sexta-feira, 26 de dezembro de 2025
A sagrada missão da família (Sagrada Família - Ano C) (Homilia)
A sagrada missão da família
- O Mandamento do Amor a Deus e ao próximo;
Bem se sabe que não há família perfeita ou sem problemas, porém vencendo as dificuldades e construindo relações sólidas de amor mútuo, é uma sinalização do céu que começa no tempo presente.
Concedei-nos a força para permanecermos unidos no amor, na generosidade e na alegria de vivermos juntos.
Adoremos a Luz das Nações
Adoremos
a Luz das Nações
Ao
celebrarmos a Festa da Sagrada Família, sejamos enriquecidos pelos escritos de São
Cirilo de Alexandria (séc. V).
“Acabamos
de ver ao Emanuel recostado em um presépio como um menino recém-nascido,
envolto em panos conforme o costume humano, porém divinamente celebrado pelo
santo exército dos anjos.
Serão
eles os encarregados de anunciar aos pastores o Seu nascimento, pois Deus Pai
concedeu aos espíritos celestes este altíssimo privilégio: serem os primeiros
em anunciar a Cristo.
Também
acabamos de ver hoje como Cristo Se submete às leis mosaicas; ainda mais, temos
visto como Deus, o legislador, se submetia como um homem comum a suas próprias
leis. Esta é a razão pela qual o sapientíssimo Paulo nos dá esta lição: Quando
éramos menores estávamos escravizados pelo rudimentar do mundo. Porém, quando
se cumpriu o tempo, enviou Deus a seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo
da lei, para resgatar aos que estavam sob a lei.
Assim,
Cristo resgatou da maldição da lei aos que estavam debaixo dela, porém não aos
que eram observantes da lei. E como os resgatou? Cumprindo-a, ou, dito de outra
forma, mostrando-Se e obediente em tudo a Deus Pai, a fim de reparar os pecados
de prevaricação cometidos em Adão. Pois está escrito que
assim como pela desobediência de um só homem todos foram estabelecidos como
pecadores, assim também pela obediência de um só todos serão constituídos
justos. Portanto,
submeteu como nós a cerviz ao jugo da lei, e o fez por razões de justiça.
Convinha,
na realidade, que Ele cumprisse toda a justiça. Pois ao assumir realmente a
condição de servo, ficava, por Sua humanidade, inscrito no número dos súditos:
pagou, como muitos, aos que cobravam o imposto das duas dracmas, e mesmo quando
por Sua qualidade de Filho era naturalmente livre e isento do tributo.
Contudo,
ao ver-lhe observar a lei, cuidado, não te escandalizes nem o classifique entre
os servos, a Ele que é livre; esforça-te mais em penetrar a profundidade do
plano divino. Ao cumprir-se, pois, os oito dias, em cuja data e por prescrição
da lei era costume praticar a circuncisão da carne, impuseram-lhe um nome, e
precisamente o nome de Jesus, que significa salvação
do povo.
Tal
foi, de fato, o nome que Deus Pai escolheu para Seu Filho, nascido de mulher
segundo a carne. Pois foi certamente nesse momento, quando de maneira muito
singular se levou a bom termo a salvação do povo: e não só de um povo, mas de
muitos, ou melhor, de todas as nações e da universalidade da terra. Ao mesmo
tempo foi circuncidado e lhe impuseram o nome, convertendo-Se Cristo realmente
em luz que ilumina as nações e, ao mesmo tempo, em glória de Israel.
E
embora existissem em Israel alguns injustos, obstinados e insensatos, apesar
disso houve um resto que foi salvo e glorificado por Cristo. As primícias foram
os discípulos do Senhor, cuja glória resplandece em todo o mundo. Outra glória
de Israel é que Cristo, segundo a carne, procede de sua raça, se bem que,
enquanto Deus, está acima de todos e é bendito pelos séculos. Amém.
Presta-nos,
pois, um bom serviço o sábio Evangelista ao relatar-nos tudo o que por nós e
para nós suportou o Filho feito carne, sem fazer pouco caso em assumir a nossa
pobreza, a fim de que o glorifiquemos como Redentor, como Senhor, como Salvador
e como Deus, porque a Ele, e, com Ele a Deus Pai, lhe é devida a glória e o
poder, juntamente com o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)
Contemplemos
o indizível Mistério da Encarnação do Verbo, que veio para iluminar a
humanidade que jazia nas trevas.
Veio,
vem e virá sempre para iluminar nossos caminhos, porque Ele é a luz das nações
que os profetas anunciaram, e o que era promessa, com a Encarnação do Verbo,
torna-se realidade.
Mais
tarde Aquele que se fez Menino numa manjedoura e no templo apresentado, dirá - “Eu
sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, nas terá a luz da
vida” (Jo 8,12).
Que a Luz das Nações ilumine nossas famílias, para que cada vez
mais sejam reflexo da Sagrada Família, na qual Ele, o menino Jesus, cresceu em
sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens (cf. Lc 2,52).
(1) Lecionário Patrístico Dominical - Editora Vozes - 2013 - pp. 292-293
Em poucas palavras...
A família cristã é evangelizadora e missionária.
“A família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai e do Filho, no Espírito Santo. A sua atividade procriadora e educativa é o reflexo da obra criadora do Pai.
É chamada a partilhar da oração e do sacrifício de Cristo. A oração quotidiana e a leitura da Palavra de Deus fortalecem nela a caridade. A família cristã é evangelizadora e missionária.”
(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 2205
Em poucas palavras...
Testemunhas da fé
“É
então que nos devemos voltar para as testemunhas da fé: Abraão, que acreditou,
«esperando contra toda a esperança» (Rm 4, 18); a Virgem Maria que, na
«peregrinação da fé» (Lumen Gentium n. 58), foi até à «noite da fé» (Papa São
João Paulo II), comungando no sofrimento do seu Filho e na noite do seu
sepulcro (São João Paulo II); e tantas outras testemunhas da fé: «envoltos em
tamanha nuvem de testemunhas, devemos desembaraçar-nos de todo o fardo e do
pecado que nos cerca, e correr com constância o risco que nos é proposto,
fixando os olhos no guia da nossa fé, o qual a leva à perfeição» (Hb 12, 1-2).”
(1) Catecismo da Igreja
Católica – parágrafo n. 165
“Família, Santuário da Vida”
“Família,
Santuário da Vida”
A Semana Nacional da Vida e do Nascituro celebrada este
ano, de 1º a 08 de outubro, tem como inspiração a Carta Encíclica Evangelium Vitae, de São João Paulo II, e como tema: “Família Santuário da Vida”.
Muito enriquecedor é o subsídio Hora da Vida, preparado
pela Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, por meio da
Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF), que nos fala sobre o valor e a
inviolabilidade da vida humana.
Nos diversos encontros, vários temas são abordados: o
valor incomparável da pessoa humana; a raiz da violência contra a vida; os
sinais de esperança e convite ao compromisso com a vida; a vida é sempre um
bem; veneração e amor pela vida dos outros; a vida humana é sagrada e
inviolável; anunciar o Evangelho da Vida, e finaliza com a reflexão sobre o Dia
do Nascituro, em que nos apresenta os filhos como bênçãos do Senhor.
Mais uma vez, as dioceses, paróquias e comunidade são
convidadas a realizar ações públicas que possam acontecer em todo o Brasil, no
dia 1º (sinal da alegria) e no dia 8 de outubro (sinal da esperança), dando a
força de mobilização em prol da vida, desde a concepção até seu fim natural.
Urge que as famílias sejam, verdadeiramente, um
Santuário, no qual se promova, defenda e cuide da vida, como uma verdadeira
escola, em que se ama e respeita a vida, sua dignidade e sacralidade, sendo a
Palavra de Deus a luz que ilumina e orienta todos os pensamentos, palavras e
ações.
Anunciemos Aquele que foi apresentado! (Sagrada Família - Ano B)
Anunciemos Aquele que foi apresentado!
Na Festa da Sagrada Família (ano B) é proclamada a
passagem do Evangelho (Lc 2, 22-40).
Maria e José levam o menino Jesus, depois de
quarenta dias do Seu nascimento, para apresentá-Lo no templo, no pleno cumprimento
da Lei de Moisés.
Normalmente,
contemplamos este acontecimento quando rezamos os Mistérios gozosos, que trazem
em si o germe dos mistérios dolorosos, assim como os gloriosos e luminosos,
quando, justo e piedoso.
Simeão, lá no templo,
anuncia a Maria que uma espada lhe transpassaria a alma. Referindo-se à missão d’Aquela
criança, luz das nações, salvador de todos os povos, causa de queda e
reerguimento de muitos.
Os Santos Padres da
Igreja dizem que, nesta apresentação, Maria oferecia seu Filho para a obra da
redenção com a qual Ele estava comprometido desde o princípio.
É iluminador o Sermão
do bispo São Sofrônio (séc. VII) em alusão a este acontecimento:
“Todos
nós que celebramos e veneramos com tanta piedade o Mistério do encontro do
Senhor, corramos para Ele cheios de entusiasmo.
Ninguém
deixe de participar deste encontro, ninguém recuse levar Sua luz.
Acrescentamos
também algo ao brilho das velas, para significar o esplendor divino daquele que
Se aproxima e ilumina todas as coisas; Ele dissipa as trevas do mal com a Sua
luz eterna, e, também, manifesta o esplendor da alma, com o qual devemos correr
ao encontro com Cristo.
Do
mesmo modo que a Mãe de Deus Virgem imaculada trouxe nos braços a verdadeira
luz e a comunicou aos que jaziam nas trevas, assim também nós: iluminados pelo
Seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de todos, corramos
prontamente ao encontro d’Aquele que é a verdadeira luz.
Realmente,
a luz veio ao mundo (Jo 1,9) e dispersou as sombras que o cobriam; o sol que
nasce do alto nos visitou (Lc 1,78) e iluminou os que jaziam nas trevas.
É
este o significado do Mistério que hoje celebramos. Por isso caminhamos com
lâmpadas nas mãos, por isso acorremos trazendo as luzes, não apenas
simbolizando que a luz já brilhou para nós, mas também para anunciar o
esplendor maior que dela nos virá no futuro.
Por
este motivo, vamos todos juntos, corramos ao encontro de Deus. Chegou a verdadeira luz, que vindo ao mundo ilumina todo ser humano (Jo
1, 9).
Portanto,
irmãos, deixemos que ela nos ilumine, que ela brilhe sobre todos nós. Que
ninguém fique excluído deste esplendor, ninguém insista em continuar mergulhado
na noite. Mas avancemos todos resplandecentes.
Iluminados,
por este fulgor, vamos todos ao Seu encontro e com o velho Simeão recebamos a
luz clara e eterna.
Associemo-nos
a sua alegria e cantemos com ele um hino de ação de graças ao Criador e Pai da
luz, que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez
participantes do Seu esplendor.
A
Salvação de Deus, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória que
nos pertence, a nós que somos o novo Israel.
Também
fez com que víssemos, graças a Ele, essa Salvação e fôssemos absolvidos da
antiga e tenebrosa culpa.
Assim
aconteceu com Simeão que, depois de ver a Cristo, foi libertado dos laços da
vida presente.
Também
nós abraçando, pela fé, a Cristo Jesus que nasce em Belém, de pagãos que
éramos, nos tornamos povo de Deus – Jesus é, com efeito, a Salvação de Deus Pai
– e vemos com nossos próprios olhos o Deus feito homem.
E
porque vimos a presença de Deus, e a recebemos, por assim dizer, nos braços do
nosso espírito, somos chamados de novo Israel.
Todos
os anos celebramos novamente esta festa, para nunca esquecermos d’Aquele que um
dia há de voltar.” (1)
Como disse o bispo:
“...
Ninguém insista em continuar mergulhado na noite.” Recebamos nos braços do
nosso espírito o Salvador, a Luz das nações.
Com o feliz Simeão,
digamos:
“Agora,
Senhor, deixai o Vosso servo ir em paz, segundo a Vossa Palavra. Porque os meus
olhos viram a Vossa salvação que preparastes diante de todos os povos, como luz
para iluminar as nações, e para a glória de Vosso povo de Israel (Lc 2,29-32).”
Concluindo, com as
palavras do Salmista:
“O Senhor
é a minha luz e a minha salvação, de quem eu terei medo? O Senhor é a fortaleza
da minha vida: frente a quem eu temerei? (Sl 27). Amém.
(1) Liturgia das Horas Vol. III pp.1236/7.
quinta-feira, 25 de dezembro de 2025
Vendaval de fé, esperança e caridade
Lágrimas que se misturam e se escondem nas gotas da chuva.
Desilusão e desencanto por vezes querem fincar raízes, teimosamente, no mais profundo de nós.
Pesadelo prolongado de uma pandemia que persiste e nos rouba forças, projetos, sonhos e a vida de tantos que amamos e para sempre amaremos.
Arautos mentem e fazem adeptos e fiéis discípulos ao lado e virtualmente.
Lágrimas que se misturam e se escondem nas gotas da chuva.
Dói a alma tantas páginas de histórias desterradas, em migração para sobrevivência e em busca de sonhos e liberdade.
Corrói a alma, os que “moram sem morar” nas ruas e praças, ao relento e frutos de uma sociedade, em números dia a dia em aumento.
Cenário de desmatamento, queimadas, frutos de práticas sem escrúpulos, onde se objetiva apenas o lucro, capital, pois isto tão apenas interessa.
Rios e matas e vales gemem em dores de parto, na espera da reconciliação, a fim de que sejam preservados como obra divina da Criação.
Lágrimas que se misturam e se escondem nas gotas da chuva.
É tempo de secar as lágrimas e deixar que as gotas da chuva venham fecundar nossa fé na Palavra do Senhor, que assim falou à viúva de Naim diante da morte de seu único filho:
“O Senhor ao vê-la, ficou comovido e disse-lhe: ‘Não chores!’. Depois aproximando-se, tocou o esquife, e os que o carregavam pararam. Disse Ele então: ‘Jovem, Eu te ordeno, levanta-te” (Lc 7,13-14).
É tempo de ouvir o assobio do sopro da fé nos vãos de nossas janelas,
Que aos poucos vai se tornando um vendaval incontrolável de vigorosa fé.
Fé que, ainda pequena, como um grão de mostarda, move montanhas, que em Deus confia e se entrega, em resposta fiel e com o Reino comprometido.
Fé que ilumina os passos para que não tropecemos e nem os pés firamos, se a escuridão, teimosamente, se fizer no caminho.
Fé na promessa divina de que novo céu e nova terra, teremos e veremos, sem choro, dor, pranto, luto e lamento.
É tempo de secar as lágrimas, e deixar as gotas da chuva regar o chão fecundo do coração da humanidade.
É tempo de ouvir o assobio do sopro da esperança nos vãos de nossas janelas,
Que aos poucos vai se tornando um vendaval incontrolável de virtuosa esperança.
Esperança de ver a humanidade fortalecendo laços de fraternidade universal, em luminosa amizade social.
É tempo de secar as lágrimas com os raios do Sol Nascente;
É tempo de ouvir o assobio do sopro da caridade nos vãos de nossas janelas, que aos poucos vai se tornando um vendaval envolvente de caridade, abundante como chuva derramada em nós, porque assim é o amor de Deus.
É tempo incessante de ouvir o Apóstolo que nos diz:
“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como bronze que soa ou como címbalo que tine. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, nada seria” (1 Cor 13,1-2)
Venha, Senhor, o tão esperado vendaval de fé, esperança e caridade.
Tão somente assim, promotores da beleza e sacralidade da vida, seremos.
Vossa luz faremos, pelas obras, resplandecer, porque assim é a fé que opera através da caridade (Gl 5,6), em renovada esperança contra toda falta de esperança. Amém.
PS: escrito em novembro de 2020






