segunda-feira, 17 de março de 2025

A parábola do servo sem compaixão

 


A parábola do servo sem compaixão

 

Aprofundando a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 18,21-35); voltemo-nos para a Bula Misericordiae Vultus”, do Papa Francisco, quando da declaração do Ano da Misericórdia (08/12/15 - 20/11/16). 

“Temos depois outra parábola da qual tiramos uma lição para o nosso estilo de vida cristã.

Interpelado pela pergunta de Pedro sobre quantas vezes fosse necessário perdoar, Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (Mt 18, 22) e contou a parábola do «servo sem compaixão».

Este, convidado pelo senhor a devolver uma grande quantia, suplica-lhe de joelhos e o senhor perdoa-lhe a dívida. Mas, imediatamente depois, encontra outro servo como ele, que lhe devia poucos centésimos; este suplica-lhe de joelhos que tenha piedade, mas aquele recusa-se e fá-lo meter na prisão.

Então o senhor, tendo sabido do fato, zanga-se muito e, convocando aquele servo, diz-lhe: «Não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?» (Mt 18, 33). E Jesus concluiu: «Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração» (Mt 18, 35).

A parábola contém um ensinamento profundo para cada um de nós. Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os Seus verdadeiros filhos.

Em suma, somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro, foi usada misericórdia para conosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir.

Tantas vezes, como parece difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração.

Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz. Acolhamos, pois, a exortação do Apóstolo: «Que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento» (Ef 4, 26). E sobretudo escutemos a palavra de Jesus que colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a nossa fé: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7) é a bem-aventurança a que devemos inspirar-nos, com particular empenho, neste Ano Santo.

Na Sagrada Escritura, como se vê, a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco. Ele não Se limita a afirmar o Seu amor, mas torna-o visível e palpável. Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstrata. Por sua própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na atividade de todos os dias.

A misericórdia de Deus é a Sua responsabilidade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados também nós a ser misericordiosos uns para com os outros.”

Contemplamos a misericórdia divina através da parábola, em que Jesus nos apresenta a pergunta de Pedro, sobre quantas vezes se deve perdoar um irmão: deve-se perdoar setenta vezes sete, ou seja, o perdão se expressa em plenitude ilimitada.

Jesus, de fato, é o rosto da misericórdia divina:

“Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré” (Misericodiae vultus” – Papa Francisco).

Sejam nossas comunidades lugar do aprendizado e da vivência do perdão, que deverá ser vivido em todos os âmbitos e em todo o tempo, como sinal do Reino de Deus.

 

PS: A dívida do servo perdoado era exorbitante (10.000 talentos; sendo que um talento equivale a 6000 denários; 1 denário equivalente a um dia de trabalho). Seriam necessários mais de 165.000  anos para pagamento de sua dívida. De outro lado, a dívida não perdoada por ele em relação ao seu devedor era de apenas 100 denários, ou seja, menos de um terço de dias de trabalho de um ano: conclusão – de fato, o amor de Deus por nós é pleno e ilimitado (exorbitante). De acordo com a nota da Bíblia de Jerusalém, 10.000 talentos equivale a 174 toneladas de ouro; 100 denários a 0,30 gramas de ouro.

 

O Senhor é compassivo, nos acolhe e nos perdoa

 


O Senhor é compassivo, nos acolhe e nos perdoa

 

“Feliz o homem que foi perdoado
E cuja falta foi encoberta!
Feliz o homem a quem o senhor
Não olha mais como sendo culpado,
E em cuja alma não há falsidade!” (Sl 31,1-2) 

Há um caminho de esperança para quem pecou: o Salmo 31 é um hino de ação de graças elevado por um pecador que reconheceu a sua culpa, confessou diante do Senhor e por Ele foi perdoado e cumulado de graças divinas. 

Como o leproso, coloquemo-nos de joelhos diante do Senhor, reconhecendo a “lepra de nossos pecados”, confiando em Sua infinita misericórdia e fazendo nossas as Suas palavras: - “Se queres tens o poder de curar-me”, e ouçamos dos lábios do Senhor a Palavra que nos acolhe e nos dá nova vida: - “Eu quero: fica curado” (Mc 1,41). 

Urge que aprendamos com o Senhor a viver a mesma compaixão para com nossos irmãos, na acolhida e vivência do perdão, tendo o coração em nossas mãos, a fim de que sejam abertas e solidárias para quem mais precisar. 

Oremos:

“Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por Vossa graça, viver de tal modo, que possais habitar em nós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Perdão sem limites, um eterno aprendizado

                                                    

Perdão sem limites, um eterno aprendizado

“Se cada um não perdoar
a seu irmão, o Pai não vos perdoará”

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 18,21-19,1), em que o Senhor nos convida a viver o perdão sem limites, um eterno aprendizado:

“Qualquer que seja o motivo que leva Pedro a fazer sua pergunta uma coisa é certa; ele quer que Jesus confirme a existência de um limite no exercício da caridade cristã.

É confortador saber quando e onde se pode, com tranquila consciência, ignorar as injunções da caridade cristã (pois é mais interessante saber quando cessam do que onde começam tais obrigações).

Parece de fato mais que justo que em certo momento possamos dizer: “Basta! afinal somos homens!” Queremos ser o eco do nosso ambiente…

Jesus, porém, nos diz que devemos ser o eco daquilo que Deus fez por nós. Ninguém é homem pelo fato de poder “explodir”, mas pelo fato de poder desenvolver em si e transmitir aos outros aquilo que Deus nos deu.

A lei do perdão é vinculante não facultativa; é como um contrato firmado com o Sangue de Cristo. Ora, depende de mim ratificá-lo derramando sobre os meus semelhantes aquilo que Deus me deu: “Eis como meu Pai celeste agirá convosco…” (v.35) (1)

A segunda fonte, sobre o perdão, afirma:

"Temos uma ideia tão elevada do perdão que nunca a utilizamos realmente... As pessoas perdoam ou então fingem: no máximo pensam que não querem vingar-se.

É verdade, humanamente não é possível perdoar. O perdão é somente dom de Deus, um dom intenso. Por isso a palavra perdão deriva duma palavra utilizada na Idade Media, per-dom, a qual significa precisamente ‘dom profundo’... podemos e devemos perdoar porque fomos perdoados.

Assim escreveu Graham Greene – “ninguém suporta não ser perdoado: só Deus é capaz disso”. Mas perdoar é possível graças ao dom de Deus que previne qualquer iniciativa nossa e como resposta a um amor maior...

Só num percurso de fé podemos exercer o perdão na vida concreta, por exemplo, para com quem não consegue considerá-lo na sua vida de homem: o perdão não é a fraqueza de quem não sabe fazer valer as suas razões, mas a novidade que rompe as cadeias que tornam a pessoa amarrada a si mesma” (2)

É sempre tempo para dar e pedir perdão; e somente é possível porque antes por Deus fomos perdoados, por um perdão e Amor sem medida e sem méritos.

Porque amados e perdoados, podemos de devemos  amar e perdoar, pois sem o quê,  não poderíamos rezar a Oração que o Senhor nos ensinou.

Somente a prática do perdão nos faz verdadeiramente livres, rompendo as amarras que nos reduzem horizontes e movimentos.

O perdão é algo que não se aprende e se vive totalmente. Sempre teremos algo a aprender na escola do perdão com o Divino Mestre da Misericórdia que nos amou e nos perdoou. Somos, nesta escola maravilhosa, eternos aprendizes.

Quanto mais perdoarmos e formos perdoados, mais livres seremos e mais semelhantes ao Divino Mestre o seremos. Não podemos nos dizer cristãos sem a graça do perdão recebido e partilhado.

Bem sabemos o quanto difícil o é. Haverá algo mais belo que um perdão dado e recebido, um relacionamento restaurado?

A leveza e a alegria do Espírito, só alcança quem vive a graça do perdão.

Temos muito a aprender. Não recuemos! Avancemos, pois assim é a vida de fé.


PS: Liturgia da terça-feira do 3ª semana da Quaresma: Dn 3,25.34-43; Sl 25 (24); Mt 18,21-35. 

(1) Missal Cotidiano - Editora Paulus - pág. 238
(2) cf. Lecionário Comentado - Tempo da Quaresma

Escrevo...

                                                    

Escrevo...
“Ide pelo mundo e pregai o
Evangelho a toda criatura...” (Mc 16, 15)

Escrevo para comunicar a Palavra de Deus.
Não somente dentro da Igreja e suas paredes,
Mas na vastidão infinita da rede virtual.

Escrevo porque não posso conter o que pulsa em meu coração,
Que desejo chegue a quem souber aproveitar como luz,
Que possa iluminar os recônditos existenciais da escuridão.

Escrevo para arar corações endurecidos,
Porque cada palavra, antes o meu pus a arar,
Removendo a impossibilidade de uma semente frutificar.

Escrevo cada texto, que se com abertura acolhido,
Refletido, e na vida ressoado, poderá ajudar no necessário remover
Da ferrugem das almas, que tantos e tantas fazem morrer.

Escrevo para estabelecer o encontro e diálogo de almas,
Que não se contentam com a mediocridade do mundo,
E não se curvam diante das dificuldades, não se iludem com as palmas.

Escrevo para possibilitar a quem tem o dom de cantar.
Que as minhas letras se tornem, com sua voz e melodia,
Um sopro da Voz Divina em duras e sórdidas travessias.

Escrevo para que se tornem mensagens virtuais, ou não.
Que enviadas, encaminhadas, espalhem por todos os cantos
Que é possível um mundo mais belo, sem lágrimas, dor e prantos.

Escrevo para que se tornem mensagens impressas e trocadas:
Em nascimentos, aniversários, doenças, desencantos e morte,
Na certeza de que mais forte é o Amor que venceu inclusive a morte.

Escrevo porque as palavras brotam em minha mente e coração.
E, que se não as expressar, a quantos possa algo comunicar e ajudar,
Pecarei pela omissão e covardia, porque não comuniquei força e alegria.

Escrevo porque creio na força da vida das palavras,
E na força das palavras na própria vida.
Inspirando-me na mais Bela Palavra, a de Cristo Jesus.

Escrevo com a coragem e a ousadia de quem não deixa de sonhar
E um mundo novo vislumbra como sinal do Reino de Deus.
Ser instrumento desta graça, porque não com ardor me empenhar? 

Escrevo rompendo o anonimato, com nome e sobrenome,
Em fidelidade a minha Igreja e sua sábia e sã doutrina.
Importa é o Evangelho viver, anunciar, testemunhar.

“Ai de mim se eu não evangelizar” (1Cor 9,16).

PS: Comemoramos 15 anos deste blog.

A Doutrina Social da Igreja e a cultura da misericórdia

                                                       

A Doutrina Social da Igreja e a cultura da misericórdia

Como promover a cultura da misericórdia, num mundo marcado por atentados e tantos outros fatos que revelam a face sombria da violência, do desamor, do desrespeito à beleza e sacralidade da vida e de toda a criação, e de nossa casa comum?

Qual é a participação da Igreja nesta promoção? Em que podemos colaborar, como Igreja que somos, ao lado de tantas outras Igrejas que professam sua fé em Jesus Cristo?

O Cardeal Walter Kasper nos ilumina na busca destas respostas, como veremos nesta reflexão:

“A Igreja não pode circunscrever a sua mensagem da misericórdia ao âmbito individual-pessoal e eclesial; não pode, por assim dizer, confirmar-se à sacristia. Deve ser fermento, sal e luz do mundo (cf Mt 5,13s; 13,33) e comprometer-se a favor da vida do mundo.

Mas não tem nenhuma competência específica nas questões técnicas da política econômica e social, pois os assuntos relativos à ordem econômica e social têm uma autonomia legítima e objetivamente fundada; nelas não são os teólogos que tem a palavra, mas, sobretudo os leigos competentes”.

Disto decorre a necessidade do desenvolvimento e conhecimento da DSI – Doutrina Social da Igreja –, que tem como ponto de partida e fundamento a imagem cristã do ser humano e sua incondicional dignidade de toda e qualquer pessoa:

“Não é a sociedade, mas o Criador quem dá ao ser humano essa dignidade, tornando-a indisponível e inalienável. Porque é dada a todos os seres humanos igualmente, influi a solidariedade entre todos os homens. Da dignidade qualquer pessoa resulta o direito a uma vida humanamente digna que parta da autodeterminação e se baseie na solidariedade com todos os outros homens.

Assim, cabe afirmar que a liberdade de qualquer indivíduo e a liberdade comum de todos eles constituem os princípios da construção da doutrina social católica. O recurso mais importante não é a posse de terras ou de capital, mas sim os ser humano com a sua capacidade cognoscitiva, a sua iniciativa e o seu trabalho criador”

Não se trata da Igreja querer retirar do Evangelho um programa social concreto ou uma espécie de política cristã, haja vista que a DSI não é um sistema abstrato, acabado, dedutivo:

Antes tenta refletir sobre as situações sociais humanas de mudança à luz dos fundamentos antropológicos cristãs. Deste modo, baseando-se na sua concepção do ser humano, tenta oferecer respostas aos desafios da situação moderna, nascida da industrialização”.

Sua formulação, desde Leão XIII, com a “Rerum Novarum”, em 1891, parte da dignidade de toda a pessoa humana, assim como da sua pertença à sociedade, sublinhando a exigência de justiça com a ajuda dos princípios complementares da subsidiariedade (cada unidade menor, em primeiro lugar, a família e depois as outras unidades reconhecidas, como o município ou as associações, formais, livres, devem fazer e deve-lhes também ser permitido fazer tudo aquilo que sejam capazes de realizar com os seus próprios meios) e da solidariedade (atitude interpessoal que começa no âmbito que em cada caso está mais próximo: a família, a vizinhança, o círculo de amigos e conhecidos... a solidariedade deve impregnar a comunidade no seu tudo, propiciando uma ordem justa, para o conjunto da sociedade).

Ainda é preciso dizer que as Encíclicas Sociais dos Papas, sem cessar, alertam o fato de que são necessários os olhos do amor e da misericórdia para compreensão e transformação de novas situações de necessidade e seus novos desafios sociais, pois somente o amor pode proporcionar o empurrão necessário para a abordagem com energia alcançando a superação de situações de necessidades identificadas.

Na Encíclica “Caritas in Veritate”, o Papa Bento XVI nos falou do amor como o caminho principal e o princípio fundamental da DSI:

“Para ele, o amor é o princípio determinante não só nas microrrelações como a amizade, a família e os pequenos grupos, mas também nas macrorrelações, quer dizer, em contextos sociais, econômicos e políticos.”

É possível e necessário pensarmos e darmos passos significativos na construção de uma cultura de misericórdia, que o Papa São Paulo VI chamava de uma “civilização do amor”, que vai além de uma cultura da justiça. Tão somente assim, como Igreja, os diversos grupos eclesiais poderão, de alguma forma, contribuir para a humanização da sociedade e do sistema, e então, o Estado terá alma, e vidas não serão barbaramente ceifadas.

Não há formulações prontas, caminhos traçados e um catálogo de respostas simplistas. O desafio é para todas as pessoas de boa vontade que acreditam na dignidade e sacralidade da vida, desde a concepção ao seu declínio natural; que amam e preservam o planeta, que o Papa Francisco em sua Encíclica “Laudato Si” chamou de “nossa casa comum”.

Há luzes acesas para iluminar o caminho para construirmos uma cultura da misericórdia, portanto, não estamos condenados a falta de esperança, sobretudo porque temos fé, e sabemos em quem depositamos nossa confiança e cremos em Seu sublime ensinamento sintetizado no amor a Deus e ao próximo, inseparavelmente.

  
PS: Citações extraídas do livro “A misericórdia” – Cardeal Walter Kasper – Condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã - Edições Loyola

Quaresma: Amar e perdoar

                                                          

Quaresma: Amar e perdoar

Na terceira terça-feira do Tempo da Quaresma, a Liturgia nos apresenta a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 18,21-35), sobre o tema perdão.

Contemplamos a Face de Deus que ama sem cálculos, sem limites e sem medida, e nós feitos à Sua imagem, somos convidados a amar na mesma medida, sobretudo na vivência do perdão.

A lógica do Amor de Deus muitas vezes nos questiona, desestabiliza, pois é totalmente contrária à lógica humana, por vezes movida pelo rancor, ressentimento.

Com a passagem do Evangelho temos uma verdadeira catequese sobre a Misericórdia de Deus: o Perdão Divino é ilimitado e universal  e se contrapõe a mesquinhez humana.

A provisoriedade da vida e a morte nos fazem repensar e rever nossos conceitos, sentimentos e ressentimentos. A vida é breve, por que guardar rancores e ódio? A consequência é dor, sofrimento, estresse...

Urge perdoar as ofensas e viver a compaixão. Uma vez experimentado o Perdão Divino devemos expressá-lo mutuamente no perdão humano, superando a lógica do olho por olho, dente por dente e eliminar quaisquer posturas de vinganças, rancor e ódio; com um coração não endurecido, não violento e não agressivo.

Perdão que não é jamais sinônimo de conivência e pacto com a mediocridade. Perdão é ir ao encontro do outro possibilitando reconciliação, novas atitudes, novos caminhos.

Perdão dado e recebido é sinal de uma vida nova, relacionamento novo, pacto de alegria, reencontro, superação, crescimento, amadurecimento.

Perdão jamais poderá ser entendido como a permissão e persistência contumaz no pecado. Perdão exige esforço e empenho de mudança, para que não esvaziemos esta palavra tão bela do cristianismo.

O amor na prática do perdão é nosso mais belo distintivo. Quantas vezes da Divina Fonte do Amor e Perdão, Jesus, ecoaram Palavras de misericórdia, perdão. Em Sua missão e até na Sua consumação no alto da Cruz – “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem...” e ao ladrão arrependido –“ainda hoje estarás comigo no paraíso”.

Perdão não é também sinônimo de passividade, alienação, conformismo, covardia e indiferença. Perdoar é estar sempre disposto a ir ao encontro daquele que nos ofendeu, estendendo a mão, abrindo o coração, recomeçando o diálogo, abrindo janelas (se não conseguir de imediato as portas), darmos, enfim, nova oportunidade...

É preciso recordar e dar conteúdo ao que rezamos no Pai Nosso – “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido...”

Perdoados sempre por Deus devemos ter a mesma atitude para com o outro, do contrário agiríamos com  “dois pesos e duas medidas”.

Devemos carregar as marcas de quem perdoa: compreensão, misericórdia, acolhimento, amor, o desejo de ver o outro melhor.

Santo Agostinho, que pensando no pecado de Judas Iscariotes assim escreveu: “Se ele tivesse orado em nome de Cristo teria pedido perdão, se tivesse pedido perdão teria esperança, se tivesse esperança teria esperado na misericórdia e não teria se enforcado desesperadamente”.

São Máximo de Turim nos fala também do perdão e o que podemos esperar do Amor de Deus: “se o ladrão obteve a graça do Paraíso, por que o cristão não há de obter o perdão?”.

Reine na comunidade o amor, o respeito pelo outro, a aceitação das diferenças, a partilha e o perdão. Nela precisa haver o discernimento, para que não nos percamos em discussões de coisas secundárias esquecendo o que é essencial:

Discutimos se se deve receber a comunhão na mão ou na boca, se se deve ou não ajoelhar à consagração, se determinado cântico é litúrgico ou não, se os Padres devem ou não casar, se a procissão do santo padroeiro da paróquia deve fazer este ou aquele percurso… e, algures durante a discussão, esquecemos o amor, o respeito pelo outro, a fraternidade, e que todos vivemos à volta do mesmo Senhor. É preciso descobrir o essencial que nos une e não absolutizar o secundário que nos divide.”

Finalizando, perdão é eterno recomeço e aprendizado, se nos faltarem palavras e coragem de pedir perdão e de perdoar, coloquemo-nos prolongada e silenciosamente diante do Coração trespassado do Senhor, a Divina Fonte de Misericórdia. Contemplemos Seu Coração terno, pleno de Amor e perdão, mansidão, doçura, ternura e bondade.

Quanto mais soubermos amar e perdoar, mais felizes o seremos. Podemos perdoar, porque fomos amados e perdoados, por Deus.

domingo, 16 de março de 2025

Mensagem do Santo Padre Francisco para a Quaresma 2024 (síntese)

 


Mensagem do Santo Padre Francisco para a Quaresma 2024 (síntese)

A Mensagem do Papa Francisco para a quaresma - “Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade”, tem como inspiração bíblica a passagem do Livro do Êxodo - «Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egito, da casa da servidão» (Ex 20, 2).

Deus Se revela desde sempre propondo um caminho de liberdade, como se expressa no Decálogo dado a Moisés no Monte Sinai, e este deve ser o caminho que devemos percorrer na Quaresma, vivendo-a como tempo de graça em que o deserto volta a ser – como anuncia o profeta Oseias – o lugar do primeiro amor (cf. Os 2, 16-17).

Deus educa o Seu povo, para que saia das suas escravidões e experimente a passagem da morte à vida. Como um esposo, atrai-nos novamente a Si e sussurra ao nosso coração palavras de amor, reavivando a esperança.

Percorrer o caminho do êxodo da escravidão para a liberdade não é um caminho abstrato, exige que se veja a realidade marcada por pecado, dor e sofrimento de tantos povos, em que a dignidade é espezinhada, assim como foi a realidade retratada pelo Livro do Êxodo (Ex 3,7-8), em que Deus viu o sofrimento de Seu povo e desceu para libertá-lo, e o faz não porque Israel o pede, mas por própria iniciativa.

São instigantes os questionamentos do Papa: “Perguntemo-nos: Desejo um mundo novo? E estou disposto a desligar-me dos compromissos com o velho?”

O Papa menciona um déficit de esperança que nos impede de sonhar, um grito mudo que chega ao céu e comove o coração de Deus: “O êxodo pode ser interrompido: não se explicaria doutro modo porque é que tendo uma humanidade chegado ao limiar da fraternidade universal e a níveis de progresso científico, técnico, cultural e jurídico capazes de garantir a todos a dignidade, tateie ainda na escuridão das desigualdades e dos conflitos.”. 

 

Sendo a Quaresma tempo de conversão e de liberdade, o Papa nos exorta que a acolhamos como o tempo forte em que a Palavra de Deus nos é novamente dirigida: «Eu sou o Senhor, teu Deus, que te fiz sair da terra do Egipto, da casa da servidão» (Ex 20, 2), caminhando com Jesus, tendo-O diante de nossos olhos, pois Ele venceu as tentações no deserto e nos ensinou a vencê-las.

Deste modo, afirma o Papa - “É tempo de agir e, na Quaresma, agir é também parar: parar em oração, para acolher a Palavra de Deus, e parar como o Samaritano em presença do irmão ferido. O amor de Deus e o do próximo formam um único amor. Não ter outros deuses é parar na presença de Deus, junto da carne do próximo”, e para tanto, temos os três exercícios que não se separam: a oração, esmola e jejum, “... mas um único movimento de abertura, de esvaziamento: lancemos fora os ídolos que nos tornam pesados, fora os apegos que nos aprisionam.”

Vivendo a Quaresma de forma sinodal, é preciso redescobrir e cultivar decisões comunitárias, de pequenas e grandes opções contracorrente, capazes de modificar a vida cotidiana das pessoas e a vida de toda uma coletividade: os hábitos nas compras, o cuidado com a criação, a inclusão de quem não é visto ou é desprezado...

Viver a Quaresma em atitude de conversão, possibilitará o lampejar de uma nova esperança para toda a humanidade, com desafios enormes e gemidos dolorosos, como lembrou aos jovens em Lisboa, no verão passado: “Procurai e arriscai; sim, procurai e arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes, os gemidos dolorosos: estamos a viver uma terceira guerra mundial feita aos pedaços. Mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num parto; não no fim, mas no início dum grande espetáculo. E é preciso coragem para pensar assim» (Discurso aos estudantes universitários, 03/VIII/2023)”.

Finaliza nos abençoado para o caminho quaresmal, nos exorta à coragem da conversão, da saída da escravidão - “É a coragem da conversão, da saída da escravidão. A fé e a caridade guiam pela mão esta esperança menina. Ensinam-na a caminhar e, ao mesmo tempo, ela puxa-as para a frente.”

 

Confira a mensagem na integra, acessando:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/events/event.dir.html/content/vaticanevents/pt/2024/2/1/messaggio-quaresima2024.html

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