quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Fecundemos nosso coração

                                                 

Fecundemos nosso coração
 
Reflexão à luz da Parábola do Semeador à luz da passagem do Evangelho (Mt 13,1-9; Mc 4,1-9; Lc 8.4-15), sobre a centralidade da Palavra de Deus em nossa vida. 
 
São palavras do Bispo e Doutor da Igreja, São João Crisóstomo (séc. V), que nos adverte para algo que é terrível e que pode acontecer com mais frequência que possamos pensar: o homem pode fechar-se à Palavra de Deus, recusá-la e, consequentemente, torná-la ineficaz, não produzindo, assim, os frutos maravilhosos que Deus espera e que poderiam ter sido multiplicados:
 
“É possível que a rocha se transforme em boa terra; que o caminho deixe de ser pisado e se converta também em terra fértil, e que os espinhos desapareçam e deixem crescer exuberantemente as sementes.
 
E se não se opera em todos essa transformação, não é, certamente, por culpa do semeador, mas daqueles que não querem mudar”. 
 
No mistério de acolhida da Palavra e no empenho de fazê-la brotar, multiplicar, quem na alma não deixa habitar o verme da preguiça e acomodação, por mais que tenha feito dirá que nada ainda fez, é o que nos leva a refletir São João da Cruz (séc. XVI):
 
“A alma que ama a Deus de verdade não deixa, por preguiça, de fazer o que pode´
 para encontrar o Filho de Deus, o Seu Amado.
E depois de ter feito tudo o que pode,
não fica satisfeita e pensa que não fez nada”.
 
Oportunas as palavras do padre Antonio Maria Zacaria  (séc. XVI): jamais, do Senhor, covardes e desertores o sejamos, em exortação a fim de que imitemos o Apóstolo Paulo:
 
“Nós que escolhemos um tão grande Apóstolo como guia e pai, e fazemos profissão de imitá-lo, esforcemo-nos para que a nossa vida seja expressão da sua doutrina e do seu exemplo. Pois não seria conveniente que, sob as ordens de tão insigne chefe, fôssemos soldados covardes e desertores, ou que sejam indignos os filhos de um tão ilustre pai.”
 
E Padre Antônio Vieira (séc.XVII) sobre esta passagem do Evangelho afirmava que a Palavra pode não dar fruto, mas dará sempre efeito: efeito de Salvação ou efeito de condenação!
 
É a mais pura e incontestável verdade, ninguém ficará neutro diante da Palavra do Senhor que escutou, ou a acolhe, dá fruto nela e acolhe a salvação, ou a rejeita, para ela se fecha e por causa dela se perde, lamentavelmente.
 
De fato, ser filho de Deus, discípulo missionário não é fugir dos confrontos, conflitos, sofrimentos e perseguição, e para tanto, é preciso que Deus nos conceda a maturidade para suportar as dores do parto, pois nisto consiste a vida no Espírito. 
 
Assim é o ser cristão: viver em tensão para o futuro da humanidade e do universo em Deus. A natureza e a humanidade estão envolvidas neste processo de dar à luz o mundo novo. Podemos deste processo, audazes, corajosos protagonistas sermos, ou não.
 
Reflitamos:
 
Como acolhemos a semente da Palavra Divina?
Ao cair sobre o chão do nosso coração, que tipo de terra a Palavra encontra?
 
Estamos no tempo da acolhida e fecundação da Palavra, para que frutos produzamos, que outros comam, ainda que não vejamos os frutos e que deles não possamos saborear. 


A centralidade e fecundidade da Palavra Divina

                                                         

A centralidade e fecundidade da Palavra Divina

Na quarta-feira da 3ª Semana do Tempo Comum, a Liturgia nos convida a refletir sobre a importância e a centralidade da Palavra de Deus na vida daqueles que creem à luz da passagem do Evangelho de Marcos (Mc 4,1-20).

No Antigo Testamento, o Profeta Isaías nos apresenta um pequeno trecho do “Livro da Consolação” (Is 55,10-11).

Nesta retrata a fase final do exílio (anos 550-540 a.C.), quando o Povo de Deus encontra-se farto de belas palavras e promessas de libertação, que tardam em se realizar, e com isto a impaciência, a dúvida e o ceticismo enfraquecem a resistência dos exilados.

O Profeta, para evidenciar a eficácia da Palavra de Deus, utiliza o exemplo da chuva e da neve que, vindas do céu, tornam fecunda a terra, multiplicando a vida nos campos.

Uma imagem muito sugestiva, considerando que os judeus exilados na Babilônia devem se lembrar da chuva que cai no norte de Israel e da neve no monte Hermon. A água alimenta o rio Jordão, correndo por todo Israel, e por onde passa gera vida e fecundidade.

A mensagem que se comunica é de que a Palavra de Deus não falha, pois indica sempre caminhos de vida plena, verdadeira, expressa na liberdade e paz sem fim, não necessariamente segundo a lógica do tempo dos homens, dos seus desejos, projetos, interesses e critérios.

É necessário que se aprenda e respeite o ritmo e o tempo de Deus. E também, a eficácia da Palavra divina não dispensa compromissos e indica os caminhos que devem ser percorridos, renovando o ânimo para a intervenção no mundo. A Palavra divina não adormece a ação humana, mas impele para a transformação e renovação do mundo.

No Novo Testamento, o Apóstolo Paulo, por sua vez, exorta-nos para vivermos a vida segundo o Espírito (Rm 8,18-23), que consiste em deixar-se conduzir pela Palavra de Deus, e isto só é possível quando se acolhe a salvação como dom de Deus, que nos é alcançada por meio de Jesus Cristo, na ação do Espírito, que é derramado sobre todos os que aderem ao Seu Projeto e fazem parte de Sua comunidade.

A vida segundo o espírito consiste também em viver atentamente na escuta da Palavra de Deus, em plena obediência ao Projeto que Ele tem para nós, com renúncia ao egoísmo, aos interesses mesquinhos, ao comodismo, ao orgulho. É um caminho de doação da própria vida a Deus e aos outros.

A vida segundo o Espírito implica em maturidade para viver os sofrimentos, as renúncias, as dificuldades, que nada representam se comparadas com a felicidade sem fim que aqueles que creem encontrarão no fim do caminho.

A vida segundo a carne é, por sua vez, marcada por uma vida onde impera o egoísmo, o orgulho e a autossuficiência, que conduz ao pecado, à morte, à infelicidade total.

Viver consiste em saber fazer escolhas: viver segundo a carne, ou viver segundo o Espírito. Sendo pelo Espírito, pautar a vida pela Palavra divina e por ela ser conduzido.

Voltando à passagem do Evangelho em que nos é apresentada a Parábola do semeador, somos convidados a refletir sobre o modo como acolhemos a Palavra de Deus, e como comunicamos a Boa-Nova do Reino, que jamais pode ser interrompida, e que aos poucos vai revelando seu esplendor e fecundidade, a vida que Deus quer para a humanidade.

A linguagem em forma de Parábolas mexe com os ouvintes, arma controvérsia, e é um método pedagógico de reflexão em busca da verdade.

Sejamos fortalecidos em nosso itinerário de fé, trilhando caminhos, ainda que difíceis e desafiadores, mas sempre iluminados pela Palavra Divina proclamada, acolhida, meditada, partilhada, celebrada e testemunhada.

Empenhemo-nos para que a Palavra caia num chão fértil, que deve ser nosso coração, para que produza os frutos por Deus esperados: justiça, paz, amor, alegria, felicidade...

A Palavra de Deus é eficaz; é preciso que tornemos nosso coração mais fecundo, em séria e atenta escuta e vivência desta Palavra.

Também, que nutridos pela força da Eucaristia, inebriados pelo Vinho Novo, a nós oferecidos no Cálice da Salvação, sejamos cada vez mais comprometidos com a mesa de nossos irmãos no cotidiano, até que sejamos merecedores de ser partícipes do Banquete Eterno, na glória da eternidade. Amém. 


Fonte de pesquisa: www.Dehonianos.org/portal

A misericórdia do Senhor é para sempre

                                                               

                        A misericórdia do Senhor é para sempre

“E se as misericórdias de Deus
são de sempre e para sempre, também eu
cantarei eternamente as misericórdias do Senhor”

Sejamos enriquecidos pelo Sermão do Abade São Bernardo (Séc. XII) sobre o Livro do Cântico dos Cântidos, em que ele nos leva à contemplação do Amor redentor do Senhor por nós pecadores, com uma mensagem que nos faz perceber que onde abunda o delito, o pecado, superabunda a graça divina.

“Onde encontrar repouso tranquilo e firme segurança para os fracos, a não ser nas Chagas do Salvador? Ali permaneço tanto mais seguro, quanto mais poderoso é Ele para salvar.

O mundo agita, o corpo dificulta, o demônio arma ciladas; não caio, porque estou fundado sobre rocha firme. Pequei e pequei muito; a consciência abala-se, mas não se perturba, pois me lembro das Chagas do Senhor.

Ele foi ferido por causa de nossas iniquidades. Que pecado tão mortal que a morte de Cristo não apague?

Se vier à mente tão poderoso e eficaz remédio, não haverá mal que possa aterrorizar.

Por isso, muito errou quem disse: Tão grande é o meu pecado que não merece perdão.

Mostra com isso não ser membro de Cristo nem lhe interessar o mérito de Cristo, por apoiar-se no próprio merecimento, declarar coisa sua o que pertence a outro, como acontece com um membro em relação à cabeça.

Quanto a mim, vou buscar o que me falta confiadamente nas entranhas do Senhor, tão cheias de misericórdia, que não lhe faltam fendas por onde se derrame.

Cravaram Suas mãos e Seus pés, traspassaram Seu lado; por estas fendas é-me permitido sugar o mel da pedra, o óleo do rochedo duríssimo, quero dizer, provar e ver quão suave é o Senhor.

Ele alimentava pensamentos de paz e eu não sabia. Pois quem conheceu o pensamento do Senhor? ou quem foi seu conselheiro?

Mas o cravo que penetra tornou-se-me a chave que abre a fim de ver a vontade do Senhor.

Que verei através das fendas? Clama o cravo, clama a chaga que Deus está em Cristo reconciliando o mundo consigo. A espada atravessou sua alma e tocou seu coração; é-lhe agora impossível deixar de compadecer-se de minhas misérias.

Abre-se o íntimo do Coração pelas Chagas do corpo, abre-se o magno Sacramento da piedade, abrem-se as entranhas de misericórdia de nosso Deus que induziram o Oriente, vindo do alto a visitar-nos.

Qual o íntimo que se revela pelas Chagas? Como poderia brilhar de modo mais claro do que em Vossas Chagas, que Vós, Senhor, sois suave e manso e de imensa misericórdia?

Maior compaixão não há do que entregar Sua vida por réus de morte e condenados. Em vista disso, meu mérito é a misericórdia do Senhor. Nunca me faltam méritos enquanto não lhe faltar a comiseração.

Se forem numerosas as misericórdias do Senhor, eu muitos méritos terei. Que acontecerá se me torno bem consciente dos meus muitos pecados? Onde abundou o delito, superabundou a graça.

E se as misericórdias de Deus são de sempre e para sempre, também eu cantarei eternamente as misericórdias do Senhor. Acaso é minha a justiça?

Senhor, lembrar-me-ei unicamente de Vossa justiça. Vossa, sim, e minha; porque Vós Vos fizestes para mim justiça de Deus.”

Contemplemos as Santas Chagas dolorosas do Senhor, que são também as Suas Santas chagas gloriosas, da qual nascemos e nos alimentamos. 

A água cristalina jorrada do Coração transpassado do Senhor, remete-nos ao Batismo, e o Sangue, por usa vez, remete-nos ao Sangue que nos lavou e nos redimiu, e que no Banquete Eucarístico, quando o Pão e o Vinho recebemos, não comemos pão nem bebemos vinho, mas comemos e bebemos do Cálice do Senhor, verdadeira Comida, verdadeira Bebida. 

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Decálogo do amor fraterno

Decálogo do amor fraterno

Retomemos a passagem da Carta de Paulo aos Romanos (Rm 12,9-12):

“O amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. Que o amor fraterno vos una uns aos outros com terna afeição, prevenindo-vos com atenções recíprocas. Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor, alegres por causa da esperança, fortes nas tribulações, perseverantes na oração”.

Temos um "pequeno decálogo" a ser vivido no testemunho de nossa fé e adesão ao Senhor, sobretudo para nós, Seus discípulos missionários:

1.            Viver um amor sincero;
2.           Detestar o mal, apegando-se ao bem;
3.           Viver o amor fraterno, que nos une aos outros com terna afeição;
4.           Cuidar dos relacionamentos com atenções recíprocas;
5.           Ser zeloso e diligente;
6.           Ser fervoroso de espírito;
7.           Servir sempre ao Senhor;
8.           Ser alegre por causa da esperança;
9.           Forte nas tribulações;
10.        Perseverante na oração.

Peçamos a Deus a presença e ação do Espírito, para nos ajudar a pôr em prática este pequeno decálogo, fortalecendo os vínculos fraternos em nossas comunidades, e em todos os lugares, dando razão de nossa esperança, numa fé íntegra e esforçada caridade.

Oremos:

“Deus eterno e onipotente, que reunis os Vossos fiéis dispersos e os conservais na unidade, olhai com bondade para todo o Povo de Cristo, para que vivam unidos pela integridade da fé e pelo vínculo da caridade todos aqueles que foram consagrados pelo mesmo Batismo”. (1)


PS: Lecionário Comentado – Volume Quaresma/Páscoa – Editora Paulus – 2011 – p.638

Em poucas palavras...

 


Jesus: dom total de Si na liberdade e no amor

"A vontade do Pai jamais foi a morte do Seu Filho. Tal atitude seria própria de um Deus sanguinário, que só se aplacaria com o sangue de um ente querido...

Em Jesus não há dissociação entre rito e vida; sua morte é sacrifício espiritual, porque é dom total de si na liberdade e no amor.” (1)

 

 

(1)               Missal Cotidiano – Editora Paulus – passagem da Carta aos Hebreus (Hb10,-10) – pág, 680

Em poucas palavras...

                                                


Os sete Sacramentos

“Os sacramentos da nova Lei foram instituídos por Cristo e são em número de sete, a saber: o Baptismo, a Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o Matrimônio.

Os sete sacramentos tocam todas as etapas e momentos importantes da vida do cristão: outorgam nascimento e crescimento, cura e missão à vida de fé dos cristãos. 

Há aqui uma certa semelhança entre as etapas da vida natural e as da vida espiritual (São Tomás de Aquino).” (1)

 

 

(1) Catecismo da Igreja Católica - parágrafo n. 1210

Em poucas palavras...

 


Jesus fala com autoridade

“No meio de tantas palavras que tendem para iludir e seduzir, que prometem paraísos fáceis e imediatos, surge uma Palavra que promete e que exige ao mesmo tempo paciência e fadiga, sem fáceis alterações. A Palavra de Deus tem de parecer revestida de uma outra ‘exousia’!”  (1)

 

 

(1) Lecionário Comentado - Volume I - Tempo Comum - Paulus - Lisboa - pag.166

Passagem do Evangelho de Marcos (Mc 1,21-28).

 

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG