quarta-feira, 12 de março de 2025

Sagrada Escritura: fonte de oração na vida comunitária (IIDTQC)

 


Sagrada Escritura: fonte de oração na vida comunitária

Assim lemos no Comentário do Missal Dominical, ao celebramos o segundo Domingo da Quaresma, quando refletimos sobre a Transfiguração do Senhor, e voz do Pai que nos acompanharia por todo o sempre: – “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que Ele diz!” (Lc 9,35):

“Não basta uma leitura pessoal; corremos o risco de pôr a Palavra de Deus a nosso serviço, de cair num estéril subjetivismo, de não permitir que a palavra ‘reviva’.

A leitura ‘comunitária’ faz com que a Palavra de Deus caminhe junto com a comunidade; enriquece-a continuamente, através da ação do Espírito, com novos significados e atualizações, que fazem penetrar melhor no Mistério do plano salvífico.

Ótima oportunidade para tal confronto comunitário é a preparação, em grupo, das leituras da liturgia dominical.” (1)

Mas é preciso este salto para a “dimensão comunitária”, pois a Sagrada Escritura é a história de um povo que se pôs a caminho na escuta e fidelidade ao Deus da Aliança, a nós revelado com a Encarnação de Jesus Cristo, e ao longo da história, pela ação do Espírito Santo.

Urge que fortaleçamos todos os espaços comunitários de oração, nos quais a Sagrada Escritura esteja sempre presente, iluminando e fortalecendo o discipulado, na necessária comunhão, participação e missão à Igreja confiada.

Fundamental que nos empenhemos na prática da Leitura Orante da Palavra Divina e seus passos (leitura, meditação, oração e contemplação) que culminará em ação iluminadora das sombras, obscuridades da existência humana, ou sua, por vezes, total escuridão.

 

(1)         Missal Dominical – Editora Paulus – p.223

 

Transfiguração do Senhor e a nossa participação na Ceia Eucarística (IIDTQC)

Transfiguração do Senhor e a nossa participação na Ceia Eucarística

No segundo Domingo da Quaresma (ano C), contemplemos Jesus transfigurado no Monte Tabor, e o Monte “...é um lugar de todo especial: demasiado rude ser habitação do homem, mas também demasiado terreno para ser a morada de Deus, é um meio-termo em que Deus e o homem se encontram, o homem com uma subida penosa, e Deus com uma descida humilde. Só quem aposta a sua vida n’Aquele que é fiel (Sl 32) pode chegar ao cume” (1).

Dirigindo-se da Galileia para Jerusalém, Jesus, com a Sua Transfiguração, concede aos discípulos uma antecipação da maravilhosa luz da Ressurreição que alcançará, mas passando, inevitavelmente, pelo Mistério da Paixão e Morte na Cruz.

Com a Transfiguração, o Senhor introduz gradualmente os discípulos (nas presenças de João, Pedro e Tiago) no Mistério do sofrimento, mas ao mesmo tempo da glória do Filho do Homem que é Ele próprio, Jesus.

Neste acontecimento, em que Jesus é envolvido numa grande luz, Ele Se revela como o novo Moisés e ali, no Monte Tabor,  um novo Sinai (onde Moisés recebeu a Tábula da Lei).

A Transfiguração é uma “...breve revelação da luz divina encarnada na opacidade da natureza humana, não é momento de autoexaltação, mas é dádiva feita aos discípulos chamados a serem, por sua vez, anunciadores.

É ingenuidade o desejo de reservar para si mesmo essa luz (v.4); não é felicidade da visão, mas a fadiga da ‘escuta’ é o que resta aos discípulos na sequela de Cristo.

Só Ele, Palavra de Deus, permanece quando o êxtase cessa e volta o temor da majestade pressentida (v. 6-8). E Jesus volta a descer, com os Seus discípulos, para cumprir uma caminhada dolorosa, através da qual, somente, a luz triunfará” (2)

Urge que escutemos a Palavra que Se fez Carne, Jesus:

"'Palavra’ única do Pai, e também única ‘tenda’, a única morada de Deus entre os homens, ‘Palavra’ dura também, que da doçura do monte, embora necessária para aliviar na Oração, nos volta a impelir para um caminho de serviço...

Chamados a seguir o Ressuscitado, também nós, como os Apóstolos, devemos compreender que a contemplação não é evasão da vida, nem condução de uma vida paralela: a sequela de Cristo reconduz-nos à aridez da nossa terra de serviço, embora não estejamos já sozinhos, porque Ele desce do monte conosco, e o nosso caminho é transfigurado porque é marcado pela experiência de Cristo...

O rosto transfigurado de Cristo está escondido no rosto desfigurado do irmão pobre ou enfermo, mas nós próprios somos chamados a demonstrar aos irmãos, através do nosso rosto ferido pela vida, a luz do Ressuscitado” (3).

A experiência vivida pelos discípulos na Transfiguração também podemos vivê-la cada vez que subimos à Montanha, celebramos a Eucaristia e sentimos a presença de Deus em nosso meio, nos alimentando com o Seu Filho, que Se faz Comida e Bebida, e nos fortalecemos com a presença do Espírito Santo.

Revigorados no Banquete Eucarístico, saímos com o Senhor da Montanha Sagrada, a Igreja, descemos à planície para sermos alegres e corajosas testemunhas do Ressuscitado, num vigoroso e autêntico testemunho da fé, redimensionados na esperança e fortalecidos na caridade, para que vivamos sagrados compromisso com a construção do Reino de Deus.

Nisto consiste a Transfiguração: subidas e descidas com o Senhor. Lá na Montanha, ouvir Sua Palavra; na planície, vivê-la.



(1) Lecionário Comentado - Volume Quaresma/Páscoa - Editora  Paulus - Lisboa  p. 94.
(2) Idem pp. 93-94
(3) Idem p. 95  

Quaresma: edifiquemos tendas de transfiguração (IIDTQC)

Quaresma: edifiquemos tendas de transfiguração

Senhor Jesus, contemplando Vossa Transfiguração no Monte Tabor, somos desinstalados e enviados em missão como discípulos missionários na planície, nos diversos espaços em que vivemos e nos relacionamos, e rostos tão desfigurados, com marcas da violência de incontáveis nomes, encontramos; edificando tendas para edificar e santificar a vida de Vossos filhos e filhas, nossos irmãos e irmãs.

Senhor Jesus, ainda que queiramos, não podemos fixar tendas no Monte Tabor, livrai-nos da tentação de evadirmos do mundo, sem jamais nos omitirmos em nossas responsabilidades de transformá-lo, construindo uma cultura de paz, com laços mais fraternos, e que esta paz seja fruto da justiça, sinal de um mundo novo e reconciliado.

Senhor Jesus, afastai-nos desta tentação de fixar tendas no Monte Tabor, que seria como uma pedra de tropeço no árduo testemunho e combate da fé, e assim fecharíamos os olhos ao Mistério Pascal; esvaziando-o de todo o sentido e conteúdo, porque não viveríamos a autenticidade da fidelidade e seguimento, com renúncias necessárias, carregando a nossa cruz quotidiana.

Senhor Jesus, iluminai-nos para a compreensão da efemeridade do resplendor da Transfiguração neste mundo, necessariamente efêmero, a fim de não desejarmos nos  instalar no “alto monte”, pois ainda não chegou este tempo,  nem para os cristãos nem para a Vossa Igreja que somos.

Senhor Jesus, conduzi-nos neste tempo da fé e da esperança sem esplendor. Com a certeza de que caminhais conosco, podemos nos apoiar firmemente, porque Vosso Pai, com o Vosso Espírito, é fiel e nunca falta às Suas promessas, assim como foi com Abraão, nosso pai na fé, pronto para o sacrifício de seu filho.

Senhor Jesus, ajudai-nos a viver este Tempo da Quaresma, tempo favorável de nossa Salvação, marcado por reconciliações convosco e com nosso próximo, vivendo os exercícios que a Igreja nos propõe (oração, jejum e esmola), a fim de que possamos celebrar, em breve, o transbordamento da alegria Pascal, quando a Igreja cantará, solenemente, o Aleluia!



Fonte de pesquisa: Missal Quotidiano, Dominical e Ferial – 2010 - Editora Paulus – Lisboa - p.329

Transfiguração do Senhor: coragem para o bom combate da fé (IIDTQC)

Transfiguração do Senhor: coragem para o bom combate da fé

No 2º Domingo da Quaresma, dando mais um passo no itinerário quaresmal, a Liturgia nos convida a refletir sobre a Transfiguração do Senhor.

Sejamos enriquecidos pelo Sermão do Bispo Anastásio, o Sinaíta (Séc. VII):

“Jesus manifestou a Seus discípulos este mistério no monte Tabor. Havia andado com eles, falando-lhes a respeito de Seu Reino e da segunda vinda na glória. Mas talvez não estivessem muito seguros daquilo que lhes anunciara sobre o Reino.

Para que tivessem firme convicção no íntimo do coração e, mediante as realidades presentes, cressem nas futuras, deu-lhes ver maravilhosamente a divina manifestação do monte Tabor, imagem prefigurada do Reino dos céus.

Foi como se dissesse: Para que a demora não faça nascer em vós a incredulidade, logo, agora mesmo, Eu vos digo, alguns dos que aqui estão não provarão a morte antes de verem o Filho do homem vindo na glória de Seu Pai (cf. Mt 16, 28).

Mostrando o Evangelista ser um só o poder de Cristo com Sua vontade, acrescentou: E seis dias depois, tomou Jesus consigo Pedro, Tiago e João e levou-os a um monte alto e afastado. E transfigurou-Se diante deles; seu rosto brilhou como o sol, as vestes se fizeram alvas como a neve. E eis que apareceram Moisés e Elias a falar com Ele (cf. Mt 17,1-3).

São estas as maravilhas da presente solenidade, é este o mistério de salvação para nós que agora se cumpriu no monte: ao mesmo tempo, congregam-nos agora a morte e a festa de Cristo. Para penetrarmos junto àqueles escolhidos dentre os discípulos, inspirados por Deus, na profundeza destes inefáveis e sagrados Mistérios, escutemos a voz divina que do alto, do cume da montanha, nos chama instantemente.

Para lá, cumpre nos apressarmos, ouso dizer, como Jesus, que agora nos céus é nosso chefe e precursor, com quem refulgiremos aos olhos espirituais – renovadas de certo modo as feições de nossa alma – conformados à Sua imagem; e à semelhança d’Ele, incessantemente transfigurados, feitos consortes da natureza divina e prontos para as alturas.

Para lá, corramos cheios de ardor e de alegria; entremos na nuvem misteriosa, semelhantes a Moisés e Elias ou Tiago e João. Sê tu também como Pedro, arrebatado pela divina visão e aparição, transfigurado por esta linda Transfiguração, erguido do mundo, separado da terra. Deixa a carne, abandona a criatura e converte-te para o Criador a quem Pedro, fora de si, diz: Senhor, é bom para nós estarmos aqui (Mt 17,4).

Sim, Pedro, verdadeiramente é bom para nós estarmos aqui com Jesus e aqui permanecermos pelos séculos. Que pode haver de mais delicioso, de mais profundo, de melhor do que estar com Deus, conformar-se a Ele, encontrar-se na luz?

De fato, cada um de nós, tendo Deus em si, transfigurado em Sua imagem divina, exclame jubiloso: É bom para nós estarmos aqui, onde tudo é luminoso, onde está o gáudio, a felicidade e a alegria. Onde no coração tudo é tranquilo, sereno e suave. Onde se vê a Cristo, Deus. Onde Ele junto com o Pai tem Sua morada e ao entrar, diz:

Hoje chegou a salvação para esta casa (Lc 19,9). Onde com Cristo estão os tesouros e se acumulam os bens eternos. Onde as primícias e figuras dos séculos futuros se desenham como em espelho”.

A experiência dos três Apóstolos (João, Pedro e Tiago) foi tão divina que levou Pedro a dizer: “É bom nós estarmos aqui, se queres, vou fazer três tendas...” (cf. Mt 17,1-9).

A meditação atenta do Sermão nos leva a esta Montanha Sagrada, e também podemos ter os mesmos sentimentos do Apóstolo: “É bom nós estarmos aqui...”.

O convite feito pelo Bispo é irrecusável e precisamos aceitar sem demora: “Para lá, corramos cheios de ardor e de alegria”.

Precisamos, como os Apóstolos, fazer a experiência da Montanha Sagrada, contemplar a glória da presença de Deus, em sua beleza e esplendor, para descermos à planície, onde somos chamados a viver nossa fé com coragem, dando razão de nossa esperança, sem jamais deixar apagar, em nosso coração, a inflamada e necessária chamada da caridade.

Somente nos colocando diante da presença do Senhor, contemplando Sua glória, ouvindo, acolhendo e vivendo a Sua Palavra é que nos tornaremos alegres discípulos missionários Seus.

Para lá, corramos sim, sem demora. Mas da mesma forma não podemos perder nenhum tempo para anunciar e testemunhar a Palavra do Divino Mestre.

Ponhamo-nos sempre a caminho, como sinal e presença d’Aquele que é o próprio Caminho, que nos conduz a Deus, pautando nossa vida pela Verdade do Evangelho, a Verdade do Senhor, que nos faz verdadeiramente livres.

Caminhemos libertos e iluminados por Ele, a Verdade Plena e Eterna, bebendo da inesgotável Divina Fonte de amor, vida, alegria e paz: Jesus.

Num mundo tão desfigurado, com tantos sinais de morte, é preciso que nos tornemos instrumentos de sua transfiguração, amando e servindo Aquele que Se transfigurou aos olhos dos discípulos, antecipando sinais da glória eterna, o desígnio que Deus tem para todos nós: esplendor de alegria, plenitude de vida. Amém!  

O necessário silêncio fecundo(IIDTQC)

O necessário silêncio fecundo

“Imerso no Amor para fazer emergir a vida...”

Viver o Batismo é graça e missão, e precisamos ter sempre a coragem e a abertura para a revisão e o revigoramento da nossa fé e fidelidade ao Senhor, configurados a Ele com renúncias necessárias para carregarmos a nossa cruz de cada dia rumo à Páscoa definitiva, pois se com Ele vivemos e morremos, com Ele também Ressuscitamos.

Retomando as palavras do Papa Bento XVI na Mensagem Quaresmal 2011, detenhamo-nos nesta afirmação: “A Transfiguração é o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus...”.  

Indubitavelmente, não são poucos os “boatos da vida quotidiana” que podem nos afastar dos fatos que clamam a nossa solicitude, na fidelidade ao Cristo Bom Pastor, no exercício de nosso ministério.

Convém ressaltar  que “boatos” não são meramente fofocas, como se possa pensar, mas ruídos que interferem na escuta dos clamores do rebanho, por Deus, confiado.

Por “boatos” também podemos entender a ditadura do relativismo que o Papa tanto denunciou, onde as verdades se tornam transitórias, valores se tornam relativos, esvaziando de sentido os princípios que deveriam nortear a existência da humanidade.

Também podem ser as propostas satânicas que nos desviam no Projeto Divino, na realização de nossa vocação, quer Presbíteros ou não. São as tentações que Jesus venceu no deserto: ter, ser, poder – abundância, prestígio e domínio, respectivamente.

Ceder a elas nos afastaria da graça de sermos instrumentos de Deus na construção do Reino, pois como bem disse o Bispo Santo Irineu (séc. I): “a nossa glória é perseverar e permanecer no serviço de Deus”.

Evidentemente, muitos outros “boatos” podem seduzir e enfraquecer a missão. Portanto, é sempre bom lembrar que somos anunciadores da Boa-Nova e não ouvintes e multiplicadores de “boatos” que esvaziam o existir, destruindo a vida em todos os níveis, de modo que não viveríamos a vocação como dom divino e resposta nossa a Deus.

Sem ouvidos a “boatos”, com distanciamentos necessários destes, façamos a imersão na presença de Deus. Quanto mais mergulharmos nos Mistérios de Deus, mais místicos o seremos, mais encarnada e densa de conteúdo será nossa espiritualidade no compromisso com os empobrecidos desfigurados pelo caminho.

A imersão no Amor Divino é diretamente proporcional à emersão que somos chamados a realizar com toda a comunidade.

Imersos no Amor, fazemos que surja uma nova Igreja, um Planeta mais bem cuidado e, consequentemente, mais amado.

Urge que nos coloquemos na presença de Deus, para que nosso coração seja configurado ao coração do Cristo  Bom Pastor, no cuidado do rebanho.

Todo o discípulo missionário precisa ser pessoa de imersão quotidiana e constante; em constante oração, no silêncio e na contemplação dos Mistérios Divinos que se manifestam na história.

Urge que a luz divina ilumine a caverna escura de nossa existência, enfim, um homem imerso neste mar de misericórdia e luz; somente assim poderá ajudar a comunidade a fazer e viver a mesma experiência e realidade.

Urge também que estejamos imersos no Mistério do Amor de Deus, pois só assim conseguiremos encontrar luz para os sombrios caminhos a serem trilhados como Igreja em permanente travessia do mar.

O cristão é alguém que a Deus encontrou na Pessoa de Jesus Cristo, por Ele vive uma paixão que se renova em cada instante de sua vida, deixando-se guiar pela luz do Santo Espírito.
  
Reflitamos:

- Como deve ser o discipulado, à luz da Transfiguração do Senhor?
- O que podemos compreender por “distanciar-se dos boatos da vida quotidiana”?

- O que é “imergir na presença de Deus”?

A comunidade, mais do que nunca, precisa de Presbíteros que sejam homens do deserto e do oásis revigorante e que sacia a sede de amor, vida e paz.

Presbíteros que sejam homens do céu e da terra, simultaneamente; da montanha e da planície, corajosamente; da imersão e da emersão, incansavelmente...

Numa palavra: homens itinerantes e Pascais, que sabem recolher-se no silêncio mais profundo para a voz de Deus ouvir, e com coragem e fidelidade ao mundo anunciar e testemunhar, conduzindo, animando o rebanho pela Igreja a ele confiado.

Transfiguração do Senhor: da tribulação à glória celestial (IIDTQC)

Transfiguração do Senhor: da tribulação à glória celestial

Sejamos enriquecidos com um parágrafo do Catecismo da Igreja Católica sobre a Transfiguração do Senhor.

No limiar da vida pública, o Batismo; no limiar da Páscoa, a transfiguração. Pelo Batismo de Jesus ‘foi declarado o Mistério da (nossa) primeira regeneração’ – o nosso Batismo; e a Transfiguração ‘est sacramentum secundae regenerationis – é o Sacramento da (nossa) segunda regeneração’ – a nossa própria ressurreição.

Desde agora, nós participamos na Ressurreição do Senhor pelo Espírito Santo que atua nos Sacramentos do Corpo de Cristo. A transfiguração dá-nos um antegozo da vinda gloriosa de Cristo, ‘que transfigurará o nosso corpo miserável para o conformar com o Seu corpo glorioso’ (Fl 3, 21). Mas lembra-nos também que temos de passar por muitas tribulações para entrar no Reino de Deus’ (At 14, 22)”. (1)

No mesmo parágrafo, cita Santo Agostinho, como que o Senhor falando a Pedro na montanha:

“‘Pedro ainda não tinha compreendido isso ao desejar viver com Cristo sobre a montanha. Ele reservou-te isto, Pedro, para depois da morte. Mas agora Ele mesmo diz: Desce para sofrer na terra, para servir na terra, para ser desprezado, crucificado na terra. A Vida desce para fazer-Se matar; o Pão desce para ter fome; o Caminho desce para cansar-Se da caminhada; a Fonte desce para ter sede; e tu recusas sofrer?’” (2)  

Nisto também consiste nossa caminhada quaresmal rumo à Páscoa do Senhor, como discípulos missionários que somos.

Não podemos fixarm moradas na montanha, mas, com coragem, descermos à planície do cotidiano, renovando fidelidade ao Senhor, Caminho, Verdade e Vida, carregando nossa cruz, até que um dia sejamos merecedores da eternidade. 

Por ora, há um mundo desfigurado, marcado pela fome, enfermidades, desesperança, insegurança, refugiados, aflitos, dependentes químicos, e quanto mais possamos dizer.

Há um mundo, nossa casa comum, que está sendo vilipendiado, destruído, por ambições desmedidas e cuidados não vivenciados.

Nossa casa comum está desfigurada, e transfigurá-la, torná-la mais habitável, é responsabilidade de todos nós, como nos exorta a Campanha da Fraternidade deste ano (2025) com o Tema: “Fraternidade e Ecologia Integral"; e o Lema: "Deus viu que tudo era  muito bom” (Gn 1,31.

É tempo de consolidarmos nossa fé, fazendo a mesma experiência que os discípulos fizeram no Monte Tabor, contemplando o Cristo Transfigurado, com credíveis testemunhas, Moisés e Elias, porque Ele, Jesus, é a plena realização da Lei e da profecia, nestes simbolizados.

Por ora, o combate, o antegozo das alegrias do Reino, até que possamos vivê-las plenamente, com toda intensidade.



(1) (2) Catecismo da Igreja Católica n.556 - Santo Agostinho – Sermão 78,6; PL 38,492-493.

Transfiguração do Senhor: Escutemos o Filho Amado (IIDTQC)

Transfiguração do Senhor: Escutemos o Filho Amado

O Tempo da Quaresma se constitui num tempo favorável para ouvirmos o Filho Amado, que se transfigura gloriosamente na montanha e nos envia em missão na árdua planície do cotidiano.

Somente contemplando e ouvindo o Filho Amado, somente acolhendo no mais profundo de nós o que Deus tem a nos dizer, e carregando nossa cruz na planície corajosamente, é que o Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor acontecerá em nossa vida.

Fiéis à voz do Filho Amado, vivenciando os exercícios quaresmais que pela Igreja nos são propostos (Oração, jejum e esmola), solidificamos uma caminhada de alegria, de fé e de muita esperança, onde cada um faz uma descoberta de si e, sobretudo, do amor de Deus, que se revela surpreendentemente muito maior do que o nosso coração, como nos falou o Apóstolo João (1Jo 3,20).

Revigorar a fé inspirado no exemplo dos Santos e Mártires de nossa Igreja; não podemos jamais olvidar de nossos sagrados compromissos do testemunho da fé viva e enraizada no chão fértil e ao mesmo tempo desafiador da realidade.

Ouvindo o Filho Amado, multipliquemos Orações, para que o Papa Francisco conduza a Igreja nesta longa travessia do mar agitado da história, com suas turbulências e provações. Que o Espírito do Senhor continue pousando sobre ele, para que, com Sabedoria e atento aos sinais dos tempos, sobretudo, neste difícil contexto de mudança de época, cuide do rebanho por Cristo a ele confiado, fiel em sua missão Evangelizadora.

Viver e Celebrar a Quaresma e seu ápice que é a  Semana Santa com todo ardor, com todo empenho e dedicação, para que, na madrugada da Ressurreição, irrompa a luz gloriosa do Ressuscitado e digamos com o Apóstolo Paulo:

Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova, o mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo” (2Cor 5,17), e cantaremos alegremente o grande Aleluia Pascal.  

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