terça-feira, 28 de outubro de 2025

Santidade, dom e caminho

 


Santidade, dom e caminho

Reflitamos sobre as “Bem-Aventuranças” apresentadas por Jesus na passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5,1-12).

Assim nos falou o Papa Francisco em memorável homilia:

“As Bem-aventuranças são de algum modo o cartão de identidade do cristão, que o identifica como seguidor de Jesus.

Somos chamados a ser bem-aventurados, seguidores de Jesus, enfrentando os sofrimentos e angústias do nosso tempo com o espírito e o amor de Jesus.

Neste sentido, poderíamos assinalar novas situações para as vivermos com espírito renovado e sempre atual: felizes os que suportam com fé os males que outros lhes infligem e perdoam de coração; felizes os que olham nos olhos os descartados e marginalizados fazendo-se próximo deles; felizes os que reconhecem Deus em cada pessoa e lutam para que também outros o descubram; felizes os que protegem e cuidam da casa comum; felizes os que renunciam ao seu próprio bem-estar em benefício dos outros; felizes os que rezam e trabalham pela plena comunhão dos cristãos… Todos eles são portadores da misericórdia e ternura de Deus, e d’Ele receberão sem dúvida a merecida recompensa.” (1)

No Ângelus, do dia 01 de novembro de 2023, assim nos falou:

“Hoje celebramos a solenidade de Todos os Santos. À luz desta festa, paremos um pouco para refletir sobre a santidade, em particular sobre duas características da verdadeira santidade: é um dom - é um dom, não se compra - e ao mesmo tempo é um caminho. Um dom e um caminho... A santidade é um caminho, é um dom. Por isso, podemos perguntar-nos: lembro-me que recebi o dom do Espírito Santo, que me chama à santidade e me ajuda a chegar lá? Agradeço ao Espírito Santo por isso, pelo dom da santidade? Sinto os santos perto de mim, falo com eles, dirijo-me a eles? Conheço a história de alguns deles? Faz-nos bem conhecer a vida dos santos e deixarmo-nos comover pelos seus exemplos. E faz-nos muito bem dirigirmo-nos a eles na oração.”

Peregrinando na esperança, como discípulos missionários de Senhor, devemos nos empenhar para correspondermos a este cartão de identidade, vivendo as Bem-Aventuranças, que Jesus nos apresentou no alto da montanha, sobretudo nas novas situações que nos apresentou o Papa Francisco, para que, de fato, vivamos a santidade como dom e um caminho a percorrer, incansáveis, com a força e ação do Santo Espírito.

Santidade, o único caminho para a felicidade plena, que tão somente Jesus Cristo pode nos conceder (cf. Jo 15)

 

 

(1) Viagem do Papa Francisco à Suécia por ocasião dos 500 anos da Reforma Protestante - Santa Missa no estádio Swedbank, em Malmo (01/11/2016)



Bem-Aventuranças: a carteira de identidade do cristão

 


Bem-Aventuranças: a carteira de identidade do cristão 
 
Celebramos no dia 1º de novembro a Solenidade de todos os Santos e Santas (no Brasil é transferida para o domingo seguinte, quando dia 1º for um dia da semana).
 
Santidade é um caminho a ser percorrido, ou mesmo, podemos dizer como que a subida de uma escada, degrau por degrau, de modo que, não há santidade alcançada plenamente e para sempre.
 
Ela consiste num processo contínuo de lapidação, para que o esplendor da verdade e da caridade aconteça em nós, até o encontro com a plenitude da luz que se dá no céu!
 
Celebramos a memória de todos os santos e santas, canonizados ou não pela Igreja, e tantos outros que hoje cantam a Deus, no Céu, o perfeito louvor, intercedendo a Deus por nós.
 
Devemos venerá-los e jamais adora-los, pois tão somente a Deus se adora. “Santo é um pecador de quem Deus teve misericórdia”, conforme afirmação atribuída a Santo Agostinho.
 
São exemplos a serem imitados – cada santo tem uma marca forte e apaixonante no seguimento de Jesus – podemos aprender com eles.
 
A santidade é participar da vida de Deus, e deve ser compreendida como dom de Deus e nossa resposta a Ele:
 
“A santidade cristã manifesta-se, pois, como uma participação na vida de Deus, que se realiza com os meios que a Igreja nos oferece, particularmente com os sacramentos.
 
A santidade não é o fruto do esforço humano, que procura alcançar a Deus com suas forças, e até com heroísmo; ela é dom do amor de Deus e resposta do homem à iniciativa divina” (1)
 
Com o batismo, alcançamos a filiação, recebemos a semente de imortalidade,  e com a Ressurreição, a imagem perfeita de Cristo, e o nosso futuro é a pertença e a semelhança de Deus – imagem perfeita de Cristo.
 
Deste modo, as Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12)  são caminho que leva à santidade, com uma ética própria, que renova a pessoa, a comunidade e a sociedade, porque, se vividas, provocam mudança radical de vida.
 
Compreendamos as Bem-Aventuranças:
 
- Os pobres em espírito:  mais do que no sentido econômico e social, são os humildes, pecadores e abertos ao perdão. Ser pobre é ter o olhar voltado para o futuro, para a eternidade, confiando totalmente em Deus.
 
- Os que “choram” partilham o sofrimento do outro.
 
- Os “mansos” mantém a serenidade sempre!
 
- A prática da justiça consiste no fazer a vontade de Deus.
 
- A Pureza de coração é sinônimo de retidão...
 
- Somos como discípulos promotores da paz e impulsionados pela misericórdia divina.
 
- Temos a serenidade e maturidade para enfrentar as adversidades, calúnias e perseguições.
 
A Igreja haverá sempre de nos ensinar que, na comunhão dos santos, não caminhamos sós, e contamos com aqueles que lavaram a suas vestes no Sangue do Cordeiro, que hoje contemplam a face do Pai, continuam vivos em nosso coração, como exemplos a serem imitados, sedentos da Salvação divina, que tão somente Deus pode nos alcançar.
 
Sejamos santos como Deus é Santo, vivendo iluminados e conduzidos pelas Bem-Aventuranças, caminho de santidade e felicidade plena e verdadeira. Sejam as Bem-Aventuranças a carteira de identidade do cristão (cf. Papa Francisco).
 
 
 
(1) Missal Dominical – Editora Paulus - pág. 1367

Bem-Aventuranças: único caminho para a felicidade

                                                              

Bem-Aventuranças: único caminho para a felicidade

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 5-12a), em que Jesus nos apresenta o Sermão da Montanha, que se vividas é o único e autêntico caminho para a felicidade que tanto desejamos e buscamos.

Vemos em sua proposta, um programa de felicidade: Paradoxal caminho da felicidade, porque tão diferente da felicidade que o mundo oferece, porque as Bem-aventuranças vividas, inevitavelmente a cruz cotidiana deve ser assumida e carregada, com suas necessárias renúncias, para maior liberdade e fidelidade no seguimento ao Senhor.

Importa acolhê-lo, quer na montanha (Evangelho de Mateus - Mt 5,1-12a), ou mesmo na planície (Evangelho de Lucas - Lc 6,20-26).

É fundamental que vivamos este Projeto na planície de nosso cotidiano. Não podemos ficar para sempre na montanha, ainda que nos seja tentador (Pedro que o diga).

Enquanto o mundo novo não irrompe nas relações entre nós, os “ais” de Jesus ecoam no mais profundo de nosso coração, bem como o convite à vivência das Bem-aventuranças.

Quando os “ais” de Jesus são acolhidos (Lc 6,20-26), rompe-se e supera-se todo egoísmo, prepotência, injustiça, exploração, ilusões, dolorosas frustrações, porque não confiaremos demais nas pessoas (prescindindo de Deus), tão pouco em nós (em execrável autossuficiência), nem confiaremos nas coisas em si, nos bens que passam...

Quando as Bem-aventuranças são encarnadas, inauguram-se relações de partilha, solidariedade, comunhão e amor, humildade, gratuidade, doação... Ganham vigor as relações fraternas.

Celebrando  a Eucaristia, experimentamos a força do Ressuscitado, subimos a montanha Sagrada, onde Deus Se revela e nos envolve com Seu sopro e rompemos com o velho mundo e sua enganadora proposta de felicidade.

Precisamos subir sempre a Montanha Sagrada e respirar o ar de Deus que nos refaz de nossos cansaços, fortalece-nos para suportar sofrimentos, superando quaisquer sinais de marginalização, para que o Reino de Deus aconteça.

Ainda que alcançado por caminhos tão diferentes daquele que a humanidade teima em propor... A felicidade divina é alcançada não por quem tem todos os tesouros da terra, mas por quem fizer de Deus seu grande e belo tesouro.

Nossas comunidades precisam encarnar o Projeto das Bem-aventuranças! Elas são caminhos para se viver com absoluta confiança em Deus e chegar até Ele, alcançando o desejo mais profundo d’Ele para nós, e que desde a concepção desejamos: A felicidade! Para a felicidade que Deus nos criou! É este o genuíno e irremovível Projeto de Deus para nós!

A fé na Ressurreição faz-nos comprometidos com o Projeto das Bem-aventuranças, alcançando a felicidade desde já, para desabrochar plenamente na madrugada de nossa Páscoa.

A felicidade está ao nosso alcance, mas saibamos o caminho único para alcançá-la: o caminho da Bem-Aventuranças.

Este caminho passa pela cruz, nem sempre pela humanidade, entendido!
Por quem recebeu o Batismo, nem sempre bem assumido!
Caminho da cruz, aparente sinal de fracasso e desilusão,
Mas para quem crê, vitória, alegria transbordante no coração! 
Sejamos pobres em espírito porque a Eles pertence o Reino dos Céus, disse o Senhor.

Memória, avaliação e esperança

 


Memória, avaliação e esperança

Na espera do Senhor Jesus, que virá em Sua glória nos julgar a todos nós, no juízo final.

Sejamos, portanto,  conduzidos e iluminados pelas Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12) na prática da misericórdia (Mt 25,31-46), bem como nos falou o presbítero São João da Cruz (séc. XVI) - “No entardecer de nossa vida seremos julgados pelo amor”, e o bispo e doutor da Igreja Santo Ambrósio: - “Somente a misericórdia nos serve de companheira” rumo à eternidade.

Nada levaremos, quando desta vida partirmos, a não ser a misericórdia vivida, que nos acompanhará para a passagem definitiva: nem dinheiro, nenhum bem, nem título, nem glória humana alguma alcançada, absolutamente nada que se possa tocar.

Fundamental que retomemos e aprofundemos sobre as obras de misericórdia corporais e espirituais:

Obras de misericórdia corporaisDar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar pousada aos peregrinos; assistir aos enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos. 

Obras de misericórdia espirituaisDar bom conselho; ensinar os ignorantes; corrigir os que erram; consolar os aflitos; perdoar as injúrias; sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo; rogar a Deus por vivos e defuntos.  

Seja, portanto, este dia de recolhimento e oração, fazendo memória daqueles que nos antecederam na glória de Deus, elevando aos céus nossas orações, fazendo avaliação de nossa vida, discipulado e testemunho sobre o mundo que estamos deixando para aqueles que virão depois de nós. E, por fim, esperança de que um dia nos encontremos na eternidade na plenitude do amor, vida e luz divinas. Amém.

Contemplamos o Mistério Pascal

                                                         

Contemplamos o Mistério Pascal

Uma reflexão à luz da passagem da Carta de Paulo aos Romanos:

– “A Palavra está perto de ti, em tua boca e em teu coração, Essa Palavra é a Palavra da fé, que nós pregamos. Se, pois, com tua boca confessares Jesus como Senhor e, no teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, será salvo. É crendo no coração que se alcança a justiça e é confessando a fé com a boca que se consegue a salvação” (Rm 10,8b-10).

Jesus Cristo, Aquele que foi transpassado pela lança, morto na Cruz, por amor de nós e pela nossa redenção vive para sempre glorioso,  sentado à direita do Pai, e, no fim dos tempos, virá nos julgar.

A Ele, Jesus Cristo Ressuscitado, Princípio e fim, toda honra, glória e louvor por toda a eternidade. Ele que:

- Curava as feridas de nossa alma e sempre nos curará, pois nada pode impedir a ação curativa de Seu Divino Amor e poder;

- Chamou a muitos pelo nome e continuará nos chamando;

- Promoveu a paz, e fez dos Seus discípulos também dela promotores,  ao enviá-los em missão;

 - Multiplicou os pães, saciando a fome da multidão, ensinando que o gesto de amor e partilha gera um mundo novo, e em cada Eucaristia, esta lição nos deu;

- Ressuscitou o filho da viúva de Naim, Lázaro, Seu amigo e também todo aquele que n’Ele viver e crer;

- Acolheu os pecadores e comunicou o perdão, destruindo o pecado, renovando a vida do pecador por Sua misericórdia, e conosco, sobretudo pelo Sacramento da Penitência, alcançando -nos, o divino perdão;

- Deu a Sua vida por amor a nós e nos ensinou o mesmo a fazer, e ao mundo, este amor e doação os discípulos também haverão de fazer;

- Amou e perdoou Seus inimigos, e o mesmo, espera que façamos em todo tempo e lugar;

- Amou-nos e nos viu para além das nossas aparências, e espera que também tenhamos sempre novos olhares de ternura, perdão, solidariedade e misericórdia;

- Suportou todas as dores, angústias, traições, abandono, despojamento, aniquilamento, mas pelo Pai glorificado; e diante d’Ele todo joelho se dobrará e toda língua proclamará que Ele é o Senhor.

Contemplamos o Mistério Pascal:

- E renovemos nossa fé na Ressurreição do Senhor, que regenera continuamente a nossa fé e a nossa experiência de fé cristã;

- Acolhendo na fé Deus Pai, que Se dá a nós pelo Cristo Ressuscitado e no Espírito presente em nossos corações;

- E sejamos envolvidos por este movimento intenso, imenso e profundo de amor, para viver a vida nova dos que professam com os lábios e creem com o coração, e assim, obteremos a salvação;

- Multiplicando pequenos e grandes gestos de amor que Deus multiplicou e haverá de multiplicar sempre.

Amém. Aleluia! 

Em poucas palavras...

                                                


A esperança nossa de cada dia, nos dai hoje

“A esperança cristã manifesta-se, desde o princípio da pregação de Jesus, no anúncio das Bem-Aventuranças.

As Bem-Aventuranças elevam a nossa esperança para o céu, como nova terra prometida e traçam-lhe o caminho através das provações que aguardam os discípulos de Jesus.

Mas, pelos méritos do mesmo Jesus Cristo e da sua paixão, Deus guarda-nos na «esperança que não decepciona» (Rm 5, 5). A esperança é «a âncora da alma, inabalável e segura» que penetra [...]«onde entrou Jesus como nosso precursor» (Hb 6, 19-20).

É também uma arma que nos protege no combate da salvação: «Revistamo-nos com a couraça da fé e da caridade, com o capacete da esperança da salvação» (1 Ts 5, 8).

Proporciona-nos alegria, mesmo no meio da provação: «alegres na esperança, pacientes na tribulação» (Rm 12, 12). Exprime-se e nutre-se na oração, particularmente na oração do Pai-Nosso, resumo de tudo o que a esperança nos faz desejar.” (1)

 

(1) Parágrafo do Catecismo da Igreja Católica – n.1820

Peregrinar na penumbra da fé

                                                               

Peregrinar na penumbra da fé

“Festejamos a cidade do céu, a Jerusalém do alto,
nossa mãe, onde nossos irmãos, os Santos,
Vos cercam e cantam eternamente o Vosso louvor.
Para esta cidade caminhamos pressurosos,
peregrinando na penumbra da fé”

Assim rezamos no Prefácio da Missa de todos os Santos e retomamos para reflexão.

Temos um desejo, temos uma esperança: participar da Jerusalém do alto, nossa mãe. Cidade celestial precedida pela cidade terrena onde nos encontramos, ainda nos preparando e capacitando para tal, tornando o mundo mais justo, fraterno, mais conforme os desígnios de Deus. Existimos, caminhamos comprometidos, esperando um novo céu e uma nova terra.

Professamos pela fé a “comunhão dos santos”. Cremos que junto de Deus está uma multidão (144 mil); todos aqueles que lavaram e alvejaram as vestes no Sangue do Cordeiro, como nos anunciou o autor do Apocalipse. De roupa branca, com palmas na mão, vitoriosos porque professaram a fé no Cordeiro, Aquele que Venceu a morte, a quem damos toda honra, glória, louvor e poder.

Cantam louvores nos céus, porque também cantaram enquanto no nosso meio. Cantaram na esperança, hoje cantam na presença. Contemplam o que desejaram ver, alcançaram o que buscaram: o prêmio, a coroa que para o justo é reservada, porque combateram o bom combate da fé; intrépidos, confiantes, com a força, presença e ação do Santo Espírito.

Nós, por enquanto, caminhamos pressurosos, na penumbra da fé. Empenhados, ansiosos, desejosos de a mesma graça alcançar. Peregrinamos na penumbra, entre a luz e a sombra, na verdade acolhida, acreditada, anunciada, testemunhada.

Embora na penumbra caminhemos,
Temos a Luz que nos guia, para que não nos percamos nesta longa via.

Peregrinamos na penumbra da fé,
Entregando-nos confiantemente nas mãos de Deus, fazendo o grande mergulho em Sua bondade, amor, ternura.

Na penumbra da fé,
Com renúncias permanentes necessárias, carregamos nossa cruz para Segui-Lo; felizes, porque assim Ele mesmo disse a Tomé: "Porque viste, creste. Felizes os que os que jamais viram, e creram!" (Jo 20,29).

Vamos caminhando na penumbra da fé,
Até que possamos contemplar a Luz Plena nos céus e a Sua Eterna Divina Fonte, na maravilhosa comunhão da Trindade Santíssima que nos criou, redimiu.

Por ora, na penumbra da fé,
Cremos que dela viemos, nos movemos e somos, e um dia, com a morte/passagem voltaremos, porque temos em nós a semente da eternidade.

Deus em nós habita, somos obras de Suas mãos, Sua morada. Assim cremos. Amém.

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG