quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Maria, a nova Eva

                                                            

Maria, a nova Eva

À luz do Tratado contra as heresias do Bispo Santo Irineu (séc. II), reflitamos a analogia que ele faz entre Eva e Maria, Adão e Jesus Cristo.

“Quando o Senhor veio de modo visível ao que era Seu, levado pela própria criação que Ele sustenta, tomou sobre Si, por Sua obediência, na árvore da Cruz, a desobediência cometida por meio da árvore do Paraíso.

A sedução de que foi vítima, miseravelmente, a virgem Eva, destinada ao primeiro homem, foi desfeita pela boa-nova da verdade, maravilhosamente anunciada pelo Anjo à Virgem Maria, já desposada com um homem.

Assim como Eva foi seduzida pela conversa de um anjo e afastou-se de Deus, desobedecendo à Sua palavra, Maria recebeu a Boa-Nova pela Anunciação de outro anjo e mereceu trazer Deus em seu seio, obedecendo à Sua palavra. Uma deixou-se seduzir de modo a desobedecer a Deus, a outra se deixou persuadir a obedecer-lhe. Deste modo, a Virgem Maria tornou-se advogada da virgem Eva.

Por conseguinte, recapitulando em Si todas as coisas, o Senhor declarou guerra contra o nosso inimigo. Atacou e venceu aquele que no princípio, em Adão, fez de todos nós seus prisioneiros; e esmagou sua cabeça, conforme estas palavras, ditas por Deus à serpente, que se leem no Gênesis: ‘Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça enquanto tu tentarás ferir o seu calcanhar’ (Gn 3,15).

Desde esse momento, pois, foi anunciado que a cabeça da serpente seria esmagada por Aquele que, semelhante a Adão, devia nascer de uma Virgem. É este o descendente de que fala o Apóstolo na sua Carta aos Gálatas: ‘A lei foi estabelecida até que chegasse o descendente para quem a promessa fora feita’ (cf. Gl 3,19).

Na mesma Carta, o Apóstolo se exprime ainda com mais clareza, ao dizer: ‘Quando chegou à plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher’ (Gl 4,4). O inimigo não teria sido vencido com justiça se o Homem que o venceu não tivesse nascido de uma mulher, pois desde o princípio ele tinha se oposto ao homem, dominando-o por meio de uma mulher.

É por isso que o próprio Senhor declara ser o Filho do Homem, recapitulando em Si aquele primeiro homem a partir do qual foi modelada a mulher. E assim como pela derrota de um homem o gênero humano foi precipitado na morte, pela vitória de outro Homem subimos novamente para a vida”.

Seja para nós,  o Tempo do Advento o tempo da:

- contemplação da participação de Maria no Mistério da Encarnação do Verbo, que veio morar entre em nós;

- nossa abertura aos Projetos e desígnios divinos, ainda que não compreendamos, num primeiro momento.

Maria, em total fidelidade e adesão ao Projeto de Deus, nos ensina a acolher o Seu Filho, em mais um Natal que se aproxima, no mais profundo de nós.

Mais que rezar a Maria, rezemos como Maria, para que, em Cristo, sejamos uma nova criatura, livre, reconciliada com Deus, em amizade restaurada e revigorada, de modo especialíssimo, quando por Ele somos iluminados e guiados e, no Pão da Eucaristia, saciados.

Maria, perfeita ouvinte e praticante da Palavra do Senhor

                                                       

Maria, perfeita ouvinte e praticante da Palavra do Senhor

“Muito mais felizes são aqueles que ouvem a
Palavra de Deus e a põem em prática!”
(Lc 11,28)

Reflexão sobre a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 11,27-28), à luz do Sermão escrito pelo Bispo Santo Agostinho (Séc. V).

"Prestai atenção, rogo-vos, naquilo que Cristo Senhor diz, estendendo a mão para Seus discípulos: Eis minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de meu Pai que me enviou, este é meu irmão, irmã e mãe (Mt 12,49-50).

Acaso não fez a vontade do Pai a Virgem Maria, que creu pela fé, pela fé concebeu, foi escolhida dentre os homens para que dela nos nascesse a salvação e que foi criada por Cristo antes que Cristo nela fosse criado?

Sim! Ela o fez! Santa Maria fez totalmente a vontade do Pai e por isto mais valeu para ela ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo; maior felicidade gozou em ser discípula do que mãe de Cristo. Assim Maria era feliz porque, já antes de dar à luz o Mestre, trazia-O na mente.

Vede se não é assim como digo. O Senhor passava acompanhado pelas turbas, fazendo milagres divinos, quando certa mulher exclamou: Bem-aventurado o seio que te trouxe. Feliz o ventre que te trouxe! (Lc 11,27)

O Senhor, para que não se buscasse a felicidade na carne, que respondeu então? Muito mais felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam (Lc 11,28). Por conseguinte, também aqui é Maria feliz, porque ouviu a Palavra de Deus e a guardou. Guardou a verdade na mente mais do que a carne no seio.

Verdade, Cristo; carne, Cristo; a verdade-Cristo na mente de Maria; a carne-Cristo no seio de Maria. É maior o que está na mente do que o trazido no seio.

Santa Maria, feliz Maria! Contudo, a Igreja é maior que a Virgem Maria. Por quê? Porque Maria é porção da Igreja, membro santo, membro excelente, membro supereminente, mas membro do corpo total.

Se ela pertence ao corpo total, logo é maior o corpo que o membro. A cabeça é o Senhor; e o Cristo total, é a cabeça e o corpo. Que direi? Temos cabeça divina, temos Deus por cabeça!

Portanto, irmãos, dai atenção a vós mesmos. Também vós sois membros de Cristo, também vós sois corpo de Cristo. Vede de que modo o sois. Diz: Eis minha mãe e meus irmãos (Mt 12,49).

Como sereis mãe de Cristo?  Todo aquele que ouve e faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão e irmã e mãe (cf. Mt 12,50).

Pensai: entendo irmão, entendo irmã; é uma só a herança, e é essa a misericórdia de Cristo que, sendo único, não quis ficar sozinho; quis que fôssemos herdeiros do Pai, coerdeiros seus”.

Reflitamos sobre a pureza e singeleza desta Mulher ímpar que a história conheceu, e outra maior jamais conhecerá.

Renovemos o desejo e compromisso de aprender com Ela, a Mãe do Salvador, a sermos mais autênticos discípulos Missionários do Seu Filho, ouvindo e pondo em prática a Sua Palavra.

Empenhemo-nos em fazer a vontade do Seu Filho, como ela bem nos disse nas Bodas de Caná, para que Família do Senhor sejamos.

Exultemos de alegria em saber que ela, Assunta aos céus, e coroada já com a coroa da glória, como Rainha, nos acompanha e nos assiste, enquanto peregrinamos pela fé também rumo ao céu.

Silenciando-nos diante de Maria, estaremos falando imediatamente com Deus, pois a autêntica devoção Mariana jamais nos afasta d'Ele.

Quando imitamos suas virtudes, nos tornamos mais conforme o que Ele espera de cada um de nós, assim como Jesus o foi, assim como ela o fez, realizando sempre e plenamente a vontade de Deus.

“Salve Rainha, Mãe de Misericórdia...”

Com Maria, coração aberto à graça divina

Com Maria, coração aberto à graça divina

“Alegra-te, Cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28)

Abertos à graça divina, voltamos nossos olhares para Maria, aquela que é “cheia de graça”, como o Anjo Gabriel a saudou, Mãe tão serena e plena de liberdade e graça.

Permaneçamos firmes na fé, contando com Maria, nossa Mãe, com esforços necessários; abrindo-nos ao Espírito, para que, com criatividade, conduzamos muitos até Jesus e Sua presença, que nos envolve e nos plenifica de Amor.

Sejamos revitalizados na vivência de nossa vocação, para vivermos com alegria a nossa missão; seguindo o exemplo de Maria, na fidelidade a Deus, termos a necessária obediência, e conversão contínua para correspondermos aos desígnios de Deus.

Urge que nossa devoção a Maria consista em abrir sempre o coração para a graça que Seu Filho veio ao mundo comunicar: Graça como a seiva do amor, favores e bens necessários, que nos fortalecem no carregar da cruz quotidiana, com renúncias necessárias, e deste modo, nossa devoção a Maria é expressa no viver o Sim incondicional a Deus, como ela viveu.

Maria, mãe tão serena, plena de amor, liberdade e graça, rogai por nós, hoje e sempre.  Amém.

Maria, tão serena e plena de liberdade!

                                               

Maria, tão serena e plena de liberdade!

Maria, tão serena e plena de liberdade!
Seja assim a Igreja, seja assim a nossa comunidade.
Seja assim também nossa família,
Na harmonia, diálogo, ternura e fidelidade.

Olhemos sempre para Maria, silenciosamente.
Contemplemos sua serena e plena liberdade
Na realização da vontade divina,
Com alegria e disponibilidade sem igual.

Maria, tão serena e plena de liberdade:
Na manhã da memorável Anunciação,
Na tarde da dolorosa Paixão,
Na manhã da Gloriosa Ressurreição.
No belo Dia de Pentecostes.

Maria, tão serena e plena de liberdade!
Meditemos o seu Sim, que ecoou em cada momento,
Sempre com confiança, esperança, coragem,
Irradiando amor e luz, sem desespero, crises ou estéreis lamentos.

Maria, tão serena e plena de liberdade!
Mais que rezar à Maria, rezemos como Maria.
Mais que pedir à Maria, ouçamos o que ela disse:
“Fazei tudo o que Ele Vos disser” (Jo 2, 5).

E assim, serenos e plenos de liberdade também seremos. 

Feliz  e Abençoado Ano Novo!

“Mãezinha do Céu, cuida da gente”

                                                                   


“Mãezinha do Céu, cuida da gente”

“Então disse Jesus:
Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam,
pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas"
(Mt 19,4).

Hoje, diante da imagem de Nossa Senhora, em silêncio, fiquei pensando nos últimos dias, e em tudo o que estamos vivendo, e me veio à lembrança um canto tão conhecido, que faz parte da religiosidade de nosso povo:

“Mãezinha do céu, eu não sei rezar.
Eu só sei dizer, que eu quero te amar.
Azul é o teu manto, branco é o teu véu.
Mãezinha eu quero te ver lá no céu.
Mãezinha eu quero te ver lá no céu...”

A Maria, Mãe de Deus e nossa, a “Mãezinha do céu”, fiz minha prece, dedicando de modo especial às crianças e a todos que cultivam a infância espiritual, com pureza de coração e confiança incondicional no amor de Deus.

Mãezinha do céu, cuida da gente!
Está muito difícil tudo que estamos vivendo.
Esta pandemia mudou tudo em nossa vida.

As escolas, Igrejas, lojas, clínicas e muitas outras coisas fechadas...
Estamos todos dentro de casa, e sei que isto é necessário,
Ainda que, às vezes, dê vontade de sair e encontrar os amigos.
Muitos pais e mães estão sem dinheiro para pagar as suas dívidas,
e algumas famílias estão passando necessidades.

Mãezinha do céu, cuida da gente!
Tem amigos e amigas minhas que estão infectados com o vírus,
E alguns já partiram para o céu, cedo demais.
Peço-te que cuide dos médicos, enfermeiros, atendentes,
Todos que trabalham na área da Saúde,
Muitos colocando suas vidas em risco para cuidar e curar outras.
Muitos também vão ao encontro dos que estão nas ruas,
Solidários com os moradores em situação de rua,
Com um prato de sopa, uma coberta, um pouco de calor e amor.

Mãezinha do céu, cuida da gente!
Não deixa a gente perder a fé diante de tantas dificuldades.
Não deixa a gente deixar morrer a esperança de um amanhã melhor.
Não deixa a gente se omitir em gestos de amor, carinho e atenção,
Com quem moramos, e também com os que precisam de nós,
Estejam pertinho, ou bem longe de nós,
Porque o amor não conhece a distância.
Lembro o que um dia o padre falou na Missa:
‘O amor não desiste diante do impossível,
Nem desanima diante das dificuldades’.

Mãezinha do céu, cuida da gente!
Quero ouvir mais uma vez a senhora dizer,
Como nos diz em todos os momentos:
“Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
Tenho certeza, Mãezinha do céu,
que o vinho não vai faltar,
se nós obedecermos a voz do teu Filho,
Vamos continuar enchendo nossas talhas,
Para que Ele faça o milagre acontecer:
Voltaremos a nos encontrar com todos,
Valorizar as pessoas com quem convivemos,
as amizades, as Missas, os Encontros de Catequese,
as aulas da escola...

Mãezinha, acredito que tudo vai passar,
E amanhã todos seremos melhores.
Estamos aprendendo qual é o valor mais importante na vida.

Mãezinha do céu...
Vou agora ler um bom livro,
Ver um bom filme e depois brincar e falar com meus pais...
Vou...

Nossa! Quantas coisas que não fazíamos e agora voltamos a fazer.
É, Mãezinha, estamos todos aprendendo...


PS: Escrito em outubro de 2020

Em poucas palavras...

                                                      


Oremos pela Paz

Oremos:

“Deus da paz, vós sois a própria paz; os que promovem a discórdia não vos compreendem e os de espírito violento não vos recebem.

Concedei aos que vivem na concórdia a perseverança o bem, e aos que vivem na discórdia, o afastamento do mal.

 Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Deus e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.” (1) 

(1) Missal Romano - Missa pela paz - pág. 1106

A verdadeira paz

                                                           

A verdadeira paz

Não quero a paz como a mera ausência de guerra;
Nem tão apenas equilíbrio das forças adversárias;
Tampouco que tenha origem em um domínio tirânico.

Quero a paz que nasça da justiça (Is 32,17),
Como saboroso fruto da ordem.

Quero a paz inserida na sociedade humana por Seu divino fundador e a ser realizada de modo sempre mais perfeito pelos homens e mulheres que têm fome e sede de justiça.

Quero a paz que tenha como fundamento o bem comum do gênero humano,
Embora as contingências concretas possam estar em constantes mudanças ao longo dos tempos.

Quero a paz em permanente conquista, que deve ser continuamente construída, porque sendo a vontade humana volúvel e marcada pelo pecado, 
a busca da paz exige de cada um o constante domínio das paixões e a atenta vigilância da autoridade legítima.

Quero a paz em que seja salvaguardado o bem das pessoas, e que todos comuniquemos, com confiança e espontaneidade, as riquezas do coração e da inteligência.

Quero a paz em que se respeite a dignidade dos outros, dos povos, dos diferentes, numa ativa fraternidade.

Quero a paz como mavioso fruto do amor, que vai além do que a justiça é capaz de proporcionar, pois a paz terrena, oriunda do amor ao próximo, é figura e resultado da paz de Cristo, provinda de Deus Pai.

Quero a paz promovida por todos que, num mesmo espírito, renunciam à ação violenta para reivindicar os direitos inalienáveis, recorrendo aos meios de sua defesa, de modo especial dos que sejam mais fracos e vulneráveis, sem lesar os direitos e deveres de outros ou da própria comunidade.

Quero a Paz do Senhor, o Príncipe da Paz, Jesus Cristo, 
Que Ele nos trouxe ao Se encarnar, e na Cruz morrendo, a reconciliação da humanidade com Deus alcançando, recompondo a unidade de todos em um só povo e um só corpo.

Quero a Paz que nasceu naquela Madrugada da Ressurreição, a Paz que Ele comunicou desde então aos Seus, acompanhada do Sopro do Espírito, para a missão no mundo continuar; a caridade, mais que anunciar, viver, testemunhar.

Quero a Paz que brota quando, em Sua Carne, o ódio foi definitivamente destruído, e rompidos os muros da inimizade (cf. Ef 2,16; Cl 1,20.22);

A verdadeira Paz que, como cristãos, somos insistentemente chamados a promover, vivendo a verdade na caridade (cf. Ef 4,15), unindo-nos às pessoas verdadeiramente pacíficas. Amém.


PS: Livre adaptação da Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano II-(N. 78) (Séc. XX)

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG