domingo, 3 de agosto de 2025

Padre, servo do Bom Pastor

                                                    

Padre, servo do Bom Pastor 

Reflitamos sobre a missão do Presbítero diante da comunidade, na fidelidade a Jesus Cristo, o Bom Pastor, no cuidado zeloso e por amor (cf. Jo 10,1-10).

 

É sua missão, através do tríplice múnus de ensinar, santificar e governar, tudo fazer para que o rebanho não se perca, pois dele espera uma palavra, uma Palavra de Vida Eterna do Cristo Bom Pastor, sobretudo nestes tempos tão difíceis marcados porque passamos.

 

Para tanto, é preciso que tenha uma vida marcada pela doação, serviço, fé, esperança e caridade, numa configuração contínua a Jesus Cristo, tendo d’Ele, mesmos sentimentos (Fl 2,5). 


A comunidade deve rezar constantemente, para que Deus assegure a todos os padres, e de modo especial ao padre da paróquia, a fortaleza do Bom Pastor, apesar de suas fraquezas, revigorado pelo Pão da Palavra e da Eucaristia, alimento salutar que faz crescer nossas virtudes, bem como sacia nossa alma e nos enriquece de todos os dons espirituais.

 

Rezemos para que não faltem em nossas comunidades padres sinais do Bom Pastor: homens chamados, consagrados e inflamados pela chama do amor de Deus, nos passos de Jesus, a Divina Fonte de Amor, o Cristo Bom Pastor, a fim de conduzir o rebanho sob a ação do Espírito Santo. 

Que o Presbítero seja Sinal do Cristo Bom Pastor

                                                              

Que o Presbítero seja Sinal do Cristo Bom Pastor

A Igreja precisa de Presbíteros com características muito próprias para o exercício Ministerial neste tempo de pós-modernidade.


Deste modo, o padre será:


- um “padre elementar’; vivendo no contexto mudança de época, inflamado pelo fogo devorador do Amor de Deus, que sacia a sua sede na Fonte das fontes, Jesus; 
 
- um Homem da Palavra e de palavra, homem da imersão e da emersão, que imerge no Mistério da Trindade e da Eucaristia e emerge Alimentado para então saciar a fome do Rebanho que Deus lhe confiou;
 
- aquele que assume a missão de ser Profeta e Poeta do Reino; com um coração indiviso, por Cristo seduzido, um coração semelhante aos mais Belos Corações: de Jesus e de Maria;
 
- cheio de ternura no acolhimento das pessoas, sabendo cativar e cultivar; 
 
- discípulo e missionário com o coração ardente e pés a caminho, na fidelidade plena a Jesus;
 
- que trilha o caminho da Santidade e solidariedade;
 
- um Homem da Mesa da Comunhão e da comunhão das mesas; da pregação e do testemunho;
 
- um homem que com dignidade e serenidade, enfrenta as luzes e as sombras que desafiam seu Ministério Presbiteral, vivendo a Caridade como plenitude da Lei;
 
- que sabe que sem paixão não há discipulado, por isso reaprende a cada dia com o Apóstolo Paulo a fortalecer os Pilares da Comunidade (Palavra, Pão, Caridade e Missão);
 
- um homem sensível, sobretudo, na hora mais difícil de seu Ministério, a morte, porque crê no Ressuscitado e sabe que Deus tem sempre a última Palavra, buscando as coisas do alto (Cf. Cl 3);
 
- que entende sua missão como um eterno santificar e santificar-se, como uma missão de sonhos e compromissos.
 
Enfim, marcado pela devoção Mariana, para que seja sempre um homem Padre e um Padre homem feliz, inseparavelmente; um Padre feliz que faz a comunidade feliz. Tão somente assim, sua vida será plena de sentido. Amém.
 

O coração do Padre à luz dos mais Belos Corações!

                                                         

O coração do Padre à luz dos mais Belos Corações!

Retomo esta reflexão que fiz, por ocasião do encerramento do Ano Sacerdotal (2009-2010), para que tenhamos Presbíteros conforme o Coração de Jesus.

O Lema que o motivou ressoará para sempre no coração de cada Sacerdote e no coração de todo o Povo de Deus: “Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote”, bem como a célebre frase do Padroeiro de todos os Padres: “O Sacerdote é o amor do Coração de Jesus” – São João Maria Vianney.

É preciso tornar o coração do Presbítero semelhante aos mais Belos Corações: O Imaculado Coração de Maria e o Dulcíssimo Sagrado Coração de Jesus, e assim o lema e a frase acima encontrem conteúdo e iluminem o seu caminhar.
  
A exemplo de Maria, o Presbítero deve ter: 

- um coração pleno de ternura, para ser sinal d’Aquele que é Fonte de toda ternura;
- um coração radiante porque se nutre Daquele que é a Fonte dos bens mais necessários;

- um coração alegre, porque servidor Daquele que é Fonte da plena alegria;
- um coração pleno de esperança, porque a reacende na Fonte da preciosa e eterna chama que jamais se apaga;

- um coração transparente, para revelar ao mundo a Face Divina, em perfeita configuração ao Cristo, em envolvente relação de apaixonamento;
- um coração singelo e meigo, para acolher no coração a Semente do Verbo, em que flores e frutos do Reino abundantemente se multiplicam;

- um coração que perdoa, porque servo do perdão que vem Daquele que da humanidade é Fonte de redenção;

- um coração com marcas da solidariedade, porque aprendiz e servidor da Solidariedade Divina, que não consentiu que ficasse para sempre decaída a humanidade pelo pecado;
- um coração pleno de virtudes, porque enriquecido por Aquele do qual procede todos os carismas, virtudes em infinidade;

- um coração plenamente livre, porque ama, testemunha o Evangelho Daquele que é a Verdade que nos Liberta;
- um coração iluminado, pleno de luz, porque é sinal d’Aquele que das nações é a Eterna Luz;

- um coração cristalino, porque sacia sua sede Naquele que é Fonte de toda Água cristalina!
- um coração inebriante, porque  se nutre do mais puro Pão, do Sangue d’Aquele que na Cruz, abundantemente derramou. Sangue inebriante, que nos redime e inebria, presente na Eucaristia!

Deste modo será apaixonado pela vida, porque servidor d'Aquele que dela é Fonte, e por isto amante e defensor da sacralidade da vida, portadora da imaculada e inviolável dignidade.

Deste modo, viverá o Puro Amor, amando a humanidade como Aquele que a humanidade, até o fim amou, com um coração indiviso à vontade Divina, para servir e consagrar Aquele que foi Todo fidelidade a Deus!São estes, entre outros, os compromissos que devem estar enraizados em seu coração, ocupando as entranhas de sua alma...

É imperativo que o sacerdote tenha um coração semelhante ao Imaculado Coração de Maria, porque somente assim ele será o amor do Coração do Filho, o amor do Coração de Jesus!  Somente assim poderá, revigorado a cada dia em seu Ministério, ser da massa o fermento, da terra o sal, do mundo um raio de luz! 

Discurso do Papa Francisco no Simpósio Internacional (Síntese)

                                                             


Discurso do Papa Francisco no Simpósio Internacional (Síntese)

 

“Para uma teologia Fundamental do Sacerdócio”

 

O Papa partilha uma reflexão fruto dos seus 52 anos de Sacerdócio, e do convívio com tantos padres ao longo de sua vida, a fim de iluminar a vida e o ministério dos padres, e assim tenham os traços do Bom Pastor, Jesus Cristo, e não percam o fogo do primeiro amor, tornando estéril, repetitivo e quase sem sentido o ministério.

 

Na sua vida, o sacerdote atravessa condições e momentos diferenciados, e é necessária a atitude de abertura às mudanças, sem jamais cair na tentação de recuo à procura de refúgio, ou o otimismo exagerado, seguindo em frente e sem as decisões necessárias – “São dois tipos de fuga, que fazem lembrar as atitudes do mercenário que vê vir o lobo e foge: foge para o passado ou foge para o futuro. Mas nenhuma destas atitudes leva a soluções amadurecidas.”.

 

Urge a edificação de comunidades com vida, fervor e o anseio de levar Cristo aos outros, a fim de que surjam vocações genuínas: –“Quando caímos no funcionalismo, quando tudo é organização pastoral e nada mais, isto não atrai de maneira alguma; mas quando há o padre ou a comunidade que tem o tal fervor cristão, batismal, então há a atração de novas vocações”.

 

A vida de um sacerdote é, antes de mais nada, a história de salvação de um batizado, de modo que não se pode cair na grande tentação de viver um sacerdócio sem batismo: – “Com toda a razão nos lembrava São João Paulo II que «o sacerdote, como a Igreja, deve crescer na consciência da sua permanente necessidade de ser evangelizado» (Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, 25/03/1992, 26). Tenta ir dizer a um bispo, a um sacerdote que deve ser evangelizado. Não compreendem! Isto sucede. É o drama de hoje”

Afirma que nossa vocação é uma resposta Àquele que nos amou primeiro (cf. 1 Jo 4, 19),  e diz que sempre relê o Profeta Ezequiel 16, com o qual se sente identificado,  além de nomear outros (Pedro, Paulo, Mateus...).

O Papa nos apresenta quatro sólidos alicerces, ou seja, quatro atitudes que dão solidez à pessoa do sacerdote; quatro colunas constitutivas da vida sacerdotal, as «quatro proximidades», pois seguem o estilo de Deus, que é fundamentalmente um estilo de proximidade (cf. Dt 4, 7): proximidade com Deus, com os bispos, presbíteros e Povo de Deus.

Este estilo de Deus é proximidade especial, compassiva e terna, e as palavras que definem a vida de um sacerdote (e também de um cristão), porque são tiradas precisamente do estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura.

Tudo isto manterá viva a chama do primeiro amor, na expressão das palavras de exortação do Apóstolo Paulo a Timóteo, para que mantivesse vivo o dom de Deus que recebera pela imposição das mãos dele, pois Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, amor e sobriedade (cf. 2 Tm 1, 6-7).

1 - Proximidade com Deus:

«Eu sou a videira; vós, os ramos (João diz isto no seu Evangelho a propósito de «permanecer»): é preciso permanecer n’Ele, Jesus, a fim de que o ministério seja fecundo:

- “A proximidade com Jesus, o contato com a Sua Palavra, permite-nos comparar a nossa vida com a d’Ele e aprender a não nos escandalizarmos com nada do que nos acontece, a defender-nos dos «escândalos». Como sucedeu com o Mestre, passareis por momentos de alegria e festas nupciais, milagres e curas, multiplicação de pães e descanso. Haverá momentos em que poder-se-á ser louvado, mas virão horas também de ingratidão, rejeição, dúvida e solidão, a ponto de ter que dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?» (Mt 27, 46)”.;

- “A proximidade com Jesus convida-nos a não temer nenhuma destas horas, não porque somos fortes, mas porque olhamos para Ele e agarramo-nos a Ele, dizendo-Lhe: «Senhor, não permitais que eu caia em tentação!... Por vezes esta proximidade com Deus assume a forma duma luta: havemos de lutar com o Senhor sobretudo nos momentos em que a sua ausência se faz sentir mais na vida do sacerdote ou na vida das pessoas a ele confiadas; lutar toda a noite e pedir a sua bênção (cf. Gn 32, 25-27), que será fonte de vida para muitos...”

A escassa vida de oração torna-se fonte de muitas crises, de modo que é preciso distinguir uma vida espiritual de uma prática religiosa“Sem a intimidade da oração, da vida espiritual, da proximidade concreta com Deus através da escuta da Palavra, da Celebração Eucarística, do silêncio da adoração, da consagração a Maria, do sábio acompanhamento duma guia, do sacramento da Reconciliação… sem estas «proximidades» concretas, um sacerdote não passa, por assim dizer, dum trabalhador cansado que não se aproveita dos benefícios dos amigos do Senhor”

Muitas vezes, pratica-se a oração apenas como um dever, esquecendo-se que a amizade e o amor não podem ser impostos como uma regra externa, mas são opção fundamental do nosso coração: – “Um sacerdote que reza permanece, radicalmente, um cristão que compreendeu profundamente o dom recebido no Batismo. Um padre que reza é um filho que se lembra continuamente de ser filho e ter um Pai que o ama. Um padre que reza é um filho que se aproxima do Senhor.”.

É necessário cultivar espaços de silêncio ou pode-se cair num ativismo como expressão de fuga: – “Se não se sabe largar o «fazer» de Marta, para aprender o «estar» de Maria.”

 

O caminho do deserto leva à intimidade com Deus, mas sob condição de não fugir, não encontrar formas para escapar deste encontro. Hei de conduzi-lo ao deserto «para lhe falar ao coração»: diz o Senhor ao Seu povo, pela boca do profeta Oseias (cf. Os 2,16).

 

Um sacerdote deve ter, portanto, um coração suficientemente «ampliado», para dar espaço ao sofrimento do povo que lhe está confiado e ao mesmo tempo, como sentinela, anunciar a aurora da Graça de Deus que se manifesta precisamente naquele sofrimento, e nesta proximidade com Deus, o sacerdote reforça a proximidade com o seu povo; e, vice-versa, na proximidade com o seu povo vive também a proximidade com o seu Senhor, por isto, rezar é tarefa primeira tarefa de todo bispo e sacerdote.

2 - Proximidade com o bispo

A obediência não é um atributo disciplinar, mas a característica mais forte dos laços que nos unem em comunhão, de modo que obedecer – neste caso, ao bispo – significa aprender a escutar.

Esta atitude de obediência implica na capacidade de saber escutar, pois nos ajuda a individuar o gesto e a palavra oportunos que nos desinstalam da cômoda condição de espectadores, uma escuta respeitosa e compassiva.

Esta obediência “é a decisão fundamental de acolher quem está colocado à nossa frente como sinal concreto daquele sacramento universal de salvação que é a Igreja; obediência que pode ser também confrontação, escuta e, nalguns casos, tensão, mas não se separa. Isto requer necessariamente que os sacerdotes rezem pelos bispos e saibam exprimir, com respeito, coragem e sinceridade, o seu parecer. Requer, igualmente dos bispos, humildade, capacidade de escuta, de autocrítica e de se deixar ajudar. Se defendermos esta ligação, avançaremos com segurança no nosso caminho”.

3 - Proximidade entre presbíteros

“Fraternidade é optar deliberadamente por procurar ser santo com os outros, e não em solidão, santo com os outros”.

Cita um provérbio africano: “«Se queres chegar depressa, vai sozinho; se queres chegar longe, vai com os outros». Às vezes parece que a Igreja seja lenta – e é verdade –, mas apraz-me pensar que seja a lentidão de quem decidiu caminhar em fraternidade; inclusive acompanhando os últimos, mas sempre em fraternidade”.

A partir da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 13, descreve algumas atitudes que devem marcar a vida do sacerdote nesta proximidade a ser vivida: a paciência, a benignidade, a vigilância em relação ao pecado da inveja, vencer toda tentação de solidão, o amor fraterno que não busca o próprio interesse e não deixa espaço à ira, ao ressentimento.

Quanto ao amor fraterno, compara-o como um ginásio do espírito, onde dia a dia nos confrontamos conosco e temos o termómetro da nossa vida espiritual, e é a profecia da fraternidade permanece viva e tem necessidade de arautos.

No caso dos presbíteros, este amor fraterno se exprime como caridade pastoral, que impele a viver concretamente na missão – “...o amor entre os presbíteros tem a função de guardar, de se guardarem mutuamente”.

E completa: – “Atrevo-me a dizer que, onde reina a fraternidade sacerdotal, a proximidade entre os padres, e existem laços de verdadeira amizade, é possível viver com mais serenidade também a opção celibatária...Sem amigos e sem oração, o celibato pode tornar-se um peso insuportável e um contratestemunho da própria beleza do sacerdócio”.

4 - Proximidade com o povo

Convida-nos a retomar os números 8 e 12 da “Lumen Gentium”, na compreensão desta proximidade.

A relação com o santo Povo de Deus deve ser  para cada um de nós, não um dever, mas uma graça – “«O amor às pessoas é a força espiritual que favorece o encontro em plenitude com Deus”, de modo que a paixão por Jesus deve ser simultaneamente uma paixão pelo seu povo, e Ele quer servir-Se dos sacerdotes para ficar mais próximo do santo Povo fiel de Deus...”

Deste modo, o Povo de Deus espera encontrar pastores com o estilo de Jesus e não «clérigos de Estado», vivendo ao estilo do Senhor, que é de proximidade, compaixão e ternura, capazes de parar junto de quem está ferido e estender-lhe a mão; homens contemplativos que possam, na proximidade com o seu povo, anunciar nas chagas do mundo a força operante da Ressurreição.

Reflete sobre a perversão do clericalismo: – “O clericalismo é uma perversão. E um dos seus sinais – a rigidez – é outra perversão. O clericalismo é uma perversão, porque se constitui com base no «distanciamento». Curioso! Não sobre as proximidades, mas sobre o contrário! Quando penso no clericalismo, vem-me ao pensamento também a clericalização do laicado, ou seja, a promoção duma pequena elite que, ao redor do padre, acaba inclusivamente por desnaturar a sua missão fundamental (cf. Gaudium et spes 44): a do fiel leigo”.

Cada batizado é uma missão nesta terra, e para isto está no mundo;  é  preciso nos considerarmos como marcados a fogo por esta missão (EG 273).

Relaciona a proximidade com o Povo de Deus e a proximidade com Deus, porque a oração do pastor se nutre e encarna no coração do Povo de Deus. Quando reza, o pastor carrega consigo os sinais das feridas e das alegrias do seu povo, que apresenta em silêncio ao Senhor para que as unja com o dom do Espírito Santo. Está aqui a esperança do pastor, que tem confiança e luta para que o Senhor abençoe o seu povo.

Conclui afirmando que estas quatro proximidades são fundamentais, para que o sacerdote responda melhor ao chamado,  sem medo, sem rigidez, sem reduzir nem empobrecer a missão, de modo que a proximidade com o Senhor não se trata de uma nova tarefa, mas um dom que Ele concede para que se mantenha viva e fecunda a vocação, uma proximidade compassiva e terna com Deus, com o bispo, com os irmãos presbíteros e com o povo que lhes foi confiado – uma proximidade ao estilo de Deus, marcada pela compaixão e ternura.

 

PS: Discurso proferido na Sala Paulo VI, no dia 17 de fevereiro de 2022, que pode ser conferido na integra:

http://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2022/february/documents/20220217-simposio-teologia-sacerdozio.html

  

Ser presbítero: graça e missão divinas

 


Ser presbítero: graça e missão divinas

Reflexão sobre a graça da missão do presbítero, que consiste em permanecer na realidade urbana ou rural, e anunciar o Evangelho.

Muitos são os desafios que nos apresentam as cidades; no entanto,  como peregrinos da esperança, precisamos enfrentá-los, pois a “Esperança não decepciona” (Rm 5,5).

Iluminados pela Palavra e fortalecidos pela Eucaristia, não vacilar na fé, nem esmorecer na esperança, tampouco esfriar na caridade, porque  por maiores que sejam os desafios, bem maior é a graça divina que nos acompanha na realização da missão que o Senhor nos confiou, com a presença e ação do Espírito Santo (Lc 4,16-21).

Alguns compromissos e atitudes devem estar presentes na vida de cada agente de pastoral, sobretudo na vida de todos os presbíteros juntamente com toda a comunidade a ele confiada. Deste modo, os presbíteros são homens:

- atentos aos sinais de esperança que clamam aos céus: paz para o mundo; olhar de esperança para o futuro; abertura e paixão pela vida; compromisso com inúmeros rostos do cotidiano, dentre eles: presos; doentes, jovens; migrantes; idosos e pobres;

- da esperança: Santo Agostinho: «Em qualquer modo de vida, não se pode passar sem estas três propensões da alma: crer, esperar, amar»;

- da misericórdia: testemunhas da compaixão, proximidade e solidariedade;

- que promovem a conversão em todos os níveis e de todos os envolvidos na Evangelização: cristãos leigos (as), consagrados (as), ordenados. Empenham-se na conversão das estruturas para que se intensifique a comunhão e a participação, na acolhida sobretudo dos que se encontram nas “periferias existenciais” de nossas paróquias;

- que promovem a acolhida de irmãos e irmãs com alegria, como comunidade do Amor na alegre fraternidade e ternura;

- que promovem a defesa da vida, desde a sua concepção até o seu declínio natural, com sua dignidade e sacralidade; bem como comprometidos com a defesa do meio ambiente, numa espiritualidade ecológica;

- que incentivam a comunicação da Boa-Nova do Evangelho através dos Meios de Comunicação Social já existentes, e presença em desafiadores novos areópagos da cidade: Internet, rádio, TV, jornais, escolas, universidades, hospitais, shoppings...;

- homens que a promovem uma Catequese Permanente e a Evangelização em todo o tempo: não é suficiente a catequese; é preciso Evangelizar, permear a vida toda com o Evangelho, de tal modo que Ele ajude a formar comunidades eclesiais missionárias, e que a vivência do Evangelho seja princípio ético de conduta e promoção do bem comum, na construção de uma sociedade justa e fraterna;

- que promovem a Santificação das famílias: diante dos incontáveis desafios (fragmentação, desestruturação, falta de diálogo...), para que ela seja sacrário vivo da vida, espaço primeiro e privilegiado da formação humana, espiritual, psicológica, assimilação dos valores que devem nortear a vida de toda pessoa e a pessoa toda para sempre;

- que vivem a evangélica opção preferencial pelos pobres no revigoramento e comprometimento sociopolítico, em busca de políticas públicas que assegurem vida, parcerias viáveis, fortalecimento dos diversos conselhos paritários.

Que o mesmo Espírito que pousou sobre Jesus na Sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,16-21), Aquele que é o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim (cf. Ap 21,6), continue repousando sobre nós: Espírito de sabedoria e discernimento, Espírito de conselho e fortaleza, Espírito de ciência, temor e piedade.

Sendo a fé viva quando são as obras que falam, que a vida e missão do presbítero fale no cuidado do rebanho a ele confiado (1Pd 5,1-4), com as bênçãos de Deus e a proteção de Maria, Mãe de Deus e da Igreja, a Estrela da Evangelização, e a intercessão de São Miguel Arcanjo, no bom combate da fé. Amém.

Presbítero: Sinal do Cristo Bom Pastor

                                                              

Presbítero: Sinal do Cristo Bom Pastor

Reflexão sobre o Ministério Presbiteral à luz da passagem do Evangelho de João (Jo 21, 1-19).

O Presbítero renova, em cada instante, o seu sim no cuidado do rebanho, como Pedro o fez por três vezes quando o Senhor o interrogou: “Simão, filho de João, tu me ama mais que estes”

O Presbítero, a exemplo de Pedro, amando mais que todos ao Senhor, deve colocar-se sempre na fila dos que devem amar e se entregar ao Senhor, sem medida, incondicionalmente, porque sem Jesus, nada se pode fazer.

Um sim acompanhado de fidelidade, coragem e muito amor, para conduzir a comunidade a ele confiada, e assim como os Apóstolos, não mais pescando peixes, mas resgatando a humanidade do mar da escravidão, do egoísmo, do sofrimento e da morte.

Piedosamente celebrando os Sacramentos e, de modo especial a Eucaristia, assegura pelo Pão e Vinho que consagra, que a comunidade jamais sinta sede e fome de Deus, porque somos mais que saciados e inebriados em cada Eucaristia.

Inseparavelmente, numa relação intrínseca, é o Homem da Palavra, da Eucaristia e do Seguimento do Amado e Divino Mestre.

Assim vivendo, assim sendo sua vida, a comunidade nele poderá contemplar o sinal do Cristo Bom Pastor.

Com os Presbíteros, avancemos para águas mais profundas

Com os Presbíteros, avancemos para águas mais profundas

Em tempo de mudança de época, qual o modelo de Padre que precisamos?

Sem levar incorrer em rotulações, urge construirmos juntos um modelo de Padre que venha a responder aos inúmeros desafios e apelos que as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora do Brasil nos apresentam, para lançar, com a comunidade, as  redes em águas mais profundas; renovando a vocação batismal; sem fixar morada nas margens; superando toda tentação de acomodação e medo.

Vejamos alguns possíveis “modelos de Padres”, desenvolvendo seu ministério, no contexto de globalização em que vivemos.

Padre-pastor – talvez o mais comum; envolvido, intensamente, nas atividades pastorais; muito dedicado ao serviço da comunidade; mas esta generosidade tem seu risco ou limites.

São inúmeras as solicitações, atividades sociais, atendimento de casos pessoais, o abundante e rotineiro programa de Missas e celebrações dos Sacramentos. Não poucas vezes a consequência é o estresse, prejudicando o equilíbrio pessoal, físico, emocional e espiritual.

O cansaço muitas vezes o impedirá de dar, a devida, atenção aos seus fiéis, podendo cair na tentação de recusar tudo o que é novo, em nome do “não tenho tempo para mais nada”. Ativismo sem controle pode levar ao pouco estudo, oração, aprofundamento, perdendo assim a capacidade de escuta aos anseios e clamores que o cercam.

É preciso repartir as atividades pastorais, ministérios diversos, equipes de colaboradores, animadores de comunidades, equipes de liturgia, pastorais sociais...

Não podemos esquecer que o Padre tem o ministério da síntese, mas não é a síntese de todos os ministérios...

Padre “light” - aquele que ama a Igreja viva e serve aos seus irmãos e irmãs, cultivando honestamente a espiritualidade, a oração e o estudo; empenha-se no trabalho para superação das limitações e fraquezas; divide com o presbitério e comunidade suas riquezas, preocupações e projetos pessoais.

Tem um bom relacionamento com as pessoas, assumindo a causa dos pobres. Mas, falta algo mais, é uma pessoa dividida entre a coragem e o medo de arriscar-se para dentro do que escolheu e quer ser.

Não se trata de Padres em crise, frustrados e infelizes; fala-se do Padre comum, do “bom Padre”, que por causa das circunstâncias tensas e dos desafios da cultura urbana entra em “stress” espiritual, pastoral e psíquico.

Padre-midiático-carismático ou “pop star” - São aqueles que vêm ocupando os espaços nos areópagos modernos da mídia.

Como anunciar Cristo através dos meios de comunicação social, sobretudo através da TV, que penetra na quase totalidade das casas?

Como não trair a autêntica mensagem do Evangelho, sem cair em extremismos emocionais e espetáculos?

Segundo um grande teólogo, “a imagem pública desses presbíteros “pop star” deve mexer com a cabeça de muitos seminaristas e induzir à imitação.

Os próprios fiéis, fascinados por esse tipo de culto e de linguagem, vividos com alta intensidade emocional passam a cobrar dos outros presbíteros mudanças na maneira de celebrar e de se comunicar.”

O ministério presbiteral tradicional: Padres que se inspiram no sacerdócio antes do último Concílio, recuperando formas exteriores que marcaram esta experiência pré-Conciliar.

Buscam formas seguras e certas, diante das incertezas em que estão mergulhados. Caracterizaram-se como sujeitos frágeis; necessitados de certezas, num universo de inúmeras propostas e modelos em processo de contínua mudança, fechando-se a tudo o que se apresenta como novidade.

Com isto possuem dificuldades de relacionamento, com o consequente empobrecimento na Homilia, catequese, sem o sentido de colaboração e comunhão com o outro, sobretudo com o Presbitério.

Padre com competência profissional - Talvez o termo mais próximo fosse especialista em determinado campo específico, não somente pelo gosto pessoal, mas tendo em consideração as necessidades da Diocese, sem cair no subjetivismo, que empobreceria o sentido eclesial. 

É também necessário que o Padre, no exercício de seu Ministério, seja incansável no lançar da semente da Palavra Divina no chão do coração dos membros da comunidade que deve conduzir, para que tão somente assim todos solidifiquem a fé, renovem a esperança na prática irrevogável da caridade.

É sempre tempo favorável para rever o caminho feito, e todos colaborarmos mutuamente para que o Presbítero, na fidelidade a Jesus Cristo, o Bom Pastor, a Ele se configure mais perfeitamente.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG