À luz das passagens dos
Atos dos Apóstolos (At 6,8-15;7,51-8,1a), reflitamos sobre o martírio do
diácono Santo Estêvão, a quem a Sagrada Escritura chama de "homem cheio de fé e do Espírito
Santo".
Chamado de protomártir
por ter sido o primeiro a derramar seu sangue em testemunho da fé em Jesus
Cristo.
Seu nome em grego
significa "coroa", e evoca a ideia de martírio, porque nos séculos a
seguir a coroa foi símbolo do martírio. Sua paixão é de fundamental importância
por não ter nada de fabuloso ou lendário.
Os Santos Padres tecem
grandes elogios a Santo Estêvão, pondo em relevo suas virtudes: pureza, zelo
apostólico, firmeza e constância, grande amor ao próximo, verdadeiramente
heroico, rezar pelos próprios assassinos.
Sua Oração com certeza mereceu a conversão de São Paulo, pois, como disse Santo
Agostinho, "Se Estêvão não
tivesse rezado, a Igreja não teria o grande São Paulo!", conclusão que
veremos também em um dos Sermões do Bispo São Fulgêncio de Ruspe
(Séc. VI).
Sejamos enriquecidos por este Sermão, rezado
pela Igreja, no dia seguinte à Festa do Natal, quando celebramos sua Festa (26
de dezembro).
“Ontem, celebrávamos o nascimento temporal de nosso Rei eterno;
hoje celebramos o martírio triunfal do seu soldado.
Ontem o
nosso Rei, revestido de nossa carne e saindo da morada de um
seio virginal, dignou-Se visitar o mundo; hoje o soldado, deixando a tenda
de seu corpo, parte vitorioso para o céu.
O nosso
Rei, o Altíssimo, veio por nós na humildade, mas não pôde vir de mãos
vazias. Trouxe para Seus soldados um grande dom, que não apenas
os enriqueceu imensamente, mas deu-lhes uma força invencível no combate:
trouxe o dom da caridade que leva os homens à comunhão com Deus.
Ao repartir
tão liberalmente o que trouxera, nem por isso ficou mais
pobre: enriquecendo do modo admirável a pobreza dos Seus fiéis, Ele
conservou a plenitude dos Seus tesouros inesgotáveis.
Assim, a
caridade que fez Cristo descer do céu à terra, elevou Estêvão da terra ao
céu. A caridade de que o Rei dera o exemplo logo refulgiu no soldado.
Estêvão,
para alcançar a coroa que seu nome significa, tinha por arma a caridade e
com ela vencia em toda parte. Por amor a Deus não recuou perante a
hostilidade dos judeus, por amor ao próximo intercedeu por aqueles que o
apedrejavam.
Por esta
caridade, repreendia os que estavam no erro para que se emendassem, por
caridade orava pelos que o apedrejavam para que não fossem punidos.
Fortificado
pela caridade, venceu Saulo, enfurecido e cruel, e mereceu ter como
companheiro no céu aquele que tivera como perseguidor na terra.
Sua santa e incansável caridade queria conquistar pela Oração, a quem não
pudera converter pelas admoestações.
E agora
Paulo se alegra com Estêvão, com Estêvão frui da glória de Cristo, com
Estêvão exulta, com Estêvão reina. Aonde Estêvão chegou primeiro, martirizado
pelas pedras de Paulo, chegou depois Paulo, ajudado pelas Orações de
Estevão.
É esta
a verdadeira vida, meus irmãos, em que Paulo não se envergonha
mais da morte de Estêvão, mas Estevão se alegra pela companhia de
Paulo, porque em ambos triunfa a caridade. Em Estêvão, a caridade venceu a
crueldade dos perseguidores, em Paulo, cobriu uma multidão de pecados; em
ambos, a caridade mereceu a posse do Reino dos céus.
A caridade
é a fonte e origem de todos os bens, é a mais poderosa defesa, o caminho
que conduz ao céu. Quem caminha na caridade não pode errar nem
temer. Ela dirige, protege, leva a bom termo.
Portanto,
meus irmãos, já que o Cristo nos deu a escada da caridade pela qual todo
cristão pode subir ao céu, conservai fielmente a caridade verdadeira,
exercitai-a uns para com os outros e, subindo por ela, progredi sempre mais no
caminho da perfeição.”
Somos convidados a
aprender com os Santos e mártires, que deram corajoso testemunho da fé. Santo
Estêvão é, por tudo que se disse, um exemplo para que cresçamos em maior
fidelidade ao Senhor.
Talvez não tenhamos que
viver semelhante martírio, mas cada um em sua própria história pode também
desenvolver virtudes tão invejáveis e desejáveis.
Sejamos como Estêvão,
homens e mulheres cheios de fé e do Espírito Santo no testemunho do
Ressuscitado, em incondicional amor ao Pai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário