segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Mensagem para o 53º Dia Mundial da Paz – (Papa Francisco) (2020)


Mensagem para o 53º Dia Mundial da Paz – (Síntese)

“A paz como caminho de esperança: diálogo,
reconciliação e conversão ecológica”

A Mensagem para o 53º Dia Mundial da Paz do Papa Francisco traz como tema – “A paz como caminho de esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica”.

Inicialmente, fala-nos da paz como caminho de esperança face aos obstáculos e provações, porque ela é um bem precioso e o objeto da esperança de toda a humanidade.

A esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dando asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem ser intransponíveis:

“A nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis. Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências... Inúmeras vítimas inocentes carregam sobre si o tormento da humilhação e da exclusão, do luto e da injustiça, se não mesmo os traumas resultantes da opressão sistemática contra o seu povo e os seus entes queridos”.

Deste modo, o Papa nos fala da guerra como a revelação de um “fratricídio”, que destrói o próprio projeto de fraternidade, inscrito na vocação da família humana.

Começa pelo fato de não se suportar a diversidade do outro,  que fomenta o desejo de posse e a vontade de domínio:

Nasce, no coração do homem, a partir do egoísmo e do orgulho, do ódio que induz a destruir, a dar uma imagem negativa do outro, a excluí-lo e cancelá-lo.”

Nutre-se com a perversão das relações, com as ambições hegemônicas, os abusos de poder, com o medo do outro e a diferença vista como obstáculo; e, simultaneamente, alimenta tudo isso.

Alerta-nos para o fato de que “...não podemos pretender manter a estabilidade no mundo através do medo da aniquilação, num equilíbrio muito instável, pendente sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da indiferença, onde se tomam decisões socioeconômicas que abrem a estrada para os dramas do descarte do homem e da criação, em vez de nos guardarmos uns aos outros”.

Apresenta algumas questões essenciais na procura de uma fraternidade real, em que se concretize o desejo de paz, profundamente inscrito no coração da humanidade:

-  Como construir um caminho de paz e mútuo reconhecimento?
-  Como romper a lógica morbosa da ameaça e do medo?
-  Como quebrar a dinâmica de desconfiança atualmente prevalecente?

Na segunda parte, reflete sobre a paz e o caminho da escuta  baseado na “memória, solidariedade e fraternidade”.

Referindo-se aos sobreviventes aos bombardeamentos atômicos de Hiroxima e Nagasáqui – denominados os hibakusha, o horror que aconteceu em agosto de 1945, afirma: “Não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno”.

Deste modo, é imprescindível a memória, como horizonte da esperança, devendo ser preservada – “não apenas para evitar que se voltem a cometer os mesmos erros ou se reproponham os esquemas ilusórios do passado, mas também para que a memória, fruto da experiência, constitua a raiz e sugira a vereda para as opções de paz presentes e futuras”.

Multiplicar pequenos gestos de solidariedade, pois o mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações, pois “a paz é uma construção que deve estar constantemente a ser edificada, um caminho que percorremos juntos procurando sempre o bem comum e comprometendo-nos a manter a palavra dada e a respeitar o direito...”, num empenho que se prolonga no tempo.

Assinala a missão da Igreja neste processo, participando plenamente na busca de uma ordem justa, continuando a servir o bem comum e a alimentar a esperança da paz, através da transmissão dos valores cristãos, do ensinamento moral e das obras sociais e educacionais.

No terceiro momento, reflete sobre a paz e o caminho de reconciliação na comunhão fraterna.

Tendo como inspiração a Bíblia, particularmente através da palavra dos profetas, que chama as consciências e os povos à aliança de Deus com a humanidade, apontando o caminho do “respeito” imprescindível para que se rompa a espiral da vingança, empreendendo o caminho da esperança.

Citando a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 18,21-22), em que narra o diálogo entre Pedro e Jesus: “Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”, fala nos deste caminho de reconciliação, que nos convida a encontrar, no mais fundo do nosso coração, a força do perdão e a capacidade de nos reconhecermos como irmãos e irmãs.

Este aprendizado do perdão aumenta a nossa capacidade de nos tornarmos mulheres e homens de paz, afirma o Papa.

É preciso que se compreenda esta paz em todas as dimensões da vida: na esfera social, no campo político e econômico – “nunca haverá paz verdadeira, se não formos capazes de construir um sistema econômico mais justo”.

Em seguida, nos fala da paz, e o caminho de conversão ecológica, ressoando aqui a Encíclica “Laudato Si” Vendo as consequências da nossa hostilidade contra os outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais – considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro de hoje, sem respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza –, precisamos duma conversão ecológica”.

Menciona o recente Sínodo sobre a Amazônia, que nos impele a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças.

O caminho de reconciliação inclui também escuta e contemplação do mundo que nos foi dado por Deus, para fazermos dele a nossa casa comum – De modo particular brotam daqui motivações profundas e um novo modo de habitar na casa comum, de convivermos uns e outros com as próprias diversidades, de celebrar e respeitar a vida recebida e partilhada, de nos preocuparmos com condições e modelos de sociedade que favoreçam o desabrochar e a permanência da vida no futuro, de desenvolver o bem comum de toda a família humana”.

Esta conversão, por sua vez, “... deve ser entendida de maneira integral, como uma transformação das relações que mantemos com as nossas irmãs e irmãos, com os outros seres vivos, com a criação na sua riquíssima variedade, com o Criador que é origem de toda a vida. Para o cristão, uma tal conversão exige ‘deixar emergir, nas relações com o mundo que o rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus’.

Na última parte da Mensagem, afirma que a paz deve ser esperada, e que o caminho da reconciliação requer paciência e confiança.

É preciso acreditar na possibilidade da paz, e crer que o outro tem a mesma necessidade de paz que nós, e nisto, pode-nos inspirar o amor de Deus por cada um de nós, amor libertador, ilimitado, gratuito, incansável”.

Sendo o medo, frequentemente, fonte de conflito, é importante ir além dos nossos temores humanos, reconhecendo-nos filhos necessitados diante d’Aquele que nos ama e espera por nós, como o Pai do filho pródigo (cf. Lc 15, 11-24).

Favorecer a cultura do encontro entre irmãos e irmãs rompe com a cultura da ameaça – “Torna cada encontro uma possibilidade e um dom do amor generoso de Deus. Faz-nos de guia para ultrapassarmos os limites dos nossos horizontes estreitos, procurando sempre viver a fraternidade universal, como filhos do único Pai celeste”.

Como discípulos de Cristo, somos apoiados pelo Sacramento da Reconciliação, no qual temos a remissão de nossos pecados, e assim devemos depor toda a violência nos pensamentos, nas palavras e nas obras quer para com o próximo quer para com a criação (Cl 1,20):

“A graça de Deus Pai oferece-se como amor sem condições. Recebido o Seu perdão, em Cristo, podemos colocar-nos a caminho para ir oferecê-lo aos homens e mulheres do nosso tempo. Dia após dia, o Espírito Santo sugere-nos atitudes e palavras para nos tornarmos artesãos de justiça e de paz”.

Finaliza concedendo-nos a bênção de Deus, e invoca o acompanhamento e apoio de Maria, a Mãe do Príncipe da Paz e Mãe de todos os povos da terra, passo a passo, no caminho da reconciliação, a fim de que toda pessoa que venha a este mundo possa conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz em si.


PS: Se desejar, leia a mensagem na integra: 

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