domingo, 16 de março de 2025

A Transfiguração do Senhor e o compromisso com a cultura da paz (IIDTQC)

A Transfiguração do Senhor e o compromisso com a cultura da paz

“Este é o meu Filho escolhido.
 Escutai o que ele diz!” (Lc 9,35) 

No segundo Domingo do Tempo da Quaresma (ano C), ouvimos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 9, 28b-36), que nos fala sobre a Transfiguração do Senhor.

Assim lemos na passagem do Evangelho de Lucas: “Este é o meu Filho Escolhido. Escutai o que Ele diz!” (Lc 9,35).

Somos convidados a renovar e fortalecer nossa fidelidade ao Senhor, carregando nossa cruz, cada dia, com renúncias necessárias, como discípulos missionários do Senhor.

Com isto, temos o permanente convite a subirmos à Montanha e  escutarmos Jesus, acolhendo Sua proposta sem edificar tendas, pois é ao mesmo  tempo um imperativo de descida, para que na planície vivamos compromissos irrenunciáveis com a paz, que há ser fruto da justiça promovida em todos os níveis de nossa vida.

O Cristo Glorioso transfigurado na Montanha, é o mesmo que será desfigurado na planície. Somente quem reconhecê-Lo Glorioso terá coragem de se comprometer com os desfigurados da planície.

Quantos rostos desfigurados encontramos todos os dias pelo caminho. Nossa missão é buscar respostas para transfigurar a dura realidade que condena milhões de desfigurados: fome, dependência química, falta de teto, falta de carinho de seus pais, exploração sexual e estupros, pedofilia, exclusão da saúde e do lazer...

Enfim, encontram-se à margem do caminho, de mãos estendidas e olhos arregalados, e lamentavelmente, a lista dos desfigurados é interminável.

Nossa espiritualidade, nutrida pela riqueza da Palavra, nos compromete na participação em iniciativas pela ética na política, empenho pela justa distribuição de renda e justiça social, construção de uma economia solidária e fraterna, com a consequente promoção da cultura de vida e de paz...

Escutemos o que Jesus tem a dizer à Sua Igreja e ao mundo, e assim a Paz tão sonhada possa ser alcançada, que os sinais de morte deem lugar à vida, que situações de menos vida cedam lugar à vida plena e abundante...

A escuta e a vivência da Palavra de Deus são condições indispensáveis para que a Paz positiva aconteça: alegria, moradia, pão partilhado, saúde para todos, educação, famílias estruturadas, meio ambiente cuidado, saneamento básico assegurado para todos.

É sempre tempo da escuta, de subir e descer a Montanha, pois a fé cristã não foi nem nunca será fuga, mas corajoso compromisso na defesa da vida, no chão nosso de cada dia.

Sonhar com a paz é muito bom, melhor ainda é o compromisso com ela e com Ele, Jesus, que é a Fonte da verdadeira paz! 


Fontes: cf. Dn 7,9-10.13-14; Mt 17,1–9, Mc 9,2–8; Lc 9,28–36; 2 Pd 1,16-19

 

Sagrada Escritura: fonte de oração na vida comunitária (IIDTQC)

 


Sagrada Escritura: fonte de oração na vida comunitária

Assim lemos no Comentário do Missal Dominical, ao celebramos o segundo Domingo da Quaresma, quando refletimos sobre a Transfiguração do Senhor, e voz do Pai que nos acompanharia por todo o sempre: – “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que Ele diz!” (Lc 9,35):

“Não basta uma leitura pessoal; corremos o risco de pôr a Palavra de Deus a nosso serviço, de cair num estéril subjetivismo, de não permitir que a palavra ‘reviva’.

A leitura ‘comunitária’ faz com que a Palavra de Deus caminhe junto com a comunidade; enriquece-a continuamente, através da ação do Espírito, com novos significados e atualizações, que fazem penetrar melhor no Mistério do plano salvífico.

Ótima oportunidade para tal confronto comunitário é a preparação, em grupo, das leituras da liturgia dominical.” (1)

Mas é preciso este salto para a “dimensão comunitária”, pois a Sagrada Escritura é a história de um povo que se pôs a caminho na escuta e fidelidade ao Deus da Aliança, a nós revelado com a Encarnação de Jesus Cristo, e ao longo da história, pela ação do Espírito Santo.

Urge que fortaleçamos todos os espaços comunitários de oração, nos quais a Sagrada Escritura esteja sempre presente, iluminando e fortalecendo o discipulado, na necessária comunhão, participação e missão à Igreja confiada.

Fundamental que nos empenhemos na prática da Leitura Orante da Palavra Divina e seus passos (leitura, meditação, oração e contemplação) que culminará em ação iluminadora das sombras, obscuridades da existência humana, ou sua, por vezes, total escuridão.

 

(1)         Missal Dominical – Editora Paulus – p.223

 

O necessário silêncio fecundo(IIDTQC)

O necessário silêncio fecundo

“Imerso no Amor para fazer emergir a vida...”

Viver o Batismo é graça e missão, e precisamos ter sempre a coragem e a abertura para a revisão e o revigoramento da nossa fé e fidelidade ao Senhor, configurados a Ele com renúncias necessárias para carregarmos a nossa cruz de cada dia rumo à Páscoa definitiva, pois se com Ele vivemos e morremos, com Ele também Ressuscitamos.

Retomando as palavras do Papa Bento XVI na Mensagem Quaresmal 2011, detenhamo-nos nesta afirmação: “A Transfiguração é o convite a distanciar-se dos boatos da vida cotidiana para se imergir na presença de Deus...”.  

Indubitavelmente, não são poucos os “boatos da vida quotidiana” que podem nos afastar dos fatos que clamam a nossa solicitude, na fidelidade ao Cristo Bom Pastor, no exercício de nosso ministério.

Convém ressaltar  que “boatos” não são meramente fofocas, como se possa pensar, mas ruídos que interferem na escuta dos clamores do rebanho, por Deus, confiado.

Por “boatos” também podemos entender a ditadura do relativismo que o Papa tanto denunciou, onde as verdades se tornam transitórias, valores se tornam relativos, esvaziando de sentido os princípios que deveriam nortear a existência da humanidade.

Também podem ser as propostas satânicas que nos desviam no Projeto Divino, na realização de nossa vocação, quer Presbíteros ou não. São as tentações que Jesus venceu no deserto: ter, ser, poder – abundância, prestígio e domínio, respectivamente.

Ceder a elas nos afastaria da graça de sermos instrumentos de Deus na construção do Reino, pois como bem disse o Bispo Santo Irineu (séc. I): “a nossa glória é perseverar e permanecer no serviço de Deus”.

Evidentemente, muitos outros “boatos” podem seduzir e enfraquecer a missão. Portanto, é sempre bom lembrar que somos anunciadores da Boa-Nova e não ouvintes e multiplicadores de “boatos” que esvaziam o existir, destruindo a vida em todos os níveis, de modo que não viveríamos a vocação como dom divino e resposta nossa a Deus.

Sem ouvidos a “boatos”, com distanciamentos necessários destes, façamos a imersão na presença de Deus. Quanto mais mergulharmos nos Mistérios de Deus, mais místicos o seremos, mais encarnada e densa de conteúdo será nossa espiritualidade no compromisso com os empobrecidos desfigurados pelo caminho.

A imersão no Amor Divino é diretamente proporcional à emersão que somos chamados a realizar com toda a comunidade.

Imersos no Amor, fazemos que surja uma nova Igreja, um Planeta mais bem cuidado e, consequentemente, mais amado.

Urge que nos coloquemos na presença de Deus, para que nosso coração seja configurado ao coração do Cristo  Bom Pastor, no cuidado do rebanho.

Todo o discípulo missionário precisa ser pessoa de imersão quotidiana e constante; em constante oração, no silêncio e na contemplação dos Mistérios Divinos que se manifestam na história.

Urge que a luz divina ilumine a caverna escura de nossa existência, enfim, um homem imerso neste mar de misericórdia e luz; somente assim poderá ajudar a comunidade a fazer e viver a mesma experiência e realidade.

Urge também que estejamos imersos no Mistério do Amor de Deus, pois só assim conseguiremos encontrar luz para os sombrios caminhos a serem trilhados como Igreja em permanente travessia do mar.

O cristão é alguém que a Deus encontrou na Pessoa de Jesus Cristo, por Ele vive uma paixão que se renova em cada instante de sua vida, deixando-se guiar pela luz do Santo Espírito.
  
Reflitamos:

- Como deve ser o discipulado, à luz da Transfiguração do Senhor?
- O que podemos compreender por “distanciar-se dos boatos da vida quotidiana”?

- O que é “imergir na presença de Deus”?

A comunidade, mais do que nunca, precisa de Presbíteros que sejam homens do deserto e do oásis revigorante e que sacia a sede de amor, vida e paz.

Presbíteros que sejam homens do céu e da terra, simultaneamente; da montanha e da planície, corajosamente; da imersão e da emersão, incansavelmente...

Numa palavra: homens itinerantes e Pascais, que sabem recolher-se no silêncio mais profundo para a voz de Deus ouvir, e com coragem e fidelidade ao mundo anunciar e testemunhar, conduzindo, animando o rebanho pela Igreja a ele confiado.

Transfiguração do Senhor: da tribulação à glória celestial (IIDTQC)

Transfiguração do Senhor: da tribulação à glória celestial

Sejamos enriquecidos com um parágrafo do Catecismo da Igreja Católica sobre a Transfiguração do Senhor.

No limiar da vida pública, o Batismo; no limiar da Páscoa, a transfiguração. Pelo Batismo de Jesus ‘foi declarado o Mistério da (nossa) primeira regeneração’ – o nosso Batismo; e a Transfiguração ‘est sacramentum secundae regenerationis – é o Sacramento da (nossa) segunda regeneração’ – a nossa própria ressurreição.

Desde agora, nós participamos na Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que atua nos Sacramentos do Corpo de Cristo. A transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa de Cristo, ‘que transfigurará o nosso corpo miserável para o conformar com o Seu corpo glorioso’ (Fl 3, 21). Mas lembra-nos também que temos de passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus’ (At 14, 22)”. (1)

No mesmo parágrafo, cita Santo Agostinho, como que o Senhor falando a Pedro na montanha:

“‘Pedro ainda não tinha compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a montanha. Ele reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz: Desce para sofrer na terra, para servir na terra, para ser desprezado, crucificado na terra. A Vida desce para fazer-Se matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-Se da caminhada; a Fonte desce para ter sede; e tu recusas sofrer?’” (2)  

Nisto também consiste nossa caminhada quaresmal rumo à Páscoa do Senhor, como discípulos missionários que somos.

Não podemos fixarm moradas na montanha, mas, com coragem, descermos à planície do cotidiano, renovando fidelidade ao Senhor, Caminho, Verdade e Vida, carregando nossa cruz, até que um dia sejamos merecedores da eternidade. 

Por ora, há um mundo desfigurado, marcado pela fome, enfermidades, desesperança, insegurança, refugiados, aflitos, dependentes químicos, e quanto mais possamos dizer.

Há um mundo, nossa casa comum, que está sendo vilipendiado, destruído, por ambições desmedidas e cuidados não vivenciados.

Nossa casa comum está desfigurada, e transfigurá-la, torná-la mais habitável, é responsabilidade de todos nós, como nos exorta a Campanha da Fraternidade deste ano (2025) com o Tema: “Fraternidade e Ecologia Integral"; e o Lema: "Deus viu que tudo era  muito bom” (Gn 1,31.

É tempo de consolidarmos nossa fé, fazendo a mesma experiência que os discípulos fizeram no Monte Tabor, contemplando o Cristo Transfigurado, com credíveis testemunhas, Moisés e Elias, porque Ele, Jesus, é a plena realização da Lei e da profecia, nestes simbolizados.

Por ora, o combate, o antegozo das alegrias do Reino, até que possamos vivê-las plenamente, com toda intensidade.



(1) (2) Catecismo da Igreja Católica n.556 - Santo Agostinho – Sermão 78,6; PL 38,492-493.

Transfiguração do Senhor: coragem para o discipulado (IIDTQC)

 



Transfiguração do Senhor: coragem para o discipulado


 “Este é o meu Filho amado. Escutai o que Ele diz!” (Mc 9,7)

No sábado da sexta Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 9, 2-13), que nos fala da Transfiguração do Senhor, um momento fundamental na vida do discípulo missionário, vivido pelos três apóstolos (João, Pedro e Tiago).

Deste modo, contemplar a Transfiguração do Senhor, é renovar compromissos sagrados. E dentre eles:

- recuperar as energias indo à Fonte das fontes, Jesus; nutrir pela  Sua Palavra, alimentar-se com o Pão da Imortalidade, inebriar a alma com a Verdadeira Bebida; Corpo e Sangue do Senhor; e deste modo comungamos a Palavra que se faz Pão, trigo que se faz Pão, vinho que se faz Sangue de Redenção;

- tempo de nos tornarmos amigos da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, sempre acompanhados da mudança, da transformação e da conversão, que deve acontecer primeiramente em nosso coração (Fl 3,17-4,1);

- redimensionar a nossa vida a partir da provisoriedade e precariedade de nosso corpo, até que possamos receber, na Ressurreição, um corpo glorioso, um corpo celestial, uma morada eterna;

- sentir antecipadamente a alegria da Vitória Pascal, que passa pela obediência ao Pai e a fidelidade no carregar da cruz, como nos revela a Transfiguração do Senhor (Lc 9,28b-36);

- silenciar e afastar de todos os ruídos que nos distraiam e não nos possibilitem a escuta do Filho muito amado, que tem sempre algo de muitíssimo especial para nos dizer, para felizes, plenos de vida e realizados sermos;

- contemplar a presença do Senhor, ao subir a Montanha, escutá-Lo atentamente, descer à planície e testemunhar Sua Palavra com nossa vida;

- renovar a graça de sermos “cidadãos dos céus”, uma vez que como cristãos, estamos no mundo, mas não somos do mundo, como vemos nos primeiros ensinamentos da Igreja;

- subir ao Monte Santo para contemplar Cristo Glorioso e Transfigurado, mas também de corajosamente descer a montanha e renovar compromissos solidários com os “Cristos” desfigurados que clamam por vida, alegria, dignidade, amor e paz;

- subir e descer: subir ao Monte Sagrado para revitalização da graça divina para a fé, esperança e caridade; na planície, viver confiantes sempre no Senhor,  testemunhando que conhecemos e cremos em Alguém que transformou e transforma continuamente a nossa vida.

Este Alguém é Jesus, que nos acolhe com nossos cansaços, dificuldades, debilidades, imperfeições, limitações inerentes ao ser humano.

Jesus ama a cada um de nós como somos para nos fazer melhores, para nos aperfeiçoar, para que a imagem de Deus possa transparecer em nosso olhar, em nossas atitudes, palavras, pensamentos; para que transpareça que há Alguém que faz morada no mais profundo de nós e nos acompanha em todo instante.

Fontes: cf. Dn 7,9-10.13-14; Mt 17,1–9, Mc 9,2–8; Lc 9,28–36; 2 Pd 1,16-19

 

Quaresma: sejamos transformados por Jesus Cristo (IIDTQC)

Quaresma: sejamos transformados por Jesus Cristo

Enriquecedora a reflexão do Frei Raniero Cantalamessa sobre o Mistério da Transfiguração do Senhor, que nos convida a conhecer, imitar e viver em Comunhão com Cristo, como veremos.

O Conhecimento de Cristo:
"O exemplo mais claro da paixão pelo conhecimento de Cristo é o mesmo Apóstolo Paulo. Não tendo conhecido Jesus ‘segundo a carne’, ele concebeu um desejo ainda mais ardente para descobrir o Mistério do Mestre que lhe aparecera ressuscitado.

Em um trecho escreve: Mas tudo isso, que para mim eram vantagens, considerei perda por Cristo. Na verdade, julgo como perda todas as coisas em comparação com este bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo (Fl 3,7-8); Paulo se aprofundou no conhecimento de Cristo ficando sempre mais surpreso pelas ‘suas insondáveis riquezas’.

Nós também deveríamos conceber uma nova paixão para conhecer Jesus, uma vontade ardente de ouvir falar d’Ele, julgar – como dizia São Bernardo – sem sabor o que não é condimentado com Jesus. Isto nos deveria levar a um relacionamento pessoal vivo e verdadeiro com o Mestre: Jesus visto não mais como uma memória histórica ou personagem, mas como uma pessoa para nós, amigo, como nós somos amigos d’Ele. Dentro do coração deveria nascer o orgulho de ser reconhecidos, no mundo de hoje, como discípulos de Jesus de Nazaré.

Mas como conseguir tal conhecimento vivo de Jesus? Um meio é o da leitura e da escuta assídua de testemunhos apostólicos na Igreja (magistério dos Bispos, teologia); depois o estudo, sobretudo o estudo da Sagrada Escritura: ‘a Lei’ (isto é, o AT), dizia Santo Agostinho, ‘está grávida de Cristo’; de outra parte, Jesus é a chave para compreender toda a Bíblia; sem Ele, ela permanece como coberta por um véu (cf. 2 Cor 3,15ss)." (1) 

A Imitação de Cristo:
"O conhecimento de Jesus é em vista da imitação de Jesus; o próprio Pai no Evangelho de hoje (Lc 9,28b-36) nos convida a seguir Jesus dizendo: Escutai-O! A Cruz ocupa um lugar muito especial neste caminho de imitação; é a chave de tudo e há uma relação direta entre ela e nossa transfiguração em Cristo: Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. (Gl 2,19-20). Tornar-se ‘conformes a Jesus na morte’ é o caminho para ‘alcançar a ressurreição dos mortos’, isto é, nossa transfiguração n’Ele (Fl 3,10-11).

A imitação de Jesus deve ser espiritual, não literal; deve chegar até a intimidade de Jesus, até ter os mesmos sentimentos que estavam em Cristo Jesus (cf. Fl 2,5): tornar-se alguém que seja como Jesus, que permanece diante do Pai em humildade e obediência como Jesus: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração (cf. Mt 11,29)." (2) 

A Comunhão com Cristo:
"Qual é o sentido do esforço que fazemos para conhecer e imitar Jesus Cristo? Talvez aquele de conseguir, desse modo, por nosso mérito, a transformação em Cristo? Absolutamente, não! Mas eu me empenho em conquistá-la – diz Paulo -, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo (Fl 3,12). Nosso esforço é necessário porque Deus quer construir com nossa liberdade; não quer nos salvar sem nossa colaboração, como Ele nos criou sem nossa colaboração.

Todavia não é a nossa vontade de nos salvar que nos salva, mas a vontade de Deus; em outras palavras, a graça: Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus (Ef 2,8); É Ele que nos reveste com o manto da Salvação (cf. Is 61,10), como revestiu o filho pródigo com a veste nova, com o anel no dedo e sandálias nos pés.

Com nossas forças, apenas ficamos nus e descalços. Nós só podemos encher as talhas de água; só Jesus Cristo, com Seu Espírito, pode transformar a água em vinho, isto é, o esforço da imitação em comunhão de vida com Ele.

Tal comunhão de vida com Cristo encontra seu ápice num Sacramento: a Eucaristia. Ela é o Sacramento por excelência de nossa transfiguração em Cristo. Aparentemente, somos nós que, na Eucaristia, recebemos a Cristo e o assimilamos em nós; na realidade, é Ele que assimila a nós n’Ele: Assim como o Pai que me enviou vive, e Eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim (Jo 6,57). É o princípio vital mais forte que assimila o mais fraco: o vegetal assimila o mineral, o animal assimila o vegetal, o espiritual – divino – assimila o humano. ‘O efeito da Eucaristia é nos tornar aquilo que comemos’ (São Leão Magno); ‘Não é tu que me assimilarás – diz o Senhor – mas Eu que assimilarei a ti’ (Santo Agostinho).” (3)

Reflitamos:

Ser transformado por Jesus Cristo é amar os irmãos e dar a própria vida por eles: o próprio tempo, o afeto, a competência, os bens materiais.

Ser por Ele transformado é deixar-se envolver e seduzir apaixonadamente pelo Reino; de modo que nada coloca acima do Reino.

Ser por Ele transformado é estar disposto a doar tudo sem exigir nenhuma recompensa, a não ser a pura e simples amizade com Ele.

Ser por Ele transformado é não ter atitude de mercenário sempre à espera de um pagamento ou recompensa; porque vive a gratuidade naquilo que faz bem ao próximo.

Para ser por Jesus transformado é preciso conhecê-Lo, imitá-Lo e estar em comunhão com Ele.

Seja a Quaresma este Tempo favorável de graça, reconciliação e conversão, para que vivendo o Mistério da Paixão e Morte do Senhor, a Ele perfeitamente configurados e unidos pela fé, tenhamos a graça e a alegria de celebrar a Sua Gloriosa Ressurreição.


(1); (2); (3) O Verbo Se Faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria – 2013 – p.535-536

Transfiguração: O aparente fracasso da Cruz não terá última palavra (IIDTQB)


Transfiguração: O aparente fracasso da Cruz não terá última palavra

Contemplemos a Transfiguração do Senhor à luz do Evangelho de Marcos (Mc 9,2-10) diante de significativas testemunhas: Moisés (simbolizando a Lei), Elias (a profecia) e os discípulos João, Pedro e Tiago como testemunhas da Nova Aliança que Ele veio conosco realizar.

Trata-se de um momento memorável na vida dos discípulos: Jesus, O Filho amado no qual o Pai encontra o Seu agrado, tem que ser escutado na “Montanha”, lugar da manifestação de Deus, e, na Planície do cotidiano, anunciado e testemunhado. 

A Transfiguração é a predição da glória futura que passa inevitavelmente pela cruz carregada, acompanhada de renúncias cotidianas para maior fidelidade. Jesus quer assegurar aos Seus que o aparente fracasso da Cruz não terá palavra última. Que os discípulos não se desesperem nem percam o horizonte do compromisso que brota com a fé. Passando pela morte Ele Ressuscitará, e assim todos aqueles que O testemunhar.

Jesus quer assegurar aos Seus que o aparente fracasso da Cruz não terá palavra última, de modo que não se desesperem e nem percam o horizonte do compromisso que brota com a fé.

Ele bem conhece nossas limitações, fraquezas, medos, desânimos, cansaços... Por isso nos antecipou, em sinal, a glória futura transfigurando-Se diante dos discípulos.

Voltemo-nos para um pequeno trecho da Mensagem Quaresmal do Papa Bento XVI (2011):

“O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a Ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os Apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor.”

O Papa propõe algo bem forte e concreto: distanciarmo-nos dos boatos da vida cotidiana para imergir na presença de Deus. Podemos falar de várias feridas que nos fazem cair nos “boatos da vida”, entre elas a ignorância, a malícia, a concupiscência e a debilidade do ânimo, a perda da fé, as tentações que o Senhor venceu no deserto (abundância, poder-domínio e prestígio) etc.

“Distanciar-se dos boatos da vida...” não é evasão, fuga, ausência de compromisso; é não ser seduzido pelos ruídos que nos distanciam de Deus e de Seu Projeto; é não perder o sentido do existir procurando em Deus a fonte inesgotável de graça, paz e amor para todos nós; é não mergulhar num ativismo com consequências previsivelmente tristes, estarrecedoras, aniquiladoras... É não dar ouvidos aos cantares da sedução material do prazer pelo prazer, da dominação do outro que o leva até mesmo a sua destruição...

Podemos falar de várias feridas que nos fazem cair nos “boatos da vida”, entre elas, a ignorância, a malícia, a concupiscência e a debilidade do ânimo, a perda da fé, as tentações que o Senhor venceu no deserto (abundância, prestígio e poder-domínio) etc.

Dando mais um passo no Itinerário Quaresmal, que tem como ponto de chegada e de partida a Páscoa (a fé na Ressurreição é sempre ponto de chegada e ponto de partida), queremos subir com o Senhor ao Monte Tabor, distanciando-nos dos fatos da vida para fazer algo que é extremamente necessário, imprescindível: “imergir na presença de Deus”.

“Imergir”, mergulhar, lançar-se com toda confiança; colocar-se diante de Sua presença. Adorar, escutar, amar, anunciar e testemunhar ao mundo Sua força, amor, ternura, bondade, presença...

Silenciar diante do Mistério de Amor. Extasiar-se pelo Seu mais belo esplendor. Encantar-se, enamorar-se e apaixonada e decididamente colocar-se, por e a Ele, a serviço, como fez o Apóstolo Paulo (2Tm 1,8-10).

Distanciemo-nos dos “boatos”, sejamos imersos no mar de misericórdia de Deus. Carregando nossa cruz transformemos os fatos que nos marcam e desafiam, revendo nossas mentalidades e atitudes no cuidado do Planeta, nossa Casa Comum que em dores de parto geme; escutando seus clamores, buscando alternativas e caminhos, assegurando não somente a sua sobrevivência, como a nossa e das gerações futuras, na perfeita dupla solidariedade: solidariedade da sincronia e da diacronia... Solidariedade entre nós e com aqueles que virão...

Distanciar-se é preciso! E, assim, imersos no Amor Divino, inseridos, mais do que nunca, pela Palavra fortalecidos e pelo Pão da Eucaristia nutridos, ardorosas testemunhas do Senhor sejamos!

Contemplemos a Transfiguração do Senhor, crendo que o aparente fracasso da Cruz não teve e nem nunca terá a última palavra.

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