terça-feira, 4 de março de 2025

Em poucas palavras...

 


Só Deus nos basta

“Não sentiremos falta de nada se tivermos Jesus Cristo. Conta-se da vida de São Tomás de Aquino que um dia o Senhor lhe disse: ‘Escreveste bem sobre mim, Tomás. Que recompensa desejas?’ O Santo respondeu: ‘Nada senão Vós mesmo, Senhor’. Nós também não queremos outra coisa.” (1)

 

(1)“Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal

Quando abrimos a caverna escura de nossa existência

                                                        

Quando abrimos a caverna escura de nossa existência
 
Sejamos enriquecidos pelas Confissões do bispo Santo Agostinho (Séc. V).

“Que eu Te conheça, ó conhecedor meu! Que eu também Te conheça como sou conhecido! Tu, ó força de minha alma, entra dentro dela, ajusta-a a Ti, para a teres e possuíres sem mancha nem ruga. Esta é a minha esperança e por isso falo.

Nesta esperança, alegro-me quando sensatamente me alegro. Tudo o mais nesta vida tanto menos merece ser chorado quanto mais é chorado, e tanto mais seria de chorar quanto menos é chorado. Eis que amas a verdade, pois quem a faz, chega-se à luz. Quero fazê-la no meu coração, diante de Ti, em confissão, com minha pena, diante de muitas testemunhas.
 
A Ti, Senhor, a cujos olhos está a nu o abismo da consciência humana, que haveria de oculto em mim, mesmo que não quisesse confessá-lo a Ti? Eu Te esconderia a mim mesmo, e nunca a mim diante de Ti.

Agora, porém, quando os meus gemidos testemunham que eu me desagrado de mim mesmo, enquanto Tu refulges e agradas, és amado e desejado, que eu me envergonhe de mim mesmo, rejeite-me e Te escolha! Nem a Ti nem a mim seja eu agradável, a não ser por Ti.

Seja eu quem for, sou a Ti manifesto e declarei com que proveito o fiz. Não o faço por palavras e vozes corporais, mas com palavras da alma e clamor do pensamento. A tudo o Teu ouvido escuta. Quando sou mau, confessá-lo a Ti nada mais é do que não O atribuir a mim.
 
Quando sou bom, confessá-lo a Ti nada mais é do que não O atribuir a mim. 
Porque Tu, Senhor, abençoas o justo, antes, porém, o justificas quando ímpio. Na verdade, minha confissão, ó meu Deus, faz-se diante de Ti em silêncio e não em silêncio porque cala-se o ruído, clama o afeto.
 
Tu me julgas, Senhor, porque nenhum dos homens conhece 
o que há no homem a não ser o espírito do homem que nele está. Há, contudo, no homem algo que nem o próprio espírito do homem, que nele está, conhece.
 
Tu, porém, Senhor, conheces tudo dele, pois Tu o fizeste. Eu, na verdade, embora diante de Ti me despreze e me considere pó e cinza, conheço algo de Ti que ignoro de mim.
 
É certo que 
agora vemos como em espelho e obscuramente, ainda não face a face. Por isto enquanto eu peregrino longe de Ti, estou mais presente a mim do que a Ti e, no entanto, sei que és totalmente impenetrável, ao passo que ignoro a que tentações posso ou não resistir.
 
Mas aí está a esperança, porque és fiel e não permites sermos tentados acima de nossas forças e dás, com a tentação, a força para suportá-la.
 
Confessarei aquilo que de mim conheço, confessarei o que desconheço. Porque o que sei de mim, por Tua luz o sei; e o que de mim não sei, continuarei a ignorá-lo até que minhas trevas se mudem em meio-dia diante de Tua face”.
 
Nada há oculto aos olhos de Deus, ainda que queiramos, pois Ele nos conhece com todas as nossas perfeiçoes e imperfeições; limitações e potenciais; sombras e luzes; clamores e silêncios; quedas e levantamentos; passos firmes ou vacilantes; palavras iluminadas ou as que ofuscam a luz que no outro habita.
 
É próprio do amor de Deus nos aceitar como somos, para que, por Suas mãos sendo moldados, sejamos aperfeiçoados.
 
Conhecendo a quem ama, quer tão apenas que não nos fechemos a Ele, que não O ignoremos, pois à Sua imagem fomos pensados,  criados e resgatados.
 
Diante de Deus, não tenhamos medo de abrir as portas da caverna de nossa existência, para que a Sua Luz nos ilumine, e luminosos sejamos.

De tal modo, seremos discípulos do amado Filho, e nas trevas jamais caminharemos, pois Ele mesmo disse – “Quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).
 
Peregrinos longe do Senhor ainda, mas Ele jamais longe de nós. Procuremos por Ele e seremos encontrados. Procuremos e O encontraremos.

Animados pelo amor de Cristo

                                                          

 Animados pelo amor de Cristo

Voltemos nosso olhar para as grandes cidades, com diversos contrastes, dificuldades, colocando-nos frente a inquietantes questões. Entre elas, como e de que modo ser uma Igreja que evangeliza, neste contexto, comunicando a Boa-Nova do Reino que Jesus inaugurou?

A difícil realidade das cidades, de modo geral, em diversos âmbitos (política, econômica, educacional, cultural, social, infraestrutura, lazer etc.), exige que tenhamos uma força que nos impulsione; que não nos deixe submergir no mar das dificuldades, da desesperança, do desânimo.

Esta força, como discípulos missionários de Jesus, encontramos no amor que o Apóstolo Paulo se referiu à Comunidade de Corinto: “O amor de Cristo nos impulsiona... para que, os que vivem, não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Cor 5,14-15).

Deste modo, impulsionados pelo amor de Cristo, cremos que Deus vive na cidade, como nos disseram os Bispos reunidos na Conferência de Aparecida:

“A fé nos ensina que Deus vive na cidade, em meio às suas alegrias, desejos e esperanças, como também em meio às suas dores e sofrimentos. As sombras que marcam o cotidiano das cidades, como exemplo violência, pobreza, individualismo e exclusão, não nos podem impedir que busquemos e contemplemos o Deus da vida também nos ambientes urbanos.

As cidades são lugares de liberdade e oportunidade. Nelas, as pessoas têm a possibilidade de conhecer mais pessoas, interagir e conviver com elas. Nas cidades é possível experimentar vínculos de fraternidade, solidariedade e universalidade. Nelas, o ser humano é constantemente chamado a caminhar sempre mais ao encontro do outro, conviver com o diferente, aceitá-lo e ser aceito por ele.” (DAP - n.514).

Portanto, não podemos nos acomodar, refugiar, isolar e desistir. Deus mora na cidade, e quer contar com nossa colaboração para transformar sinais de desolação em consolação, de escuridão em luz, de tristeza em alegria, de angústia em esperança, de morte em vida. E somos capazes, porque, de fato, “o amor de Cristo nos impulsiona”.

E impulsionados por este amor, renovamos sagrados compromissos para a construção da “Cidade Santa”, a nova Jerusalém, que desce do céu, junto a Deus, “Vestida como noiva que se adorna para seu esposo”, que é a tenda que Deus instalou entre a humanidade, o novo céu e nova terra que esperamos, “onde as lágrimas serão enxugadas dos olhos, não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, porque tudo o que é antigo terá desaparecido”, porque Ele, o Cristo Ressuscitado, o Princípio e o Fim, faz novas todas as coisas (cf. Ap 21,1-6).

Impulsionados pelo amor de Cristo, vislumbramos, na reflexão e prática das obras de misericórdia corporais e espirituais, um caminho luminoso e indispensável para que tenhamos uma cidade mais humana e fraterna, com vida plena e feliz para todos, revelando a compaixão e a misericórdia divinas, empenhados na construção de um mundo mais justo e fraterno, promovendo a justiça e a paz.

Entretanto, somente edificaremos uma Igreja a serviço desta Cidade Santa, mediante a proclamação e a vivência da Palavra, nutridos pela Ceia da Eucaristia, fortalecendo os vínculos de comunhão fraterna, expressa em solidariedade e serviço, sobretudo aos excluídos, com os quais Cristo Se identificou.

Que o amor de Deus continue sendo derramado em nossos corações, pelo Espírito Santo (Rm 5,5), para que anunciemos e testemunhemos o Evangelho que Jesus nos confiou e nos enviou a pregar por todo o mundo, e assim, sal da terra, fermento na massa e luz do mundo seremos.

A alegria cristã não dispensa sacrifícios

 


A alegria cristã não dispensa sacrifícios
 
Viver a vocação profética é assumir a história do povo em marcha, passando da escravidão para a liberdade, olhando o mundo com os olhos de Deus, para testemunhar com fidelidade, confiança e esperança em todas as circunstâncias e em todos os momentos, abandonando, definitivamente, os óculos escuros da desesperança.
 
Com os profetas e com a Carta do Apóstolo São Tiago, aprendemos que a alegria que Deus nos oferece não nos dispensa de compromissos, empenhos, embates, passos largos a serem dados em busca de horizontes inéditos, como que reconstruindo o paraíso que foi manchado pelo pecado.
 
O Apóstolo Tiago nos exorta à paciência e ao olhar de fé que deve ser renovado, cotidianamente, em cada Banquete da Eucaristia celebrado, a fim de que a alegria e a esperança invadam nosso coração.
 
Ele também nos ensina que é sempre tempo de reavivar a confiança e paciência, na espera do Senhor que veio, vem e virá.
 
Recuperar e jamais perder os valores cristãos autênticos e cultivar a paciência, até que ocorra a intervenção final de Deus na história: confiar no Senhor não é sinônimo de cruzar os braços.
 
Urge, portanto, a cada dia, reconstruir o paraíso, não como saudade estéril, mas como esperança e confiança frutuosa.
 
 
Reflitamos:
- Em um mundo marcado pela depressão, tristeza, dor, como ser sinal de alegria?
 
- Onde e quando precisamos ser profetas da alegria, portadores de uma Palavra que renova, revigora, refaz forças na construção do Reino de Deus?
 
- Qual o caminho verdadeiro para expor nossas dúvidas com toda sinceridade, diante de Deus e com quem convivemos?
 
Seja nossa vida cristã marcada pela autêntica alegria, edificada sobre a Rocha da Palavra Divina, nutridos pela força que nos vem da Santa Eucaristia.

A novidade do Mandamento do Amor de Jesus!

A novidade do Mandamento do Amor de Jesus!

O Antigo Testamento já acentuava a importância do Mandamento do Amor: “Se teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber...” (Pr 25,21)

Jesus traz em si, através da Palavra e da Vida, a Novidade:

“Dou-vos um Mandamento Novo, que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei, assim amai-vos uns aos outros” (Jo 13,34).

O Missal Dominical nos enriquece com belíssima reflexão que ora apresento e amplio para que acolhamos e vivamos a novidade do Mandamento do Amor de Jesus e sejamos perfeitos como Deus é perfeito, como Ele bem diz no Evangelho deste final de semana.

O que caracteriza a Novidade trazida por Jesus?

 Ø   Universalismo – um amor de alcance universal, sem exclusão, portanto, desconhece restrições de toda ordem, seja social, política, religiosa, racial e se estende até mesmo aos inimigos;

 Ø      Medida – pela intensidade e dimensão vertical, ou seja, impossível de definir altura, profundidade, extensão, largura. O amor de Deus é imensurável, importa tomá-lo como medida, como parâmetro, modelo. O amor de Jesus é a verdadeira medida: “Como o Pai me amou, também Eu vos amei” (João 15,9);

 Ø  Motivo - amar por amor de Deus, pelas mesmas finalidades de Deus – exclusivamente desinteressado, com amor puríssimo, sem sombra de compensação.

Também nos apresenta uma questionadora definição do Amor de Deus:

“Amar-nos como irmãos, com um amor que procura o bem daquele a quem amamos, não o nosso bem. Amar como Deus, que não busca o bem na pessoa a quem ama, mas cria nela o bem, amando-a.”

Vivendo o Mandamento Novo de nosso Senhor elevamos o nível de nosso amor, traduzindo em prática o nosso amor por Ele no amor ao nosso próximo.

Amar a Deus sem amar o irmão é esvaziar o sentido do Mandamento Novo. O amor a Deus passa necessariamente pelo amor ao próximo, ainda que este seja nosso inimigo.

Jesus diz: “Ama teu inimigo... oferece a outra face... Não pague o mal com mal”. O Missal diz de pessoas que perdoam, por amor de Cristo Crucificado, os assassinos de seus entes queridos e ainda: “... pais que esquecem heroicamente ofensas recebidas dos filhos; esposos que superam as ofensas e culpas; homens políticos que não conservam rancor pelas calúnias, difamações, derrotas; operários que ajudam o companheiro de trabalho que tentou arruiná-los etc.”

Finalmente, a Igreja tem páginas não tão memoráveis de excomunhão: a procura dos hereges, queima de livros e imagens... Há páginas em que se derramou sangue, explodindo ódio em guerras de religião... Mas a Igreja superou ou procura superar muitas dessas limitações.

“Não há mais hereges, mas irmãos separados; não há mais adversários, mas interlocutores; não condenamos em bloco e a priori as grandes religiões não cristãs, mas nelas vemos autênticos valores humanos e pré-cristãos que nos permitem entrar em diálogo”.

Mas infelizmente há outro perigo, a procura de inimigos entre os próprios irmãos na fé: “Não estaremos acaso usando, dentro da própria Igreja, aquela agressividade e polêmica excessivas que outrora usávamos com os de fora da Igreja? Quantos cristãos engajados, uma vez faltando o alvo de fora, começaram a visar como ‘inimigos’ aos próprios irmãos na fé, e os combatem obstinadamente, sem amor e sem perdão!”

Importa vivermos a novidade do Mandamento do Amor, dentro e fora da Igreja, com tudo aquilo que o caracteriza. Eis a mais bela aventura de amor que nos propôs o Senhor.

Aventurar-se não como sentido de riscos, mas na mais bela certeza de que o alcance da felicidade é possível.

A felicidade de cada um de nós é diretamente proporcional à capacidade e intensidade com que amamos a Deus e ao nosso próximo. 

Presbítero: homem da imersão e da emersão...

                                                       

Presbítero: homem da imersão e da emersão...

“Imerso no Amor para fazer emergir a vida...”

Em todo tempo, mas de modo especial na Quaresma, vivemos, como Igreja, o Tempo da graça e reconciliação; tempo de revisão e revigoramento de nossa fé na fidelidade ao Senhor, configurados a Ele, com renúncias necessárias, para carregarmos a nossa cruz de cada dia, rumo à Páscoa.

Eis o Itinerário que Presbíteros e fiéis são chamados a percorrer, tendo como meta a Ressurreição, pois se com Ele vivemos e morremos, com Ele também Ressuscitaremos.

Retomando as palavras do Papa Bento XVI, na Mensagem Quaresmal 2011, detenhamo-nos nesta afirmação:

 “A Transfiguração é o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus...”.  

Indubitavelmente, não poucos são os “boatos da vida quotidiana”, que podem nos afastar dos fatos que clamam a nossa solicitude, na fidelidade ao Cristo Bom Pastor, no exercício de nosso ministério. 

Convém ressaltar, que boatos aqui não são meramente fofocas, como se possa pensar, mas ruídos que interferem na escuta dos clamores do rebanho por Deus confiado.

Por “boatos”, também podemos entender a ditadura do relativismo, que o Papa tanto denunciou, onde as verdades se tornam transitórias, valores se tornam relativos, esvaziando de sentido os princípios, que deveriam nortear a existência da humanidade.

No início do Itinerário Quaresmal com o Senhor, vimos que “boatos” podem ser as propostas satânicas, que nos desviam do Projeto Divino, na realização de nossa vocação, quer Presbíteros ou não. 

São as tentações que Jesus venceu no deserto: ter, ser, poder – abundância, prestígio e domínio, respectivamente. 

Ceder a elas nos afastaria da graça de sermos instrumentos de Deus na construção do Reino, pois como bem disse o Bispo Santo Irineu (séc. I): “a nossa glória é perseverar e permanecer no serviço de Deus”.

Evidentemente, muitos outros “boatos” podem seduzir e enfraquecer a missão. Portanto, é sempre bom lembrar que somos anunciadores da Boa-Nova e não ouvintes e multiplicadores de “boatos”, que esvaziam o existir, destruindo a vida em todos os níveis.

Sem ouvidos a “boatos”, com distanciamentos necessários dos mesmos, o Papa nos convida para a imersão na presença de Deus. 

Quanto mais mergulharmos nos Mistérios de Deus, mais místicos o seremos, mais encarnada e densa de conteúdo será nossa espiritualidade, no compromisso com os empobrecidos desfigurados pelo caminho.

Como Presbíteros, com toda a comunidade, urge que nos coloquemos na presença de Deus, para que nosso coração seja configurado ao coração do Cristo  Bom Pastor, no cuidado do rebanho.

A imersão no Amor Divino é diretamente proporcional à emersão que somos chamados a realizar com toda a comunidade.

Imersos no Amor para fazer emergir a vida, vir à tona uma nova existência, uma nova Igreja, um Planeta mais bem cuidado e, consequentemente, mais amado.

Mais do que nunca, o Presbítero precisa ser o homem da imersão cotidiana e constante; o homem da Oração, do silêncio, da contemplação. 

Um homem que permita que a luz divina ilumine a caverna escura de sua existência, enfim, um homem imerso neste mar de misericórdia e luz; somente assim poderá ajudar a comunidade a fazer e viver a mesma experiência e realidade.

Uma das exigências que o povo tem para conosco, mais do que perceptível, é que sejamos homens imersos no Mistério do Amor de Deus, pois só assim conseguiremos ajudá-lo a encontrar luz também para sua existência.

O Povo de Deus não quer respostas prontas, mas quer ter a certeza de que o Presbítero é um homem que a Deus encontrou na pessoa de Jesus Cristo, por Ele vive uma paixão que se renova em cada instante de sua vida, deixando-se guiar pela luz do Santo Espírito. Que seja um homem de Deus e do povo, sem separação, distanciamentos e dicotomias.

Reflitamos:

- Em que consiste o Ministério Presbiteral, à luz da transfiguração do Senhor?
O que podemos compreender por “distanciar-se dos boatos da vida quotidiana”?

Como Presbíteros, o que é “imergir na presença de Deus”?

Homem do deserto e do oásis revigorante e saciador; homem do céu e da terra simultaneamente; homem da montanha e da planície corajosamente; homem da imersão e da emersão incansavelmente... Numa palavra: homem itinerante e Pascal.


PS: Texto escrito quando exercia o Ministério Presbiteral na Diocese de Guarulhos-SP

Da impermeabilidade espiritual livrai-me, Senhor!

Da impermeabilidade espiritual livrai-me, Senhor!

O Evangelista São Marcos na passagem do Evangelho (Mc 6, 1-6) retrata a rejeição de Jesus por parte dos habitantes de Nazaré.

Incredulidade e estupefação diante de Jesus, Aquele que eles conheciam, tanto quanto à Sua família – eis a causa de tamanha perplexidade. A Palavra do Deus, que se Encarnou na pessoa de Jesus de Nazaré, não encontrou acolhida em seus corações.

Foram impermeáveis diante da Palavra, não se abrindo ao novo que Jesus veio trazer. Lá, Jesus pouco pode fazer devido à falta de fé somada à resistência.

Jesus experimentou, entre os Seus, o fechamento, a não abertura à perene novidade. Conviveu com a falta da gratuidade e da abertura à Sua proposta de vida e salvação.

É preciso acolher o Mistério de Deus em nossa vida; mistério por vezes invisível e inaudito - que precisa ser percebido em atenta escuta por ser sempre inédito. É preciso romper toda a barreira de preconceitos para perceber a manifestação de Deus em nossa vida.

Há que se tomar cuidado do perigo de uma enfermidade que também podemos ser acometidos: a impermeabilidade espiritual, que consiste em fechamento à ação da Palavra e do Amor de Deus em nossa vida.

Esta possível e indesejável impermeabilidade espiritual decorrente trará consigo outras funestas consequências: a esterilidade, a ausência da alegria, a falta do sentido da vida. Muitos problemas deixariam de existir se nos abríssemos à Palavra do Senhor com tempo de oração mais prolongado, revigorando nossas forças.

Jamais seremos capazes de quantificar o bem que Deus realiza e pode realizar em nossa vida. Depende de quanto afastamos quaisquer resquícios de impermeabilidade e rejeição A Sua Palavra e Pessoa; do quanto possamos nos distanciar do indiferentismo religioso.

Oremos:

Senhor, livrai-me de todo e qualquer fechamento à Vossa Palavra e vontade. Livrai-me de toda impermeabilidade espiritual, para que em meu coração esta Palavra, Semente de Vida e eternidade, possa cair e fecundar em gestos de amor e fraternidade, para a honra, glória e louvor Vosso. Amém.

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG