sábado, 27 de dezembro de 2025

Que a família seja um santuário da vida!

                                           

Que a família seja um santuário da vida!

Quantos problemas enfrentam as famílias em cada tempo, sobretudo no tempo presente! Falar da família, investir em sua santificação nunca será demais. Por mais que invistamos na solidificação e santificação da família ainda será pouco.

Sejamos enriquecidos pela reflexão da Constituição Pastoral “Gaudium et spes”  do Concílio Vaticano II (1962-1965) sobre a Santidade do Matrimônio para uma iluminada e fecunda presença da Igreja  no mundo de hoje.

“O homem e a mulher, que pelo pacto conjugal já não são dois, mas uma só carne (Mt 19,6), prestam-se mutuamente serviço e auxílio, experimentam e realizam cada dia mais plenamente o senso de sua unidade pela união íntima das pessoas e das atividades.

Essa união íntima, doação recíproca de duas pessoas, bem como o bem dos filhos exigem a perfeita fidelidade dos cônjuges e sua indissolúvel unidade.

O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino. É guiado e enriquecido pelo poder redentor de Cristo e pela ação salvífica da Igreja, para que os esposos sejam conduzidos eficazmente a Deus e ajudados e confortados na sublime missão de pai e mãe.

Por isso os esposos cristãos são robustecidos – e como que consagrados – por um Sacramento especial para os deveres e dignidades de seu encargo.

Exercendo o dever conjugal e familiar em virtude desse Sacramento, imbuídos do Espírito de Cristo, que lhes impregna toda a vida com a fé, a esperança e a caridade, aproximam-se cada vez mais da própria perfeição e mútua santificação e, assim unidos, contribuem para a glorificação de Deus.

Em consequência, tendo à frente os próprios pais com o exemplo e a Oração familiar, os filhos e todos os que convivem no círculo da família encontrarão mais facilmente o caminho de humanidade, salvação e santidade.

Mas os cônjuges, providos com a dignidade e o dever da paternidade e maternidade, cumprirão diligentemente o ofício da educação, sobretudo religiosa, que, em primeiro lugar, complete a eles.

Como membros vivos da família, ao seu modo colaboram os filhos para a santificação dos pais. Retribuirão, com efeito, os benefícios dos pais de alma agradecida, com piedade e confiança e os assistirão nas adversidades e na solidão da velhice como convém a filhos.

Seja honrada por todos a viuvez, assumida com fortaleza de ânimo em continuidade com a vocação conjugal. Assim a família comunicará generosamente suas riquezas espirituais também às outras famílias.

E a família cristã patenteará a todos a presença viva do Salvador no mundo e a autêntica natureza da Igreja pelo amor dos cônjuges, pela fecundidade generosa, pela unidade e fidelidade, e pela amável cooperação de todos os membros, porque se origina do matrimônio, imagem e participação no pacto de amor entre Cristo e a Igreja”.

Neste pequeno texto quantas coisas evidenciam aos nossos olhos como valores sagrados da família e para a Igreja, na fidelidade ao Senhor:

- A unidade do matrimônio;
- A indissolubilidade;
- O amor que faz ambos tornarem-se uma só carne;
- A fidelidade entre os cônjuges, com os cônjuges;
- A fidelidade na missão de primeiros educadores na fé dos filhos, por Deus, confiados; missão assumida com carinho e incansável dedicação...

Ciente das dificuldades que as famílias enfrentam, bem como dos ventos contrários que contra ela sopram, uno-me àqueles que não cederam às proclamações de sua derrocada e falibilidade;  àqueles que acreditam que nunca criarão algo que a substitua.

Família, apesar de todas as limitações não ficamos sem ela. Que ela seja um espaço vital de educação, formação, semeadura das boas sementes que frutificarão.

Que nela se aprenda a viver os  valores e princípios que nos acompanharão por toda a vida, pois a ausência deste aprendizado tem terríveis consequências...

Embora não consiga saber e dizer tudo o que se passa na família, acredito que esta pequena parte do Documento, bem como a reflexão pessoal que a acompanha, poderá ser mais um raio de luz...

Que seja ao menos um alento nesta dura missão; um suave sopro do Espírito, sobretudo para as famílias que mais precisam!

Indubitavelmente, novos horizontes para a humanidade passam pelo que por ela fazemos no presente, sabendo reler as sombras e luzes de seu passado.

Não é porque dificuldades existem na família que podemos mergulhar na incredulidade da missão de santificá-la e da construção de uma nova sociedade.

Sem incredulidade e sem romantismos estéreis em relação à família!

Mas muita Oração e investimento
na formação, santificação e solidificação da família
que tem Cristo e Sua Palavra como Rocha,
na Sua escuta e vivência, para que ela seja santo
espaço de harmoniosa convivência! 

Em poucas palavras...

                                          


 

A família cristã é evangelizadora e missionária.

“A família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai e do Filho, no Espírito Santo. A sua atividade procriadora e educativa é o reflexo da obra criadora do Pai.

 É chamada a partilhar da oração e do sacrifício de Cristo. A oração quotidiana e a leitura da Palavra de Deus fortalecem nela a caridade. A família cristã é evangelizadora e missionária.”

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo  n. 2205

Aprendamos com a Sagrada Família

                                                                   

 Aprendamos com a Sagrada Família

Um dia, cumprindo o preceito da Lei de Moisés, Maria e José foram apresentar no templo o filho primogênito, Jesus. Cumpria-se assim, zelosamente a Lei do Senhor. Sacrifício oferecido, apresentação realizada. 

A acolhida das palavras de Simeão, justo e piedoso, aquele que portava a esperança da consolação agora a vê realizada. As suas palavras a Maria e José, acompanhadas de bênçãos, lhes causam admiração.

A alegria que Ana, aquela mulher viúva, idosa e piedosa, que noite e dia do templo não saia, servindo a Deus com jejuns e orações, que louvava e falava com entusiasmo a todos sobre aquele menino, a tantos quantos esperavam a libertação de Jerusalém. Hora de retornar para a Galileia, para Nazaré, sua Cidade.

E aqui, um momento para reflexão, meditação...
Contemplemos uma possível conversa entre Maria com José naquele retorno com o menino Jesus no colo; viagem difícil, mas religiosamente cumprida, sem adiamentos e displicências...

Maria:
“José, estou pensando naquelas palavras de Simeão”.

José:
“Como é que ele falou mesmo Maria?”

Maria:
Ele disse assim – “Agora, Senhor, conforme a Tua promessa, podes deixar Teu servo partir em paz, porque meus olhos viram a salvação que preparastes diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do Teu povo Israel

José:
“É verdade, lembrei-me. Maria, você entendeu quando ele disse, logo depois, ‘este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel; Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti Maria, uma espada te trespassará a alma’?”.

Maria:
“Confesso que estou aqui caminhando em silêncio pensando exatamente nisto. A consolação e esperança de Simeão, é a nossa consolação e esperança. Este menino que Deus nos concedeu pela obra do Espírito Santo é Aquele que tanto esperamos. Meu Deus, quão grande é a nossa responsabilidade!”.

José:
“É Maria, este menino que Deus nos confiou vai ser causa de queda, como de reerguimento para muitos em Israel, será um sinal de contradição... Não consigo imaginar o que é isto, a não ser que Ele poderá ser aceito por uns, rejeitado por outros. Creio que não será algo tão simples. Às vezes me dá um frio na espinha de ficar pensando nisto...”.

E, Maria dando um grande suspiro, olhando para José e depois para o Menino que dormia serenamente no colo de José, disse:

Maria:
“Como é bom, José, ficar pensando no que Deus espera de nós, mas ao mesmo tempo como é sempre um ato de fé, de confiança. Não podemos jamais falhar. A Salvação do mundo está em teu colo José, está em nossas mãos!”

José:
“De fato Maria, haveremos de fazer tudo para que Ele seja forte, cresça a cada dia em tamanho, sabedoria e graça diante de Deus. Creio que é isto, por Deus, de nós esperado. Que responsabilidade! Às vezes tenho tanto medo desta responsabilidade, mas o anjo falou para que eu não tivesse medo”.

Maria:
“Ah José, como é maravilhoso e ao mesmo tempo um grande, um enorme desafio cuidar d’Aquele que é a Salvação da Humanidade. Às vezes acho que não somos dignos para tanto!”

Após um silêncio prolongado, José retoma a palavra:

José:
“Desculpe-me Maria, não queria tocar no assunto, mas não consigo entender o que vem a ser aquelas palavras – ‘uma espada de trespassará a alma”. O que será que ele quis dizer, de fato?”

Maria:
Ó José, estas palavras me deixaram mais ainda pensativa. Aquelas palavras estão aqui dentro do meu coração, estou meditando sobre elas. Estou inquieta com aquelas palavras...
Quando? De que modo? O que quis dizer aquele piedoso homem com estas palavras? Se você tem frio na espinha, minha alma fica aflita, mas sei que o anjo Gabriel também me assegurou para não ter medo. Deus não pode falhar em Suas promessas. Falou para que meu coração não ficasse perturbado, desde aquele dia que eu disse sim”.

José:
“Sim Maria, sei disto. Creio nisto. Temos que continuar nossa missão. Vamos voltar e nos colocar nas mãos de Deus como sempre o fizemos e como sempre o faremos”.

Maria:
“É tudo que temos que fazer, assim como eu disse: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua Palavra” não vou voltar atrás. Importa a vontade de Deus realizar. Se Ele quis contar comigo, jamais vou desapontá-Lo”.

De fato, a espada trespassada terá um nome, Cruz.
Será a morte do Salvador na Cruz.
Ela ali, aos pés da Cruz, acolhendo as últimas palavras do
Seu Filho Crucificado - Jesus:
“Mulher, eis aí Teu filho. Filho, eis aí a Tua mãe!” Cf Jo 19,26-27).

Maria e José caminham com o menino Jesus no colo, e depois de algum tempo de silêncio, José retoma a palavra e diz:

José:
“Ah, Maria, como admiro sua fé, sua coragem, sua entrega. Fiquei meditando em tudo que conversávamos a pouco, e pode ter certeza, naquilo que for necessário pode contar comigo, estou ao seu lado. Também não vou fugir, o anjo me assegurou coragem e presença da força de Deus”.
Com um doce sorriso inigualável, próprio dela, Maria diz –

Maria:
“Que bom José! Como é bom saber que Deus e nós, eu e o menino Jesus, podemos contar contigo”.

José sorrindo para Maria, embalando o menino que naquela hora acordara, deu um pequeno soluço seguido de um curto choro e disse: – “Maria, tenho vontade de ouvir aquele canto que você cantou para Isabel, tua prima. Canta para nós. O menino também quer ouvir.

E Maria cantou de novo:

Maria:
– “A minh'alma glorifica o Senhor e exulta meu espírito em Deus, meu salvador. Porque olhou para a humildade de Sua serva; doravante as gerações hão de chamar-me de bendita. O Poderoso fez em mim maravilhas e Santo é o Seu nome. Seu amor para sempre se estende sobre aqueles que O temem. Manifesta o poder de Seu braço e dispersa os soberbos. Derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes. Sacia de bens os famintos e despede os ricos sem nada. Acolhe Israel, Seu servidor, fiel ao Seu amor. Como havia prometido aos nossos pais em favor de Abraão e de seus filhos para sempre” (cf. Lc 1,46-55)

José: “Ah, Maria, como você canta tão bem as maravilhas de Deus! Verdadeiramente você é uma cantora da esperança dos pobres; canta não só com a garganta, canta com a tua vida, com teus lábios e com teu coração. Não conheço alguém que cante como você. Você é a maravilhosa música de Deus, suave melodia que nos comunica a força do divino. Teu canto é mais do que letras, porque emanam do Espírito, pelo qual nos veio o Verbo, pela suprema e infinita graça e bondade de Deus”.

E com Maria continuemos a cantar!
Eis aí a Sagrada Família, exemplo a imitar!
Modelo de virtudes a se espelhar.

Que esta imaginária conversa possa despertar em nós o desejo da Sagrada Família revisitar, e as mais belas lições aprender, e assim asseguraremos o futuro da humanidade, que passa inevitavelmente e indiscutivelmente pela família.

A Sagrada Família nos trouxe a Salvação, a consolação, a redenção.

Reflitamos:

 -  O que nossas famílias trazem ao mundo?
 -  De que boas novas nossas famílias hoje são portadoras? 

Dois milênios passados, e reafirmamos o valor sagrado e inviolável da família no plano de Deus.

Famílias Santas: Mundo santo, humanidade santa!
É de famílias assim que o mundo precisa.
A propósito, como vai a tua família?

“Pelas estradas da vida nunca estamos sós... 
Por mais que pareça.
 Deus é presença na aparente ausência...
Ainda que tenhamos que suportar a alma trespassada,
 ainda que o peso da cruz nos pese...”.

Em poucas palavras...

                                 


A fuga para o Egito

“A fuga para o Egito e o massacre dos Inocentes (Mt 2,13-18) manifestam a oposição das trevas à luz: «Ele veio para o que era seu e os seus não O receberam» (Jo 1, 11). Toda a vida de Cristo decorrerá sob o signo da perseguição. Os seus partilham-na com Ele (Jo 15,20). O seu regresso do Egito (Mt 2,15) lembra o Êxodo (Os 11,1) e apresenta Jesus como o libertador definitivo.” (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 530

Contemplemos a Sagrada Família!

                                          

Contemplemos a Sagrada Família! 
(Um poema e prece pela família
Numa família nem tão distante daqui


Lágrimas de dor verteram…
Mais uma Igreja doméstica edificada sobre a areia,
Cuja tempestade e ventos desmoronaram.
Um lar desfeito à estatística se somou.
Mais uma vez, o que era para sempre, tão provisório ficou.

Numa Família…
Uma criança a luz do sol não contemplou,
Porque a crueldade humana ao aborto condenou.
Uma vida que poderia alegria ao mundo trazer,
Indefesa, frágil, à morte tão cedo e mais que cedo teve que ceder.

Numa família…
Novo oratório se criou,
Não mais Santos, Palavra, velas e contas,
Mas o computador, o “play station”, outros “games”…
O silêncio de morte e isolamento se instalou.

Numa família…
Em nome do pós-moderno, valores, virtudes, princípios exilou.
A um museu de raridades a alegria, a acolhida, o diálogo,
A fidelidade, a compreensão, a brincadeira, a pureza,
O silêncio orante, o encontro, numa redoma se colocou.

Mas, numa família bem perto daqui... 
Bem mais perto daqui…
O brilho dos olhos voltou, algo novo ao mundo anunciou!
Ao mundo, grandes lições, deixou:
O silêncio orante, diálogo terno e amoroso com Deus,
Mistérios e projetos, de Deus, são acolhidos,
Graça e ternura pelos três são vividos.

Mas, numa família bem perto daqui...
Bem mais perto daqui…
O brilho dos olhos voltou, algo novo ao mundo anunciou!
Na tenda que na terra o Verbo armou,
A família, como berço da vida e vocação, edificou e santificou.
E ao mundo, belas lições, a todos nos deixou.
Feliz a família que na Sagrada Família sempre se espelhou!

Mas, numa família bem perto daqui...
Bem mais perto daqui…
O brilho dos olhos voltou, algo novo ao mundo anunciou!
Da gruta à casa de Nazaré, a Igreja doméstica viveu;
Da Casa de Nazaré à Cruz de Jerusalém.
Do Seu lado aberto a Igreja militante nasceu,
Padecente e triunfante entoa conosco seu amém.

Mas, numa família bem perto daqui...
Bem mais perto daqui…
Que a família então seja intima comunidade de vida e amor,
Resplandecendo as virtudes mais belas do Evangelho,
Lugar do recolhimento e oração novamente se tornou.
Compreensão mútua; respeito como norma se firmou.

Mas, numa família bem perto daqui...
Bem mais perto daqui…
O zelo pela prática religiosa novamente ressuscitou,
A fuga dos males, como critério de existência se tornou.
Morte aos vícios, nódoas do pecado que tantas almas mancharam;
Pela fidelidade e amor vivido, a pureza e candura reencontraram.

Mas, numa família bem perto daqui...
Bem mais perto daqui…
Individualismo e egoísmo à vida comunitária lugar cedeu,
Sacrifício e trabalho, solidariedade enfim floresceram,
Para o mundo reencantar e reinventar,
E o paraíso que perdido fora, novamente se reencontraram.

Mas, numa família bem perto daqui...
Bem mais perto daqui…
Uma verdade se confirmou,
E o mundo jamais disso se esqueceu:
 “O futuro da humanidade passa pela família”.
Nela não crer nem investir; com o mundo enlouquecer.

Mas, numa família bem perto daqui...
Bem mais perto daqui…
Contemplemos a Sagrada Família,
Fixemos nossos olhos nesta perfeita harmonia,
Imploremos a Luz do Santo Espírito que sobre Eles agia,
Reinarão em nosso lar a mais bela e tão sonhada paz e alegria!

Nossas famílias precisam do Sopro do Espírito

 


Nossas famílias precisam do Sopro do Espírito
 
Como Igreja, todo empenho e atividades em favor da santificação e solidificação da família é urgente e indispensável, pois muitos são os problemas por elas enfrentados.
 
Muitos são os ventos e tempestades contra a casa, como nos acena Jesus (Mt 7), nos convidando a construir nossa história e a história da família sobre a rocha, que é Ele mesmo.
 
A solidez e a estrutura da família passam pela escuta, acolhida e vivência de Sua Palavra. Mas contra ela sopram ventos avassaladores: a falta de diálogo, da compreensão, carinho e respeito nas relações pais e filhos e vice-versa; a invasão midiática e seu “evangelho” que muitas vezes se contrapõe ao autêntico Evangelho do amor, da solidariedade, da comunhão, do perdão; dependência química (álcool, drogas...); a epidemia da solidão; desemprego ou eminente possibilidade; violência pelas armas ou de qualquer outra forma; o consumismo depredador, acompanhado da insaciabilidade, colocando em risco o planeta em que vivemos; e ainda as antigas e novas doenças, o sentimento de angústia que toma o coração de muitos, culminando em degradante e desumanizante depressão.
 
Nela, a crise de valores anda de mãos dadas com a crise ética, colocando em risco a diversidade e originalidade como criaturas modeladas pelas mãos divinas, condenados à uniformidade, reprodução laboratorial pela clonagem, com resultados imprevisíveis.
 
No entanto, há esperanças e horizontes a serem alcançados, de modo que enfrentá-los é possível, quando buscamos o Sopro do Espírito, a manifestação de Deus na brisa suave, na fidelidade a Jesus Cristo, o  Caminho, a Verdade e a Vida (cf.Jo14,6).:
 
A família precisa do Sopro do Espírito, e dentre eles apresento alguns:
 
- A Sagrada Família: contemplemos e participemos desta grande escola de amor, diálogo, compreensão, trabalho, carinho, alegre disponibilidade, humildade, mansidão, ternura, temor divino, abertura e confiança em Deus, abertura e diálogo para compreender os Mistérios divinos e vivenciá-los, em autêntica prática religiosa.
 
- O Mistério da Santíssima Trindade, um mistério de amor, comunhão, doação, plenitude de vida, unicidade que não leva a perda da identidade, garantia de plena felicidade.
 
 - A participação da Mesa da Eucaristia, da Santa Missa dominicalmente e tanto quanto possamos, e assim experimenta, a cada dia, um pedaço deste céu, que se prolonga na mesa de nossos irmãos.
 
- Viver como pequenina Igreja Doméstica,  inserida na Igreja de Cristo que é Seu Corpo, tendo-O como Cabeça (cf. Ef 5).

O pós-dilúvio e o casamento

                                                    

                 O pós-dilúvio e o casamento

 
Reflexão sobre o Sacramento do Matrimônio, à luz das passagens bíblicas: Gn  8, 6-13.20), Sl 115 e Evangelho de Marcos (Mc 8, 22-26).
 
A passagem de Gênesis retrata os primeiros dias depois do dilúvio e o Evangelho apresenta-nos a cura do cego de Betsaida.
 
Reflitamos sobre o quanto a Palavra de Deus pode nos iluminar, relacionando os primeiros dias pós-dilúvio com a realidade do casamento e o que tem a ver a cura do cego com a realidade do casamento.
 
No fim de quarenta dias de chuva, Noé envia a pomba que na primeira vez retorna sinalizando que ainda não havia baixado as águas.
 
Na segunda vez, ao entardecer volta trazendo no bico um ramo de oliveira. Mais sete dias de espera e recomeça a história do pós-dilúvio.
 
Noé e sua família têm que recomeçar uma nova história, terão de ser fecundos, multiplicar sobre a terra. É o recomeço, a reconstrução, o reinício…
 
O casamento também tem seus momentos de recomeço, reconstrução e reinício, com a espera da volta de um entardecer com a alegre notícia, de que as águas secaram e um novo tempo se pode começar.
 
O casamento é um eterno recomeço. Muitas vezes “quarenta dias de chuva” se prolongam nos relacionamentos conjugais, parecendo uma chuva interminável, parecendo que tudo vai alagar, inundar, afundar; sonhos são naufragados, submersos nas dificuldades e pesadelos, nas carências e ausências... Muitas vezes parece já não restar nenhuma esperança, um aparente fim anunciado que já mais poderá ser reiniciado.
 
O pós-dilúvio aponta para o eterno recomeço de um casamento. Recomeçar sempre cada dia, com entusiasmo, com fé e coragem. Reconstruir o que possa aparentemente ter desmoronado. Redimensionar os espaços, alargar horizontes do amor, do perdão, da compreensão.
 
Quantas vezes casais recomeçaram uma nova história, uma nova proposta, um reencantamento? Pode ter sido num Encontro de Casais, um Sacramento da reconciliação buscado; uma palavra amiga que os tenham despertado…
 
De fato, Deus desistiu de destruir a humanidade, para além de toda infidelidade, maldade, iniquidade, desobediência. O perdão possibilitou o recomeço da humanidade com o dilúvio.
 
Quantos relacionamentos se refizeram a partir da prática do perdão. Há um pensamento que traduz isto; “Se quiserdes ser feliz por um instante: vingai-vos. Se quiserdes ser feliz para sempre: perdoai-vos”. Sem perdão, reconciliação, não há casamento que possa durar. Não só o casamento, pois o perdão é a mais bela expressão de que o Amor falou mais forte que o pecado. 
 
Logo em seguida, vemos Noé tomando as providências para erguer um Altar para Deus, oferecendo animais em holocaustos sobre ele. A Sagrada Escritura diz que Deus respirou o agradável odor e prometeu nunca mais amaldiçoar a terra por causa da desobediência da humanidade, e nada deixar faltar. Mais duas respostas encontramos.
 
A gratidão, o culto, a relação de Noé com Deus: expressos na construção de um Altar. Que haja estreita relação de toda mesa com a Mesa Sagrada do Altar. As mais belas mesas de uma casa o deixam de ser se não estiverem ligadas com a Mesa Sagrada do Altar.
 
De nada adiantam belos castiçais, se não houver a procura do Cálice Sagrado e da Bebida que o purifica. Os mais belos pratos numa mesa não têm beleza alguma se não estiverem ligados com a Patena do Altar, onde o Corpo de Cristo Se encontra para ser partilhado numa grande Festa de amor, partilha e comunhão.
 
A gratidão de Noé para com Deus: a ação de graças que se há de celebrar sempre – as famílias precisam se voltar mais para o Altar, se reunindo com frequência ao seu redor. Sem o encontro do Altar, não haverá alegria em nenhum lar, porque o amor facilmente há de faltar.
 
Deus é o Deus providente. Nada nos deixa faltar. Um casamento onde Deus tem Seu devido lugar, nada há de faltar. Como o Salmista reza – “O Senhor é meu pastor, nada me faltará” – tudo concorre para o bem daqueles que o Senhor ama. Pode um casal ficar sem coisas materiais, efêmeras, mas não sem Deus e o Seu indispensável amor e providência.
 
Com o Salmo, refletimos sobre tantas experiências que pais vivem ao verem seus filhos partirem para junto de Deus. Aqui a Palavra deve falar por si mesma: “É sentida por demais pelo Senhor a morte dos inocentes”. Deus Se faz presente na vida do casal, dos pais que celebram a páscoa de seus filhos, com compaixão. Assim esteve presente na morte de Seu Filho, plantando para sempre no coração de Maria e de toda a humanidade a esperança e certeza da Ressurreição em que a Vida venceu a Morte.
 
Quanto à passagem do Evangelho, em que Jesus curou a cegueira daquele homem de Betsaida, também reflitamos.
 
O cego representa a humanidade, o catecúmeno na busca da Luz que somente em Deus se encontra – “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas, mas tem a luz do mundo” (Jo 8,12).
 
O casamento é este mistério da cura de toda cegueira. Quantas vezes o casal se vê em situações e num primeiro momento não enxerga saídas, não encontra respostas? Porém, Palavra ouvida, sabedoria do Espírito pedida, visão restabelecida, caminhos encontrados. Uma luz se acende sempre quando a Deus se recorre. Não há escuridão que possa ocultar a luz de Deus.
 
O casamento é esta constante busca da cura, do novo olhar. A cegueira pode tomar conta quando fala mais alto o egoísmo, a indiferença, o individualismo, o fechamento, o isolamento, a apatia, a falta de fé, a falta de oração, numa palavra, a ausência de momentos de interioridade e intimidade com Deus e entre o próprio casal. É necessário que o casal tenha momentos de intimidade com Deus juntos, momentos de oração iluminadores, restauradores.
 
Ouvi certa vez de um casal: “Quando deixamos de rezar, as coisas começaram a não dar mais certo”. Logo concluímos que a oração do casal é um colírio indispensável e que evita toda miopia espiritual.
 
Somente a Luz do Espírito Santo para revitalizar casamentos para um sempre luminoso pós-dilúvio. Assim os casais poderão dizer juntos: “Quando vemos a Luz, enxergamos a Esperança, revigoramos a fé, contemplamos a caridade que jamais passará! A Caridade renova a fortaleza de ânimo para suportar todo labor, opróbrio e injúria, sem nada pensar de mal…”, como disse o Abade São Máximo (séc. VIII).
 
Elevemos orações para que os casais mantenham acesa a luz em seus lares, pequenas Igrejas domésticas, enfrentando o desafio dos ventos que sopram querendo apagar as luzes que foram acesas em tantos corações; nos corações daqueles que procuram fazer do casamento um sinal do Amor de Deus.
 
Curados pelo Senhor e por sua Palavra, vejamos para além das aparências de um iminente caos, o reinício de uma nova história e, também, o regar da semente das forças que parecem exaurir totalmente em tantos casais.
 
Continuemos refletindo e nos empenhando pela Santificação da Família, fazendo um ato de fé de que o Sacramento do Matrimônio não pode ceder ao evangelho do mundo, que o anuncia como algo superado.
 
Cremos na Boa Nova do Evangelho e que o casamento é um Mistério Sagrado, carregando seus maravilhosos mistérios e o maior deles, o Mistério Pascal.
 
O casamento é, verdadeiramente, um Mistério de Paixão, Morte e Ressurreição: tem suas cruzes, mas também suas luzes, por isto é preciso rezar sempre:
 
“Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos Vossos fiéis, e acendei neles o fogo do Vosso amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado. E renovareis a face da terra.”.
 

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