo.
Celebrando a Eucaristia, nós nos situamos na mesma linha” (1)

Encontramos no Lecionário Comentado uma reflexão com a qual nos identificamos:

Ninguém está livre do perigo do provincianismo religioso que nos empobrece, porque não nos coloca em diálogo com o diferente, com suas riquezas e valores.

Também, ninguém está livre de presumida superioridade em todos os âmbitos e com ela a falsa segurança e a pseudoliberdade.

Portanto, urge a adesão incondicional ao Senhor numa fé inquebrantável e irremovível, como tantos exemplos: como o testemunho dos três jovens na fornalha ardente, diante do Rei Nabucodonosor (Dn 3,14s), os primeiros cristãos e tantos outros na História da Igreja:

"Os cristãos dos primeiros séculos foram buscar força ao exemplo destes três jovens para resistir durante as perseguições. Ainda hoje esta narração oferece encorajamento e uma certeza consoladora: Deus nunca abandona quem Lhe é fiel"(2)

Esta adesão à verdade nos coloca num progresso contínuo na luz, e tão somente assim somos libertos das seduções do mal, fazemos progressos na liberdade, pautando a vida pela Palavra do Senhor, a Verdade que nos faz verdadeiramente livres, pois como afirmou o Apóstolo Paulo –“É para a liberdade que Ele nos libertou” (Gl 5,1).

Trilhando o itinerário quaresmal, professemos nossa fé no Senhor e na Sua Palavra, que nos liberta, pois tão somente assim viveremos segundo o Espírito, na fidelidade ao Pai e ao Seu Projeto de vida, amor e paz para todos nós. 


(1) Missal Cotidiano - Editora Paulus - p.302
(2) Lecionário Comentado – Editora Paulus - pp. 242-245

Ó “Hóspedes de minha alma”

                                                       


Ó “Hóspedes de minha alma”

Celebraremos e viveremos a Semana Santa, como tempo favorável para o recolhimento e contemplação do imensurável amor de Deus por nós, em sua expressão máxima na morte do Filho na Cruz, reflitamos estas palavras da Carmelita Santa Elizabeth da Trindade (1880-1906):

“O amor habita em nós, onde meu único exercício é reentrar em mim, e lá perder-me naqueles que ali habitam. A felicidade da minha vida é a intimidade com os Hóspedes da minha alma”.

Oremos:

Ó “Hóspedes de minha alma”, afastai-me de todos os ruídos que me impeçam a reentrada em mim mesmo, a fim de que redescubra sempre Vossa morada em mim.

Ó “Hóspedes de minha alma”, libertai-me de tudo aquilo que me cega e não me permite vê-Los, habitando como mais belos hóspedes, no mais profundo de mim.

Ó “Hóspedes de minha alma”, ajudai-me a encontrar a felicidade autêntica, que tão somente podeis me dar, fortalecendo minha intimidade Convosco.

Ó “Hóspedes de minha alma”, fortalecei-me na alegria de Vos ter na mais perfeita intimidade, e que esta alegria possa a muitos inflamar, sobretudo os mais frágeis e necessitados de solidariedade.

Ó “Hóspedes de minha alma”, que jamais me separe de Vós, que sois Um em cada um nós, vivendo com coragem e fidelidade a “loucura da Cruz”, a Verdadeira Sabedoria que ilumina o mundo. Amém.

A Palavra de Deus ilumina nossos caminhos (Salmos)

                                                            

A Palavra de Deus ilumina nossos caminhos

Sejamos enriquecidos pelo Comentário sobre os Salmos, escrito pelo Bispo Santo Ambrósio (Séc. IV), em que nos convida a abrir bem a nossa boca à Palavra de Deus e proclamá-la com júbilo.

“Esteja sempre em nosso coração e em nossos lábios a meditação da sabedoria! Proclame a tua língua o direito, e a Lei de Deus more em teu coração. Assim te diz a Escritura: Falarás sobre eles assentado em casa, andando pelos caminhos, dormindo, levantando-te. Falemos do Senhor Jesus, porque Ele é a sabedoria e a Palavra, pois é o Verbo de Deus. Também está escrito: Abre tua boca à Palavra de Deus.

Exala-a quem faz ressoar Seus ditos e medita Suas palavras. D’Ele falemos sempre. Falamos sobre a sabedoria, é Ele! Falamos da virtude: é Ele! Falamos de justiça, ainda é Ele! Falamos de paz, é Ele também! Falamos sobre a verdade, a vida, a redenção, sempre Ele!

Está escrito: Abre tua boca à palavra de Deus. Abre tu, Ele fala. Por esta razão, diz Davi: Ouvirei o que falará em mim o Senhor, e o próprio Filho de Deus: Abre tua boca, Eu a encherei. Nem todos, porém, como Salomão, podem alcançar a perfeição da sabedoria. Nem todos, como Daniel. Em todos, no entanto, segundo suas possibilidades se infunde o espírito da sabedoria, em todos os que são fiéis. Se crês, tens o espírito da sabedoria.

Por isso medita sempre, fala das realidades de Deus, sentado em casa. Dizendo ‘casa’, podemos entender a Igreja; ou ‘casa’ , o mais íntimo em nós, onde falamos dentro de nós.

Fala com prudência, para te livrares do pecado, não caias por falar demais. Assentado, fala contigo mesmo como um juiz. Fala em caminho, não fiques à toa nunca. Falas no caminho, se em Cristo falas, Cristo é o caminho. No caminho fala a ti, fala a Cristo. Escuta de que modo lhe falarás: Quero que os homens orem em todo lugar, levantando mãos puras, sem cólera nem disputas.

Fala, ó homem, dormindo, e que não te surpreenda o sono da morte. Ouve como falarás dormindo: Não entregarei ao sono meus olhos e minhas pálpebras à sonolência, enquanto não encontrar um lugar para o Senhor, uma tenda para o Deus de Jacó.

Quando te ergues ou te reergues fala-lhe para cumprir o que te foi ordenado. Ouve como Cristo te desperta. Tua alma diz: A voz de meu irmão faz-me ouvir à porta e Cristo diz: Abre-me, minha irmã esposa. Escuta como despertas a Cristo. Diz a alma: Eu vos conjuro, filhas de Jerusalém, a despertar e ressuscitar a caridade. A caridade é Cristo”.

Este Comentário nos ajuda no aprofundamento do primeiro pilar da Evangelização, que encontramos nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – (CNBB) - Doc 109: o pilar da Palavra.

Jesus Cristo é a Sabedoria de Deus, a mais sublime, santidade, justiça e Redenção, de modo que, quem se gloria, no Senhor se glorie, pois d’Ele temos recebido de Sua plenitude, graça sobre graça.

Jesus é a Palavra do Pai que nos comunica luz, vida, paz, força, alegria, amor e quanto mais precisarmos.

Urge que cresçamos cada dia na intimidade com Deus, acolhendo e meditando a Sua Palavra nas Sagradas Escrituras, em momentos intensos e fecundos de oração.

Neste sentido, a Igreja tem motivado a rica tradição da Leitura Orante da Palavra de Deus, com seus passos (Leitura, Meditação, Oração e Contemplação).

Que assim aconteça em nossas comunidades, a fim de que tenhamos uma Espiritualidade enraizada e fundamentada na Sagrada Escritura.

Deste modo fortaleceremos os inseparáveis pilares da Evangelização Pão da Palavra, Pão da Eucaristia, Caridade e Ação Missionária.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG