domingo, 9 de março de 2025

Peregrinos de esperança e a fidelidade ao Senhor (IDTQC)

 


Peregrinos de esperança e a fidelidade ao Senhor
 
Reflexão à luz da passagem do Livro do Deuteronômio (Dt 26,4-10), que retrata a tentação do Povo de Israel de ceder à idolatria, adorando falsos deuses.  
 
É preciso que eliminemos os falsos deuses que nos afastam do verdadeiro Deus, do contrário, as marcas do orgulho, da autossuficiência, do egoísmo, da desumanidade, da desgraça e da morte, deixarão suas marcas.

Encontramos neste trecho uma solene profissão de fé, inserida numa Liturgia de Ação de Graças pelos dons da terra e a oferta das primícias dos frutos das colheitas; possibilitando-nos refletir quais são os falsos deuses que podem tomar o lugar do Deus vivo e verdadeiro: o dinheiro, o poder, o êxito social ou profissional, a ciência ou a técnica, os partidos, líderes e suas ideologias ou quaisquer outras coisas que se sobreponham a Deus e até mesmo que levem a d’Ele prescindir.

Essencialmente é um texto anti-idolátrico, em que anuncia a vida e felicidade somente encontrada em Deus. A tentação do abandono do Senhor para adoração das divindades das populações da nova terra, das divindades da Natureza é um constante perigo.

Como peregrinos de esperança, precisamos repensar nossas opções de vida, tomando consciência das tentações que nos impedem de viver a vida nova que um dia recebemos em nosso Batismo.
 
Reflitamos:

- Quando se prescinde de Deus que futuro é reservado para a humanidade?
- Quais são os deuses da pós-modernidade que seduzem e afastam a pessoa do encontro e relação com o Verdadeiro Deus da Vida, que a Sagrada Escritura nos  apresenta?
 
Oremos:
 
“Ó Deus, dai-nos força para resistir à tentação, 
paciência na tribulação,
e sentimentos de gratidão na prosperidade. Amém.”

Fé nutrida, êxito no combate (IDTQC)

Fé nutrida, êxito no combate

 “No Cristo fomos tentados
e n’Ele vencemos o demônio“

Sejamos enriquecidos pela reflexão do Bispo Santo Agostinho, ao celebramos o 1º Domingo da Quaresma:

"Ouvi, ó Deus, a minha súplica, atendei a minha Oração (Sl 60,2). Quem é que fala assim? Parece ser um só: Dos confins da terra a Vós eu clamo, e em mim o coração já desfalece (Sl 60,3).

Então já não é um só, e contudo é somente um, porque o Cristo, de quem todos somos membros, é um só.

Como pode um único homem clamar dos confins da terra? Quem clama dos confins da terra é aquela herança a respeito da qual foi dito ao próprio Filho: Pede-me e te darei as nações como herança e os confins da terra por domínio (Sl 2,8).

Portanto, é esse domínio de Cristo, essa herança de Cristo, esse corpo de Cristo, essa Igreja de Cristo, essa unidade que somos nós, que clama dos confins da terra.

E o que clama? O que eu disse acima: Ouvi, ó Deus, a minha súplica, atendei a minha Oração; dos confins da terra a Vós eu clamo. Sim, clamei a Vós dos confins da terra, isto é, de toda parte. 

Mas por que clamei? Porque em mim o coração já desfalece. Revela com estas palavras que Ele está presente a todos os povos no mundo inteiro, não rodeado de grande glória, mas no meio de grandes tentações.

Com efeito, nossa vida, enquanto somos peregrinos neste mundo, não pode estar livre de tentações, pois é através delas que se realiza nosso progresso e ninguém pode conhecer-se a si mesmo sem ter sido tentado.

Ninguém pode vencer sem ter combatido, nem pode combater se não tiver inimigo e tentações.

Aquele que clama dos confins da terra está angustiado, mas não está abandonado. Porque foi a nós mesmos, que somos o Seu corpo, que o Senhor quis prefigurar em Seu próprio corpo, no qual já morreu, ressuscitou e subiu ao céu, para que os membros tenham a certeza de chegar também aonde a cabeça os precedeu. 

Portanto, o Senhor nos representou em Sua pessoa quando quis ser tentado por Satanás. Líamos há pouco no Evangelho que nosso Senhor Jesus Cristo foi tentado pelo demônio no deserto.

De fato, Cristo foi tentado pelo demônio. Mas em Cristo também tu eras tentado, porque Ele assumiu a tua condição humana, para te dar a sua salvação; assumiu a tua morte, para te dar a sua vida; assumiu os teus ultrajes, para te dar a sua glória; por conseguinte, assumiu as tuas tentações, para te dar a sua vitória.

Se n’Ele fomos tentados, n’Ele também vencemos o demônio. Consideras que o Cristo foi tentado e não consideras que ele venceu?

Reconhece-te n’Ele em sua tentação, reconhece-te n’Ele em sua vitória. O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar-se d’Ele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer na tentação”.

Nisto consiste a vida cristã, sobretudo neste Tempo Quaresmal: com Jesus, fazermos nossa caminhada pelo “deserto” da existência, comprovando a nossa fé, vivendo o bom combate, que assumimos desde o dia de nosso Batismo, até que mereçamos a consumação da corrida, e mereçamos receber a coroa da glória, como bem falou o Apóstolo (cf. 2Tm 4, 1-8).

Oremos:

“Ó Deus que nos alimentastes com este Pão que nutre a fé, incentiva a esperança e fortalece a caridade, dai-nos desejar o Cristo, Pão Vivo e Verdadeiro, e viver de toda Palavra que sai de Vossa boca. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.”

Em poucas palavras...

                       



                              Jesus, o modelo das Bem-Aventuranças

“O Verbo fez-Se carne, para ser o nosso modelo de santidade: «Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim [...]» (Mt 11, 29). «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 6).

E o Pai, na montanha da Transfiguração, ordena: «Escutai-o» (Mc 9, 7; Dt 6,4-5). De fato, Ele é o modelo das Bem-Aventuranças e a norma da Lei nova: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12). Este amor implica a oferta efetiva de nós mesmos, no seu seguimento (Mc 8,34).” (1)

 

 

(1)              Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 459

Não nos deixeis cair nas tentações do Maligno (IDTQC)


 

Não nos deixeis cair nas tentações do Maligno
 
Com vistas ao aprofundamento da passagem do Evangelho de Lucas (Mt 4,1-11; Mc 1,12-13; Lc 4,1-13), retomemos três respostas que muito nos iluminam, sobretudo quando inquietos, por vezes nos perguntamos -  “Por que Deus não impede que as tentações sejam lançadas sobre nós?”
 
1º - Orígenes (séc. III), um escritor cristão de grande erudição:
 
“Deus não quer impor o bem, quer seres livres [...]. Para alguma coisa serve a tentação. Ninguém, senão Deus, sabe o que a nossa alma recebeu de Deus, nem nós próprios.
 
Mas a tentação manifesta-o para nos ensinar a conhecermo-nos e desse modo descobrir a nossa miséria e obrigar-nos a dar graças pelos bens que a tentação nos manifestou”. (1)
 
2º - Bispo e Doutor da Igreja, São João Crisóstomo (séc. V):
 
1º Para que vejamos que Deus nos fez muito mais fortes;
 
2º Para que não nos estimemos excessivamente, com ensoberbecimento pela grandeza do dom que nos foi conferido, visto que as tentações nos mantêm em humildade;
 Para que o demônio maligno, duvidando se é verdade que renunciamos a ele, pela experiência das tentações se confirme que de tudo nos afastamos;
 
 Para que sejamos forjados pela dureza e mais forte que o ferro;
 
 Para que com isto tenhamos a demonstração do grande tesouro que nos foi confiado.
 
3º - Bispo e Doutor, Santo Agostinho (séc. V):
 
“Como vencer se não combater, como combater se não formos tentados. Se n’Ele somos tentados, com Ele também venceremos”. E ainda: "O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar - se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer na tentação".
 
Importante que tenhamos na mente e no coração estas palavras, sobretudo quando ao rezarmos a Oração Dominical, o “Pai-Nosso”, e suplicarmos: “... e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.
 
Sempre oportuno lembrar as tentações vencidas por Jesus no deserto: do ter, poder e ser (acúmulo, dominação e prestígio – respectivamente).
 
Jesus venceu o Maligno não somente no deserto, mas em toda a Sua Missão na fidelidade ao Pai, conduzido e cheio do Espírito Santo, com uma vida marcada, ao contrário do proposto por Satanás (partilha, serviço e humildade).
 
Com Ele, também nós devemos resistir ao Maligno, e assistidos pelo Espírito Santo, também venceremos, em total fidelidade à onipotência do amor do Pai. 

O Maligno não tem poder sobre nós (IDTQC)

O Maligno não tem poder sobre nós

Inquietos, por vezes, ficamos e nos perguntamos – “Por que Deus não impede que as tentações sejam lançadas sobre nós?”

O Bispo e Doutor da Igreja, São João Crisóstomo (séc. V), assim responde:

1º Para que vejamos que Deus nos fez muito mais fortes;

 Para que não nos estimemos excessivamente, com ensoberbecimento pela grandeza do dom que nos foi conferido, visto que as tentações nos mantêm em humildade;

 Para que o demônio maligno, duvidando se é verdade que renunciamos a ele, pela experiência das tentações se confirme que de tudo nos afastamos;

 Para que sejamos forjados pela dureza e mais forte que o ferro;

 Para que com isto tenhamos a demonstração do grande tesouro que nos foi confiado.

O Bispo também nos diz:

“O demônio não te atacarias se não te visse colocado nas mais altas honras. Tal foi o motivo de alta dignidade. Pela mesma razão se levantou contra Jó, ao vê-lo recompensado e louvado pelo Deus de todos...

O demônio nos ataca especialmente quando nos vê sozinhos e quando andamos afastado dos outros. Assim atacou a mulher nas origens, aproximando-se dela quando estava só, sem seu marido.

Quando ele vê a vários reunidos, não se atreve a atacar. Por isto convém que com frequência nos congreguemos, para que não sejamos presa fácil do diabo...

Não ataca Jesus enquanto está jejuando, mas quando teve fome, para que aprendas que grande bem é o jejum, e que arma tão poderosa contra o demônio; e que depois do Batismo não te entregues aos prazeres, nem à embriaguez, nem às iguarias, mas ao jejum. Por isso Jesus jejuou, não porque Ele o necessitasse, mas para instruir-nos”.

São lições muito preciosas para serem aprendidas, para que vivamos intensamente a Quaresma, vencendo as ciladas do inimigo, crescendo e amadurecendo na comunhão fraterna, e celebrando no Banquete da Comunhão e da Vida, a Santa Eucaristia.

Tão somente assim poderemos vencer o Maligno, como o Senhor o fez, e com Ele celebrar a jubilosa e transbordante alegria pascal.

Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp. 562-563. 

Sedentos da misericórdia divina (IDTQC)

Sedentos da misericórdia divina

À luz das passagens do Evangelho (Lc 4,1-13; Mc 1,12-15), perguntamo-nos: há alguma utilidade na tentação?

Orígenes (séc. II) nos responde:

“Deus não quer impor o bem, quer seres livres [...]. Para alguma coisa serve a tentação. Ninguém, senão Deus, sabe o que a nossa alma recebeu de Deus, nem nós próprios. Mas a tentação manifesta-o para nos ensinar a conhecermo-nos e desse modo descobrir a nossa miséria e obrigar-nos a dar graças pelos bens que a tentação nos manifestou”.

O Bispo Santo Agostinho, por sua vez, mais tarde afirmaria:

“... Deus Se fez homem para que o homem se tornasse Deus. Para que o homem comesse o Pão dos Anjos, o Senhor dos Anjos Se fez homem...

O homem pecou e tornou-se culpado; Deus nasceu como homem para libertar o culpado. O homem caiu, mas Deus desceu. O homem caiu miseravelmente, Deus desceu misericordiosamente; o homem caiu por orgulho, Deus desceu com a Sua graça...

Só nasceu sem pecado Aquele que não foi gerado por homem nem pela concupiscência da carne, mas pela obediência do Espírito”.

Deste modo, para nós a Quaresma é:

- tempo favorável para tomarmos consciência de nossa condição pecadora, reconhecendo que, miseravelmente, podemos cair no pecado e na tentação, se não nos revigorarmos com a prática dos exercícios quaresmais;

- tempo de nos abrirmos à misericórdia de Deus, que desceu ao nosso encontro para nos renovar, em total reconciliação, restaurando a amizade maculada no início da criação;

- tempo de, reconhecedores de nossa miséria, curar as feridas de nossa alma com a graça de Deus que é abundantemente derramada sobre todos nós por meio de Jesus Cristo que, por amor incondicional ao Pai, morreu e Ressuscitou, e nos enviou o Seu Espírito para conosco caminhar, nossos passos fortalecer, até que um dia possamos contemplar a glória de Deus na eternidade, inseridos na plena comunhão de amor e luz divinal.

Conscientes de nossa miséria e sedentos da misericórdia divina, revigorados pela graça de Deus vivamos, sobretudo neste itinerário quaresmal que estamos trilhando, rumo à Páscoa do Senhor.

Com Jesus aprendemos a confiar em Deus (IDTQC)

Com Jesus aprendemos a confiar em Deus

Dando os primeiros passos em nosso itinerário Quaresmal rumo à Páscoa do Senhor, sejamos enriquecidos pela reflexão apresentada pelo Missal Dominical.

“Cristo é conduzido pelo Espírito ao deserto para repetir a prova: nele se concentra a fidelidade de Deus a Seu plano e a fidelidade do homem que lhe responde.

Apoiando-se inteiramente na Palavra de Deus (“está escrito”). Cristo sai vitorioso da provação; é uma antecipação da obediência incondicional do Filho bem-amado que Se torna o Primogênito da nova humanidade, fiel a Deus e chamado à Sua intimidade (Evangelho).

Todo homem, como toda geração e toda comunidade, é chamado a reviver a mesma opção fundamental.

'A mais temível tentação não é a que nasce da carne e do mundo, mas a que nasce de uma situação em que a bondade de Deus não entra no nosso campo de percepção.

O cristão pode então dizer: 'Onde então está Deus? Só encontra indiferença e silêncio: Deus se mostra tão distante que ele sente o abandono de Cristo'. 

Vive naquela situação-limite em que viveram Abraão quando Deus lhe ordenou que sacrificasse Isaac, Jó durante a doença, e Cristo na agonia.

'A confiança incondicional é o único meio de salvação, mas ela toca as raias da revolta contra Deus. Tais situações são a tentação suprema para o espírito. Atacam a fé em sua própria raiz, e se compreende por que Cristo pede aos cristãos que fujam em caso de perseguição: a não intervenção de Deus é sentida então de modo tão cruel que poderia destruir a fé.

Não é, pois, de admirar que a Igreja e os cristãos orem todos os dias para que Deus saia de Seu silêncio, que abrevia o tempo em que não manifesta Seu poder'" (C. Duquoc).

A Quaresma é o tempo do teste para nossa fidelidade na resposta ao Plano de Deus; pode acontecer que o tenhamos traído, mutilado ou enterrado, e isso por covardia, interesse, hipocrisia, fraqueza, porque não soubemos vencer as tentações que hoje se nos oferecem.

Toda civilização inclui elementos bons e elementos nocivos, expressão de sua ambiguidade, sua incapacidade para salvar-nos.

Hoje esses elementos nocivos são a apatia diante das realidades espirituais, seu sufocamento 'mórbido"' para que não constituam mais problema e sejam relegados para os recantos da consciência e da vida; a total absorção no terrestre, nos valores e bens que nos são oferecidos em quantidade cada vez mais crescente e alienante: o ‘eficientismo’, gerado pelo ídolo do produzir-consumir e consumir-produzir, esse círculo vicioso implacável e destruidor de todo valor humano; o egoísmo e o espírito de opressão, a luta pela própria carreira, que reduz o próximo unicamente a mais um adversário a eliminar, um concorrente a superar, um degrau pelo qual subir” (1)

Sejamos revigorados, neste tempo intenso de penitência, silêncio orante, para que acompanhado do jejum nos leve à prática da caridade ativa, que nos faz mais configurados a Jesus.

Renovemos a total e incondicional confiança em Deus, como Jesus o fez, contando sempre com a presença, ação e força do Espírito que sobre Ele pairava, e sobre toda a Igreja paira, porque não nos deixou órfãos. Sua promessa se cumpriu!

Sejamos fortalecidos neste santo propósito de vencer as tentações do Maligno, pois a liberdade por Deus nos foi concedida, e é preciso saber usá-la, e assim também viveremos a Campanha da Fraternidade 2025, com o tema: “FRATERNIDADE E ECOLOGIA INTEGRAL", e o lema: “Deus viu que tudo era muito bom" (Gn 1,31).

Oremos:

"Concedei-nos, ó Deus onipotente, que, ao longo desta Quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a Seu amor, por uma vida santa. Por N. S. J. C. Amém!”


(1) Missal Dominical, Editora Paulus, (pp. 147-148).

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG