segunda-feira, 30 de junho de 2025

Repouso em Teu peito, Senhor!

                                                               

Repouso em Teu peito, Senhor!

“As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos,
mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9,58).

O Reino de Deus precisa ser anunciado,
Não há mais tempo a perder.
Há um mundo clamando, eu escuto...

Não podemos ficar parados,
Ele nos chama e qual nossa resposta?
Não fiquemos indiferentes, insensíveis.

Há doentes sem carinho, na fila esperando,
Crianças, pelas ruas e praças, suplicantes,
Jovens sem sentido, drogados, perdidos.

Famílias em situação de enfermidade crônica,
Ausência de perdão, de diálogo, de alegria, de compreensão;
Carentes de formação, doutrina, princípios, luz...

A criação geme em dores de parto,
Esperando também a reconciliação,
Paulo assim compreendeu e nos proclamou.

Há um caminho a ser percorrido,
Há uma meta a ser alcançada,
Coragem, firmeza, mansidão vivenciadas. 

Não fincar âncoras no passado consumado,
Inaugurar o futuro, germinando sementes,
Que no presente são, no coração, fecundadas.

Ele nos chama e nos pede confiança,
Despojamento, discernimento, prontidão...
Não há nada mais belo e sagrado a fazer, 

Ao seu chamado prontamente responder,
Carregar a cruz, renúncias são necessárias,
Amadurecimento, crescimento, alcançados.

Mas como seguir alguém que nem tem
Onde a cabeça reclinar, apesar do mundo
Por Ele ter sido feito e d’Ele ser Senhor?

De fato, não teve onde reclinar a cabeça,
Se não o duro Madeiro da Cruz.
Inclinando a cabeça disse: “tudo está consumado”.

Não tinha almofada, travesseiro, aconchego...
Despido, despojado, insultado, crucificado,
O abismo da maldade humana quis derrotá-Lo.

Quem não tinha onde reclinar a cabeça,
Porque assim livremente o quis,
Pobre Se fez para nos enriquecer. 

Descendo ao mais profundo da mansão dos mortos,
Resgatou a vida, para renascer, ressuscitar
Cheio de beleza, vigor, enfim Glorificado.

Hoje não mais reclina a cabeça sobre o Madeiro,
Está de pé, ao lado do Amado Pai, nosso Criador,
Em comunhão plena, Divino Cordeiro.

Vitorioso, glorioso, à direita do Pai Reinando,
Sua cabeça majestosamente coroada
Pelos Anjos e Santos, mártires e por tantos adorado.

Ele que nunca teve onde reclinar a cabeça
Quer tão apenas um lugar para ser acolhido:
O mais profundo do coração humano.

Ele bate, se abrirmos Ele entrará, 
E com Ele faremos a deliciosa Refeição
No Banquete Eucarístico, sinal do Banquete de Eternidade.

Ele não tinha travesseiro...
Tão pobre, tão despojado, tão simples,
Sobre o Seu ombro, quem apoio não encontrou?

Repousemos em Seu Coração!
Sacratíssimo Coração!
Amantíssimo Coração!

Aquele que não tinha onde reclinar a cabeça
Fez-Se apoio, sustento de toda a humanidade.
Deitado em Seu peito, refaço-me, sigo em frente...

PS: apropriado para a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 8,18-22)

Ser cristão: “ser para os outros”

                                                           

Ser cristão: “ser para os outros”

 “Mestre, eu Te seguirei aonde quer que Tu vás”
(Mt 8,19)

Na segunda-feira da 13ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 8,18-22), em que Jesus nos apresenta as exigências para segui-Lo.

Na passagem, Jesus afasta toda e qualquer ilusão: sem medo da insegurança da própria vida, em confiança total no Senhor, acompanhado de despojamento, pobreza, simplicidade de vida, bem como abertura aos desafios que possam surgir no trilhar o caminho, ao segui-Lo.

Assim afirmou o Papa Bento XVI sobre o ser cristão na Carta Encíclica Deus Caritas Est (n.1):

“Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”.

De fato, a mensagem cristã é exigente e não se limita à adesão de uma doutrina, mas uma Pessoa, Jesus.

Com isto, é preciso que oriente, determine o modo de viver, muito mais do que o modo de pensar, tão apenas.

Para seguir Jesus Cristo, é preciso que se vá aonde Ele for, fazer o que Ele faz e como Ele faz, impregnando nossas atitudes de amor, para que estas ações sejam fecundas.

Múltiplas são as formas de ação de pessoas que se decidiram segui-Lo: evangelizando nas casas em todos os lugares (sobretudo em desafiadores espaços, como vilas e favelas, prédios e condomínios); com os enfermos nos hospitais, ou mesmo em suas casas; penitenciárias; em claustros, numa vida consagrada, na oração e serviço pela santificação do mundo; no trabalho com crianças, jovens e idosos e comunidades distantes de nossas cidades.

No testemunho da caridade sublime, participando da política, a fim de que ela seja, de fato, o exercício da promoção do bem comum; em tantas atividades sociais dentro e fora do espaço da Igreja; outros tantos que se dedicam nas inúmeras pastorais de nossas comunidades paroquiais.

Como vemos, ser cristão é configurar-se totalmente a Jesus Cristo, e d’Ele ter mesmos sentimentos, como nos falou o Apóstolo Paulo na Carta aos Filipenses (c.2). E assim, muito mais do que viver não fazendo o mal a ninguém, é preciso escrever uma história de seguimento comprometido na promoção do bem comum, da fraternidade e da paz. Isto é, verdadeiramente, um caminho de santidade, que encontramos apresentado no Sermão da Montanha (Mt 5,1-12).

Numa palavra final, seguir o Mestre, Jesus Cristo, é seguir e se consumir, cotidianamente, na fidelidade a Ele e à Boa-Nova do Reino, numa vida essencialmente marcada pelo “Ser para os outros”.

Oremos:

"Ó Deus, pela Vossa graça, nos fizestes filhos da luz. Concedei que não sejamos envolvidos pelas trevas do erro, mas brilhe em nossas vidas a luz da Vossa verdade. Por N.S.J.C., na unidade do Espírito Santo. Amém".


Fonte: Missal Cotidiano – Editora Paulus – pág.964

Participemos dos sofrimentos de Cristo

 


Participemos dos sofrimentos de Cristo

Assim nos falou o apóstolo Pedro (1Pd 4,13-14):

“Caríssimos, alegrai-vos por participar dos sofrimentos de Cristo, para que possais também exultar de alegria na revelação da Sua glória. Se sofreis injúrias por causa do nome de Cristo, sois felizes, pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vós.”

Oremos:

Ó Deus, quando vierem os sofrimentos ou dificuldades, na graça de viver o discipulado no seguimento de Vosso Filho, enviai-nos sempre o Espírito Santo para nos animar, fortalecer e conduzir.

Dai-nos maturidade e serenidade para enfrentar situações adversas, e que o peso da cruz não nos faça esmorecer ou recuar, como discípulos do Vosso amado Filho; e jamais vacilemos na fé, esmoreçamos na esperança e esfriemos na caridade.

Concedei-nos, ó Deus, a graça de viver a verdadeira alegria, que tão somente na fidelidade a Vós podemos alcançar, assim como nos falou Vosso Filho, que alegria plena somente se n’Ele permanecermos.

Inflamai nosso coração para que ardente seja, e firme nossos passos a caminho, comprometidos com a Boa Nova do Reino, atentos na escuta e prática da Palavra do Vosso Filho, com o Vosso Espírito Santo, para que membros vivos de uma Igreja Sinodal sejamos. Amém.

Muito mais do que uma fábula

                                                          

Muito mais do que uma fábula

Houve uma reunião com todos os animais, e cada um deles deveria dizer o que tinha de específico, que o identificasse diante dos humanos, e que despertasse o coração até mesmo dos mais insensíveis. Foi lavrada uma ata para que tomássemos conhecimento.

Vamos então ouvir a ata:
“Aos vinte dias do mês de julho de dois mil e onze, começou a reunião com todos os animais da floresta. Após longa espera pelos últimos, foi dada a palavra a quem quisesse dizer o que o caracteriza cada um diante dos olhos humanos.

O primeiro a tomar a palavra foi o coelho:
— “Sou ágil, rápido. Nada pode me acompanhar. Admiram-me pela rapidez e também pela fertilidade. Claro que tenho também outras qualidades, como também limitações. Nenhum animal é perfeito, bem sabemos.”

O segundo foi a águia:
— “Faço voos altos. Contemplo as coisas lá de cima. Minhas asas me sustentam em voos invejáveis. Muitos ficam olhando para minhas manobras. Como o coelho, também tenho outras qualidades; meu processo de renovação e prolongamento da vida, mas também tenho limitações. Nenhum animal é perfeito, bem sabemos.”

Em seguida, um peixe por um momento apontou no mar e gritou bem alto:
— “Também faço parte desta reunião. Não posso ficar muito tempo fora da água, terei que ser breve. Mergulho nas profundezas do mar, conheço coisas que muitos animais não conhecem. Não tenho tempo para descrevê-las, quanto mais profundo o mergulho mais coisas posso revelar.”

Quando começou a falar de suas limitações (e  uma delas é não poder ficar muito tempo fora da água), mergulhou novamente no mar. Se tempo tivesse com certeza diria: “nenhum animal é perfeito, nós peixes, também aqui o sabemos”.

Depois de um longo silêncio a tartaruga falou de sua especificidade, de como é conhecida pelos humanos, sua lentidão e sua vida longa (décadas). Mas a reunião tinha tempo limitado, e como havia muitos animais, nem todos puderam falar. A tartaruga nem tempo teve de falar sobre suas naturais limitações; mal pode se esquivar como os demais e nos ensinar dizendo: “Nenhum animal é perfeito, bem sabemos”.

Não havendo mais tempo para outros pronunciamentos, foi encerrada a reunião e para constá-la...”

Fábula? Muito mais do que uma fábula.
Como Igreja, temos muito que aprender com esta fábula. Somos diferentes, como os animais nos falaram. Temos nossas especificidades, nossas virtudes e limites. As diferenças se tornam nossas riquezas. Um só é o Espírito, diversos os dons, ministérios e carismas como nos falou o Apóstolo Paulo (1Cor 12 e Ef 4).

Assim é a Igreja, uma comunidade de eleitos, cada um podendo dar o melhor de si com amor para que o Reino de Deus aconteça.

Temos que aprender com o coelho a agilidade e a fecundidade. Há coisas que não podem ser morosas — o amor, a caridade, a solidariedade, o perdão, a partilha, a alegria, a comunhão, a fidelidade, a doutrina... Fecundidade do Espírito — quando a Ele nos abrimos não nos faltam respostas aos desafios da pós-modernidade. Urge que sejamos fecundados pela ação do Espírito para fazer frutificar a Semente do Evangelho.

Aprender com a águia a fazer voos mais altos, sondando as alturas divinas com a ajuda do Espírito. Buscar as coisas do alto onde Deus Se encontra (Cl 3,1). Buscar o amor, a verdade, a justiça, o direito, a paz, a fraternidade, a liberdade, o respeito, a defesa da vida e sua beleza sacral, bem como da Terra, a nossa Casa Comum, numa necessária ecologia integral.

Como os peixes, mergulhar nas profundezas dos Mistérios Divinos. Mergulhar profundamente no Mistério do Amor Trinitário, como diz aquele belíssimo canto “quero mergulhar nas profundezas do Espírito de Deus, descobrir suas riquezas, em meu coração...”. Fazer o mais desafiador e necessário mergulho dentro de nós mesmo para Deus encontrar. Afinal, Ele quis habitar no mais profundo de nós; somos Seu templo, Sua morada, e Ele o nosso mais Belo Hóspede...

Aprender com as tartarugas! “Mas é lenta demais”, dirão. Mas assim é a Igreja, assim são as “coisas” divinas, assim é o Reino de Deus como muito bem vemos nas Parábolas de Jesus (Mt 13) e no Salmo 85. Deus é assim conosco: lento na ira, paciente e misericordioso.

Ele espera pacientemente nossa conversão, pois somos lentos em construir vínculos verdadeiramente fraternos, lentos ao perdoar, lentos em compreender as imperfeições do outro, como se fossemos a medida da perfeição.

Paciência, pois o joio e o trigo crescem juntos (cf. Mt 13,24-30) e Deus, no tempo oportuno, fará a colheita, ou ainda, fará a separação dos peixes bons e ruins... Não nos cabe julgar, rotular, classificar, excluir ninguém da Misericórdia e Salvação Divina.

Acolhida a fábula, poderíamos nos colocar em atitude de revisão de nosso caminhar.

Reflitamos:

- O que ela nos diz?
- Em que temos que nos converter e melhorar?

Precisamos ter coragem para olharmos para nós mesmos, para nossa comunidade e, com misericórdia, fazermos as mudanças necessárias para melhor o Reino servir, a ponto de podermos dizer:

O Reino de Deus é nossa maior riqueza, nossa mais bela pérola, nosso mais belo tesouro...”. 

Exemplos de coragem e fidelidade ao Senhor

                                                        

Exemplos de coragem e fidelidade ao Senhor

Celebramos no dia 30 de junho a Memória dos Santos Protomártires da Igreja de Roma, como veremos na Carta do Papa São Clemente I aos Coríntios (séc. I):

“Deixemos de lado os exemplos dos antigos e falemos de nossos atletas mais recentes. Apresentemos os generosos exemplos de nosso tempo.

Vítimas do fanatismo e da inveja, aqueles que eram as maiores e mais santas colunas da Igreja, sofreram perseguição e lutaram até a morte.

Tenhamos diante dos olhos os bons apóstolos. Por causa de um fanatismo iníquo, Pedro teve de suportar duros tormentos, não uma ou duas vezes, mas muitas; e depois de sofrer o martírio, passou para o lugar que merecia na glória. Por invejas e rivalidades, Paulo obteve o prêmio da paciência: sete vezes foi lançado na prisão, foi exilado e apedrejado, tornou-se pregoeiro da Palavra no Oriente e no Ocidente, alcançando assim uma notável reputação por causa da sua fé. Depois de ensinar ao mundo inteiro o caminho da justiça e de chegar até os confins do Ocidente, sofreu o martírio que lhe infligiram as autoridades. Partiu, pois, deste mundo para o lugar santo, deixando-nos um perfeito exemplo de paciência.

A estes homens, mestres de vida santa, juntou-se uma grande multidão de eleitos que, vítimas de um ódio iníquo sofreram muitos suplícios e tormentos, tornando-se, desta forma, para nós um magnífico exemplo de fidelidade. Vítimas do mesmo ódio, mulheres foram perseguidas, como Danaides e Dirceia. Suportando graves e terríveis torturas, correram até o fim a difícil corrida da fé e mesmo sendo fracas de corpo, receberam o nobre prêmio da vitória.

O fanatismo dos perseguidores separou as esposas dos maridos, alterando o que disse nosso pai Adão: ‘É osso dos meus ossos e carne de minha carne’ (cf. Gn 2,23). Rivalidades e rixas destruíram grandes cidades e fizeram desaparecer povos numerosos.

Escrevemos isto, não apenas para vos recordar os deveres que tendes, mas também para nos alertarmos a nós próprios. Pois nos encontramos na mesma arena e combatemos o mesmo combate. Deixemos as preocupações inúteis e os vãos cuidados, e voltemo-nos para a gloriosa e venerável regra da nossa tradição.

Consideramos o que é belo, o que é bom, o que é agradável ao nosso Criador. Fixemos atentamente o olhar no Sangue de Cristo e compreendamos quanto é precioso aos olhos de Deus, Seu Pai, esse Sangue que, derramado para nossa salvação, ofereceu ao mundo inteiro a graça da penitência.” (1)

Muitos cristãos foram martirizados com terríveis tormentos, como vimos na Carta do Papa e também no testemunho dado pelo escritor pagão, Tácito.

Foram vítimas da primeira perseguição desencadeada pelo Imperador Nero, depois do incêndio da cidade de Roma no ano 64.

Como o Papa disse: “vítimas de um ódio iníquo sofreram muitos suplícios e tormentos, tornando-se, desta forma, para nós um magnífico exemplo de fidelidade”.

Os tempos hoje são outros, mas as provações, dificuldades, cansaços, desilusões também têm suas marcas e desafiam o testemunho de nossa fé, sem jamais deixarmos de dar a razão de nossa esperança, na prática incansável e frutuosa da caridade.

Quando fazemos memória dos Apóstolos, Pedro e Paulo e tantos que deram a vida por causa de Jesus e do Evangelho, reavivamos a chama do Espírito que em nosso peito habita.

Não podemos jamais vacilar na fé, esmorecer na esperança e esfriar na caridade, como nos ensina a Igreja. Professemos nossa fé com palavras e obras, porque tão somente assim para Deus se torna agradável.


(1) Liturgia das horas – Vol. III - pp.1401-1402

“Somos pó e cinza diante da Rocha”

                                                                   

                 “Somos pó e cinza diante da Rocha”
 
Reflexão à luz da passagem do Livro de Gênesis (Gn 18,20-32),  em que Abraão faz uma oração em favor de Sodoma e Gomorra, porque o clamor contra estas cresceu e chegou até o Senhor, e houve o agravamento de seu pecado.
 
Reflitamos sobre o diálogo de Abraão com o Senhor, conforme comentário do Missal Dominical:
 
“Em Israel, que vive num regime de fé, não está em perigo a veracidade da relação do homem com Deus, a verdadeira oração.
 
Um homem vivo, um homem verdadeiro, encontra o Deus vivo e verdadeiro. Uma liberdade está diante da Liberdade, o pó diante da Rocha. ‘Eis que ouso falar ao meu Senhor, eu que sou pó e cinza”.
 
Em Israel, a oração está essencialmente ligada a fé. Uma resposta livre ao Deus que se revela e fala, uma ação de graças pelos grandes acontecimento que Deus realiza para o Seu povo. A oração é, pois, antes resposta do que pedido”. (1)
 
Aprendemos com Abraão a fazer da oração um verdadeiro diálogo com Deus: ele se coloca diante diante d’Ele, com ousadia e confiança, apresentando suas inquietações, dúvidas, anseios, e procurando captar Sua vontade para a humanidade.
 
A passagem é uma catequese sobre o peso que o justo e o pecador têm diante de Deus; revela-nos a misericórdia divina que é maior do que a vontade de castigar. 
 
A vontade que Deus tem de salvar é infinitamente maior do que a vontade de perder: Deus está sempre pronto a nos salvar. É preciso que nos abramos à Sua vontade.
 
Abraão nos ensina que é possível dialogar com Deus numa forma familiar, confiante, insistente e ousada. Revela-nos um Deus que veio ao encontro da humanidade, entrou em sua tenda, sentou-se à sua mesa, criando vínculos de comunhão, e ainda mais, realizando os sonhos daquele que O acolhe.
 
Com o pai da fé, aprendemos que Deus é alguém com quem se pode dialogar, com amor e sem temor; com uma Oração que brota de um coração humilde, reverente, respeitoso, confiante, ousado e cheio de esperança.
 
Abraão não repete palavras vazias e gravadas, sem ressonância na própria vida, mas estabelece com Deus um diálogo espontâneo e sincero.
 
Assim, devemos nos colocar diante de Deus sempre, de modo especial, quando em oração, em diálogo com Ele, para que experimentemos o sabor da autêntica oração, sem arrogância, sem sinais de petulância, na mais bela expressão de humildade e confiança: somos pó e cinza diante da Rocha que é Deus (como tão bem expressam diversas passagens da Sagrada Escritura).
 
Somos plasmados pelo Deus, desde os primeiros dias do Paraíso, por Ele criados à Sua imagem e semelhança, agraciados com o Seu divino sopro de vida, como narram as primeiras páginas do Livro de Gênesis.
 
Somos permanentemente modelados por Deus, como barro na mão do oleiro, para que melhor sejamos, e mais perfeitamente sintonizemos Seus desígnios ao nossos respeito e mais felizes sejamos.
 
Somos criaturas do Divino Criador, sim, criaturas com todas as limitações inerentes à condição humana, passíveis de todas as imperfeições em todos os sentidos, convivendo com a graça que em nós é derramada abundantemente, mas sem jamais esquecermos, que somos santos e pecadores, com sede e desejo de sermos santos como Deus é Santo, pois este é o Seu desejo mais pleno e belo para a humanidade.
 
Somos pó, somos barros carregando o tesouro do Espírito em vasos de argilas que somos, como tão bem expressou o Apóstolo Paulo (2 Cor 4,7).
 
E um dia desfeito nosso corpo mortal, voltaremos a ser pó, porque do pó viemos e ao pó retornaremos. Seremos se cremados, um punhado de cinzas apenas, mas certos de que a alma que em nós habita, para Deus haverá de voltar.
 
Confiamos e esperamos, porque de Deus vivemos, nos movemos e somos e para Deus haveremos de retornar, no dia de nossa Ressurreição, pois como Ele mesmo o disse: “Eu Sou a Ressurreição e a vida, todo aquele que em mim viver e crer, ainda que esteja morto viverá” (Jo 11, 25-26).
 
Quando oramos assim devemos nos sentir: pó e cinza, limitados, suplicantes diante de Deus, a onipotência da misericórdia que vem sempre em socorro de nossa finitude e miséria.
 
É o Amor Uno e Trino que vem ao nosso encontro, e nós somos sedentos de força, amor, luz e graça. Somos os eternos suplicantes da presença da Santíssima Trindade que vem em socorro de nossa fraqueza; vem ao nosso encontro o Amante(Deus Pai), com o Amante (Deus Filho) e o Amor (o Espírito Santo).
 
Pó e cinza, somos diante da Rocha! Oremos assim, exatamente como Abraão o fez, e nossa oração chegará até Deus, que não desiste de nós porque nos amou e nos criou e quer nos redimir, mas não sem nossa participação.
 
 
 
(1) Missal Dominical - Ed. Paulus - p.1189
PS: Apropriado para a passagem do Livro do Gênesis (Gn 18,16-33) proclamada na segunda-feira da 13ª semana do Tempo Comum

“Que todos sejam um”

                                                               

“Que todos sejam um”

Sejamos enriquecidos pela Carta do Papa São Clemente I aos Coríntios:

“Está escrito: Uni-vos aos Santos, porque os que deles se aproximam serão santificados. E ainda em outro lugar: Com o inocente serás inocente, com o eleito serás eleito e com o perverso usarás de astúcia. Por isso nos unimos aos inocentes e aos justos; eles são eleitos de Deus. Por que há entre vós lutas, cóleras, dissensões, divisões e guerras? Porventura, não temos um só Deus, um só Cristo e um só Espírito da graça derramado sobre nós e não há uma só vocação em Cristo? Por que arrancamos e despedaçamos os membros de Cristo e nos revoltamos contra nosso próprio corpo e chegamos à loucura de esquecer que somos membros uns dos outros?

Lembrai-vos das palavras de nosso Senhor Jesus: Ai daquele homem! Melhor lhe fora não ter nascido do que escandalizar a um de meus eleitos; melhor lhe fora ser amarrado à mó de moinho e afogado no mar do que perverter um só de meus escolhidos. Vossa divisão perverte a muitos, lança a muitos no desânimo, a muitos, na hesitação, a todos nós, na tristeza, causa-nos a todos aflição, e ainda persiste vossa sedição!

Tomai da carta de São Paulo. Qual a primeira coisa que vos escreveu no início da Boa-nova? Decerto inspirado por Deus, o Apóstolo vos escreveu acerca de si mesmo, de Cefas e de Apolo, porque já então havia entre vós facções e partidos. Esta facção, porém, era o vosso menor pecado. Com efeito, vós vos inclinastes ante o ilustre testemunho dos grandes Apóstolos e da pessoa por eles autorizada.

Vamos, portanto, depressa, acabar com isto! Vamos nos ajoelhar aos pés do Senhor e implorar com lágrimas e súplicas que Ele nos seja propício e Se reconcilie conosco, fazendo-nos voltar a nosso antigo modo de viver, tão belo, casto, conforme o amor fraterno. É esta a porta da justiça aberta para a vida, segundo está escrito: Abri-me as portas da justiça; entrando por elas louvarei o Senhor; é esta a porta do Senhor, por ela entrarão os justos.

De fato, são muitas as portas abertas: esta que é da justiça, é ela também em Cristo. Felizes todos os que por ela entraram e orientaram sua caminhada na santidade e na justiça, realizando tudo com tranquilidade. Se há um fiel, se há um notável na exposição da doutrina, um sábio no discernimento das palavras, um casto em sua vida, tanto mais humilde deve ser quanto parece ser maior e procure o que é útil a todos e não o próprio interesse”.

A solidificação e a construção da Unidade não é algo que apenas nos desafia, como poderemos refletir à luz da Carta.

Somos exortados a procurar o que for útil para todos e não o próprio interesse: Há ainda um “vírus” da discórdia que insiste em perpetuar entre nós. 

Não basta detectá-lo presente no outro; antes é preciso termos coragem de percebê-lo em cada um de nós, e, no antídoto para não morrer, remédio de imortalidade que é a Eucaristia, imunizá-lo ou mesmo extirpá-lo.

Seja na Igreja, ou em qualquer outro espaço, muitas vezes a voracidade pelo poder, ter e ser (tentações diabólicas, mãe de todas as demais que geram discórdias) corrói relações, destrói os laços de fraternidade.

Porém, se verdadeiramente enraizados no Amor de Cristo, saberemos dar largos passos nesta inadiável realização da unidade querida e rezada por Jesus em Sua Oração Sacerdotal (Jo 17).

Concluamos com este canto:

“Que seja um, é o que Eu quero mais.
Que seja um, é o que Eu quero mais.
O meu Amor é o que os torna capazes.
Sem medo algum, se amem mais.
Sem medo algum, se amem mais.
O meu Espírito é quem age e faz.”

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