terça-feira, 1 de abril de 2025

Quaresma: contemplemos o indizível amor de Deus

 


Quaresma: contemplemos o indizível amor de Deus

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de João (Jo 3,14-21), tendo como fonte de aprofundamento, o Catecismo da Igreja Católica, que nos fala sobre o amor de Deus: o Verbo que Se fez Carne e por amor na Cruz, por amor a nós foi morto. 

1 - Para nos salvar, reconciliando-nos com Deus: 

"«Foi Deus que nos amou e enviou o Seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados» (1 Jo 4, 10). «O Pai enviou o Filho como salvador do mundo» (1 Jo 4, 14). «E Ele veio para tirar os pecados» (1 Jo 3, 5)”; 

2 - Para que assim conhecêssemos o amor de Deus: 

“«Assim se manifestou o amor de Deus para conosco: Deus enviou ao mundo o Seu Filho Unigênito, para que vivamos por Ele» (1 Jo 4, 9). «Porque Deus amou tanto o mundo, que entregou o Seu Filho Unigênito, para que todo o homem que acredita n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16) »; 

3 - Para ser o nosso modelo de santidade:

“«Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim [...]» (Mt 11, 29). «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 6). E o Pai, na montanha da Transfiguração, ordena: «Escutai-O» (Mc 9, 7). De fato, Ele é o modelo das Bem-Aventuranças e a norma da Lei nova: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12). Este amor implica a oferta efetiva de nós mesmos no Seu seguimento. 

4 - Para nos tornar «participantes da natureza divina» (2 Pd 1, 4): 

«Pois foi por essa razão que o Verbo Se fez homem, e o Filho de Deus Se fez Filho do Homem: foi para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo assim a adoção divina, se tornasse filho de Deus»«Porque o Filho de Deus fez-Se homem, para nos fazer deuses», como afirmou o Presbítero São Tomás de Aquino: 

«O Filho Unigênito de Deus, querendo que fôssemos participantes da Sua divindade, assumiu a nossa natureza para que, feito homem, fizesse os homens deuses». 

Encarnou-Se para que fôssemos participantes da natureza divina, e para que vivamos na santidade, em total correspondência de amor a Deus, na mais íntima e profunda amizade. Que mais Ele poderia nos oferecer? 

O Bispo São Gregório de Nissa (séc. IV) assim se expressou:

“«Doente, nossa natureza precisava de ser curada; decaída, ser reerguida; morta, ser ressuscitada. 

Havíamos perdido a posse do bem; era preciso no-la restituir. Enclausurados nas trevas, era preciso trazer-nos à luz; cativos, esperávamos um salvador; prisioneiros, um socorro; escravos, um libertador. Essas razões eram sem importância? Não eram tais que comoveriam a Deus, a ponto de fazê-Lo descer até à nossa natureza humana para visitá-la, uma vez que a humanidade se encontrava em estado tão miserável e infeliz»?”. 

Um pouco mais tarde, afirmaria o Bispo Santo Agostinho:

“«... Deus Se fez homem para que o homem se tornasse Deus. Para que o homem comesse o Pão dos Anjos, o Senhor dos Anjos Se fez homem... 

O homem pecou e tornou-se culpado; Deus nasceu como homem para libertar o culpado. O homem caiu, mas Deus desceu. O homem caiu miseravelmente, Deus desceu misericordiosamente; o homem caiu por orgulho, Deus desceu com a Sua graça... 

Só nasceu sem pecado Aquele que não foi gerado por homem nem pela concupiscência da carne, mas pela obediência do Espírito»”. 

Que também nós desçamos misericordiosamente ao encontro do outro, pois somente quando vivenciamos a misericórdia é que percorremos um fecundo itinerário quaresmal, e nos preparamos para bem celebrar a Páscoa do Senhor. 

 

PS: Catecismo da Igreja Católica - parágrafos 457-460

Senhor, por Vossa Palavra, somos curados!

                                                         

Senhor, por Vossa Palavra, somos curados!

Na Liturgia da Missa da terça-feira da 4ª semana do Tempo Quaresmal, ouvimos a passagem do Evangelho de João (Jo 5,1-3a.5-16), em que nos é apresentada a cura do homem enfermo junto à piscina de Betesda, em Jerusalém. 

Trata-se de mais um sinal que nos revela a pessoa e a missão de Jesus: Ele tem a força vivificante da Água e do Sangue que emanam de Seu coração, de Sua Palavra, de Sua acolhida, Amor, perdão, cura e salvação.

Betesda significa “casa de misericórdia”. Entretanto, ali havia mais miséria do que misericórdia: um número considerável de enfermos, uma multidão abatida pela dor e penosamente à esperança da possibilidade do alcance de um milagre.

O Evangelista narra a cura de um homem a quem já não havia esperança, porque precisava de duas condições para conseguir a cura: primeiro o movimento da água da piscina e, o mais difícil, alguém que o ajudasse a entrar na água.

Como seria possível, se cada um se tornava um natural concorrente por se encontrar em condições também de dor e sofrimento?

Aquele homem, um período longo de imobilidade, de uma espera em vão, inútil. Foram doloridos trinta e oito anos que o distanciava da graça tão desejada. Uma expectativa insípida, vazia, distante.

Que mais sentir senão a conformação, a resignação, o desalento de braços dados com a desilusão, por nada de melhor poder alcançar e tão pouco esperar?

Ninguém o introduziria na piscina, já não havia esperança, não havia horizonte algum. Não até que Jesus Se manifestasse e oferecesse a cura:  Jesus “... não faz agitar a água calma da piscina, mas tem o poder de transformar todo o ser daquele homem. O milagre veio ao seu encontro, a salvação irrompeu na sua vida mediante Jesus”.  (1)

Deus Se tornou, por meio de Jesus, Aquele que não nos permite jamais dizer “Não tenho ninguém”, “estou só”, “não há saídas”, “não há esperança”.

Jesus vem como manifestação da Misericórdia Divina – “Para Ele nada está completamente perdido. A água estagnada dum coração fechado pode ainda agitar-se pelo toque divino e produzir ondas sem fim. O paralítico põe-se de pé, junto os poucos haveres com que vivera durante trinta e oito anos, e com a enxerga às costas caminha para uma vida nova”. (2)

Quaresma é Tempo de crer na presença de Deus em nossa vida, de acolher Sua Palavra, que produz as “ondas sem fim”, para que nelas sejamos mergulhados, renovados, tornando-nos novas criaturas, mais humanos, mais fraternos, reconciliados com Deus.

Quaresma é Tempo de excluir do coração qualquer sentimento de abandono, distanciamento de Deus. Ele vem como a máxima expressão de Amor, por meio de Seu Filho que, por Amor a cada um de nós, não renuncia à doação e entrega total de Si até a morte crudelíssima e incompreensível na Cruz.

Pela Misericórdia Divina somos curados, libertos, e nos pomos com liberdade a caminho, carregando nossa cruz cotidiana, com os compromissos que ela nos pede (amor, renúncia, sacrifícios, doação, solidariedade, justiça...), para que assim nos possibilite a longa travessia para a margem da eternidade, quando contemplaremos Deus face a face.



(1) Lecionário Comentado - Tempo da Quaresma/Páscoa - Editora Paulus -  pág. 198.
(2) Idem pág. 199. 

Tenhamos os mesmos sentimentos do Senhor

                                                           


Tenhamos os mesmos sentimentos do Senhor

Na Liturgia Terça-feira da 4ª semana do Tempo da Quaresma é proclamada a passagem do Evangelho que nos apresenta a cura do homem enfermo junto à piscina de Betesda (casa de misericórdia), em pleno sábado (Jo 5,1-16), e na Liturgia da Quarta-feira, ouvimos a passagem do Evangelho em que continuamos a refletir sobre o sinal realizado por Jesus (Jo 5,17-30).

Jesus é a máxima expressão do Amor de Deus, que coloca a vida acima da lei; com Sua Palavra cura e liberta a humanidade de toda paralisia, sobretudo a do pecado que nos fragiliza.

Deste modo, assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, O Filho dá a vida a quem Ele quer, mesmo que tenha que enfrentar a indiferença, a perseguição e a morte, como de fato acontecerá e celebraremos brevemente na Semana Santa.

Contemplemos e mergulhemos no Mistério profundo do Amor de Deus por nós.

Oremos:

Senhor Jesus, que aprendamos contigo
a dialogar nos largos espaços do amor,
Não ficando aprisionados no escrúpulo
da observância fria e legalista dos Preceitos sagrados,
que nos foram por Deus apresentados
para assegurar a vida e a liberdade.

Livra-nos da pretensão insana de fixar para Ti 
um calendário e um plano de ação 
em conformidade à nossa vontade e caprichos.

Ajuda-nos a conformar nossos sistemas mentais, 
nossos ritos e tradições segundo o desígnio do Pai.

Ajuda-nos a colocar nosso coração 
em harmonia com o coração de Deus Pai, 
para contemplarmos o Teu Mistério,
para termos de Ti 
os mesmos e sentimentos.

Concede-nos a graça, 
neste tempo oportuno da Quaresma,
de acertarmos os nossos relógios 
e os nossos calendários 
com o Plano de Deus nosso Pai, 
com a ajuda e força do Santo Espírito 
que contigo está, 
porque tão somente assim 
teremos vida plena, 
e felizes seremos.
Amém!




PS: Oração inspirada na reflexão do Lecionário Comentado sobre as passagens do Evangelho acima citados - pp. 201-202.

Em poucas palavras...

                                                    


A Cultura do Encontro

“A cultura do encontro constrói pontes e abre janelas para os valores e princípios sagrados que inspiram os outros.

Derruba os muros que dividem as pessoas e as mantêm prisioneiras do preconceito, da exclusão ou da indiferença.” (1)



(1) Papa Francisco à delegação de monges budistas de Taiwan  (16/03/23)

 

Em poucas palavras...

                                      


Quaresma: tempo forte da prática penitencial da Igreja

“Os tempos e os dias de penitência no decorrer do Ano Litúrgico (tempo da Quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja (1).

Estes tempos são particularmente apropriados para os exercícios espirituais, as liturgias penitenciais, as peregrinações em sinal de penitência, as privações voluntárias como o jejum e a esmola, a partilha fraterna (obras caritativas e missionárias).”(2)

 

(1)        (cf. SC 109-110; CIC cân.1249-1253; CCEO, cân. 880-883).

(2)      Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 1438

Em poucas palavras...

                                                           

                                Devoção agradável a Deus 

“Nenhuma devoção dos fiéis agrada tanto a Deus como a dedicação para com os Seus pobres, pois nesta solicitude misericordiosa Ele reconhece a imagem de Sua própria bondade”. (1)

 

(1)Papa São Leão Magno (séc. V)

 

A prática da caridade tudo renova

A prática da caridade tudo renova

Percorrendo o itinerário Quaresmal, a Igreja nos enriquece com o Sermão do Papa São Leão Magno (Séc. V), sobre o bem da caridade, que somos chamados a viver mais intensamente neste tempo.

“Diz o Senhor no Evangelho de João: Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros (Jo 13,35). E também se lê numa Carta do mesmo Apóstolo: Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor (1 Jo 4,7-8).

Examine-se a si mesmo cada um dos fiéis, e procure discernir com sinceridade os mais íntimos sentimentos de seu coração. Se encontrar na sua consciência algo que seja fruto da caridade, não duvide que Deus está com ele; mas se esforce por tornar-se cada vez mais digno de tão grande hóspede, perseverando com maior generosidade na prática das obras de misericórdia.

Se Deus é amor, a caridade não deve ter fim, porque a grandeza de Deus não tem limites.

Para praticar o bem da caridade, amados filhos, todo tempo é próprio. Contudo, estes dias da Quaresma, a isso nos exortam de modo especial. Se desejamos celebrar a Páscoa do Senhor com o espírito e o corpo santificados, esforcemo-nos o mais possível por adquirir essa virtude que contém em si todas as outras e cobre a multidão dos pecados.

Ao aproximar-se a celebração deste Mistério que ultrapassa todos os outros, o Mistério do Sangue de Jesus Cristo que apagou as nossas iniquidades, preparemo-nos em primeiro lugar mediante o sacrifício espiritual da misericórdia; o que a bondade divina nos concedeu, demo-lo também nós àqueles que nos ofenderam.

Seja, neste tempo, mais larga a nossa generosidade para com os pobres e todos os que sofrem, a fim de que os nossos jejuns possam saciar a fome dos indigentes e se multipliquem as vozes que dão graças a Deus.

Nenhuma devoção dos fiéis agrada tanto a Deus como a dedicação para com os Seus pobres, pois nesta solicitude misericordiosa Ele reconhece a imagem de Sua própria bondade.

Não temamos que essas despesas diminuam nossos recursos, porque a benevolência é uma grande riqueza e não podem faltar meios para a generosidade onde Cristo alimenta e é alimentado. Em tudo isso, intervém aquela mão divina que ao partir o pão o faz crescer, e ao reparti-lo multiplica-o.

Quem dá esmola, faça-o com alegria e confiança, porque tanto maior será o lucro quanto menos guardar para si, conforme diz o santo Apóstolo Paulo: 

Aquele que dá a semente ao semeador e lhe dará pão como alimento, Ele mesmo multiplicará vossas sementes e aumentará os frutos da vossa justiça (2Cor 9,10), em Cristo Jesus, nosso Senhor, que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.”

Seja para nós este tempo, o tempo favorável de nossa salvação, com gestos de caridade multiplicados, expresso pelas obras de misericórdia corporais: Dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar pousada aos peregrinos; assistir aos enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos. Do mesmo modo, as obras de misericórdia espirituais: Dar bom conselho; ensinar os ignorantes; corrigir os que erram; consolar os aflitos; perdoar as injúrias; sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo; rogar a Deus por vivos e defuntos. 

Façamos progressos maiores ainda na devoção que mais agrada a Deus: a dedicação para com os pobres, com os quais se identificou, fazendo-se pobre para nos enriquecer de todas as graças, bens e dons, como nos diz o Apóstolo Paulo (Fl 2,1-11).

Uma súplica a Deus elevamos, para que a realidade sociopolítica que vivemos, marcada por corrupção, desvios de verbas, desesperança, desemprego, violência, e tantas outras marcas indesejáveis, cedam lugar às novas posturas, novos valores, salutares e proféticos compromissos com a fraternidade, a justiça e a paz.

Seja, de fato, a política a mais sublime expressão da caridade, pois tão somente assim, possibilitaremos para todos, sem exceção, vida plena, digna e feliz.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG