segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Peregrinemos vigilantes e orantes (VIIDTCC)


Peregrinemos vigilantes e orantes

Oremos:

Senhor Jesus, ajudai-nos a fazer progressos maiores na coerência entre o que pregamos e o que vivemos, tendo de Vós, mesmos pensamentos e sentimentos, perfeitamente a Vós configurados, renunciando a tudo que for preciso, carregando, cotidianamente, nossa cruz, com incondicional fidelidade.

Senhor Jesus, dai-nos mansidão de coração, para que o nosso seja como o Vosso, compreendendo os limites e fragilidades de nosso próximo, conscientes de que temos sempre uma trave a tirar de nossos olhos, e somente depois, tirarmos o cisco no olho de nossos irmãos.

Senhor Jesus, conduzi-nos no caminho da prudência necessária, para que possamos corresponder ao Vosso amor, numa fé viva que age pela caridade, multiplicando gestos de bondade, ternura, a fim de reacender a esperança no coração de todos com os quais convivemos.

Senhor Jesus, acolhendo e meditando Vossa Palavra, concedei-nos a sabedoria do Vosso Espírito, para que sejamos fieis ao plano de Vosso Pai, compreendendo e amando nossos irmãos, a fim de que não sejamos deles juízes; e tão pouco, cultivemos atitudes de presunção e maldade no coração. Amém.


PS: Inspirado no Evangelho de São Marcos (Mc 6,39-45) 

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Amor sem limites (VIIDTCC)

                                                        

Amor sem limites

A Liturgia do 7º Domingo do Tempo Comum (ano C) nos convida a crescer no amor ao próximo, ainda que este próximo seja nosso inimigo, alguém que nos magoou, ferindo-nos profundamente.

Somos vocacionados para viver um amor total, amor sem limites, vivendo a lógica do amor e não a lógica da violência.

Do alto da Cruz, Jesus Cristo nos ensina a perdoar – “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

Na passagem da primeira Leitura, ouvimos o Primeiro Livro de Samuel (1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23).

Davi é a experiência de quem viveu uma nova lógica do amor, da misericórdia e do perdão e encontrou correspondência/recompensa de Deus. Sendo um homem de coração magnânimo, tendo a possibilidade da eliminação de seu inimigo, escolhe a atitude de perdão.

Com a passagem da segunda Leitura (1 Cor 15,45-49), continuamos a refletir sobre a Ressurreição. Crer nela é viver um amor com radicalidade e sem limitações, crendo no anúncio do mundo novo que nos espera além da terra, da própria morte.

A Ressurreição é a passagem para uma nova vida, onde continuaremos a ser nós próprios, mas sem os limites da materialidade do nosso corpo.

“A morte é o fim da vida; mas fim entendido como meta alcançada, como plenitude atingida, como nascimento para um mundo infinito, como termo final do processo de hominização, como realização total da utopia da vida plena. Sendo assim, haverá alguma razão para temermos a morte ou para vermos nela o fim de tudo – uma espécie de barreira que põe definitivamente fim à comunhão com aqueles que amamos?” (1)

A fé na Ressurreição nos liberta do medo de agir, de denunciar as forças de morte que oprimem e desfiguram o mundo.

A nossa corporeidade é oportunidade para o amor sem limites até que possamos mergulhar no horizonte infinito do amor de Deus, com um corpo celestial que é impossível de ser descrito.

“Que temos a perder, quando nos espera a vida plena, o mergulho no horizonte infinito de Deus – onde nem o ódio, nem a injustiça, nem a morte podem pôr fim a essa vida total que Deus reserva aos que percorreram, neste mundo, os caminhos do amor e da paz?” (2).

Na passagem do Evangelho (Lc 6,27-38), Jesus exige de Seus seguidores, um coração sempre disponível para o perdão, para a acolhida, de modo que vejamos no outro, mesmo no inimigo, um irmão nosso; por isto Jesus é a expressão máxima do amor e do perdão:

“Jesus vai muito mais além do que a doutrina do Antigo Testamento. Para Ele é preciso amar o próximo; e o próximo é, sem exceção, o outro – mesmo o inimigo, mesmo o que nos odeia, mesmo aquele que nos calunia e amaldiçoa, mesmo aquele de quem a história ou os ódios ancestrais nos separam” (3).

Portanto, o amor é a única forma para desarmar o ódio e a violência, e assim, somos chamados ao amor e ao perdão, para alcançar a verdadeira felicidade: não viver o perdão é carregar a inutilidade de um peso que somente nos faz mal.

Nesta passagem, encontramos a “regra de ouro”: “o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-lho vós também” – o amor não se limita a exclusão do mal, mas num compromisso sério e objetivo com o bem em favor do próximo.

Concluindo, os últimos séculos, que tem sido marcado pela violência (Guerras mundiais), desafiam-nos a inverter a lógica e a espiral da violência, num amor sem limites para recriarmos um mundo novo, mais justo e fraterno.

Cremos que a violência gera sempre mais violência e que somente o amor desarma a agressividade e transforma os corações dos maus e dos violentos.

Cremos na força desarmada do amor, que Jesus nos ensinou e até o fim viveu, e quer que o mesmo façamos.

Oremos:

“Ó Deus, que no Vosso Filho, despojado e humilhado na Cruz, revelastes a força do Amor, abri o nosso coração ao dom do Vosso Espírito e despedaçai as cadeias da violência e do ódio, para que, na vitória do bem sobre o mal, demos testemunho do Vosso Evangelho de paz. Amém”.


(1); (2); (3) – www.Dehonianos.org/portal

Consagrados à misericórdia divina

                                                            


Consagrados à misericórdia divina

“Sede misericordiosos 
como o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36)

Ó Deus de misericórdia, a Vós nos consagramos, sobretudo neste tempo tão difícil, marcado pela pandemia, e Vos pedimos para que nos ajudeis a sermos misericordiosos como Vós.

Deste modo, nos colocaremos ao lado de quem sofre, num caminho de caridade, proximidade fraterna, acolhida e ternura; e como testemunhas da misericórdia divina, derramaremos sobre as feridas dos enfermos, o óleo da consolação e o vinho da esperança.

A Vós consagramos todos aqueles que se colocam a serviço da vida dos enfermos: médicos, enfermeiros, técnicos de laboratório, auxiliares e cuidadores destes, e inúmeros voluntários que doam seu tempo precioso a quem sofre, no ministério da consolação.

A Vós bendizemos pelos recentes progressos alcançados pela ciência médica, na defesa e promoção da vida; as pesquisas para vencermos velhas e novas enfermidades.

Pai eterno de misericórdia, pela dolorosa Paixão e Ressurreição do Vosso Filho, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. Amém!

 

Fonte inspiradora: Mensagem do Papa Francisco para o XXX Dia Mundial do Doente (2022)


São Policarpo de Esmirna, Bispo e Mártir


São Policarpo de Esmirna, Bispo e Mártir

São Policarpo, cuja memória é celebrada dia 23 de fevereiro, foi Bispo de Esmirna, discípulo e convertido por São João, o Apóstolo e evangelista, e amigo de Santo Inácio da Antioquia.

Aos 86 anos, durante as perseguições do Imperador Marcos Aurélio, foi preso. Ele pediu a Santo Inácio que continuasse a construção das Igrejas que não havia podido terminar.

Foi torturado e martirizado para renegar a sua fé e como não o fizesse, sofreu o martírio cerca do ano 155. Foi queimado vivo no estádio da cidade, milagrosamente, as chamas não o atingiam e não o machucavam e ele se punha a cantar hinos de louvor a Jesus, por isto é invocado como protetor das dores de ouvido e das queimaduras.

Impressionados com o acontecimento os guardas chamaram um arqueiro para que ele perfurasse o santo com uma flecha. Ao ser atingido o seu sangue apagou as chamas. Os guardas tentaram de novo acender a pira, mas sem sucesso.         

O procônsul encarregado do martírio, furioso ordenou que ele fosse decapitado com uma adaga (espécie de arma branca).

É impressionante o relato de seu martírio, que encontramos na Carta da Igreja de Esmirna. Acompanhemos atentamente, e que esta grande testemunha do Senhor renove em nosso coração a fé, o amor por Jesus, fidelidade a Igreja, amor ao Evangelho, fortalecendo em nós a coragem necessária para que também testemunhemos a fé em Cristo no nosso tempo.

“Quando a fogueira ficou pronta, Policarpo desfez-se de todas as vestes e desatou o cinto; tentou desamarrar as sandálias, o que há muito não fazia, pois os fiéis sempre apressavam em ajudá-lo, desejando tocar-lhe o corpo, no qual muito antes do martírio já brilhava o esplendor da santidade de sua vida.

Rapidamente cercaram-no com o material trazido para a fogueira. Quando os algozes quiseram pregá-lo ao poste, ele disse: ‘Deixai-me livre. Quem me dá forças para suportar o fogo, também me concederá que fique imóvel no meio das chamas sem necessitar deste vosso cuidado’. Assim não o pregaram, mas se limitaram a amarrá-lo.
Amarrado com as mãos para trás, Policarpo era como um cordeiro escolhido, tirado de um grande rebanho para o sacrifício, uma vítima agradável preparada para Deus.

Levantando os olhos ao céu, ele disse: ‘Senhor Deus todo-poderoso, Pai do Vosso amado e  bendito Filho Jesus Cristo, por quem Vos conhecemos, Deus dos anjos e dos poderes celestiais, de toda a criação e de todos os justos que vivem diante de Vós, eu Vos bendigo porque neste dia e nesta hora, incluído no número dos mártires, me julgastes digno de tomar parte no cálice do Vosso Cristo e ressuscitar em corpo e alma para a vida eterna, na incorruptibilidade, por meio do Espírito Santo.

Recebe-me hoje, entre eles, na Vossa presença, como um sacrifício perfeito e agradável; e o que havíeis preparado e revelado, realizai-o agora, Deus de verdade e de retidão.

Por isso e por todas as coisas, eu vos louvo, bendigo e glorifico por meio do eterno e celeste Pontífice Jesus Cristo, Vosso amado Filho. Por Ele e com Ele seja dada toda a glória a Vós, na unidade do Espírito Santo, agora e pelos séculos futuros. Amém’.

Então, nós, a quem foi dado contemplar, vimos um milagre – pois, para anunciá-Lo aos outros é que fomos poupados: O fogo tomou a forma de uma cúpula, como a vela de um barco batida pelo vento, e envolveu o corpo do mártir por todos os lados; ele estava no meio, não como carne queimada, mas como um pão que é cozido ou o ouro e a prata incandescente na fornalha. E sentimos um odor de tanta suavidade que parecia se estar queimando incenso ou outro perfume precioso”. 

Nossa Igreja nasceu do lado trespassado de Nosso Senhor, e do Seu coração que jorrou Sangue e Água, sinais do Batismo e da Eucaristia. Igreja que nasce aos pés da Cruz preanunciava o destino de tantos fiéis seguidores ao longo de sua história. Policarpo foi um deles. Mais um de que pelo sangue jorrado, regou semente de novos cristãos.

Seu sangue jorrado questiona nossa adesão a Jesus:

- O que somos capazes de fazer por amor de Jesus e a Sua Igreja?
- Temos a mesma alegria em servir ao Senhor, mesmo enfrentando eventuais dificuldades na vida de comunidade?

Às vezes por tão pouco, mas por muito pouco mesmo, temos pensamentos tão diferentes deste grande mártir do Senhor.

Quando vier o desânimo, o medo, a covardia, ou qualquer sentimento semelhante, procuremos imitar o exemplo de São Policarpo, que é mais um apaixonado incondicional do Senhor, que o ama e o ama até o fim!

A força desarmada do amor (VIIDTCA)

A força desarmada do amor

Para aprofundamento da Liturgia do 7º Domingo do Tempo Comum (ano A), em que é proclamada a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5, 38-48), ofereço algumas citações riquíssimas extraídas do Lecionário Comentado (1), para compreendermos e vivermos o exigente Mandamento do Amor que o Senhor nos deixou.

“O ódio e espírito de vingança são vistos como um cancro, que insinua no coração do homem e que, pouco a pouco, pode levar até a eliminação física do irmão” (p. 304)

A divisão: “A divisão contradiz a natureza da comunidade cristã (a Igreja) e a sua norma de vida. Paulo diz isto àqueles que querem mostrar-se a si mesmos e se vangloriam pela sua presumida sabedoria” (p. 304)

Somos de Cristo: “A fé não está e não pode estar apoiada no prestígio e na autoridade do evangelizador. O cristão deve apoiar sua fé só na pessoa de Cristo. A expressão ‘Vós sois de Cristo’ (v.23) não tem apenas um sentido afirmativo, mas também exclusivo, e significa: Vós pertenceis somente a Cristo e a ninguém mais. Só a sabedoria de Deus não divina e não exaspera” (p.305)

Espiral da violência: “O ódio, a violência, a vingança causam uma espiral que só pode ser interrompida pelo perdão. Se o mal não encontra resposta, esgota-se em si mesmo, como a semente que não encontra terreno onde possa germinar... O discípulo de Jesus, mesmo que venha a encontrar-se em situações-limite, deverá manter o seu coração livre do ódio e do ressentimento” (p. 306)

Lei de Jesus: “A lei do mundo responde a uma lógica de justiça férrea, Jesus pede que ultrapassemos todas as barreiras com o amor” (p. 307)

“O Senhor assegura-nos que o amor utilizado com quem nos aborrece e importuna, não nos saúda e procura tirar-nos o que é nosso, é construtivo, vitorioso.

Este amor pelos inimigos tem, ao mesmo tempo, aspectos profundamente humanos, porque parte da tentativa de entrar no íntimo do próximo, de compreendê-lo melhor, de compadecer-se dele... Perante os inimigos, o cristão deve ser guiado unicamente pela lógica do amor” (p. 307)

De fato, somente o Amor de Deus vivido instaurará um novo tempo, uma nova face para o mundo, rompendo de vez com a espiral da violência que gera tão apenas mais sofrimentos.

É preciso que aprendamos com o Senhor que, nos amando até o fim, morrendo na Cruz, deu o mais perfeito testemunho da força desarmada do amor.

Oremos:

“Ó Deus, que no Vosso Filho, despojado e humilhado na Cruz, revelastes a força do Amor, abri o nosso coração ao dom do Vosso Espírito e despedaçai as cadeias da violência e do ódio, para que, na vitória do bem sobre o mal, demos testemunho do Vosso Evangelho de paz. Amém” (p. 307)

(1) Lecionário Comentado - Tempo Comum - Volume I - Editora Paulus - Lisboa - 2010 - pág. 304-307

PS: Oportuno apra o VII Domindo do Tempo Comum - ano C - quando se proclama a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,27-38)

A Boa-Nova: Amar até os inimigos (VIIDTCA)

A Boa-Nova: Amar até os inimigos

Com a Liturgia do 7º Domingo Comum (Ano A), aprofundamos sobre a vivência do Mandamento do Amor, inclusive aos inimigos.

Este Mandamento do Senhor é novo e revolucionário pela formulação, conteúdo e forte exigência.

Vejamos o que nos diz o Missal Dominical sobre o tema:

É novo pelo seu universalismo, por sua extensão em sentido horizontal: não conhece restrições de classe, não leva em conta exceções, limitações, raça, religião; dirige-se ao homem na unidade e na igualdade da sua natureza. É novo pela medida, pela intensidade, por sua dimensão vertical.

A medida é dada pelo próprio modelo que nos é apresentado: “Dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei assim amai-vos uns aos outros” (Jo 13,34). A medida do nosso amor para com o próximo é, pois, o amor que Cristo tem por nós; ou melhor, o mesmo amor que o Pai tem por Cristo: porque “Como o Pai me amou, também eu vos amei” (Jo 15,9. Deus é amor (1Jo 4,16) e nisto se manifestou o seu amor: Ele nos amou primeiro e enviou seu Filho para expiar nossos pecados (1Jo 4,10).

É novo pelo motivo que nos propõe: amar por amor de Deus, pelas mesmas finalidades de Deus; exclusivamente desinteressado; com amor puríssimo; sem sombra de compensação (Mt 4,46). Amar-nos como irmãos, com um amor que procura o bem daquele a quem amamos, não a nosso bem. Amar como Deus, que não busca o bem na pessoa a quem ama, mas cria nela o bem, amando-a.

É novo porque Cristo o eleva ao nível do próprio amor por Deus. Se a concepção judaica podia deixar crer que o amor fraterno se põe no mesmo plano dos outros mandamentos (Lv 19,18) a visão cristã lhe dá um lugar central, único. No Novo Testamento o amor do próximo está indissoluvelmente ligado ao preceito do amor de Deus.

A fé... lembra ao cristão os mandamentos de Deus e proclama o espírito das bem-aventuranças; convida a ser paciente e bondoso, a eliminar a inveja, o orgulho, a maledicência, a violência; ensina a tudo crer, tudo esperar, tudo sofrer, porque o amor nunca passará” (RdC47) 

Mas insiste ainda: “Ama teu inimigo... oferece a outra face... Não pagues o mal com o mal”. Quanto cristãos fizeram da palavra de Jesus a lei da sua vida! A história da Igreja está cheia de exemplos sublimes a este respeito: J. Gualberto, que perdoa, por amor de Cristo crucificado, o assassínio de seu irmão; pais que esquecem heroicamente ofensas recebidas dos filhos; esposos que superam as ofensas e culpas; homens políticos que não conservam rancor pelas calúnias, difamações, derrotas; operários que ajudam o companheiro de trabalho que tentou arruiná-los, etc...

Em nome da religião e de Cristo, os cristãos se dividiram, dilacerando assim o Corpo de Cristo. Viram no irmão um inimigo, se “excomungaram” reciprocamente, chamando-se hereges, queimando livros e imagens... Derramou-se sangue, explodiu ódio em guerras de religião. O orgulho, o desprezo e a falta de caridade caracterizaram as diatribes teológicas e os escritos apologéticos. Os inimigos de Deus, da Igreja, da religião foram combatidos com armas e com ódio. Travaram-se lutas, organizaram-se cruzadas.

Hoje, a Igreja superou, ou se encaminha para superar, muitas dessas limitações. Não há mais hereges, mas irmãos separados; não há mais adversários, mas interlocutores; não consideramos mais o que divide, mas antes de tudo o que une; não condenamos em bloco e a priori as grandes religiões não cristãs, mas nelas vemos autênticos valores humanos e pré-cristãos que nos permitem entrar em diálogo.

Mas a intolerância e a polêmica estão sempre de atalaia. Não estaremos acaso usando, dentro da própria Igreja, aquela agressividade e polêmica excessivas que outrora usávamos com os de fora da Igreja? Quantos cristãos engajados, uma vez faltando o alvo de fora, começaram a visar com “inimigos” aos próprios irmãos na fé, e os combatem obstinadamente, sem amor e sem perdão!” (1)

Viver o Amor do Senhor, em seu universalismo e novidade. Um amor que ama sem medida, e que se estende até os inimigos. É esta maturidade cristã que somos chamados a alcançar, não obstante qualquer dificuldade.

Configurados a Cristo temos que ter d’Ele mesmos sentimentos (Fl 2,5). Deste modo, “amar como Jesus ama” precisa estar impresso, como selo, em nossa alma, nas mais profundas entranhas de nosso ser. 

 Amar em nossa medida com cálculos e retornos, condições e reciprocidade, não é o que nos fará sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-16), e tão pouco viveremos as Bem-Aventuranças propostas por Jesus no Evangelho de Mateus (Mt 5,1-12a).

Cremos que a felicidade que Deus tem a nos oferecer é diretamente proporcional à nossa capacidade amar, à nossa intensidade de amor, que não ama apenas os bons, mas ama até os inimigos.

Cremos, também, que Deus não nos ama porque somos bons, mas para que sejamos todos bons.

Linhas novas da História precisam de novos conteúdos, que sejam escritos com a tinta do Amor que nos vem do Santo Espírito.



(1) Missal Cotidiano - Editora Paulus - pp.693-694.


PS: Oportuno para o VII Domingo do Tempo Comum - ano C - quando se proclama a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,27-38).

Os degraus que nos levam ao cume da virtude (VIIDTCA)

 


Os degraus que nos levam ao cume da virtude
 
Na passagem do Evangelho do 7º Domingo do Tempo Comum (ano A), Jesus nos exorta amar os inimigos (Mt 5,38-48).
 
Sejamos enriquecidos pelo Sermão do Doutor São João Crisóstomo (séc. V), retomando parte deste:
 
“'Ouvistes o que foi dito: amarás a teu próximo e odiarás o teu inimigo. Porém eu vos digo: amai aos vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que sejais filhos de vosso Pai que está nos céus, que faz se levantar o sol sobre bons e maus e faz chover sobre os justos e injustos’ (Cf Mt 5,43-45).
 
Observa como colocou a conclusão de todos os bens. Por isso ensinou a ter paciência com aqueles que nos esbofeteiam e até mesmo a apresentar-lhes a outra face; e não apenas juntar o manto à túnica, mas a caminhar por duas milhas mais com quem nos requisitou para uma, para que em seguida aceitasses com maior facilidade o que era superior a estes preceitos; ou seja, que quem cumprir tudo isso não tenha inimigos. Pois bem: existe algo ainda mais perfeito, porque Ele não diz: Não odeies, mas ama. Não disse: não prejudique, mas sim favoreça. Se alguém examina cuidadosamente, encontrará um acréscimo muito maior que este. Porque agora não só manda amá-los, mas a também rogar por eles.
 
Observas a que degraus subiu e como nos elevou até o próprio cume da virtude? Quero que o medites, enumerando-os desde o princípio: o primeiro grau é não injuriar; o segundo, quando injuriados, não nos vingarmos; o terceiro, não aplicar sobre o autor o mesmo castigo com o qual nos fere, mas sim ter mansidão; o quarto, oferecer-se voluntariamente a sofrer injúrias; o quinto, oferecer ao injuriador muito mais do que ele nos exige; o sexto, não odiar a quem nos faz semelhante injustiça; o sétimo, inclusive amá-lo; o oitavo, ainda favorecê-lo. Finalmente, o nono: rogar a Deus por ele. [...]” (1).
 
Ele nos fala dos degraus que Jesus subiu e como nos elevou até o próprio cume da virtude:
 
1º - Não injuriar;
2º - Quando injuriados, não nos vingarmos;
3º - Não aplicar sobre o autor o mesmo castigo com o qual nos fere, mas sim ter mansidão;
4º - Oferecer-se voluntariamente a sofrer injúrias;
5º - Oferecer ao injuriador muito mais do que ele nos exige;
6º - Não odiar a quem nos faz semelhante injustiça;
7º - inclusive é preciso amá-lo;
8º - Ainda mais: favorecê-lo;
9º - Rogar a Deus por ele.
 
Assim vivamos na planície do cotidiano, marcado, por vezes, pelas complexas relações com o próximo.
 
Deste modo, viveremos as Bem-Aventuranças, que Nosso Senhor Jesus Cristo nos apresentou, no alto da Montanha (Mt 5,1-12), e tão somente assim, luz do mundo e sal da terra seremos (Mt 5,13-16).
 
Subamos estes degraus para chegarmos ao cume da virtude, a fim de que vivamos o Mandamento Novo do Amor que nos deu nosso Senhor (Jo 13,34), e que viveu plenamente:  um amor com dimensão universal, sem limites, e que nos permite chegar ao cume da virtude.
 
 
(1) Lecionário Dominical Patrístico - Editora Vozes – 2013 - pp. 140-141

Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG