terça-feira, 19 de novembro de 2024

Evangelizadores com espírito (Parte II)


Evangelizadores com espírito

Terceira motivação:  
A ação misteriosa do Ressuscitado e do Seu Espírito. O discípulo não pode cair no pessimismo, no fatalismo e na desconfiança, mas, como discípulo do Ressuscitado, ser portador de esperança:

Cristo Ressuscitado e glorioso é a fonte profunda da nossa esperança, e não nos faltará a sua ajuda para cumprir a missão que nos confia” (n. 275).

É preciso que o discípulo tome cuidado, nos alerta o Papa:

“Pode acontecer que o coração se canse de lutar, porque, em última análise, se busca a si mesmo num carreirismo sedento de reconhecimentos, aplausos, prêmios, promoções; então a pessoa não baixa os braços, mas já não tem garra, carece de ressurreição. Assim, o Evangelho, que é a mensagem mais bela que há neste mundo, fica sepultado sob muitas desculpas” (n. 277).

Noutra passagem também nos adverte:
“Às vezes invade-nos a sensação de não termos obtido resultado algum com os nossos esforços, mas a missão não é um negócio nem um projeto empresarial, nem mesmo uma organização humanitária, não é um espetáculo para que se possa contar quantas pessoas assistiram devido à nossa propaganda. É algo de muito mais profundo, que escapa a toda e qualquer medida” (n. 279).

É preciso que nos empenhemos totalmente, mas deixar que seja o Espírito Santo a nos tornar fecundos, como melhor Lhe parecer, os nossos esforços “n. 279): é para manter o ardor missionário é preciso uma decidida confiança no Espírito Santo (n. 280):

“Mas não há maior liberdade do que a de se deixar conduzir pelo Espírito, renunciando a calcular e controlar tudo e permitindo que Ele nos ilumine, guie, dirija e impulsione para onde Ele quiser. O Espírito Santo bem sabe o que faz falta em cada época e em cada momento. A isto se chama de ser misteriosamente fecundos” (n. 280).


Quarta motivação:
A força missionária da intercessão. A Oração de intercessão não nos afasta da verdadeira contemplação, porque esta não pode deixar de fora os outros, no que consistiria numa falsa contemplação (n.281):

“Quando um evangelizador sai da Oração, o seu coração tornou-se mais generoso, libertou-se da consciência isolada e está ansioso por fazer o bem e partilhar a vida com os outros” (n.282), e por isto, afirma o Papa, os grandes homens e mulheres de Deus foram grandes intercessores: “A intercessão é como ‘fermento’ no seio da Santíssima Trindade” (n.283).


Evangelizadores com espírito (Parte III)

Evangelizadores com espírito

Quinta motivação:

A presença de Maria, a Mãe da Evangelização. Com o Espírito Santo, Maria está sempre presente no meio do povo (At 1,140). Maria é Mãe da Igreja evangelizadora, e, sem Ela, não podemos compreender cabalmente o espírito da nova evangelização:

“Ao pé da Cruz, na hora suprema da nova criação, Cristo conduz-nos a Maria; conduz-nos a Ela, porque não quer que caminhemos sem uma mãe; e, nesta imagem materna, o povo lê todos os mistérios do Evangelho. Não é do agrado do Senhor que falte à Sua Igreja o ícone feminino” (n.285).

O Papa cita o Beato Isaac da Estrela, que nos expressou a maravilhosa ligação íntima entre Maria, a Igreja e cada fiel:

“Nas Escrituras divinamente inspiradas, o que se atribui em geral à Igreja, Virgem e Mãe, aplica-se em especial à Virgem Maria (...).

Além disso, cada alma fiel é igualmente, a seu modo, esposa do Verbo de Deus, mãe de Cristo, filha e irmã, virgem e mãe fecunda.

(...) No tabernáculo do ventre de Maria, Cristo habitou durante nove meses; no tabernáculo da fé da Igreja, permanecerá até ao fim do mundo; no conhecimento e amor da alma fiel habitará pelos séculos dos séculos” (n.285).

Assim o Papa nos apresenta Maria:

“Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Ela é a serva humilde do Pai, que transborda de alegria no louvor.

É a amiga sempre solícita para que não falte o vinho na nossa vida. É aquela que tem o coração trespassado pela espada, que compreende todas as penas.

Como Mãe de todos, é sinal de esperança para os povos que sofrem as dores do parto até que germine a justiça. Ela é a missionária que Se aproxima de nós, para nos acompanhar ao longo da vida, abrindo os corações à fé com o seu afeto materno.

Como uma verdadeira mãe, caminha conosco, luta conosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus” (n.286).

Fala-nos de sua forte expressão na religiosidade popular:

“Através dos diferentes títulos marianos, geralmente ligados aos santuários, compartilha as vicissitudes de cada povo que recebeu o Evangelho e entra a formar parte da sua identidade histórica.

Muitos pais cristãos pedem o Batismo para seus filhos num santuário mariano, manifestando assim a fé na ação materna de Maria que gera novos filhos para Deus.

É lá, nos santuários, que se pode observar como Maria reúne ao seu redor os filhos que, com grandes sacrifícios, vêm peregrinos para A ver e deixar-se olhar por Ela.

Lá encontram a força de Deus para suportar os sofrimentos e as fadigas da vida. Como a São João Diego, Maria oferece-lhes a carícia da sua consolação materna e diz-lhes: «Não se perturbe o teu coração. (...) Não estou aqui eu, que sou tua Mãe” (n. 286).

Maria é a Mãe do Evangelho vivente, e podemos contar com sua intercessão na ação evangelizadora. (n.287).


Evangelizadores com espírito (Final)

Evangelizadores com espírito

O Papa apresenta também um estilo mariano na atividade evangelizadora:

Porque sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto. Nela, vemos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam maltratar os outros para se sentir importantes” (n. 288).

Podemos contar com Maria, e o Papa encerra a Exortação esta Oração: 

“Virgem e Mãe Maria, Vós que, movida pelo Espírito,
acolhestes o Verbo da vida na profundidade da vossa fé humilde,
totalmente entregue ao Eterno, ajudai-nos a dizer o nosso «sim»
perante a urgência, mais imperiosa do que nunca,
de fazer ressoar a Boa-Nova de Jesus.

Vós, cheia da presença de Cristo, levastes a alegria a João, o Batista,
fazendo-o exultar no seio de sua mãe. Vós, estremecendo de alegria,
cantastes as maravilhas do Senhor. Vós, que permanecestes firme diante da Cruz com uma fé inabalável, e recebestes a jubilosa consolação da ressurreição, reunistes os discípulos à espera do Espírito para que nascesse a Igreja evangelizadora.

Alcançai-nos agora um novo ardor de ressuscitados
para levar a todos o Evangelho da vida que vence a morte.

Dai-nos a santa ousadia de buscar novos caminhos
para que chegue a todos o dom da beleza que não se apaga.

Vós, Virgem da escuta e da contemplação, Mãe do amor, esposa das núpcias eternas, intercedei pela Igreja, da qual sois o ícone puríssimo,
para que ela nunca se feche nem se detenha
na sua paixão por instaurar o Reino.

Estrela da nova evangelização, ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão, do serviço, da fé ardente e generosa,
da justiça e do amor aos pobres, para que a alegria do Evangelho
chegue até aos confins da terra e nenhuma
periferia fique privada da sua luz.

Mãe do Evangelho vivente,
manancial de alegria para os pequeninos,
rogai por nós. Amém. Aleluia!” (n.288)


Aprendamos com Zaqueu

                                               


Aprendamos com Zaqueu

Aprofundando a passagem do Evangelho de São Lucas (Lc 19,1-10), retomemos dois parágrafos do Catecismo da Igreja Católica:

- “Muitos pecados prejudicam o próximo. Há que fazer o possível por reparar esse dano (por exemplo: restituir as coisas roubadas, restabelecer a boa reputação daquele que foi caluniado, indenizar por ferimentos). A simples justiça o exige.

Mas, além disso, o pecado fere e enfraquece o próprio pecador, assim como as suas relações com Deus e com o próximo. A absolvição tira o pecado, mas não remedeia todas as desordens causadas pelo pecado.

Aliviado do pecado, o pecador deve ainda recuperar a perfeita saúde espiritual. Ele deve, pois, fazer mais alguma coisa para reparar os seus pecados: «satisfazer» de modo apropriado ou «expiar» os seus pecados. A esta satisfação também se chama «penitência».” (1)

 

- “Em virtude da justiça comutativa, a reparação da injustiça cometida exige a restituição do bem roubado ao seu proprietário:

Jesus louvou Zaqueu pelo seu compromisso: «Se causei qualquer prejuízo a alguém, restituir-lhe-ei quatro vezes mais» (Lc 19, 8). Aqueles que, de maneira direta ou indireta, se apoderaram de um bem alheio, estão obrigados a restituí-lo, ou a dar o equivalente em natureza ou espécie, se a coisa desapareceu, assim como os frutos e vantagens que o seu dono teria legitimamente auferido.

Estão igualmente obrigados a restituir, na proporção da sua responsabilidade e do seu proveito, todos aqueles que de qualquer modo participaram no roubo ou dele se aproveitaram com conhecimento de causa; por exemplo, aqueles que o ordenaram, o ajudaram ou o ocultaram.” (2)

Aprendamos com Zaqueu a firmar nossos passos no processo contínuo de conversão, tomando consciência da nossa condição pecadora, diante da Misericórdia Divina, a nós revelada pela Palavra e Pessoa de Jesus Cristo.

Seja a acolhida da Palavra do Evangelho sempre fonte de transformação de nossa vida, acompanhada de sinceros compromissos com a fraternidade, partilha, solidariedade, justiça e paz.

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n.1459

(2)Idem – parágrafo n. 2412

“Hoje a salvação entrou em sua casa...” (18/11)

                                       

“Hoje a salvação entrou em sua casa...”

Voltemo-nos à passagem do Evangelho (Lc 19,1-10), na qual o Evangelista nos apresenta Jesus no final de Sua viagem para Jerusalém.

Trata-se do encontro de Jesus com um pecador (Zaqueu – chefe dos cobradores de impostos) e com a radical mudança deste, e ao mesmo tempo uma autêntica síntese da Teologia do terceiro Evangelista:

- reúne os ensinamentos do Senhor;
- a possibilidade de salvação para todos;
- a conversão do rico e do uso sábio do dinheiro;
- a alegria do encontro com o Senhor;
- o cumprimento do projeto divino: vida plena e feliz para todos.

Na conversão de Zaqueu, vemos que a conversão de um pecador é a finalidade da missão de Jesus, e como se manifesta a misericórdia divina, que possibilita o perdão e vida nova para quem se propõe a mudança de vida, em correspondência à vontade divina (Sb 11,22-12,2). Deus adia o castigo para conceder o perdão, se buscado.

Na conversão de um pecador, temos a manifestação do poder divino, afinal “O Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido”. Com a conversão de Zaqueu, “é glorificado o nome do Nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo (2 Ts 1,11-2,12). 

Ninguém fica excluído da possibilidade da misericórdia divina, numa atitude profunda e sincera de conversão e novos compromissos.

Uma mensagem catequética do Evangelista: a Igreja é constituída por pecadores que se colocam num contínuo caminho de conversão e mudança, eliminando quaisquer vestígios de relaxamento na prática do Evangelho, incoerência de vida (entre o que se crê e se prega e o que se vive). A conversão é um processo contínuo, ininterrupto, que desabrocha na eternidade, na plenitude da luz e do amor divino: céu.

Também há outra mensagem explícita nesta conversão de Zaqueu: a correta utilização dos bens terrenos; a relação com o dinheiro, a riqueza; a reparação dos males cometidos contra a solidariedade, levando à viver a partilha.

É preciso usar os bens que passam e abraçar os que não passam, para que não sejamos escravos dos bens, gerando marginalização, pobreza, exclusão e a privação dos bens necessários de outros.    

Que os bens alcançados não sejam frutos de roubos, maquinações, atos de corrupção ou de outras situações de injustiça contra o outro.

Tudo que se possui deve ser alcançado com trabalho e dignidade, sem o que não se pode contar com a bênção divina, porque não promove a justiça, o bem comum e a fraternidade.

Temos ainda muito a aprender à luz desta passagem. É tempo de conversão e mudança sempre, para que a salvação de Deus entre em nossas casas e em nossa casa comum, o Planeta em que habitamos.

Quando acolhemos o Senhor, tudo se transforma!

                                                       

Quando acolhemos o Senhor, tudo se transforma!

Reflitamos sobre a conversão de Zaqueu (Lc 19,1-10), chefe de cobradores de impostos, à luz do Sermão de São João Crisóstomo (séc. VI).

“’Entrou Jesus em Jericó e atravessava a cidade. Um homem chamado Zaqueu, chefe dos publicanos e rico, procurava ver quem era Jesus’.

Veja-o correr, ardendo em desejos de Deus, e subir a uma árvore e olhar ao seu redor procurando ver a Jesus para conhecer a fonte de vida. Ao ver Jesus, Zaqueu saciou a curiosidade de seus olhos, mas sentiu o seu coração incendiar-se de um desejo muito mais intenso.

Observa o desejo deste homem. ‘Procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia, por causa da multidão, pois era muito baixo. Então ele, correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali’.

Zaqueu, baixo em estatura, mas grande em ponderação do espírito, procurava ver Jesus; procurava ver ao Deus que distribui entre os homens os dons celestiais.  Não tinha a dulcíssima alegria de conhecer a Deus, mas desejava ver o Profeta do amor. Enfermo, desejava ver a saúde; faminto, buscava o Pão do Céu; sedento, suspirava pelo manancial de água. Desejava ver Aquele que concede aos sacerdotes uma vida nova e tinha despertado Lázaro do sono da morte.

Zaqueu viu o Senhor, e a chama de seu amor aumentava continuamente; Cristo tocou o seu coração, e ele se converteu em outro homem: de publicano, em homem cheio de zelo; de infiel, em fiel. Quem ama tanto ao pai e à mãe, quem jamais amou a mulher e aos filhos como Zaqueu amou ao Senhor, conforme testemunham os fatos?

Por amor de Cristo, repartiu os seus bens aos pobres, e devolveu quatro vezes mais para aqueles de quem tinha se aproveitado. Que boa disposição no discípulo, que discrição e poder o de Deus, que induziu para a ação somente por ter visto Jesus! Todavia, Zaqueu ainda não tinha falado – somente tinha sido visto por quem tanto o desejava -, e já a potência da fé elevava ao alto aquele coração cheio de desejo.

Zaqueu, desce depressa, apressa-te a entrar na tua casa, porque ali tenho que me abrigar, porque me recolho onde existe fé: vou onde existe o amor. Já sei o que tu vais fazer: sei que darás teus bens aos pobres e, sobretudo, irás restituir quatro vezes mais  àqueles de quem te aproveitaste. Eu entro de boa vontade na casa deste tipo de homens’.

Zaqueu desceu em seguida, foi para a sua casa e hospedou a Jesus. Cheio de alegria e de pé, disse: ‘Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres, e se me aproveitei de alguém, lhe restituirei quatro vezes mais’.

Ó confissão sincera, que brota de um coração verdadeiro cheio de fé, resplandecente de justiça! Tal justiça se digne conceder a nós o Deus do universo, pela graça e a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.”

Aprendamos com Zaqueu a fazer nossa confissão sincera, que brote de um coração verdadeiro de fé.

Com ele, também aprendamos a buscar, como enfermos que somos pelo pecado, a saúde que Ele pode nos conceder; famintos que somos, o Pão Celestial e o Sangue Diviníssimo, que nos sacia e nos revigora; sedentos que somos de justiça e de vida plena e feliz, saciar n’Ele a Divina Fonte de amor, vida, alegria, paz e eternidade, a fonte inesgotável de Água Viva, que nos sacia e nos dá vida nova pelo Espírito.

Como Zaqueu, não desistamos jamais de correr ao encontro do Amado, Jesus. Não percamos a oportunidade ao vê-Lo passar tantas vezes em nossa vida. Em cada Eucaristia que celebramos, é sempre tempo de graça e conversão para nós. Tudo isto acontece quando da Mesa da Palavra e da Eucaristia participamos e, transformados n’Aquele que recebemos, o Mistério celebrado na vida prolongamos.


(1) Lecionário Patrístico Dominical - Ed Vozes - 2013 - pp. 749/750

O Senhor nos dirige Seu olhar de amor

                                                    


O Senhor nos dirige Seu olhar de amor

Na terça-feira da 33ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Lucas, sobre a conversão de Zaqueu, o chefe dos cobradores de impostos (Lc 19,10).

Refletimos sobre o amor de Deus, sempre pronto a nos acolher e oferecer uma nova vida, desde que nos proponhamos à conversão, com salutares compromissos, com gestos de amor e partilha.

A acolhida de Jesus por Zaqueu, em sua casa, é marcante para a nossa espiritualidade e muito nos ajuda na caminhada de fé, como discípulos missionários do Senhor.

Os autores da Sagrada Escritura, de modo geral, não economizam tinta para descrever a face do Amor de Deus que nos transforma.

Zaqueu vendo a Misericórdia, e sendo por Ela visto, na sua expressão maior, que é o próprio Jesus, é transformado e faz sagrados propósitos: “… Senhor, eu dou metade dos meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”  (Lc 19,8). 

Zaqueu não somente acolhe, mas se converte a partir da presença de Jesus. Ele é a representação de nossa miséria, nossa condição pecadora, que corre para ver a misericórdia. 

Sua baixa estatura revela nossa pequenez, insignificância, nossa condição de criaturas diante do Criador, que apesar de nossas infidelidades, nossos pecados, jamais nos abandona, pois é próprio do amor não abandonar o amado.

Quando o homem corre para encontrar Deus (e não corre de Deus), por Ele é encontrado, e sente o desejo profundo de levar outros ao mesmo encontro. Verdadeiramente, o encontro com Deus nos transforma para sermos instrumentos de transformação na vida do outro. 

Contemplemos, silenciosamente, a cena maior da história: Jesus é Deus, que veio ao encontro dos homens, no entanto, ainda há quem não queira encontrá-Lo, e deixar-se por Ele encontrar, porque não ama e não se sente amado, distanciando-se, assim, da vida e da felicidade.

Somente a experiência de amar e ser amado nos possibilita subir degraus na escada do conhecimento de Deus. Se assim não acontece, é porque ainda não O encontramos.  

Quando abrimos as portas para a Salvação, a novidade se instaura em nosso coração e desejamos ardentemente comunicá-la, e escrevemos belas páginas de nossa história.

A experiência de Zaqueu pode ser a nossa experiência quotidiana, dependendo de cada um de nós.

A transformação acontece porque somos acolhidos pelo amor de Deus; e uma vez acolhidos e amados, transformados, somos revivificados e na comunidade reintegrados, para que nos tornemos partícipes da História da Salvação que, insistentemente, quer conosco escrever. 

A História da Salvação é única e acolhe nossa realidade de pecado: em Deus o pecado cede lugar para a graça, a morte para a vida, a escuridão para a luz, o ódio para o amor, o rancor para o perdão, a carência do essencial para a abundância daquilo que é de fato vital. 

Afinal, Ele veio para que tenhamos vida plena, consumando no seu ápice, o céu, a eternidade, a plenitude de seu Amor.

É próprio do amor de Deus não exterminar, não excluir, a fim de que todos sejam salvos.

Infinita é a superioridade da lógica de Deus em comparação com a lógica dos homens. A lógica do amor de Deus, passando pelo AT e NT, é sempre aquela que nos garante a verdadeira sabedoria e felicidade, e ninguém e nem nada nos poderá tirar desta lógica.

Nada poderá nos desviar do Caminho, porque n’Ele encontra-se a plena Verdade que nos garante a Vida abundante.

O rosto de Deus onipotente manifesta-se na grandiosidade de Sua tolerância e misericórdia, na Sua prontidão em conceder o perdão, no amor para com todas as criaturas, porque todas receberam o sopro da vida.

Falar de Seu rosto misericordioso não é romantismo inútil, estéril, discurso evasivo, ao contrário, crendo neste Deus bíblico, somos questionados na nossa capacidade de acolher o diferente, o pecador e a ele dirigir nosso perdão…  

Esperando a Sua segunda vinda, é tempo favorável para o relacionamento e aprofundamento da nossa amizade com este Deus Amor que nos é revelado na Sagrada Escritura.

Acomodação, desistência, abandono do Mandamento do amor que nos dá vida nova, jamais! 

O Senhor, aguardamos vigilantes, amando, e  somente assim sentiremos Sua presença, plenamente mergulhado no Seu coração, no Seu Amor…

Finalmente, o encontro de Jesus com Zaqueu nos possibilita a reflexão sobre três olhares:

- O próprio olhar de Zaqueu, o olhar do pecador;

- O olhar dos olhares, o olhar de Jesus, o olhar d’Aquele que acolhe e ama, porque ama transforma;

- O olhar da multidão que recrimina e não compreende a intensidade e profundidade do amor de Deus pela humanidade, sobretudo a humanidade pecadora, que por Seu amor, amor extremado na Cruz a redimiu. Sim, por amor e por um amor filial, incondicional, fomos redimidos. Este é o nosso caminho: mais que o Deus de amor contemplar, Seu amor viver.

Que nossos olhares sejam como o olhar de Zaqueu, reconhecendo nossa condição pecadora, e fazendo a experiência da acolhida, amor e perdão divinos, por Deus enxergados, corações transformados. Somente assim os outros olhares também poderão se renovar… 

É próprio do amor de Deus curar nossa cegueira. E curados, podemos ajudar a curar a cegueira do próximo. Curados de toda cegueira pelo Amor divino, podemos nos ver e nos relacionar como irmãos e irmãs.

“O amor do Senhor é uma chama devoradora, que se te pega te envolve todo, ainda antes que tu te percebas”, diz o teólogo Hans Urs Von Baltazar.

Reflitamos:


-  Como amamos o pecador e o possibilitamos a se libertar de seu pecado?

-  Qual a intensidade de perdão que somos capazes de viver?

-  Como vivemos a lógica do amor que tem sua alta expressão na vivência do perdão?

-  Como amar o pecador e odiar o pecado?

Somente o Amor de Deus transforma o mundo e o coração dos homens! É próprio do amor transformar o coração do amado!

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