segunda-feira, 7 de abril de 2025

Em poucas palavras...

                                                           


A Hora de Jesus

“Este desejo de fazer seu o plano do amor de redenção do seu Pai, anima toda a vida de Jesus (Lc 12,50; 22,15; Mt 16,21-23).

A Sua paixão redentora é a razão de ser da Encarnação: «Pai, salva-Me desta hora! Mas por causa disto, é que Eu cheguei a esta hora» (Jo 12, 27).

«O cálice que o Pai Me deu, não havia de bebê-lo?» (Jo 18, 11). E ainda na cruz, antes de «tudo estar consumado» (Jo 19, 30), diz: «Tenho sede» (Jo 19, 28).”  (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica - parágrafo n. 607

Contemplemos o Sacrifício Redentor de nosso Senhor

                                                                    


Contemplemos o Sacrifício Redentor de nosso Senhor

Sejamos enriquecidos pelos “Comentários sobre os Salmos”, do Bispo e mártir São João Fisher (séc. XVI), na compreensão do Sacrifício de nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, quando Se ofereceu no Altar da Cruz, num templo somente construído pela mão de Deus, como Ele mesmo afirma.

“Jesus Cristo é o nosso Sumo Sacerdote e o Seu precioso corpo é o nosso sacrifício, que Ele ofereceu no Altar da Cruz para a salvação de todos os homens.

O Sangue derramado por nossa redenção não era de novilhos e bodes (como na antiga Lei), mas do inocentíssimo Cordeiro Cristo Jesus, nosso Salvador.

O templo onde nosso Sumo Sacerdote ofereceu o Sacrifício não era feito por mãos humanas, mas edificado unicamente pelo poder de Deus. Porque Ele derramou Seu Sangue diante do mundo, que é na verdade o templo construído só pela mão de Deus.

Este templo tem duas partes: uma é a terra que agora habitamos; a outra ainda é desconhecida por nós mortais.

Jesus Cristo ofereceu Seu primeiro Sacrifício aqui na terra quando padeceu a morte crudelíssima. Em seguida, revestido da nova veste da imortalidade, com Seu próprio Sangue entrou no Santo dos Santos, isto é, no céu, onde apresentou diante do trono do Pai celeste aquele Sangue de valor infinito, que derramara uma vez para sempre por todos os homens cativos do pecado.

Este sacrifício é tão agradável e aceito por Deus que, logo ao vê-lo, não pode deixar de compadecer-se de nós e derramar a Sua misericórdia sobre todos os que estão verdadeiramente arrependidos.

É, além disso, um Sacrifício eterno. Não é oferecido apenas uma vez cada ano (como acontecia entre os judeus), mas cada dia para o nosso consolo, e ainda mais, a cada hora e a cada momento, para nosso conforto e nossa alegria. Por isso o Apóstolo acrescenta: Obtendo uma eterna redenção (Hb 9,12).

Deste santo e eterno Sacrifício, participam todos os que experimentaram a verdadeira contrição e arrependimento dos pecados cometidos, e tomaram a inabalável resolução de não mais voltar aos vícios antigos e de perseverar com firmeza no caminho das virtudes a que se consagraram.

É o que ensina São João com estas palavras: Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto ao Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro (1Jo 2,1-2).”

Parece anacrônico falar em sacrifício, quando há uma lógica permeando as relações entre as pessoas. Evidentemente, aqui não se trata de um sacrifício masoquista (não faz sentido algum a renúncia e sofrimento pelo sofrimento em si).

O Sacrifício de nosso Senhor Jesus é a expressão de um Amor vivido de modo intenso, radical, total em favor da humanidade.

Ele enfrentou e assumiu a crudelíssima morte para que a morte não mais pudesse reinar e determinar a lógica das relações humanas.

Ao derramar Seu Sangue e morrer por Amor de nós, venceu o último inimigo: a morte. Por isto, concluamos retomando o último parágrafo do Comentário, em que o Bispo nos apresenta Jesus como aquele que pode nos perdoar, levando-nos à reconciliação com Deus e com nosso próximo, fundando-se nas palavras do Evangelista São João:

“É o que ensina São João com estas palavras: Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto ao Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro (1 Jo 2,1-2).” 

Semana Santa: tempo de intensa misericórdia

                                                     

Semana Santa: tempo de intensa misericórdia

Viveremos a Semana Santa, chamada de Semana Maior, em que, como Igreja, nos recolheremos em profunda, intensa e fecunda oração.

Oportuno, sempre, rezarmos esta Oração escrita por Santa Faustina Kowalska, que muito nos ajuda na compreensão do que consiste a misericórdia para um cristão, e o que ela exige, para que seja autêntica e agradável a Deus.

Sejamos misericordiosos como o Pai! E somente seremos, se nos configurarmos decididamente a Jesus, que nos revela a Face misericordiosa do Pai, na plena comunhão com o Espírito Santo, o Amor.

Assim rezando e assim vivendo, viveremos a Semana Santa, cada vez mais unidos ao Mistério da Paixão e Morte do Senhor na Cruz, para com Ele também ressuscitarmos.

Oremos:

Ajudai-me, Senhor, para que os meus olhos sejam misericordiosos, de modo que eu jamais suspeite nem julgue as pessoas pela aparência externa, mas perceba a beleza interior dos outros e possa ajudá-los.

Ajudai-me, Senhor, para que os meus ouvidos sejam misericordiosos, de modo que eu esteja atenta às necessidades dos meus irmãos e não me permitais permanecer indiferente diante de suas dores e lágrimas.

Ajudai-me, Senhor, para que a minha língua seja misericordiosa, de modo que eu nunca fale mal dos meus irmãos; que eu tenha para cada um deles uma palavra de conforto e de perdão.

Ajudai-me, Senhor, para que as minhas mãos sejam misericordiosas e transbordantes de boas obras, nem se cansem jamais de fazer o bem aos outros, enquanto, aceite para mim as tarefas mais difíceis e penosas.

Ajudai-me, Senhor, para que sejam misericordiosos também os meus pés, para que levem sem descanso ajuda aos meus irmãos, vencendo a fadiga e o cansaço; o meu repouso esteja no serviço ao próximo.

Ajudai-me, Senhor, para que o meu coração seja misericordioso e se torne sensível a todos os sofrimentos do próximo; ninguém receba uma recusa do meu coração. Que eu conviva sinceramente mesmo com aqueles que abusam de minha bondade. Quanto a mim, me encerro no Coração Misericordiosíssimo de Jesus, silenciando aos outros o quanto tenho que sofrer.

Vós mesmo mandais que eu me exercite em três graus da misericórdia; primeiro: Ato de misericórdia, de qualquer gênero que seja; segundo: Palavra de misericórdia – se não puder com a ação, então com a palavra; terceiro: Oração. Se não puder demonstrar a misericórdia com a ação nem com a palavra, sempre a posso com a oração. A minha oração pode atingir até onde não posso estar fisicamente.

Ó meu Jesus, transformai-me em Vós, porque Vós tudo podeis”. (1)


(1) Oração escrita por Santa Faustina em 1937, e que se encontra em seu Diário (p.163 - Caderno I).

Porque sois minha luz, Senhor!

                                                        

 

Porque sois minha luz, Senhor!

O Bispo de Nápoles, João, o pequeno em seu Sermão nos enriquece com esta reflexão inspirada no Salmo 27, 1: “O Senhor é minha luz e Salvação: a quem temerei?”

“O Senhor é minha luz e minha salvação: a quem temerei? Grande servo é este que sabia de que maneira era iluminado, donde lhe vinha a luz e quem o iluminava.

Via a luz, não esta que declina à tarde; mas aquela que os olhos não veem. As almas iluminadas por esta luz não caem no pecado, não tropeçam nos vícios.
O Senhor disse: Caminhai enquanto tendes a luz em vós.
De que luz falava Ele? Não seria de Si mesmo? Ele que afirmou:

Eu, a luz, vim ao mundo, para que aqueles que veem não vejam e os cegos recebam a luz.

É Ele, o Senhor, nossa luz, sol de justiça, que refulgiu em Sua Igreja católica, espalhada por toda a terra.

O Profeta, figurando-a, clamava: O Senhor é minha luz e minha salvação: a quem temerei?

O homem interiormente iluminado não vacila, não abandona o caminho, tudo tolera.

Vê longe a pátria, por isso suporta as adversidades. Não se entristece com as vicissitudes terrenas, mas em Deus se fortalece.

Humilha o seu coração, é constante, e a sua humildade o torna paciente.

A verdadeira luz que ilumina todo homem que vem a este mundo se dá aos que temem a Deus, inunda a quem quer, onde quer, revelando-Se a quem o Filho quiser.

Quem está sentado nas trevas e na sombra da morte, nas trevas do mal e nas sombras dos pecados, ao ver surgir a luz, horroriza-se, desdiz, arrepende-se, envergonha-se e exclama:

O Senhor é minha luz e minha salvação: a quem temerei? Grande salvação, meus irmãos! Ela não teme a fraqueza, o cansaço não lhe faz medo, não conhece dor.

Digamos, então, com toda força, não só de boca, mas de coração: O Senhor é minha luz e minha salvação: a quem temerei?

Se é Ele quem ilumina, Ele quem salva, a quem poderei temer? Venham as sombrias sugestões, o Senhor é minha luz.

Podem vir, não poderão ir mais longe. Assediam nosso coração, não conseguem vencê-lo. Venham os cegos desejos, o Senhor é minha luz.

Nossa força está em que Ele Se dá a nós e nós o entregamos a Ele.

Correi ao médico enquanto podeis fazê-lo: Não aconteça que não seja mais possível quando o quiserdes.”

Como nos tocam estas palavras do Bispo:

“O homem interiormente iluminado não vacila,
não abandona o caminho, tudo tolera.
Vê longe a pátria, por isso suporta as adversidades…”


Cada tempo tem suas luzes e sombras, recuos e avanços a serem feitos.

Não poucas são as inquietações cotidianas, também não poucos são os infortúnios que marcam nossa vida…

Deus que jamais nos quer mergulhados em infantilismos espirituais, mas na confiança amadurecida, não dispensando nossa participação, colaboração, acompanha-nos com Sua luz, força, graça e amor.

O batizado é alguém que foi iluminado por Deus; tem a luz divina, por isto que o Senhor Jesus disse:

“Eu Sou a luz do mundo, quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). 

Eis a nossa missão: ao sermos iluminados, também iluminadores, crendo n’Aquele que é luz do mundo, esta mesma luz testemunhar nas mais diversas situações; n’Ele confiando, Sua Palavra acolhendo e vivendo: Não temais, conosco está e estará a luz das nações!

Porque sois minha luz, Senhor! 
Incondicionalmente, sois minha luz!


PS: Fonte: Liturgia das Horas – Vol. III - pág. 110 – 111, Dos Sermões de João, o Pequeno, Bispo de Nápoles (Séc. XIV).

A proximidade com o Senhor nos faz luminosos

 

                                      
A proximidade com o Senhor nos faz luminosos
       
Senhor Jesus, suave é a Vossa luz, extremamente boa, para nossos olhos, penetrantes, iluminai os mais sombrios caminhos que tenhamos que trilhar, até que possamos alcançar a luminosidade eterna, a plenitude de luz, em que, com Vossa Morte e Ressurreição, chegastes e um lugar nos prometestes.
 
É como contemplar um sol esplêndido, porque sem a luz o mundo não teria beleza, a vida não seria vida, e com Moisés, também dizemos: E Deus viu a luz e declarou-a boa, e nós temos a graça de Vos contemplar, a verdadeira e eterna luz que ilumina a todo homem que vem a este mundo, o Redentor do  mundo, que, feito homem, quisestes  assumir ao máximo a nossa  condição humana.
 
Vós, que sois a luz do mundo, nos dissestes – “Quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida” e ainda “Este é o juízo: a luz veio ao mundo” (Jo 8,12), e viestes para conviver com nossa pequenez e fragilidade, e não distanciastes de nossa enfermidade, e restituístes a vista aos cegos, fizestes os coxos andarem, os surdos ouvirem, limpastes os leprosos, aos mortos devolvestes a vida.
 
É um deleite vê-Lo com olhos espirituais e contemplarmos demoradamente Vossa simples e divina beleza, e pela união e comunicação convosco, tornar-nos luminosos, com o espírito banhado de doçura e revestido de santidade, com o dom do entendimento, vibrarmos de uma alegria divina todos os dias.
 
Exultemos com todos os juntos, diante de Vossa presença, que nos revela a face do Pai de Misericórdia, ternura e bondade, e  com os que trilham os retos caminhos, somemos nossos cantos e louvores para que subam mais fortes a Vós, que mereceis toda a honra, glória, poder e louvor! Amém!
 
PS: Livre Adaptação - Do Comentário sobre o Eclesiastes, do Bispo São Gregório de Agrigento, (Séc. VI). 
 


A confiança dos inocentes na ação divina

                                                         

A confiança dos inocentes na ação divina

Na segunda-feira da quinta semana do Tempo da Quaresma, ouvimos a passagem do Livro do Profeta Daniel (Dn 13,1-9.15-17.19-30.33-62), que nos apresenta o testemunho de fidelidade da bela e jovem Suzana (origem do hebraico, que significa lírio, açucena).

Como bem sabemos, ela foi insidiada por dois juízes anciãos de Israel, no tempo do Exílio na Babilônia.

Trata-se de um relato fruto da mais fina psicologia, com uma notável tensão progressiva até ao ensinamento didático que se pretende transmitir: o triunfo da inocência sobre a maldade.

Quanto à sua redação, remonta provavelmente ao século I a.C., e reflete a polêmica contra os saduceus e as autoridades políticas e religiosas desse tempo.

Com a narração, vemos a condenação amarga e maldosa dos chefes perversos e mentirosos, afastados de Deus e indignos de sua missão como guias do povo.

A atitude confiante de Suzana no Senhor reflete a confiança dos pobres e pequeninos em Deus, que defende os inocentes e nunca os abandona, porque têm tão somente n’Ele a esperança.

Suas palavras: – “Prefiro cair nas vossas mãos sem ter feito nada, a pecar na presença do Senhor”, é o grito dos mártires Macabeus e a mais bela expressão dos seus heroicos sentimentos, séculos mais tarde.

A jovem, sem nenhum apoio humano, com a consciência inocente, conta com a intervenção de Deus na pessoa e palavras de Daniel, como nos revela a passagem.

Experimenta a intervenção divina, que sempre se manifesta de modo surpreendente, invertendo uma situação aparentemente irreversível.

Este relato bíblico remete a ontem, hoje e em todos os tempos àqueles que procuram manter viva a fé em sintonia com a vida, em absoluta confiança em Deus, mantendo firme esperança em Sua Palavra, que nos impele ao relacionamento profundo e fecundo de amor.

Concluindo, lembramos a passagem do Evangelho de João (Jo 8,1-11), sobre a pecadora surpreendida em adultério, e a ação misericordiosa em seu favor, desmascarando a hipocrisia dos escribas e fariseus, escondidos em sua falsidade.

Por sua atualidade, pode ser também uma página iluminadora para refletirmos sobre o sofrimento dos inocentes; as injustiças cometidas contra os pobres de todos os tempos; e de modo especial toda e qualquer forma de violência cometida contra a mulher, em sua pecaminosa expressão – o feminicídio.


Fonte de pesquisa:

Lecionário Comentado – Volume Quaresma-Páscoa - Editora Paulus - Lisboa – 2011 - pp. 232-233

Comentários à Bíblia Litúrgica – Gráfica Coimbra 2 – pp.681-682

domingo, 6 de abril de 2025

“Vá e não peques mais” (VDTQC)

                                                           

“Vá e não peques mais”

No 5º Domingo da Quaresma (Ano C), a Liturgia da Palavra da Santa Missa nos convida a nos pormos de pé, vivendo de maneira diferente, acolhendo a Palavra de Jesus que foi dirigida à pecadora surpreendida em adultério: “vai e não tornes a pecar”.

É o grande convite para fortalecermos o dinamismo de conversão que iniciamos com a Quarta-feira de Cinzas, voltando-nos para um Deus que nos ama e nos desafia a romper as escravidões que nos afastam de Seu Amor e nos colocando a caminho numa vida nova, até que alcancemos a Ressurreição.

A primeira Leitura (Is 43, 16-21) é uma passagem contida no “Livro da Consolação”, que retrata um contexto de exílio na espera de um novo êxodo (séc. VI a.C.).

O Povo de Deus não podia ficar ancorado numa fuga nostálgica do passado, tão pouco ficar inerte numa saudade que não levasse a uma nova realidade, menos ainda refugiar-se com medo do presente. A lembrança do passado somente é valida quando alimenta a esperança e prepara um futuro novo. Este só será possível quando o Povo de Deus se volta para Ele em fidelidade incondicional.

Deus, de fato, é um Deus libertador que não se conforma com qualquer escravidão que roube a vida e a dignidade do homem e da mulher, e nos acompanha e nos fortalece para que lutemos contra toda forma de sujeição.

A segunda Leitura (Fl 3,8-14) é uma pequena e densa passagem em que o Apóstolo Paulo exorta os fiéis da comunidade a jogar fora todo “lixo” que impeça a mais bela descoberta de Cristo, para se viver a comunhão e a identificação com Ele.

Paulo está preso e escreve esta Carta terna e afetuosa, com palavras de gratidão e exortação à fidelidade a Cristo Jesus, para que a comunidade não se desvie pela pregação dos falsos pregadores.

Somente Cristo importa. Conhecê-Lo numa intimidade de vida, viver em comunhão com Ele, assumir o mesmo destino para Ressuscitar para uma vida nova. É preciso se apaixonar por Cristo e Sua Palavra.

O episódio descrito na passagem do Evangelho (Jo 8,1-11) revela-nos um Deus de Misericórdia que age por meio do Filho, Jesus. 

O cenário de fundo nos coloca frente a uma mulher apanhada em adultério, e de acordo com o Levítico (Lv 20,10) e o Livro do Deuteronômio (Dt 22,22-24), a mulher devia ser morta (lapidada).

Aplicar a Lei ou não, eis a questão colocada para Jesus, que é posto em face à Lei e, ao mesmo tempo, em face de uma mulher adúltera.

Jesus não rejeita a Lei, pede tão apenas que escribas e fariseus se voltem para sua própria vida antes de olhar a mulher e de sentenciar a condenação.        

Que se vejam “no espelho” e também vejam quão pecadores também o são. E, assim, a partir dos mais velhos retiram-se.

A ação de Jesus diante da questão posta revela que a Misericórdia Divina não condena, não elimina, não julga e não mata.

A lógica divina é sempre a possibilidade de uma vida nova. De fato, o amor liberta, renova e gera esta vida nova que tanto ansiamos.

Embora nossa vida pareça, por vezes, um deserto árido, Deus se apresenta como a Fonte de Água Viva; por Seu Amor faz surgir um rio de Água Viva. A aridez do deserto é vitalizada pela intervenção divina, que nos acompanha e nunca desiste de nós, apesar de nossas infidelidades.

Somos interpelados a rever a lógica sobre a qual se organiza a sociedade, passando da eliminação sumária à reeducação e a reintegração daquele que pecou, ainda que o caminho pareça mais difícil, mais longo.

Somos desafiados a viver a lógica da misericórdia que é criativa. É preciso superar a lógica simplista - “errou, pagou...”. A lógica divina é infinitamente superior: “errou, dê conta do erro e não peques mais, e entre num caminho comunitário de conversão”.

Neste Tempo Quaresmal, somos convidados a rever também nossos pecados, e confessá-los diante da Misericórdia de Deus, sobretudo, através do Sacramento da Penitência.

Também convidados somos a cuidar melhor de nossos “telhados de vidro”, sem conivência com o pecado do outro, mas crendo que a Misericórdia Divina é a possibilidade de vida reconciliada, de vida nova para todos.

A alegria de Deus é a conversão do pecador. Deus abomina o pecado e ama o pecador. Ele não quer que ninguém se perca e naufrague no mar imenso de pecado.

É preciso que esvaziemos nossas mãos das pedras, sempre prontas para as lapidações sumárias do outro. Por vezes estas pedras se encontram em nossa língua e em nossos gestos, se nosso coração estiver cheio de rancores, ressentimentos, autossuficiência, soberba...

Libertemo-nos das pedras, revistamo-nos da Misericórdia Divina que em Cristo nos reconciliou e nos fez novas criaturas.

Caminhemos com Jeus, o rosto da misericórdia divina. Amém.

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