sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Há lágrimas e lágrimas…

Há lágrimas e lágrimas…

Assim começa a matéria “Cientistas tentam decifrar o complexo caminho das lágrimas”, do The New York Times, na Folha de São Paulo de 16 de fevereiro de 2009, de Benedict Carey:

“Elas, as lágrimas, são consideradas um alívio, um tônico psicológico e, para muitos a visão de algo mais profundo: A linguagem gestual do coração, a transpiração emocional vinda do poço de uma humanidade comum. As lágrimas lubrificam o Amor e as canções de Amor, os casamentos e os funerais, os rituais públicos e a dor privada e talvez nenhum estudo científico possa, algum dia, capturar todos os seus muitos significados…”

Não tenho a pretensão de comentar a matéria, que acredito muito interessante, apenas cito o início que me levou a refletir no efeito catártico, de purificação que a lágrima pode realizar.
Os diversos sentidos que uma lágrima pode ter...
Os inúmeros conteúdos que ela carrega em si.

Lágrima dos olhos daquele que nasce e daqueles que acolhem a nova vida. Qual a diferença que há entre a lágrima da criança, da mãe, e a lágrima do pai?
Lágrimas de um nascimento, lágrimas de uma morte…

Lágrimas que vertem ao receber trágica notícia, lágrimas que abundam ao acolher uma noticia portadora de alegria.
Qual a diferença? Muita! Mas são sempre lágrimas.
Lágrimas de uma derrota, lágrimas de uma vitória.

Lágrimas de uma partida, lágrimas de uma chegada.
Lágrimas por ter medo de enfrentá-las, lágrimas pelas dificuldades superadas.

Lágrimas de uma amizade partilhada, lágrimas de uma amizade perdida. Sempre lágrimas de matizes diferenciados.
Lágrimas por uma derrota experimentada, lágrimas por uma vitória alcançada.

Lágrimas são sempre lágrimas. O importante é saber captar seu conteúdo, sua mensagem. O importante é saber compartilhá-las.

No Evangelho há uma passagem comovente:
Jesus vai ver Seu amigo Lázaro e o encontra morto, enterrado há quatro dias, sem esperança alguma.
Numa página inesquecível diz textualmente que Jesus ficou comovido e chorou…
Lágrimas de Jesus: Lágrimas do Homem, lágrimas de Deus.
Lágrimas do amigo da humanidade decaída e mergulhada no sono de morte.

É maravilhoso contemplar o homem Jesus que chora...
Que abre, sobretudo, para nós, a possibilidade do choro. Alguns nos disseram que homem não chora, e alguns de nós acreditamos e por isto carregamos este peso.

Lágrimas são mais que uma produção, elas são, antes de tudo, uma expressão! Ao verterem, escorrerem, levam consigo um grito, um clamor, uma súplica, uma resposta, uma expressão de finitude, limitação, solidariedade, esperança e Ressurreição...

Dorme-se com lágrimas nos olhos, acorda-se com esperança no coração; acorda-se às vezes com lágrimas nos olhos, mas a noite pode-se dormir com outras lágrimas. As lágrimas por ter alcançado a resposta, buscado e encontrado a superação.

Deixemos as lágrimas falarem…
Aprendamos sua linguagem.
Quem disse que as lágrimas não falam?
E como falam!
Sua ausência também fala. Entender a linguagem de sua ausência talvez seja mais difícil, mas é possível captá-la, compreendê-la.

Lágrimas são fragmentos de momentos que não passam em mim.
Lágrimas como experiência de humanização, que cala fundo.

Lágrimas silenciosas, reveladoras de desespero profundo.
Lágrimas de amor que ama, mesmo no desencanto do desamor, ou do amor não correspondido...

Lágrimas de coração machucado podem regar sementes de esperança e germinar um mundo novo.
Lágrimas de um coração que pulsa feliz, caindo abundantemente, também regam e eternizam sementes de momentos felizes a florescerem num jardim do amanhã não distante.

Lágrimas entre sorrisos de dor ou de alegria.
Lágrimas que brotam e saem do coração, como transbordamento da alma, que aliviam e acalmam.

Lágrimas lembram nossa meta de Amor, num misto de metade dor, metade alegria, em perfeita harmonia.
Lágrimas sempre  presentes em todas as estações da vida: secadas pelo calor do verão, congeladas às vezes pelo frio do inverno, teimosamente cadentes como um anúncio de outono, mas apontando a beleza e o perfume da primavera.

Ó  matéria prima das lágrimas!
Um olhar que transcenda a lágrima nos permitirá compreender a fonte de sua existência, muitas vezes feitas de sonhos ou  pesadelos, alegrias ou tristezas, angústias ou consolo, desespero ou  esperança, ilusões ou realidade, bondade ou iniquidade, de morte ou vida, de ódio ou de amor, transitoriedade ou eternidade…

Ó lágrima!
Que ao verter seja-nos devolvida a serenidade no rosto; a pureza e ação de graças nos lábios e no coração a alegria! 

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