terça-feira, 4 de março de 2025

Rezar a partir da matemática é possível!

                                                 

Rezar a partir da matemática é possível!

Há algum tempo escrevi esta afirmação: “Com belíssima comparação o Profeta Isaías nos fala de Deus tomando a imagem do amor maternal: amor instintivo, avassalador, eterno, gratuito e incondicional, mas elevado ao grau infinito. Elevado à enésima potência infinita, se matematicamente pudéssemos dizer.”

Com conhecimento elementar da linguagem matemática, na primeira redação disse: “Elevado à enésima potência infinita...”, porém, na perfeita “matematiquês”, diz-se: “Elevado à enésima potência tendendo ao infinito...”. Cometeria um erro, sem dúvida, e fiquei enriquecido com o aprendizado... E mais que isto: essa abertura levou-me a refletir sobre um erro do qual não somos imunes: não amar na mesma medida do Amor Divino.

Criados a imagem e semelhança de Deus este é nosso horizonte e destino, amar na exata medida... Amor “elevado à enésima potência tendendo ao infinito”, pois assim é o amor d’Ele por nós.

Esta medida é condição indispensável para que as portas da eternidade se abram, e que o céu seja o prolongamento do que aqui vivemos: a plenitude do Amor Divino.

Quando se planta a justiça, colhe-se a paz!

Quando se planta a justiça, colhe-se a paz!

A paz tão sonhada, tão necessária, é anseio permanente de toda a humanidade.

Há alguns anos, na Diocese de Guarulhos, no Fest-Jovem, foram apresentadas letras de músicas que traziam o desejo de Paz que brota do coração de toda juventude, fecundado e alimentado pela espiritualidade que tem como fonte a Sagrada Escritura.

As letras retratavam situações difíceis por que passam o mundo: violência, corrupção, drogas, crise de valores, fome, desemprego, doenças, vazios de sentido, depressão etc.

Com o coração ardendo pelo fogo do Espírito, rezamos como o Salmista:

“Amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam; da terra germinará a Verdade e a Justiça se inclinará do céu. O próprio Iahweh dará a felicidade, e nossa terra dará seu fruto. A Justiça caminhará a sua frente, e com seus passos traçará um caminho” (Sl 85,11-14).

Apresento alguns trechos das letras para nossa reflexão:

“A paz não se faz de palavras, de cartazes ou dizeres. Paz se faz de atitudes, dignidade e ação. Não apenas quando as armas cessarem, mas do direito à educação, sem pessoas que choram por fome. Paz, quem quer a paz respeita a vida. Não importa o seu interesse, maior é o viver. Paz, quem quer a paz, respeita irmão, a paz é uma escolha, é o direito de expressão…”.

“Paz não nasce do nada, paz só brota se for semeada; Paz não é canto que cala. Paz é música de todos, é canto de multidão em diferentes línguas. Paz é ação.”

Que o nosso compromisso com a paz seja renovado, que alimentados pela Palavra de Deus, envolvidos pela leve e suave brisa divina, passemos das palavras aos passos a serem dados; das palavras à travessia do mar, acolhendo a Palavra do Verbo: “Coragem, sou Eu, não tenham medo!” (Mt 15,27). Ele está conosco na travessia do mar, presente em nossa barca Igreja, em nossas pastorais... Os ventos contrários, que agitam a barca não têm mais força que Sua Palavra e presença!

Vibrando com a presença do Senhor, façamos valer as palavras do Profeta Isaías: “O fruto da justiça será a paz, e a obra da justiça consistirá na tranquilidade e na segurança para sempre. Meu povo morará em mansões seguras e em lugares tranquilos. Embora a floresta venha abaixo, embora a cidade humilhada, sereis felizes, semeando junto de águas abundantes, deixando andar livres os bois e os jumentos” (Is 32,17-18).

Continuemos sempre plantando a justiça para colher a paz!

O tempo da peregrinação rumo à eternidade

                                                      

O tempo da peregrinação rumo à eternidade

Se quiseres o Senhor seguir,
A eternidade alcançarás.
Há exigências no tempo presente,
Enquanto para lá caminhamos...

Silenciemo-nos diante da Palavra do Divino Amor:
“Recebereis cem vezes mais, já neste mundo,
Juntamente com perseguições,
E, no mundo futuro, a vida eterna”.

Os cristãos são destinatários privilegiados do Projeto Salvífico de Deus,
Por muito tempo anteriormente revelado pelos Profetas,
E por último pelo próprio Jesus.
Como não exultar imensamente de alegria?

Este privilégio não permite acomodação, mas uma vez testemunhas,
Devemos nos colocar como cristãos, em atitude de vigilância, esperança,
E num permanente caminho de conversão e santificação,
Com gestos corajosos de mortificação, renúncias, conversão.

Vivemos o precioso tempo da peregrinação,
Voltados sempre para as últimas realidades,
O que requer uma conduta irrepreensível,
Para que nosso anúncio possa ser crível.

Na fidelidade ao Senhor, a renúncia e desapegos necessários,
Mas com recompensa centuplicada prometida e, de fato, realizada.
Assegurada a eternidade no mundo futuro,
Mas com perseguições, e até mesmo o martírio e a morte.

Morrendo, silenciosamente como o grão de trigo
Para novos frutos brotar, a alegria do Reino ver acontecer,
Renovando a alegria do chamado divino que nos foi feito,
Ainda que nada tenhamos feito para merecer.

Assim é Deus: chama-nos para com Ele caminharmos.
Como discípulos missionários, renunciando a nós mesmos,
Tomando a cruz de cada dia, para segui-Lo.
Fé sólida e lúcida, ancorados e firmados na esperança e na caridade.

PS: Fonte inspiradora - Liturgia da terça-feira da 8ª Semana do Tempo Comum - ano par -  (Eclo 35,1-15; Sl 49 (50); Mc 10, 28-31).


Quando caírem os véus da mediocridade...

                                               

Quando caírem os véus da mediocridade...

Em tempo de carnaval, vendo tantas máscaras...
Contemplo algumas que são mais que máscaras,
Porque impregnadas nos desumanizam.

Verborrágicos extintos serão mais que dispensáveis,
Porque de palavras vazias e inúteis nos entulharam.
O que mais se precisa é palavra dita e firmada,
Palavras que a alma deleitam, enfeitam: mais nada!

Que eu não seja, que não sejamos verborrágicos!

Frenéticos, agitados, inquietos, se assim o for,
Que seja para um novo mundo sonhar e propor.
Onde não mais morte, escândalos, roubos, infidelidades
Onde não mais violência, barbáries e atrocidades!

Que eu não seja, que não sejamos frenéticos!

Acríticos serão dispensáveis na aurora próxima,
Porque sem criticidade e discernimento, fatalmente
Seremos ludibriados, manipulados e entorpecidos.
Urge mentes que pensem o novo ou algo parecido!

Que eu não seja, que não sejamos acríticos!

Despóticos cederão para quem o poder souber usar,
Sem tiranias insanas, ditaduras tacanhas, medonhas.
Poder serviço, promoção inadiável do bem comum,
Sem resquícios de autoritarismo, em lugar algum!

Que eu não seja, que não sejamos despóticos!

Rústicos pensamentos e atitudes serão refinados.
O sonho e a poesia não serão privilégios de poucos,
Porque a leveza e fineza dos pensamentos humanos
Aprimorados, revigorados, menos erros e enganos!

Que eu não seja, que não sejamos rústicos!

Verborrágicos extintos!
Frenéticos reorientados!
Acríticos libertados!
Despóticos destronados!
Rústicos refinados!

Mundo novo, sonhado, desejado, querido...
Mundo novo é mais do que crível!
Não saudades estéreis de um perdido paraíso:
Redescobri-lo e reconstruí-lo é possível.

Fé que nos impulsiona e motiva.
Esperança que nos dinamiza e move.
Caridade que nos inflama e direciona.
Trindade que jamais nos decepciona!

Senhor, em tuas mãos me ponho,
E a Vós suplico:
Que caiam as nossas máscaras, 
e nosso rosto reflita a imagem divina!



PS: Escrito em 2011

Da fonte nascente da fé emanam sagrados compromissos!

                                                         

Da fonte nascente da fé emanam sagrados compromissos!

Com a Quarta-feira de Cinzas, iniciaremos o Tempo da Quaresma, tempo riquíssimo em espiritualidade e atitudes de conversão, na configuração ao Cristo Bom Pastor, no Mistério de Sua Paixão e Morte. E, para com Ele ressuscitarmos havemos por bem aprofundar um tema de extrema importância: a fé.

Voltemo-nos, portanto,  à Carta aos Hebreus  – “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11,1). A autêntica fé no Deus da vida jamais nos dispensará de compromissos cotidianos que ganham múltiplas faces, expressões, ressonâncias, conteúdos e sentidos, mas deve ser como âncora que firma nossa barca na travessia para o outro lado da margem.

Um pouco mais tarde, o Bispo São Boaventura (séc. XIII) assim se expressou acerca da fé: “Enquanto estamos peregrinando longe do Senhor, a fé é o fundamento que sustenta, a lâmpada que orienta, a porta que introduz a todas as iluminações espirituais... é necessário que nos aproximemos do Pai das luzes com fé pura, dobrando os joelhos do coração, para que, por Seu Filho, no Espírito Santo, nos conceda o verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo e, com o conhecimento, também o Seu amor”.

A existência vista como peregrinar longe do Senhor, não significa Sua ausência, pelo contrário, sua presença. Enquanto aguardamos Sua vinda gloriosa, dobrando os joelhos do coração diante da fonte inesgotável da vida, e saciados pelo Pão da Eucaristia e da Palavra, nos levantemos e nos comprometamos com os que mais necessitam na mais bela expressão de fraternidade e ternura.

Santo Antônio, tem uma frase memorável: “A fé é viva quando são as obras que falam”.  

Olhando para o horizonte do mundo que nos cerca, vemos os intransferíveis compromissos que procedem da fé, pois somente assim seremos sal e luz no vasto e complicado mundo da economia, da política, da cultura, da educação, dos meios de comunicação, da família e em tantos outros lugares como tão bem expressou o Papa São Paulo VI em memorável Exortação da "Evangeli Nuntiandi". 

Movidos pela fé sejamos luminares para tantos quantos precisarem, fazendo resplandecer a mais bela de todas as chamas, a chama da luz divina que jamais se apaga no coração de quem ama. Pois, como bem sabemos, é próprio do amor de Deus nos querer inseridos na luz que jamais se apaga, por isso nos alcançou a eternidade precedida nas mais belíssimas lições de fraternidade.

Contemplemos a imensa misericórdia divina

                                                             

Contemplemos a imensa misericórdia divina

Iniciaremos, com a Quarta-feira de Cinzas, o Tempo Quaresmal, vivendo mais intensamente momentos de oração, um dos três exercícios quaresmais, rezemos a partir do “Hino De Ecclesia”, Escrito pelo Diácono e Doutor da Igreja, Santo Efrém (séc. IV).

Contemplemos a imensa é a misericórdia de Deus para conosco, como também devemos ser misericordiosos para com nosso próximo, não “feras sem misericórdia”, como Santo Efrém assim expressou.

“Quem será bastante paciente
como para narrar
Tua paciência,
que tem que suportar nossas culpas?
Quando pecamos, estamos cheios
de iniquidade;
e quando realizamos o bem, cheios
de orgulho.

Somos uns para com os outros
feras sem misericórdia:
Quando alguém prosperou, lhe
temos inveja,
e quando alguém caiu, nos alegramos.
Ainda que nossa vida seja muito curta,
nossas culpas são longas.

Tu reduziste as medidas de nossa vida:
setenta anos quando muito.
Nós, apesar disso, pecamos
muito mais do que setenta vezes sete.
Por Tua misericórdia é curta a
Nossa vida,
para que não se aumentem nossas culpas.

Maravilho-me de Tua misericórdia,
que reduziu ao silêncio a Tua justiça.
Pois, ainda que um homem seja
impuro, sente aversão
pelo impuro que a ele se parece.
Tu, porém, mesmo que seja Santo,
não volta atrás ante nossas culpas.

Maravilha-me também que
Tua justiça
não leve a juízo
a Tua bondade,
sendo ela a demandante,
sobre como é que Teu sol amanhece
também sobre aquele que
provoca Tua cólera.
Tu nos deste plenitude, sem limite;
nós colocamos faltas, sem medida.
Tu nos ensinaste as boas ações,
o contrário nós temos feito.
Estamos revestidos tão só dos
nomes divinos,
porém estamos desnudos das obras.

Nós forçamos a Tua justiça
a perseguir-nos;
e logo, quando tínhamos que pagar,
pedíamos que não reclamasse a
dívida.
Porém, se alguém a nós nos ofendia,
pedíamos a gritos que a justiça se lhe
tivesse em conta.

Contudo, quando um homem
corre até Tua justiça
para apresentar uma demanda contra
seu devedor,
ela exige em troca, como prenda,
que primeiro alguém pague suas
dívidas,
e depois reivindique as de outro.

Porém, se alguém corre até essa
mesma justiça
para suplicar perdão,
então ela se apressa a atar-lhe
junto com seu devedor,
e quando ele lhe remiu sua dívida,
também ele será desobrigado
por ela da sua.

Nossa astúcia vence,
e também é vencida por Tua Justiça:
é vencedora, quando pede
perdão para suas dívidas;
e é vencida, quando vem
a reivindicar, e ela é a reivindicada”. (1)

“Pai Nosso que estais nos céus...”

(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - pp. 559-560.

Em poucas palavras...

 


Só Deus nos basta

“Não sentiremos falta de nada se tivermos Jesus Cristo. Conta-se da vida de São Tomás de Aquino que um dia o Senhor lhe disse: ‘Escreveste bem sobre mim, Tomás. Que recompensa desejas?’ O Santo respondeu: ‘Nada senão Vós mesmo, Senhor’. Nós também não queremos outra coisa.” (1)

 

(1)“Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal

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