segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Generosa oferta da pobre viúva no templo

 


Generosa oferta da pobre viúva no templo

Sejamos enriquecidos pela Carta n.32 de São Paulino de Nola (séc.V).

Tens algo - diz o Apóstolo - que não tenhas recebido? Portanto, amadíssimos, não sejamos avaros de nossos bens como se eles nos pertencessem, mas negociemos com eles como com um empréstimo.

Foi-nos confiada a administração e o uso temporal dos bens comuns, não a eterna posse de uma coisa privada. Se na terra a consideras tua somente temporalmente, poderás torná-la tua eternamente no céu.

Se recordares aqueles empregados do Evangelho que receberam alguns talentos de seu Senhor e o que o proprietário, ao seu regresso, deu a cada um em recompensa, reconhecerás quanto mais vantajoso é depositar o dinheiro na mesa do Senhor para fazê-lo frutificar, que conservá-lo intacto com uma fidelidade estéril; compreenderás que o dinheiro ciosamente conservado, sem o menor rendimento para o proprietário, tornou-se para o empregado negligente em um enorme desperdício e em um aumento de seu castigo.

Recordemos também aquela viúva, que se esquecendo de si mesma e preocupada unicamente pelos pobres, pensando somente no futuro, deu tudo o que tinha para viver, como o testemunha o próprio juiz.

Os outros - diz - lançaram daquilo que tinham de sobra; porém esta, mais pobre talvez do que muitos pobres - já que toda a sua fortuna se reduzia a duas moedas -, mas em seu coração mais admirável que todos os ricos, posta sua esperança somente nas riquezas da eterna recompensa e ambicionando para si somente os tesouros celestiais, renunciou a todos os bens que procedem da terra e à terra retornam.

Lançou o que tinha, para possuir os bens invisíveis. Lançou o corruptível, para adquirir o imortal. Aquela pobrezinha não menosprezou os meios previstos e estabelecidos por Deus em vista da consecução do prêmio futuro; por isso o legislador também não se esqueceu dela, e o árbitro do mundo antecipou sua sentença: no Evangelho ele elogia aquela que coroará no juízo.

Negociemos, portanto, ao Senhor com os próprios dons do Senhor; nada possuímos que dele não tenhamos recebido, sem cuja vontade nem sequer existiríamos. E, sobretudo, como poderemos considerar algo nosso, nós que, em virtude de uma hipoteca importante e peculiar, não nos pertencemos, e não só porque fomos criados por Deus, mas por sermos redimidos por ele?

Congratulemo-nos por sermos comprados a grande preço, ao preço do sangue do próprio Senhor, deixando por isso mesmo de sermos pessoas vis e venais, já que a liberdade que consiste em sermos livres da justiça é mais vil que a própria escravidão.

Aquele que assim é livre, é escravo do pecado e prisioneiro da morte. Restituamos, pois, ao Senhor os seus dons; demos a Ele, que recebe na pessoa de cada pobre; demos, insisto, com alegria, para receber dele a plenitude da alegria, como Ele mesmo disse.” (1)

“Lançou o que tinha, para possuir os bens invisíveis. Lançou o corruptível, para adquirir o imortal.”. Muito temos que aprender com esta pobrezinha viúva no templo.

Peregrinando na esperança, como discípulos do Senhor, temos que confiar na divina providência, em alegre entrega do pouco que temos, para que aconteça o milagre da partilha, e sejamos cumulados de todos bens e graças, e nada nos faltará.

De fato, a generosidade da viúva, sua humilde oferta, nos questiona quanto à nossa colaboração na manutenção da ação evangelizadora em todas as suas dimensões (religiosa, missionária, social e caritativa) (cf. Doc. 106 CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

 

(1)  Lecionário Patrístico Dominical, Editora Vozes, 2013 - pp. 502-503.

PS: Passagens do Evangelho – (Mc 12,38-44; Lc 21,1-4)

A autêntica e frutuosa religião

                                                         

A autêntica e frutuosa religião

Com a Liturgia do 32º Domingo do Tempo comum (Ano B), refletiremos sobre o culto verdadeiro e agradável a Deus, tão diferente dos cultos marcados pelas aparências dos rituais. 

A Deus não interessa grandes manifestações religiosas ou ritos externos suntuosos. Duas pobres viúvas são o centro da Liturgia deste Domingo. 

Deus não mede nossas ações e gestos com algarismos, ao contrário, mede com o amor; avalia de acordo com os valores interiores da pessoa porque Ele vê além das aparências, vai até o coração.

O culto autêntico deve ser marcado na atitude de vida: doação, confiança e entrega total em favor do próximo, esvaziando-se de si mesmo e colocando-se plenamente nas mãos de Deus.

A passagem da primeira Leitura (1Rs 17,10-16) narra uma história de natureza popular (a acolhida do Profeta Elias pela viúva e a solidariedade feita).

Ressalta-se que a vida marcada pela partilha e solidariedade na fidelidade a Javé é garantia de vida em abundância; portanto, uma história de natureza tão popular com notáveis mensagens:

 -   A comunicação e revelação do Amor de Deus pelos empobrecidos;

   -   Deus é o grande vencedor e não baal (ídolo);

 -   A graça de Deus é para todos, sem distinção de raças, fronteiras ou crenças religiosas.

Reflitamos:

- Do que precisamos  nos despir, para que nosso coração não fique atravancado, e assim impedido de acolher os desafios e as propostas de Deus?

-  Quais são os bens que temos para repartir, a fim de que se tornem fonte de vida e de bênção para nós e para todos aqueles que deles se beneficiam?

- De quais ídolos devemos nos libertar para adoração a Deus de coração sincero, em espírito e verdade?

A passagem da segunda Leitura (Hb 9,24-28) nos apresenta Jesus Cristo como o Sumo Sacerdote perfeito, que  entregou Sua vida em favor da humanidade, tornando-Se o mediador da Nova e Eterna Aliança.

A entrega de Cristo, com o sacrifício consumado do dom total de Sua Vida, teve eficácia total e universal: assim Ele conseguiu a destruição da condição pecadora do homem e da mulher, a salvação foi nos alcançada.

O autor da Carta aos Hebreus, dirigindo-se aos cristãos em dificuldade, com a perda do entusiasmo inicial, pois grandes eram as dificuldades, os reanima para que não corram o risco de renunciar ao compromisso assumido no dia do Batismo. 

É notável o seu esforço em animar e revitalizar a experiência de fé de seus destinatários. Do mesmo modo, é preciso que renovemos nossa adesão incondicional a Jesus, fazendo de nossa vida um dom de amor aos irmãos, apesar de nossas fragilidades e debilidades. 

Não podemos nos afastar da comunhão com Deus e da vida eterna, mas nos colocarmos numa constante “metanoia”, transformando radicalmente para viver no amor, serviço, perdão e dom da vida. Como isto se manifesta em nossa vida e em nossos compromissos pastorais?

A passagem do Evangelho (Mc 12,38-44) nos apresenta a oferta da viúva no templo. 

Esta passagem está situada em Jerusalém, nos dias que antecedem à prisão, julgamento e morte de Jesus.

Jesus faz uma crítica aos ritos vazios, desmascarando a hipocrisia, a incoerência dos cultos e ritos realizados no templo pelos doutores da lei, e nos ensina como deve ser um culto agradável a Deus. De fato Deus vê além das aparências. 

Os doutores da lei têm comportamentos hipócritas, uma devoção de fachada, revelando que os ritos externos que realizam, os gestos teatrais, o cumprimento das regras, ainda que religiosamente corretas, não aproximam as pessoas de Deus, e nem as conduzem à santidade de Deus. 

Os discípulos de Jesus deverão ter outra atitude diante de Deus e do próximo: dom total, despojamento pleno, entrega radical e sem medida. Viver a fé cristã não é uma representação teatral.

De fato, o verdadeiro crente é aquele que nada guarda para si, mas no dia a dia, no silêncio e nos gestos mais simples, sai do seu egoísmo e da sua autossuficiência, colocando toda sua existência nas mãos de Deus.

Há momentos em que tudo escurece, falta-nos apoio, nossa vida parece tremer. É nesta hora que damos o autêntico testemunho da solidez de nossa fé, e verdadeiramente, podemos dizer: 

“Senhor, eu creio, mas vem em auxílio de minha pouca fé, e minha fraqueza. Pai, entrego-me em Tuas mãos”.

Urge que nos coloquemos totalmente nas mãos de Deus, oferecendo a Ele toda a nossa vida, vivendo na gratuidade, e não na troca de favores, sem a procura da  fama e dos privilégios.

Também precisamos nos despojar de nossos projetos pessoais e preconceitos, a fim de nos entregarmos com total confiança nas mãos de Deus, com completa doação, dando um salto em total abandono no Senhor, sem nenhuma dúvida ou hesitação. 

Assim viveremos uma fé amadurecida, na doação total inclusive nas situações mais adversas, no testemunho da pobreza evangélica, acompanhada da humildade e fecundidade da fé, num amor sem limites e incondicional.

Tão somente assim teremos uma verdadeira motivação de nosso engajamento pastoral, em total expressão de gratuidade, sem procura de honrarias, valorização, promoção ou elogios.

Oremos:

"Que Deus, afastando de nós todos os obstáculos, nos acompanhe para que inteiramente disponíveis nos coloquemos a serviço do Reino, na fidelidade a Jesus Cristo, com a força do Santo Espírito. Amém

PS: apropriado para reflexão da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 21,1-4)

domingo, 24 de novembro de 2024

Como coroar Jesus Cristo Rei do Universo (Cristo Rei) (ano B)

                                                    

Como coroar Jesus Cristo Rei do Universo
 
Na Celebração da Solenidade de Cristo Rei do Universo (ano B), agradecemos a Deus pela graça de participar da construção do Reino por Ele inaugurado.
 
Agradecemos também pelo amor de Jesus, que nos libertou do egoísmo e da morte, tendo a mesma atitude d’Ele, renunciando a quaisquer esquemas de egoísmo, de poder, de prepotência, vivendo um amor que se faz doação e serviço ao próximo.
 
Refletimos sobre a natureza da realeza do Reino que Jesus inaugurou, e a Ele toda honra, glória, poder e majestade. Uma realeza divina marcada pelo amor, serviço, vida doada, oferecida, sacrificada, partilhada ao consagrar e repartir o Seu Corpo em cada Banquete da Eucaristia, renovando os Sagrados compromissos que ela nos apresenta.

Celebrar a Festa do Cristo Rei do Universo é coroar um ano de caminhada e a Ele entregar toda a nossa vida, trabalho, engajamento renovando no coração o propósito de vivenciar Sua lógica: amor, doação, entrega e serviço.
 
Esta Solenidade é ocasião oportuna para que a comunidade reveja se, de fato, Cristo nela reina como Senhor e ocupa o centro de sua vida; se assume com disposição e alegria a construção deste Reino.
 
É também a oportunidade de se questionar sobre o exercício do poder de qualquer autoridade constituída, se é exercido na mesma lógica do Senhor Jesus, ou se prevalece a lógica do domínio, glória, prestígio.
 
Na passagem da primeira Leitura (Dn 7,13-14), diante da imposição da cultura grega sobre o Povo de Deus, este é convidado a manter-se fiel a Javé, enfrentando, se necessário, a perseguição. Deus está do lado de Seu Povo e recompensará a sua fidelidade à Lei e aos Mandamentos.
 
Na passagem, através da “figura/visão”, o autor apresenta uma leitura profética da história, cuja finalidade é transmitir a esperança aos que creem, perseguidos por causa da sua fé e dos seus valores tradicionais, na certeza de que todas as dominações e impérios passam (neobabilônico, medos, persa e grego).
 
A vinda gloriosa do Filho do Homem é anúncio da vitória, que mais tarde será o próprio Senhor, o Messias esperado.  Para os cristãos Jesus é Filho do Homem inaugurou o Reino da felicidade e da paz.
 
A visão fala da vinda do Filho do Homem nas nuvens, denotando a origem transcendente: vem de Deus e pertence ao mundo de Deus. Ao contrário dos “animais” mencionados que vêm do mar, que na simbologia judaica, representa o reino do mal, da desordem, do caos, das forças que se opõem a Deus e a própria felicidade do homem (Dn 7,1-13).
 
Como Povo de Deus, é preciso intensificar os compromissos irrenunciáveis para que Reino aconteça, ainda que mais de dois mil anos depois do nascimento de Jesus este Reino não tenha se tornado uma realidade plena na história.
 
É preciso reconhecer a presença do Reino na vida do mundo, como uma pequena semente de mostarda a crescer, ou mesmo como a pequena porção do fermento levedando a massa.
 
Como Discípulos de Jesus que somos, é preciso tudo fazer para que este Reino seja cada dia mais uma realidade viva e presente fazendo mais bela a vida e a História.
 
A passagem da segunda Leitura (Ap 1,5-8) escrita por João, em período de grandes perseguições, sofrimentos e assassinatos, é para a revitalização do compromisso da fidelidade daqueles que seguem o Ressuscitado, para que jamais se perca a esperança.
 
Crendo em Jesus, a testemunha fiel, o primogênito dos mortos e o príncipe dos reis da terra, a comunidade tem consciência de que Sua entrega na Cruz é expressão do Amor sem medida com que Ele ama a todos nós.
 
Vendo o Seu coração trespassado tomamos consciência de quanto Ele nos ama e que Sua vitória se concretiza através do Seu amor, feito dom a todos, sem exceção.
 
A comunidade que crê no Senhor manifesta esta adesão, vivendo as verdades por Ele proclamadas, dando o seu “sim”, reconhecendo n’Ele o princípio e o fim de todas as coisas (alfa e ômega), Aquele que abarca a totalidade do tempo – “Aquele que é, que era e que há de vir” (Ap 1,8).
 
Somente no Senhor, um rei que ama os Seus com amor sem limites, e que por Amor, ofereceu a Sua vida em favor da liberdade e realização plena do homem, a comunidade deposita sua confiança e esperança.
 
A passagem do Evangelho (Jo 18,33b-37) é uma cena do processo de Jesus diante de Pôncio Pilatos, o governador romano da Judeia.
 
Jesus é aprisionado, indefeso, traído pelos amigos, ridicularizado pelos líderes judaicos, abandonado pelo seu povo. Não se impõe pela força, ao contrário, veio ao encontro das pessoas para amá-las, servi-las, sem cultivo dos próprios interesses, mas em obediência incondicional à vontade do Pai.
 
Sua realeza tão contrária a dos homens, é uma realeza que toca os corações, produzindo vida e liberdade, propondo a possibilidade de um mundo novo, vivendo-se a lógica do amor, doação, entrega e serviço.
 
Um Rei que espera uma resposta livre de cada um de nós: escutar a Sua voz, aderir ao Seu Projeto e comprometer-se a segui-Lo, com renúncia ao egoísmo e ao pecado, fazendo de sua vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. Assim é a comunidade daqueles que n’Ele creem e com Ele se comprometem.
 
Reconhecer a realeza de Jesus é colaborar na construção de um mundo novo, sem medo, sem omissões, sem pessimismos, desânimos, mas alegremente colocar-se a serviço do Reino.
Entretanto, para que Ele reine em todos os corações, permitamos que reine antes em nosso coração, somente assim nos comprometeremos com a vida, com a fraternidade e na construção do Seu Reino.
 
Reflitamos:

- O que fazemos para que o Senhor Reine no coração de toda a humanidade e em todo lugar?
 
Concluindo, Jesus reina quando amamos como Ele ama. Portanto, que cada pequeno gesto feito com amor, "eucaristizado" no banquete da vida, seja nossa preciosa contribuição para a construção do Reino.


A Cruz é o Trono do Senhor! (Cristo Rei)


A Cruz é o Trono do Senhor!
Carreguemos o Seu Trono cotidianamente!

"Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” (Lucas 9,23).


Jesus, o Rei que amamos, é diferente!

Nu, despido, desprotegido, por alguns traído,
Por outros abandonado, solidão desoladora,
O auge das trevas e extrema escuridão,
Iluminada na madrugada da Ressurreição!

Jesus, Seu Trono é a Cruz!

No alto da Cruz, amor vivido,
Num trono por nós incompreendido,
Ele testemunhou a força desarmada do amor.
Amor universal, que chega até aos inimigos.

Reinar com Jesus é, portanto:
Não renunciar a cruz, que temos com ousadia e coragem carregar. Sendo luz com Ele, rompendo o véu da mediocridade, irrompendo a luz na madrugada da desejada Ressurreição, alegria para a profundeza da triste e indesejada, dos mortos, mansão.

Reinar com Jesus é viver a força desarmada do Seu Amor!

Ó incrível Amor do Senhor que na Cruz contemplamos! Solitário, amando até o extremo! Do Seu lado trespassado Água e Sangue jorraram, d’Ele nascemos, nos alimentamos... Somos revitalizados sempre por este Amor que a tudo e a todos pode vencer!

Amor testemunhado no ato extremo e último da Morte de Cruz.
Amor que ama até o fim!

Amor, incrível amor, a se viver corajosamente em situações favoráveis e adversas.

O amor é a força que nos move, revigora... 

Amor que não nos permite perder o encantamento pela busca do último horizonte: a eternidade - céu.

Que sejamos, no Amor e pelo Amor, sempre fortalecidos
 no bom combate da fé, no carregar de nossa cruz!
Venha a nós, Senhor, o Vosso Reino de Amor!
Amém.

Somar com quem o bem sabe multiplicar (Cristo Rei)

                                                


Somar com quem o bem sabe multiplicar

Uma fé pascal faz do
fim um eterno recomeço...

Coroamos solenemente Cristo Rei e Senhor da História,
Aquele que possui o Reino eterno e universal,
Ele que é a testemunha fiel, primogênito dos mortos,
O soberano de todos os príncipes, alfa e ômega.

A Ele toda honra, glória, poder e louvor, elevemos,
Compromissos renovados, atitudes sinceras multiplicadas,
Sem o que nossa coroação abominável seria,
Como todo culto sem a prática do direito e da justiça.

Coroar o Senhor é olhar para o fim da história,
Sem desespero e sem sombras de medo para o presente,
Vivendo intensamente com confiança, alegria e sabedoria,
Em vigilância permanente até que Ele venha gloriosamente.

É a Ele oferecer-se de modo total e decididamente,
Pois é Ele nosso ponto de referência numa adesão incondicional.
A Ele entregamos nossas limitações, fraquezas, sofrimentos,
Alegrias, conquistas, avanços, sonhos, santas procuras.

É fazer bom uso do tempo presente que é tão fugaz,
Tão finito, que não nos permite perdas irrecuperáveis;
Viver intensamente cada segundo sob o Seu olhar,
Numa relação de amor, vocacionada, a eternizar.

Assim há que se olhar para o fim e destino da História,
Certos de que o fim é iminente e inexorável,
Por isto requer sempre uma renascida postura,
Cada gesto, cada instante um eterno recomeço.

Por isto é preciso aumentar o cortejo da vida,
Somar com aqueles que não se perdem e se consomem
Em discursos verborrágicos, sem germe da novidade,
Porque acompanhados de palavreados esvaziados.

Somar com os que não se prestam a se tornarem
Profetas do mau agouro, da desesperança, da agonia,
Do medo que nada constrói, porque prescinde
Da autêntica fé e confiança n’Aquele que conosco caminha.

Somar com os que não deixam morrer em si a confiança
De que um novo mundo é mais do que possível, desejável;
Não deixam morrer e matar dentro de si a profética alegria,
De quem pauta sua vida sem jamais prescindir da sabedoria.

Somar com os que não plantam sementes da maldade,
Mas que em cada Mesa da Palavra e da Eucarística
Com participação ativa, frutuosa e piedosa como há de ser
Conscientes da sagrada missão que renovam em Oração.

Somar com os que não dão ouvidos aos cantos enganadores
Das “sereias” de cada tempo, com suas terríveis seduções,
Que nos afastam da verdadeira felicidade desejada,
Que somente encontra quem a Deus ama e serve com alegria.

Somar com tantas pessoas de boa vontade,
Que até mesmo fé diferente professam,
Mas que têm um denominador comum:
Amantes do Deus da Vida e da vida o são.

Somar com quem não se curva ao relativismo
Das verdades que duram não mais que alguns instantes.
Somar com aqueles que, por serem da verdade,
A Voz da Verdade escutam: o Rei Eterno, Jesus.

Somar é preciso
Com quem somar?
Quero somar contigo
Que ora lê e comigo crê...

Que sem omissão não cruza os braços,
Que as mãos generosamente abre,
Porque antes o coração se abriu,
Dando a Deus e ao próximo o melhor de si.

É com estes que quero somar:
Com quem dá de sua pobreza com amor,
Tornando, portanto, para Deus riqueza,
Como tão bem nos ensinou a viúva do Evangelho

Somar com quem dá sua pobreza com e por amor:
Sua juventude, capacidade, vigor, tempo,
Testemunho de fé, capital precioso,
Que podemos investir em favor do próximo.

Há aqueles com quem se há de somar.
Você é uma destas pessoas...
Com quem mais haveremos de somar
Para melhor a Deus e ao próximo amar?

Venha Teu Reino, Senhor! (Cristo Rei)

                                                 


Venha Teu Reino, Senhor!

Ao Celebrarmos a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, sejamos enriquecidos pelo  Opúsculo sobre a Oração, escrito pelo Presbítero Orígenes (Séc. III).

“O Reino de Deus, conforme as Palavras de nosso Senhor e Salvador, não vem visivelmente, nem se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo ali; mas o Reino de Deus está dentro de nós (cf. Lc 17,21), pois a Palavra está muito próxima de nossa boca e em nosso coração (cf. Rm 10,8).

Donde se segue, sem dúvida nenhuma, que quem reza pedindo a vinda do Reino de Deus pede – justamente por já ter em si um início deste Reino – que ele desponte, dê frutos e chegue à perfeição. Pois Deus reina em todo o santo e quem é santo obedece às Leis espirituais de Deus, que nele habita como em cidade bem administrada. Nele está presente o Pai e, junto com o Pai, reina Cristo na Pessoa perfeita, segundo as Palavras: ‘Viremos a ele e nele faremos nossa morada’ (Jo 14,23).

Então o Reino de Deus, que já está em nós, chegará por nosso contínuo adiantamento à plenitude, quando se completar o que foi dito pelo Apóstolo: sujeitados todos os inimigos, Cristo entregará o Reino a Deus e Pai, a fim de que Deus seja tudo em todos (cf. 1Cor 15,24.28).

Por isto, rezemos sem cessar, com aquele amor que pelo Verbo se faz divino; e digamos a nosso Pai que está nos céus: ‘Santificado seja Teu nome, venha o Teu reino’ (Mt 6,9-10).

É de se notar também a respeito do Reino de Deus: da mesma forma que não há participação da justiça com a iniquidade nem sociedade da luz com as trevas nem pacto de Cristo com Belial (cf. 2Cor 6,14-15), assim o Reino de Deus não pode subsistir junto com o reino do pecado. Por conseguinte, se queremos que Deus reine em nós, de modo algum reine o pecado em nosso corpo mortal (Rm 6,12), mas mortifiquemos nossos membros que estão na terra (cf. Cl 3,5) e produzamos fruto no Espírito.

Passeie, então, Deus em nós como em paraíso espiritual, e reine só Ele, junto com Seu Cristo; e que em nós Se assente à destra de Sua virtude espiritual, objeto de nosso desejo.

Assente-Se até que Seus inimigos todos que existem em nós sejam reduzidos a escabelo de Seus pés (Sl 109,1), lançados fora todo principado, potestade e virtude. Tudo isto pode acontecer a cada um de nós e ser destruída a última inimiga, a morte (1Cor 15,26).

E Cristo diga também dentro de nós: ‘Onde está, ó morte, teu aguilhão? Onde está, inferno, tua vitória?’ (1Cor 15,55; cf. Os 13,14). Já agora, portanto, o corruptível em nós se revista de santidade e de incorruptibilidade, destruída a morte, vista a imortalidade paterna (cf. 1Cor 15,54), para que, reinando Deus, vivamos dos bens do novo Nascimento e da Ressurreição”.

Aprofundemos a Oração que o Senhor nos ensinou, sobretudo, quando dizemos: “venha a nós o Vosso Reino, Senhor”.

Lembremo-nos do que nos disse o Presbítero:

“Passeie, então, Deus em nós como em paraíso espiritual,
e reine só Ele, junto com seu Cristo;
e que em nós se assente à destra de sua virtude espiritual,
objeto de nosso desejo”.

Tudo isto acontece, quando cremos e vivemos este Prefácio da Missa da Solenidade de Cristo Rei:

“Com óleo de exultação, consagrastes Sacerdote Eterno e Rei do universo Vosso Filho único, Jesus Cristo, Senhor nosso. Ele, oferecendo-Se na Cruz, vítima pura e pacífica, realizou a redenção da humanidade.

Submetendo ao Seu poder toda criatura, entregará à Vossa infinita majestade um Reino eterno e universal: Reino da verdade e da vida, Reino da santidade e da graça, Reino da justiça, do amor e da paz...”.

Seja nossa vida marcada pelo compromisso com o Reino de Deus, para que a Trindade Santa habite e passei em nós, como em paraíso espiritual.

Cristo Reina quando nosso coração se inflama de amor (Cristo Rei)

                                                                   

Cristo Reina quando nosso coração se inflama de amor

Chegando ao final de mais um Ano Litúrgico, celebramos, com toda a Igreja, a Solenidade de Cristo Rei do Universo, proclamando ao mundo que Ele é o Senhor de nossa vida.

Com júbilo, renovamos nosso compromisso de discípulos missionários do Senhor, amando como Ele ama. Um amor incondicional que ama até o fim e, de modo especial, os mais empobrecidos com os quais se identifica.

Reinar com Jesus é fazer d’Ele e de sua Palavra o centro de nossa vida, pautar nossa existência, todo nosso pensar, sentir e agir à luz de Seus ensinamentos. 

Trilhando o caminho da fé, ancorados pela esperança e inflamados pelo fogo da caridade, seremos iluminados pela verdade, teremos a vida plena prometida abundantemente. É preciso ter coragem de carregar o trono de Jesus, que aos olhos do mundo nada tem de encantador, ao contrário. Carregar o trono onde Ele foi entronizado e coroado: a Cruz! Expressão que nos inquieta: a Cruz é o trono do Senhor!

Um longo caminho percorremos e reinamos com o Senhor no realizar de  cada pequeno gesto, sempre acompanhado de muito amor e que, portanto, aos olhos de Deus tornam-se grandes.

Coroamos o Senhor como servos inúteis que somos com o nosso trabalho, portanto, não podemos ser econômicos em descobrir modos e expressões efetivas e afetivas para coroá-Lo; amando a Deus sobre todas as coisas, com nossa alma, força, mente e entendimento e ao nosso próximo como Ele nos amou. 

Quem a Deus ama, reina com o Senhor servindo alegremente. Que continuemos coroando o Senhor, resistindo às tentações que nos acompanham a todo instante, sem jamais sucumbir a elas, vigilantes e pacientes nas tribulações e adversidades, pois tudo podemos n’Aquele que nos fortalece e, na mais bela expressão de gratidão e gratuidade.

A Ele todo o louvor e glória. Tão somente assim O coroamos e O proclamamos Rei do Universo e  Senhor de nossa vida.

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