segunda-feira, 18 de novembro de 2024

“Coragem, Ele te chama”

                                                   

“Coragem, Ele te chama”

Joguemos o manto e
saltemos ao encontro do Amor

No 30º Domingo do Tempo Comum (Ano B) refletimos sobre a preocupação de Deus para que alcancemos a vida verdadeira e o caminho que Ele nos apresenta para alcançarmos esta meta.

Na passagem da primeira Leitura (Jr 31,7-9), o Profeta Jeremias nos apresenta uma mensagem de conversão e fidelidade a Javé. É crítico das injustiças sociais, da infidelidade e do abandono que o povo faz em relação a Deus e à Sua Aliança, confiando em alianças passageiras e externas, em poderes que passam.

Jeremias tem também uma mensagem de esperança de um novo recomeço, que é iniciativa de Deus e resposta do Povo. Deus caminha conosco e nos conduz pela mão.

Não estamos sós. De modo que, nos momentos mais dramáticos da caminhada histórica de Israel, Deus está presente conduzindo à liberdade e à vida plena. 

Deus mesmo, por amor,  reunirá, conduzirá e fará com que o povo volte à sua terra para recomeçar, após duro tempo de sofrimento e exílio. Deus é sensível, atento e cuida do Seu povo com Amor de pai.

Com Deus supera-se todo olhar de pessimismo. Há sempre um futuro melhor, pois Ele nos ama e caminha conosco, não Se faz indiferente a nossa história e está sempre pronto para perdoar, e nos reconciliar consigo, porque é um Deus de suprema e infinita misericórdia.

Terrorismo, crimes ambientais, dificuldades econômicas, doenças, fome, miséria, falta de princípios éticos, banalização da vida, violação de sua sacralidade, não é o último olhar. O último olhar é o de Deus, que nos pede superação e está conosco na reconstrução de novos caminhos.

Há olhares diferenciados: olhares pessimistas e derrotistas, olhares confiantes e esperançosos quando fundados em Deus, em Sua Palavra e presença.

A passagem da segunda leitura (Hb 5,1-6) apresenta, para uma comunidade fragilizada, cansada e desanimada, Jesus como o Sumo Sacerdote que intercede a Deus em nosso favor.

Jesus é o Sumo Sacerdote por excelência! Escolhido por Deus, saído do meio dos homens e mediador entre nós e Deus, entende perfeitamente, como Homem e Deus, nossas dificuldades reais da existência.

Com Jesus, a comunidade precisa revitalizar o seu compromisso, empenhando-se numa fé mais coerente e mais comprometida. Contemplar e corresponder ao Amor de Deus por nós que é imensurável, sem limites, indescritível, indefinível.

A passagem do Evangelho (Mc 10,46-52) nos apresenta a cura do cego Bartimeu (filho de Timeu). Com esta cura, podemos compreender o caminho que Deus trilha para nos libertar das trevas e nos fazer nascer para a luz, e assim passarmos da escravidão à liberdade, da morte à vida.

Esta passagem bíblica é mais do que a história da cura de um cego por Jesus, trata-se de uma catequese batismal com todas as suas etapas.

O cego Bartimeu está sentado, numa expressão real de desânimo e conformismo, está privado da luz e da liberdade e conformado com sua aparente irredutível situação, sem qualquer perspectiva.

Suplicando ao Senhor, tem que superar as resistências, mas até o seu grito tentam calar.

Diante da Palavra de Jesus – “Coragem, levanta-te que Ele te chama”, irrompe a novidade. O cego atira a capa, dá um salto e vai ao encontro com Jesus.

“É claro o significado simbólico do gesto: para seguir o Senhor é preciso saber libertar-se de tudo aquilo que serve de obstáculo a uma adesão pronta à Sua Palavra. Não se trata somente de nos libertarmos dos pecados, mas de saber antepor a riqueza espiritual da fé no Senhor aos recursos a que o nosso coração está demasiado apegado e que o tornam pesado” (1).

É preciso que joguemos fora nossa capa, com a coragem de desapegos, despojamentos, esvaziamentos.

De fato, diante do Senhor rompemos com o passado, simbolizado na capa, saltamos para o novo, para o encontro que transforma a nossa vida e pomo-nos com novo ardor a caminho: o caminho da luz, do amor, da verdade e da vida.

Bartimeu depois do encontro se torna modelo de verdadeiro discípulo para nós. Em nosso encontro com Jesus há quem nos conduz, como também há os que nos impedem, obstaculizam. Não podemos desanimar jamais de ir ao Seu encontro, pois somente com Ele nossa vida se torna plena de luz, paz, amor e alegria, e tudo mais quanto possamos desejar, conceber, dizer.

Pôr-se no caminho do amor, do serviço, da entrega, do dom da vida, a partir do encontro com Jesus é o caminho que todos devemos fazer.

Somente curados pelo Senhor a cada instante é que não desanimamos da caminhada de fé, sabendo, crendo, anunciando e testemunhando que somente Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Somente Ele nos introduz na luz no tempo presente e um dia na luz eterna, na plena claridade que é o céu. Claridade plena, porque assim é o amor. Onde houver amor, há luz. Onde houver a plenitude do amor haverá a plenitude da luz.

Jesus quer dos discípulos uma vida de luz, uma vida nova e para isto é preciso romper com o mundo da escuridão e acolhe-Lo como luz – “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).

Precisamos que nosso olhar seja curado, para que se torne o olhar de Deus: olhar de ternura, de solidariedade, de confiança, de esperança, de compromisso, de amor sem limites, de horizonte do inédito, de alcance do aparentemente intangível...

Jesus é o Sumo Sacerdote do Pai e nos comunica pelo Seu Espírito a plenitude do Amor, da Vida e da Luz. Amém.



(1) Lecionário Comentado  - Editora Paulus - Lisboa -  pág. 647.
PS: Oportuno para a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 18,35-43)

“Germes da semente divina”

                                                          


“Germes da semente divina”

Na Festa da Dedicação das Basílicas dos Apóstolos São Pedro e de São Paulo, memória facultativa do dia 18 de novembro, a Liturgia das Horas nos enriquece com o Sermão do Papa São Leão Magno (séc. V) “germes da divina semente” das quais brotam testemunhas e milhares de Santos mártires.

“É preciosa aos olhos do Senhor a morte de Seus Santos (Sl 115,15), e nenhuma crueldade pode destruir a religião fundada no Mistério da Cruz de Cristo. 

A Igreja não diminui pelas perseguições; pelo contrário, cresce. O campo do Senhor se reveste de messes sempre mais ricas, porque os grãos, que caem um a um, nascem multiplicados. 

Em quantos rebentos estes dois excelentes germes da divina semente brotaram são testemunhas os milhares de Santos mártires que, rivais das vitórias apostólicas, envolveram com uma multidão coberta de púrpura nossa Urbe e a coroaram com um diadema de glória, cravejado de muitas pedras preciosas. 

Temos de alegrar-nos sumamente, caríssimos, com a comemoração de todos os Santos por esta proteção, preparada por Deus, para exemplo e confirmação da fé. Mas, em vista da excelência destes Patronos, é justo que os glorifiquemos com ainda maior exultação, porque a graça de Deus, dentre todos os membros da Igreja, os elevou ao cume. Por isso, no corpo, cuja cabeça é Cristo, constituem como que os dois olhos. 

Não devemos pensar que os seus méritos e virtudes acima de toda a expressão sejam diferentes de algum modo ou tenham algo de peculiar, pois a eleição divina os tornou pares, o trabalho assemelhou-os e o fim da vida os igualou. 

Por experiência pessoal e pela afirmação de nossos antepassados, cremos e confiamos que, nas lutas da vida, temos sempre a intercessão destes especiais Padroeiros para obter a misericórdia de Deus; e por mais abatidos que estejamos pelos próprios pecados, somos reerguidos pelos méritos apostólicos.”

Pedro e Paulo, como bem afirma o Papa, tiveram eleição divina, se fizeram pares, assemelhados no trabalho e também igualados no final da vida. Bem sabemos que morreram, um na cruz e o outro pela espada, respectivamente.

A Tradição da Igreja nos ensina, como neste Sermão, a valiosa ajuda e proteção daqueles que nos antecederam na eternidade feliz, porque suas vidas consistiram em servir, por amor e com amor, a Deus em favor do Seu Povo a eles confiados.

Além disto, podemos tê-los como exemplos a serem imitados enquanto peregrinamos longe do Senhor, enquanto estamos inseridos no combate da fé, ainda não merecedores da coroa da justiça, da coroa da glória.

Imitando-os em suas virtudes, na fidelidade ao Senhor, será mais credível nossa fé, bem como daremos razão de nossa esperança na prática da caridade, numa frutuosa vigilância ativa.

Iluminai, Senhor, o nosso olhar!

                                                        


Iluminai, Senhor, o nosso olhar!

Caminhando para o final de mais um ano,
elevemos ao Pai uma singela, porém sincera Oração.

Supliquemos que Ele nos dê um olhar de esperança e confiança
de que os tempos podem ser melhores...

Não obstante as tantas dificuldades que nos desafiam,
tenhamos um coração semelhante ao Coração do Senhor,
que O fez ver e falar com tons poéticos a partir das coisas mais simples.

Tenhamos o mesmo olhar poético do Senhor,
para tocarmos os corações, tornando
o mundo menos complexo e mais belo.

É tempo de nos configurarmos ao Senhor,
em pensamentos e sentimentos, para que,
também d’Ele recebendo o colírio da fé, possamos dar
passos firmes e decididos em comunhão com nossos irmãos e irmãs.

Assim coroamos o Jesus Cristo,
Senhor e Rei do Universo,
a quem damos toda honra, glória, poder e louvor.
Amém.

“Ah, não fosse o Amor de Deus!”

                                                  

“Ah, não fosse o Amor de Deus!”

Concluindo mais um Ano Litúrgico, é sempre tempo de rever quais foram as verdadeiras motivações do nosso trabalho Pastoral, à luz da passagem do Livro do profeta Isaías (Is 40, 25 – 31).

Haverá de ser sempre o amor de Deus, que nos impulsiona a fazer o máximo que pudermos por amor e com amor.

“Ah, não fosse o Amor de Deus!”. Se não fosse o Amor de Deus há muito já não faríamos, pois força e motivação não teríamos, porque este amor é a incrível força que nos acompanha, inflama e renova nossa alegria de nos colocarmos sempre a serviço do Reino de Deus.

O amor que nos move, motiva, impulsiona, nos leva a superar rotinas, fazendo a mesma coisa como se fosse a primeira.

Podemos afirmar sem dúvidas que “quem ama deveras nunca se cansa”. Assim é o Amor de Deus para conosco. 

Trabalhos, atividades que se multiplicam, aparente impotência diante de tanto por fazer...

Às vezes nos sentimos limitados pelo tempo que parece diminuto e o muito a fazer.

A dois grandes Santos, como que num hipotético diálogo, perguntaríamos qual o caminho, considerando que o tempo nos separa, mas não a preocupação em bem realizar todas as coisas.

O primeiro viveu no século V, a segunda no século XV. O que nos responderiam se perguntássemos a ambos sobre a importância do amor no trabalho pastoral, ou mesmo em qualquer outra atividade edificante e nobre, da menor à maior; em micro ou macro relação?

Santo Agostinho:
“Tenho de amar o Redentor e sei o que disse a Pedro: Pedro, tu Me amas? Apascenta minhas ovelhas (Jo 21,17). E isto uma vez, duas vezes, três vezes. Questionava-se o amor e impunha-se o trabalho, porque onde é maior o amor, menor o trabalho”.

Santa Teresa de Jesus:
“Procuremos sempre ir considerando estas verdades se estimulando-nos a amar. Porque, uma vez que nos conceda o Senhor a graça de que este amor nos seja impresso no coração, tudo nos será mais fácil: Fazemos grandes coisas muito depressa e com pouco trabalho”.

De fato, experimentamos esta verdade:
Onde o amor é maior, menor é o trabalho e quantas coisas fazemos com alegria, bem depressa e com pouco trabalho.

O amor é a grande força que nos motiva a pequenos gestos que se tornam grandes, para gestos ainda maiores.

Eis aqui o caminho para o louvor de Deus, concretizado no amor e serviço ao próximo.

O amor é imprescindível em tudo que fazemos, pois sem ele tudo se torna difícil.

É admirável pessoas que por amor fazem coisas que jamais o fariam por dinheiro algum, pois por amor a Jesus, tudo vale a pena.

Por amor a Jesus, tudo que fizermos ainda é nada diante do Seu amor sem limites:

“Deus amou tanto o mundo que entregou o
Seu Filho único, para que todo o que
n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”
(Jo 3,16).

E por isto assim falou o Evangelista:

“Tendo amado os Seus que estavam
no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13,1).

Tudo fazer por amor, apenas Amor.
Amor que transcende todo desejo,
Amor que ultrapassa todos os limites,
Amor que alcança o inatingível,
Amor cantado por Paulo aos Coríntios e a nós!
Verdadeiramente o Amor jamais passará por que
Deus que é Amor, é eterno...
Aquele que era, é e será!

domingo, 17 de novembro de 2024

Vigilância ativa na espera do Senhor que vem (XXXIIIDTCB)

                                      

Vigilância ativa na espera do Senhor que vem

A Liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum (Ano B) nos convida a olhar o passado e o futuro para viver melhor o hoje de Deus.

É um grande convite à esperança: Deus vai intervir na noite do mundo e mudar a história numa alegre aurora de vida, amor e luz.

Esperar vigilante o Senhor que vem, reconhecendo no presente Sua ação constante, revendo nossa participação na construção do Reino.

A passagem da primeira Leitura (Dn 12,1-3) retrata um difícil momento da História do Povo de Deus (séc. IVa.C), vivido sob a dominação do reinado do selêucida Antíoco IV.

Este rei queria impor a cultura helênica em todo o seu império e praticou uma política de intolerância para a cultura e a religião judaica.

O autor sagrado exorta à constância e a fidelidade, certo que isto assegurará a recompensa divina em sua maior expressão: a vida eterna.

É preciso manter firme a fé sem ceder à imposição de culturas que violem a tradição e a fé judaica.

A preocupação do autor é restaurar a esperança num tempo marcado pela perseguição. A fidelidade a Javé deve ser vivida apesar de toda dificuldade, incompreensão, intolerância e perseguição. Javé recompensará quem se mantiver fiel à Lei e aos Seus Mandamentos.

Esboçam-se os primeiros fundamentos teológicos da Ressurreição: não somos condenados ao fracasso; a fidelidade vivida garante a Ressurreição, a recompensa da vida eterna para o justo.

A mensagem, portanto, é de esperança: a vitória será daqueles que se mantiverem fiéis às propostas de Deus; que não sucumbirem aos valores efêmeros, mas pautarem a existência pelos valores eternos.

Em meio às dificuldades, o cristão não é um “profeta da desgraça”. A certeza da presença de Deus no seu caminhar traz em si a convicção de que a vitória final será de Deus e de todos os que permanecerem fiéis.

Não faz sentido que o cristão seja um profeta da desgraça, com um olhar derrotado para a história e o mundo, curtindo dentro de si o azedume e o pessimismo. Ao contrário, deve ser uma pessoa alegre e confiante, pois olha para o mundo com serenidade e esperança, sabendo que Deus guia a história da humanidade e cuida de cada um com intenso Amor.

Como será diferente o mundo se cultivarmos este olhar!

- Como vemos o mundo e os desafios que nos cercam?
- Por vezes também não podemos ser “profetas da desgraça”, pessimistas, sem esperança de que o mundo possa ser mudado, que a violência seja banida, que a exclusão seja superada?

A passagem da segunda Leitura (Hb 10,11-14.18) é dirigida a uma comunidade em que há a perda do entusiasmo; um povo cansado, fragilizado e sem esperança.

É uma exortação para que se viva uma fé mais coerente e mais empenhada tendo Jesus Cristo como o Sumo e Eterno Sacerdote, que fez de Sua vida uma oferenda, sacrifício uma vez por todas, para que o mesmo façamos, dando a nossa vida em contínuo sacrifício de louvor, entrega e amor.

O autor tem um objetivo explícito: despertar no coração dos crentes uma resposta mais decidida e forte ao Amor de Deus revelado por Jesus que nos amou com Amor sem limites.

Ele é o Servo fiel, vida doada, sacrificada com amor e por amor a nós. Assim, o cristão está inserido na dinâmica do amor que Jesus testemunhou, fazendo da vida um dom de amor, não desanimar, lutando sempre.

O caminho percorrido por Jesus é o caminho do cristão, certos de que a última palavra é sempre a Palavra de Deus, que nos quer salvar e nunca nos abandona, pois é próprio do Amor de Deus nunca desistir de nós para que sejamos melhores. Ele venceu a morte, e com Ele também podemos vencer.

A passagem do Evangelho (Mc 13,24-32) nos apresenta um discurso escatológico, profético/apocalíptico sobre o fim dos tempos: a espera da vinda gloriosa do Senhor.

Exorta à fidelidade, coragem e vigilância. Apesar das vicissitudes do tempo presente, o cristão deve viver na vigilância ativa e com lucidez, na espera da vinda gloriosa do Filho do Homem.

A passagem é um claro anúncio do Triunfo de Cristo sobre toda e qualquer forma de dominação que se possa viver. É um texto não para incutir desespero na mente e no coração dos discípulos, mas para despertar a confiança e a esperança de um mundo novo que está sempre por vir.

As Palavras de Jesus não são uma bela teoria ou um piedoso desejo, ao contrário garantem que o mundo novo, a vida plena e de felicidade sem fim, irá surgir, e não dispensa nossa vigilância e compromisso, nosso testemunho de fé.

A Palavra de Deus abre a porta à esperança. Deus não abandona a humanidade e quer transformar o mundo velho do egoísmo e do pecado num mundo novo de vida e de felicidade para todos.

A humanidade não caminha tragicamente para o holocausto, para a destruição, para o sem sentido, para o nada.

Com Jesus, ela caminha ao encontro da vida plena, com o desenvolvimento das potencialidades que o Senhor cumulou a todos. Não podemos ser omissos.

A religião assim vivida não será ópio. O cristão não pode deixar-se dominar pelo medo, pessimismo, desespero, discursos negativos, angústias. Cristão não é alguém deprimido, assustado, derrotado, mas alguém que tem fé frutuosa, visão otimista da vida e da história, caminhando alegre e confiante ao encontro do mundo que Deus prometeu:

“Uma interpretação unilateral e injusta das realidades humanas (favorecida, aliás, por certa pregação também unilateral e míope) fez com que muitos homens de nosso tempo encarassem com desconfiança a religião cristã, como se fosse inimiga do mundo, da vida, do progresso, do esforço humano; uma religião de evasão, de descomprometimento, de renúncia passiva e covarde; o ópio que entorpece o homem e dele retira todo interesse pela cidade terrestre, seduzindo-o com a promessa de um além feliz e ilusório” (Missal Dominical - p.1076).

Vigilantes, não podemos cruzar nossos braços na espera que um mundo novo caia do céu, mas, com palavras e gestos, é preciso pôr-se a caminho, cada um dando o melhor de si para a construção do Projeto de vida que Deus tem para nós.

Não há possibilidade que o cristão se feche em seu canto ou mesmo ignore a intervenção e ação divina, com seus apelos e Projetos.

O cristão precisa ficar atento às necessidades, e procurar a resposta com sabedoria, exatamente como Deus assim espera de cada um de nós e de todos nós. 

Enquanto Ele não vem, intensificamos nosso empenho, renovamos a alegria e o entusiasmo da fé com engajamento mais frutuoso.

Ser no mundo o que a alma é para o corpo, como nos dizem os primeiros ensinamentos da Igreja: testemunhar com confiança, esperança vivendo a solidariedade, fidelidade, pois não há melhor modo de ficar vigilante esperando a vinda gloriosa do Senhor.

Somente colaboraremos para humanizar o mundo e as relações entre as pessoas, vivendo a partilha, serviço, perdão, amor, fraternidade, solidariedade e paz.

Fortalecendo os vínculos fraternos como Profetas da esperança de um novo dia, mas sem nos alienarmos do compromisso no tempo presente, de modo que a religião não se traduza numa fuga dos desafios, mas enfrentamento e superação dos mesmos. A fé exige combate, inevitavelmente.

O cristão é um peregrino longe do Senhor, e vivendo na penumbra da fé, vai discernindo os valores que são válidos e os não válidos; o que é atual ou apenas um modismo; o que é eterno e o que é efêmero, transitório.

Caminha acreditando que, de fato, romperá na escuridão do mundo a aurora de um mundo novo, vive a transitoriedade do tempo rumo à eternidade.

Vive também o limite do transitório para abraçar a eternidade, pois a transitoriedade e a eternidade são elementos constitutivos de nossa existência.

Da Mesa da Palavra vem a Palavra do próprio Deus, que é para nós, luz e força nas perseguições, dificuldades; segurança para que não nos entreguemos ao desespero e nem mergulhemos nos mares das dúvidas que a história oferece.

Da Mesa da Eucaristia nos vem o Alimento salutar, para que revigorados sejamos testemunhas d’Aquele que veio, vem e virá.

Agora é o nosso tempo da vigilância ativa,
com lucidez, coragem e sabedoria,
renovada e revigorada nas Sagradas Mesas
da Palavra e da Santa Eucaristia.

Rogo a Deus que te abençoe e te acompanhe

                                                            

Rogo a Deus que te abençoe e te acompanhe

“A Deus, que tudo pode realizar superabundantemente, e muito
mais do que nós pedimos ou concebemos, e cujo poder atua
em nós, a Ele a glória, na Igreja e em Jesus Cristo,
por todas as gerações, para sempre. Amém”
(Ef 3,20-21)

Esteja o sol brilhando ou não,
Sei que hoje é um dia especial para ti e para nós.

Completas mais um ano de vida, e assim uma página de tua história,
Com dias luminosos, e, provavelmente, outros nem tanto.

Repassa os momentos que viveste, sejam eles ruins ou bons,
Pois a vida é uma colcha tecida com mil retalhos.

Desejo que tenham sido incontáveis os bons,
E que naqueles que não foram, tenhas vencido, aprendido.

Acredita que as sementes do bem que plantou,
No coração dos que encontrou, hão de frutificar.

Agradeça pelos amanheceres e entardeceres,
Sempre com a inextinguível luminosidade divina.

Lembra-te dos ventos contrários que venceste,
E recoloca a tua nau sempre rumo às sagradas metas.

Lembra-te dos dias chuvosos que regaram o chão,
Como as graças copiosas que regaram teu coração.

Agora é um novo começo, um novo ano pleno do amor divino,
Para viveres intensamente, com saúde e paz todos os dias.

Peço que o Espírito do Senhor repouse sobre ti,     
E ilumine cada passo que deres com divina proteção.

Com bolos, bebidas, festas de praxe ou nada disto,
Mas não falte nossa admiração, carinho e oração.

Rogo a Deus que te abençoe e te acompanhe,
Ao semeares, cada dia, sementes da verdade e do bem.

Rogo a Deus que te abençoe e te acompanhe,
Ao remares e levares tua nau, refazendo-te nos portos seguros da oração.

Rogo a Deus que te abençoe e te acompanhe,
Para que subas à Montanha Sagrada e ouças o Senhor.

Rogo a Deus que te abençoe e te acompanhe,
Para que desças à planície do cotidiano e sejas feliz.

Rogo a Deus que te abençoe e te acompanhe:

“A Deus, que tudo pode realizar superabundantemente,
e muito mais do que nós pedimos ou concebemos,
e cujo poder atua em nós, a Ele a glória,
na Igreja e em Jesus Cristo,  
por todas as gerações, para sempre”.

Bênçãos, graça, paz e todo o bem para ti,
Ontem, hoje e sempre. Amém.

Enquanto aguardamos vigilantes a vinda do Senhor... (XXXIIIDTCB)

                                                   

Enquanto aguardamos vigilantes a vinda do Senhor...

Enquanto aguardamos vigilantes a vinda do Senhor,
Misericórdia a ser vivida acompanhada de louvor!

Enquanto aguardamos vigilantes a vinda do Senhor,
Humildade assumida faz crescer verdadeiro temor!

Enquanto aguardamos vigilantes a vinda do Senhor,
Paz a ser promovida superando todo ódio e rancor!

Enquanto aguardamos vigilantes a vinda do Senhor,
Caridade, pequenos gestos tornam-se grandes pelo amor!

Quem sou eu

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