domingo, 9 de março de 2025

Santa Francisca: humildade, paciência e compaixão


Santa Francisca Romana: humildade, paciência e compaixão

No dia 9 de março, celebramos a Memória de Santa Francisca Romana (séc. XV), e há escritos sobre esta, por Maria Magdalena Anguillaria, superiora das Oblatas de Tor de’Specchi, que nos fala de sua paciência, compaixão e solidariedade com os pobres.

Deus pôs à prova a paciência de Francisca não apenas nos bens exteriores de sua fortuna, mas quis experimentá-la em seu próprio corpo, por meio de graves e frequentes doenças, com que foi atingida, como já se disse e se dirá em seguida. Mesmo assim, nunca se notou nela o menor gesto de impaciência ou qualquer atitude de desagrado pelo tratamento que, às vezes com certa falta de habilidade, lhe tinha sido ministrado.

Francisca mostrou sua coragem na morte prematura dos filhos, que amava com grande ternura. Aceitava a vontade divina com ânimo sempre tranquilo, dando graças por tudo o que lhe acontecia. Com igual constância, suportou os caluniadores e as más línguas que criticavam seu modo de vida. Jamais demonstrou a menor aversão por estas pessoas que pensavam e falavam mal dela e do que lhe dizia respeito. Mas, pagando o mal com o bem, costumava rezar continuamente a Deus por elas.

Contudo, Deus não a escolheu para ser santa somente para si, mas para fazer reverter em proveito espiritual e corporal do próximo os dons que recebera da graça divina. Por isso, era dotada de grande amabilidade a ponto de que todo aquele que tivesse ocasião de tratar com ela, imediatamente se sentia cativado por sua bondade e estima, e se tornava dócil à sua vontade.

Havia em suas palavras tanta eficácia de força divina, que com breves palavras levantava o ânimo dos aflitos e angustiados, sossegava os inquietos, acalmava os encolerizados, reconciliava os inimigos, extinguia ódios inveterados e rancores, e muitas vezes impediu a vingança premeditada. Com uma palavra, era capaz de refrear qualquer paixão humana e de conduzir as pessoas aonde queria.

Por isso, de toda parte recorriam a Francisca como a uma proteção segura, e ninguém saía de perto dela sem ser consolado; no entanto, com toda franqueza, repreendia também os pecados e censurava sem temor tudo o que era ofensivo e desagradável a Deus.

Grassavam em Roma várias epidemias, mortais e contagiosas. Desprezando o perigo do contágio, a santa não hesitava também nessas ocasiões em mostrar o seu coração cheio de misericórdia para com os infelizes e necessitados de auxílio alheio.

Depois de encontrar os doentes, primeiro persuadia-os a unirem suas dores à paixão de Cristo; depois, socorria-os com uma assistência assídua, exortando-os a aceitarem de bom grado aquele sofrimento da mão de Deus e a suportá-los por amor daquele que em primeiro lugar tanto sofrera por eles.

Francisca não se limitava a tratar os doentes que podia agasalhar em sua casa, mas ia à sua procura em casebres e hospitais públicos onde se abrigavam. Quando os encontrava, saciava-lhes a sede, arrumava os leitos e tratava de suas feridas; e por pior que fosse o mau cheiro e maior a repugnância que lhe inspiravam, imensa era a dedicação e a caridade com que deles cuidava.

Costumava também ir ao Campo Santo, levando alimentos e finas iguarias, para distribuir entre os mais necessitados; de volta para casa, recolhia e trazia roupas usadas e pobres trapos cheios de sujeira; lavava-os cuidadosamente e consertava-os; depois, como se fossem servir ao seu Senhor, dobrava-os com cuidado e guardava no meio de perfumes.

Durante trinta anos, Francisca prestou este serviço aos enfermos e nos hospitais; quando ainda morava em casa de seu marido, visitava com frequência os hospitais de Santa Maria e de Santa Cecília, no Transtévere, o do Espírito Santo, em Sássia, e ainda outro no Campo Santo. Durante o período de contágio não era apenas difícil encontrar médicos que curassem os corpos, mas também sacerdotes para administrarem os remédios necessários às almas. Ela mesma ia procurá-los e levá-los àqueles que já estavam preparados para receber os sacramentos da penitência e da eucaristia. Para conseguir isto mais facilmente, sustentava à própria custa um sacerdote, que ia aos referidos hospitais visitar os doentes que ela lhe indicava”.

Francisca Romana nasceu em Roma, no ano de 1384, casando-se muito jovem e teve três filhos.

A época em que viveu foi marcada por grandes calamidades, e ajudou a muitos pobres com os seus bens, assim como dedicou-se aos doentes.

Uma vida admirável, pelo amor e compaixão em favor dos indigentes e na prática das virtudes, como é próprio de todos os santos e santas, notabilizada pela paciência e humildade.

Fundou ainda, a Congregação das Oblatas, sob a regra de São Bento no ano de 1425, vindo a fazer a passagem para a eternidade quinze anos depois.

Um ícone memorável, a exemplo do Bom Samaritano, que nos fala o Senhor na parábola   - “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). 

Um luminar memorável para as mulheres e homens de todos os tempos, sobretudo ao refletimos sobre o Dia Internacional da Mulher (8 de agosto).

Concluo lembrando que o exemplo de Santa Francisca Romana está presente em nossas famílias, comunidades e sociedade, oferecendo o bálsamo do amor e da solidariedade para tantos feridos e caídos à beira do caminho.

Mulheres que nutrem os mais belos sentimentos de paciência, humildade e compaixão, porque movidas pelas virtudes divinas da fé, esperança e caridade, porque amadas pelo Senhor, são d’Ele grandes e imprescindíveis instrumentos e sinais.

O Senhor nos ensinou vencer o Maligno (IDTQA) (21/02)

O Senhor nos ensinou vencer o Maligno

No 1º Domingo da Quaresma (Ano A), a Liturgia da Palavra nos convida à conversão, recolocando Deus no centro de nossa existência, aprofundando nossa comunhão com Ele, na acolhida e vivência de Sua Palavra, vencendo todas as tentações que possam nos afastar de Seu Projeto de Vida e Salvação.

Na passagem da primeira Leitura (Gn 2,7-9; 3-17) encontramos uma bela página catequética que, muito mais do que ensinar como o mundo e o homem apareceram, nos lembra que a origem da vida e da humanidade é obra divina. A vida do homem e da mulher procede de Deus diretamente.

Um texto escrito num tempo árduo, em que o povo sentia pesar constantemente sobre si a ameaça do deserto árido, o ideal de felicidade seria um lugar com muitas árvores e muita água.

Homens e mulheres como obra do Criador, colocados no centro da criação, ocupando lugar especial, pois para eles o mundo foi criado e deve ser preservado. Criados por Deus para a felicidade, alcançada tão somente na plena comunhão com Ele.

O grande pecado de nossos pais foi a renúncia desta comunhão, e o desejo de ser como deuses. A Árvore do fruto proibido, a serpente, a nudez, que aparecem na Leitura, são para expressar que Deus criou o homem e a mulher para serem felizes, e trilharem um caminho de imortalidade e vida plena, mas muitas vezes se escolhe o caminho do orgulho, da autossuficiência, vivendo-se à margem de Deus e de Suas Propostas. Aqui se encontra a gênese de todo mal que destrói a harmonia do mundo, a alegria e a paz.

Deus nos criou para o Paraíso e nos deu a liberdade. Somente quando aceitamos nossa condição de criaturas diante do Criador, que nos criou por amor, é que podemos construir uma existência fraterna e harmoniosa, um Paraíso onde se encontra a vida, a realização e a  felicidade.

Na passagem da segunda Leitura (Rm 5,12-19), o Apóstolo Paulo nos apresenta sua clara mensagem, falando de Adão e de Jesus. Por meio de Adão entrou no mundo o pecado, que insere a pessoa no esquema que gera egoísmo, sofrimento e morte. De outro lado, por meio de Jesus, nos vem a Salvação, vida plena e definitiva. Somente através de Jesus Cristo, que Se faz oferta de Salvação para todos, a vida de Deus chega a nós.

Na antítese da mensagem do Apóstolo: Adão é a figura da humanidade que prescinde de Deus e das Suas Propostas, escolhendo um caminho de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência.

De outro lado, Jesus vive em permanente escuta de Deus e, em total obediência realiza Seus Projetos.

É exatamente este caminho que Jesus veio propor à humanidade: a comunhão com Deus expressa acolhida, obediência e vivência do Seu Projeto, exclusivo caminho que levará a humanidade em direção à vida plena e definitiva, e à Salvação que se deseja.

A conclusão a que se chega: uma história construída sem Deus, e à margem de Suas propostas, conduz inevitavelmente ao egoísmo, à injustiça, à prepotência, ao sofrimento e à morte.


Na passagem do Evangelho (Mt 4,1-11) refletimos sobre as tentações do Maligno (tentações diabólicas), que Jesus enfrenta no deserto: ter, poder e ser.

Enfrentando as tentações matriciais no deserto, Jesus nos ensina a confiar na Palavra de Deus para vencermos as tentações que destroem e nos afastam do Verdadeiro Deus e, consequentemente, do próximo.

Todo abandono e afastamento de Deus é abandono e afastamento de si mesmo e do outro, pois Deus habita no mais profundo de cada um de nós.

Ao contrário da primeira Leitura que nos falava do Paraíso para o qual Deus nos criou, o Evangelho nos apresenta o cenário do deserto, da privação e da provação.

Neste tempo quaresmal, é preciso que aprofundemos cada uma das tentações e como vencê-las. Não podemos esquecer o final do Evangelho – “O diabo se retirou para voltar no tempo oportuno”.

Tentação do ter (v.3-4): Vencendo a primeira tentação, Jesus nos ensina que não é a escolha de um caminho de realização e satisfação material que nos fará plenamente felizes. Não é o ter mais que nos faz felizes, tão pouco o acúmulo de coisas materiais. Não é a lógica da acumulação, mas da partilha – “Nem só de Pão vive o homem, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus”, respondeu Jesus a Satanás.

Tentação do ser (v. 5-7): Vencendo a segunda tentação, Jesus nos ensina a não procurar um caminho de êxito fácil. Não é a lógica do prestígio, da glória, da fama e do sucesso, mas a lógica da humildade e da gratuidade – “Não tentarás o Senhor teu Deus”, foi a resposta de Jesus.

Tentação do poder (v.8-10): Vencendo a terceira tentação, Jesus nos ensina o caminho do poder serviço, doação, diferente da lógica do poder diabólico, que é a de domínio e exploração – “Adorarás somente ao Senhor teu Deus”, foi a Sua resposta.

Jesus nos ensina a não trilhar o caminho de uma vida sem Deus, que leva ao egoísmo, ao orgulho e autossuficiência. Somente a adesão e fidelidade incondicional à Proposta de Salvação que Deus tem para nós, é que nos levará ao encontro da felicidade, porque na plena e perfeita comunhão com a Fonte da Vida, da alegria e da paz.

Reflitamos:

- Somos conduzidos pela tentação dos bens materiais, do acúmulo, ou pela lógica de Jesus?

- Somos conduzidos pela tentação da procura do êxito pessoal, do prestígio, aplausos, ou pela lógica de Jesus?

- Somos conduzidos pela tentação do poder domínio, com prepotência, intolerância, autoritarismo, humilhando e magoando os pobres e humildes pelos quais Deus tem predileção, ou pela lógica de Jesus?

Entremos com o Senhor no deserto, e façamos também nós quarenta dias intensos de penitência, acompanhados de Oração, jejum e esmola.

Alimentados pela Palavra Divina e nutridos pelo Pão Eucarístico, podemos vencer as tentações do Maligno como Jesus nos ensinou. E, somente com Ele e n’Ele é que também poderemos vencê-las, e a liberdade tão sonhada e desejada viver.

Reconstruir o Paraíso ou viver para sempre no deserto da privação e do sofrimento depende de nós.

Somente suportando as agruras de um deserto é que o Paraíso se torna possível, jamais sem Deus e Sua Palavra.

Enfrentemos a travessia do deserto necessário para que o Projeto de Deus se torne uma grande realidade, sonho e compromisso com o Paraíso, na construção de um mundo mais justo e fraterno.

“Convertei-vos e crede no Evangelho” (IDTQB)

                                                   

“Convertei-vos e crede no Evangelho” 

Com a Liturgia do 1º Domingo da Quaresma (ano B), damos mais um passo no Itinerário Quaresmal refletindo sobre o grande desejo de Deus: a transformação do velho mundo do egoísmo e do pecado num mundo novo marcado pela vida e felicidade plenas para toda a humanidade.

A passagem da primeira Leitura (Gn 9,8-15) nos fala sobre o dilúvio, e o autor sagrado oferece ao Povo de Israel uma fina catequese sobre Deus, a humanidade e o mundo.

Tem como objetivo, também, que o Povo reconheça e corresponda à Aliança de Amor de Deus, de modo que ultrapassa o seu desejo de retratar o dilúvio como fato histórico. 

O autor sagrado se empenha de toda a forma para a correção e afirmação categórica de que o Senhor não ameaça nem castiga a humanidade, ao contrário, quer, deseja e propõe uma Aliança de Amor e vida, e espera que ninguém fique de braços cruzados.

Afasta-se da imagem de um Deus violento e vingativo, criado pelos medos e frustrações do homem e da mulher. Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.

A Aliança de Deus com Noé é gratuita e incondicional da parte de Deus, e sem contrapartidas. É exclusivamente fruto da bondade e generosidade de Deus.

Urge a conversão à lógica deste Amor incondicional por parte de toda a humanidade.

O arco-íris mencionado na passagem bíblica passou a ser um sinal da bondade de Deus, que abraça o mundo e a humanidade. Sinal belo e misterioso que toca o céu e a terra, lembrando que é preciso eliminar o pecado que mata a felicidade da humanidade dando um novo sentido à existência.

Bem sabemos que o arco era o instrumento que servia para lançar as flechas e punir os homens e que agora é abandonado. Há um novo arco, o arco-íris que não servirá mais para dar morte à humanidade, mas para lhe recordar que toda a Criação está sob a proteção e benevolência divinas, e que nenhum pecado será capaz de comprometer a fidelidade de Deus na Aliança com a Humanidade.

Na passagem da segunda Leitura (1Pd 3, 18-22), o autor nos apresenta Cristo que partilhou nossas dores e limitações, mas levou a plena realização o Projeto de Salvação de Deus para toda a humanidade. 

Com Sua morte, descida à mansão dos mortos e Ressurreição acontece o triunfo da misericórdia divina. A Salvação é concedida não por nossos méritos, mas como dom gratuito de Deus em nosso favor.

Dirigindo-se aos cristãos da Ásia Menor, que começam a experimentar um ambiente de hostilidade e perseguição, o autor encoraja as comunidades, fortalecendo a fé, a esperança, o amor, a solidariedade, a coerência e a fidelidade.

Assim como o dilúvio possibilitou o recomeço, também pelo Batismo iniciamos uma nova vida. Interessante este paralelo entre o dilúvio e o Batismo.

Esta passagem propicia uma reflexão sobre o quanto vivemos intensamente nosso Batismo, de modo que vivê-lo no seguimento de Jesus, implica em viver e testemunhar uma vida nova marcada pela doação, amor e entrega, para que a glória de Deus possamos merecer.

Viver o Batismo é não permitir que o pecado nos separe do Amor de Cristo, que por nós morreu e ressuscitou. É acolher com alegria o Amor gratuito do Pai, que Jesus nos trouxe e nos comunicou pelo Seu Espírito.

Reflitamos:

- Em quem depositamos nossa confiança e esperança?

- Como resistimos aos eventuais ataques e perseguições, inerentes à vida cristã?

- Com que armas resistimos e lutamos?

A passagem do Evangelho (Mc 1,12-15) apresenta Jesus no deserto por quarenta dias e quarenta noites. 

Quarenta é um número expressivo: Quarenta anos do Povo de Deus no deserto, quando deixou a terra da escravidão para entrar na terra da liberdade, e significa uma vida inteira.

Durante todo o tempo, Jesus teve que vencer a tentação de Satanás que procurava seduzi-Lo, a fim de que Ele abandonasse os Planos de Deus. 

Assim é a vida cristã: fidelidade aos Projetos Divinos ou frustração deles. Com Jesus, tentado e vencedor, aprendemos a lutar e a vencer as forças satânicas que nos fragilizam e nos querem distantes dos Planos Divinos.

Na segunda parte da passagem, vemos que chegou o Messias prometido e com Ele temos a chegada do Reino.

Agora está no meio da humanidade o Reino de paz e abundância, que não dispensa a “metanoia”, isto é, a conversão necessária ao Evangelho.  

De modo que jamais poderemos sucumbir e prostrar diante de Satanás, o sedutor, tentador, a pedra de tropeço, o obstáculo ao Projeto de Deus.

O Reino não cairá do céu como efeito de uma intervenção mágica de Deus, e tampouco será instaurado pela imposição, através do uso da força e da violência. 

Ele se instaura sem barulho, sem chamar atenção. Seu desenvolvimento será como a semente do grão de mostarda, o fermento na massa... Por isto, Jesus fala em “Converter-se e crer no Evangelho”.

Conversão como mudança de mentalidade e comportamento, testemunhando uma nova atitude: renúncia ao egoísmo, orgulho e autossuficiência, sendo a perfeita imagem de Deus.

A conversão verdadeira exige total adesão à Pessoa, à Boa Nova e à proposta de vida e Salvação que Jesus nos trouxe. Jesus é a manifestação do verdadeiro rosto de Deus presente em nosso meio.

Deste modo, a Quaresma é tempo para redescoberta da verdadeira face de Deus, que tanto nos ama e espera pacientemente nossa verdadeira e contínua conversão.

É tempo de crermos mais intensamente no Senhor, em total adesão a Ele e Seu Projeto, em total fidelidade ao Seu Evangelho, com renúncias necessárias, carregando a cruz de cada dia, até que possamos um dia contemplar a glória divina.

Reflitamos:

- Em nossa vida pessoal, familiar, comunitária, no mundo do trabalho e em quaisquer outros espaços em que vivemos, quais são os apelos de conversão?

- Qual é o nosso empenho na construção do Reino de Deus?

- Qual é o nível de nossa adesão pessoal a Jesus e ao Seu Evangelho, à Sua proposta?

- Quais são as ações satânicas que querem nos afastar dos desígnios de Deus?

Trilhemos o Itinerário Quaresmal, para saborearmos e participarmos do triunfo da misericórdia divina que Ressuscitou Jesus, Amor que amou até o fim, para com Ele também um dia ressuscitarmos.  

sábado, 8 de março de 2025

Dia Internacional da Mulher

                                                       

Dia Internacional da Mulher

Dia de homenagearmos todas as mulheres
Que tecem a rede da história com fios de confiança,
Ternura, ousada profecia e esperança.

É também uma possibilidade de nós, homens, repensarmos
Caminhos a serem trilhados, para que homens e mulheres
Tenham reconhecidos os mesmos valores e dignidade.

Dia Internacional da Mulher: o mundo precisa aprender com
As “mulheres da montanha que enfrentam o desafio da planície”,
Que o Filho Amado contemplam, escutam e seguem.

Que com seu compromisso, dedicação, por amor se consumindo,
As veias da história fazendo circular a linfa mais do que necessária:
A linfa vital do Filho Amado e Glorioso, a linfa do amor.

Dia Internacional da mulher, aprendizado enriquecedor
Com as intrépidas discípulas missionárias do Senhor,
Que, incansáveis, se comprometem com a Divina Fonte do Amor.

Contemplemos neste dia a Mulher de todas as mulheres,
para que ela nos cubra com seu manto de amor e ternura: Maria.
Não há criatura que com ela não tenha algo a aprender e reaprender... 


PS: Postado com vistas ao Dia 8 de março - "Dia Internacional da Mulher"

Mulher, não sei o teu nome...

                                                         

Mulher, não sei o teu nome...

“Mas Jesus disse à mulher:
Tua fé te salvou. Vai em paz!”
(Lc 7, 50)

Mulher, não sei o teu nome, mas sei que te prostraste por detrás dos pés do Senhor;
Banhando Seus pés com as próprias lágrimas de arrependimento, abundantemente vertentes;
Secando-os com teus cabelos, cobrindo-os de beijos, com perfumada unção.

Mulher, não sei o teu nome...
Mas sei que és a própria humanidade, que aos pés do Senhor se prostra;
És capaz de reconhecer e chorar teus pecados diante de quem pode perdoá-los,
Jesus, verdadeiramente Homem, verdadeiramente Deus.

Mulher, não sei o teu nome...
Mas, como não reconhecer tua coragem entrando na casa de Simão?
Sem mesmo ser convidada, corajosamente, ironias e comentários, sem compaixão,
Por ti escutados, na ânsia tão intensa de ser amada, suportaste.

Mulher, não sei o teu nome...
Sei que casa entraste, e audaciosa foste,  “manchando” com teus pecados casa “tão pura”,
Bem sabias que pureza somente encontrarias se pelo Senhor fosses perdoada,
Por isto lavaste, com tuas lágrimas, os pés de quem poderia lavar tua alma e coração.

Mulher, não sei o teu nome...
Sei que foste acolhida por Aquele que te olhou com ternura,
Que te viu além do que eras, olhando para além de tua miséria,
Comunicou-te a misericórdia. No perdão dado, a paz comunicada.

Mulher, não sei o teu nome...
Sei que te aventuraste na mais corajosa aventura indo ao encontro do Senhor,
Pois tinhas o desejo mais puro que se possa ter: ser acolhida por Deus, por amor,
Para, amada e perdoada, espalhar pelo mundo o suave perfume de Amor do Senhor.

Mulher, não sei o teu nome...
Sei que creste num Deus que é maior que o nosso coração, indubitavelmente,
Cuja benevolência tem entranhas maternas, e mais forte que nosso pecado;
Um Deus que nos ama como pecadores, destruindo em nós tão apenas o pecado que abomina.

Mulher, não sei o teu nome...
Sei tão apenas que foste ao encontro não de alguém para apagar teu passado,
Mas de alguém que pudesse renovar teu coração, comunicando um dom novo,
Que fizesse desencadear um amor indizível, jamais sentido.

Mulher, não sei o teu nome...
Mas, que aprendamos de ti a mesma atitude diante do Senhor tomar,
Aprendendo que a vida vale a pena quando por Ele nos deixamos amar,
E, por Ele amados e perdoados, o outro também amar e perdoar.

A Misericórdia divina nos acolhe e nos perdoa

                                                           

A Misericórdia divina nos acolhe e nos perdoa

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de São João (Jo 8,1-11), sobre a adúltera perdoada por Jesus.

Somos convidados a nos colocarmos de pé, vivendo de maneira diferente, acolhendo a Palavra de Jesus que foi dirigida à pecadora surpreendida em adultério: “vai e não tornes a pecar”.

É sempre tempo de nos colocarmos num dinamismo de conversão, voltando-nos para um Deus que nos ama e nos desafia a romper as escravidões que nos afastem de Seu Amor e nos colocando a caminho numa vida nova, até que alcancemos a Ressurreição. 

Temos com este acontecimento narrado pela passagem do Evangelho, a revelação de um Deus de Misericórdia que age por meio do Filho, Jesus.

O cenário de fundo nos coloca frente a uma mulher apanhada em adultério, e de acordo com o Levítico (Lv 20,10) e o Livro do Deuteronômio (Dt 22,22-24), a mulher devia ser morta (lapidada). 

Aplicar a Lei ou não, eis a questão colocada para Jesus. Jesus é posto em face à Lei e, ao mesmo tempo, em face de uma mulher adúltera. 

Jesus não rejeita a Lei, pede tão apenas que escribas e fariseus se voltem para sua própria vida antes de olhar a mulher e de sentenciar a condenação.       

Que se vejam “no espelho” e também vejam quão pecadores também o são. E, assim, a partir dos mais velhos retiram-se.

A ação de Jesus diante da questão posta revela que a Misericórdia Divina não condena, não elimina, não julga e não mata. 

A lógica divina é sempre a possibilidade de uma vida nova. De fato, o amor liberta, renova e gera esta vida nova que tanto ansiamos. 

Embora nossa vida pareça, por vezes, um deserto árido, Deus se apresenta como a Fonte de Água Viva, por Seu Amor faz surgir um rio de Água Viva. A aridez do deserto é vitalizada pela intervenção divina, que nos acompanha e nunca desiste de nós, apesar de nossas infidelidades.

Somos interpelados a rever a lógica sobre a qual se organiza a sociedade, passando da eliminação sumária à reeducação e a reintegração daquele que pecou, ainda que o caminho pareça mais difícil, mais longo.

Somos desafiados a viver a lógica da misericórdia que é criativa. É preciso superar a lógica simplista - “errou, pagou...”. A lógica divina é infinitamente superior: “errou, dê conta do erro e não peques mais, e entre num caminho comunitário de conversão”.

É sempre tempo de revisão de nossa caminhada de fé, reconhecer nossos pecados, e confessá-los diante da Misericórdia de Deus, sobretudo, através do Sacramento da Penitência.

Vigilantes cuidemos melhor de nossos “telhados de vidro”, sem conivência com o pecado do outro, mas crendo que a Misericórdia Divina é a possibilidade de vida reconciliada, de vida nova para todos. 

A alegria de Deus é a conversão do pecador. Deus abomina o pecado e ama o pecador. Ele não quer que ninguém se perca e naufrague no mar imenso de pecado. 

É preciso que esvaziemos nossas mãos das pedras, sempre prontas para as lapidações sumárias do outro. Por vezes estas pedras se encontram em nossa língua e em nossos gestos, se nosso coração estiver cheio de rancores, ressentimentos, autossuficiência, soberba...

Libertemo-nos das pedras, revistamo-nos da Misericórdia Divina que em Cristo nos reconciliou e nos fez novas criaturas.

O deserto que atravessei...

 

  O deserto que atravessei...
 
“Catedral” Quem não conhece esta belíssima canção? Inspirado nela, há algum tempo, escrevi esta reflexão. Desejo que não sejam apenas palavras, mas um convite para retomarmos o fôlego em nossa travessia do deserto de cada dia, em tempo de grandes dificuldades sociais, econômicas, políticas etc.
 
Um homem moderno se perdeu no deserto e, durante dias arrastou-se, desorientado pelas dunas da areia. A inclemência do sol ardente foi desidratando seu corpo...
 
De repente, a certa distância, avistou um oásis - “Ah, disse a si próprio: esta é uma miragem que quer me enganar!”
 
Aproxima-se do oásis, que não desapareceu. Diante de seus olhos irritados surgiram tamareiras, pedaços de relva verde e, sobretudo uma nascente de água murmurante – “Isto não passa de fantasias produzidas pela fome, e de alucinações auditivas”, dizia para si o andante exausto, “Como é cruel a natureza!”.
 
Pouco tempo depois, dois beduínos o encontraram morto. “Você entende uma coisa dessas?” Perguntou um ao outro. “As tâmaras praticamente estavam ao alcance de sua boca, havia uma nascente ao lado dele, e ele morreu de fome e de sede! Como isso é possível?” “Bem, respondeu o outro, ele era um homem moderno”.
 
Diante de tantas incredulidades e credulidades caducas, precisamos saber em quem confiar: sem dúvida a Fonte de Água Viva habita em cada um de nós (Jo 4,14), e a nossa Verdadeira Comida é o próprio Cristo Jesus Ressuscitado, que Se fez Bebida e Comida para fortalecer nossa caminhada na travessia do deserto da vida.
 
Quantas vezes nossa vida parece uma travessia no deserto que não tem mais fim. As dificuldades parecem ser mais fortes que nossas forças. É preciso que saibamos recorrer à pessoa certa para refazer nossas forças. Esta Pessoa é Jesus, Que jamais nos deixará morrer de fome e cansados: “Eu sou o Pão da Vida, quem vem a mim nunca mais terá fome, e quem crer em Mim nunca mais terá sede” (Jo 6,34).
 
No Evangelho de São Mateus, Ele mesmo nos diz: “Vinde a Mim vós que estais cansados e abatidos, porque o meu fardo é leve e o meu jugo é suave” (Mt 11,30).
 
Esta mensagem muito nos inspira na luta, na caminhada, na travessia do deserto de cada dia.
 
Saciando nossa sede e fome em Jesus, poderemos ser:
 
“Vida, para fazer nascer os que estão morrendo... 
Sol, para fazer brilhar os que não possuem Lua... 
Luz, para iluminar os que vivem na escuridão... 
Chuva, para correr toda a terra e molhar os campos secos e devastados... 
Lágrima, para fazer chorar os corações insensíveis... 
Voz, para fazer falar os que sempre se ocultaram... 
Canto, para alegrar os que vivem na tristeza... 
Luar, para brilhar na noite dos amores incompreendidos... 
Flor, para enfeitar os jardins no outono...
Silêncio, para fazer calar as vozes que atordoam o coração do homem... 
Sino, para repicar nos Natais dos que possuem recordação amarga...
Grito, para gritar a dor dos que sofrem no silêncio... 
 
Olhos, para fazer enxergar os cegos de verdade... 
Força, para fugir dos que a utilizam para o mal. 
Sorriso, para encantar os lábios dos amargurados... 
Sonho, para colorir o sono dos realistas petrificados... 
Veículo, para trazer de volta os que partiram deixando saudades... 
Amanhecer, para fazer um dia a mais de felicidade sobre a Terra...
Noite, para acalentar os que lutam durante o dia... 
Amor, para unir as pessoas e lhes dizer que sou apenas uma delas”. (1)
 
Urge continuarmos firmes em nossa missão, renovando, a cada dia, o ardor missionário; procurando caminhos que melhor contribuam nesta caminhada de Evangelização.
 
Quaresma é o Tempo do fecundo silêncio, recolhimento para rever pensamentos, sentimentos, atitudes, para mais configurados a Cristo Jesus e ao Mistério de Sua Paixão, renovemos a fidelidade no carregar da cruz, para que um dia a alegria Pascal possamos celebrar e no coração senti-la transbordar, acenando para o destino de todos nós: a glória que passa pela cruz.
 
Por enquanto, em meio ao deserto, oásis de amor, revigoramento de nossas forças, Deus na Sua infinita misericórdia não nos deixa faltar.
 
Viver é como se tornar oásis na vida do outro,
bem como o outro na nossa própria.
Nisto Deus Se revela e conosco caminha!
 
(1) Autor desconhecido 

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