quarta-feira, 5 de março de 2025

Dai-nos, Senhor, o dom das lágrimas

                                                       

Dai-nos, Senhor, o dom das lágrimas

Em seu discurso aos párocos da Diocese de Roma, no dia 6 de março de 2014, o Papa Francisco fez referência à oração para pedir o dom das lágrimas, encontrada nos Missais antigos.

Assim se rezava na Oração da “Coleta”:

“Ó Deus onipotente e misericordiosíssimo, que fizestes sair da rocha uma fonte de água viva para o povo sedento, fazei sair, da dureza do nosso coração, lágrimas de arrependimento, para que possamos chorar os nossos pecados e merecer, por vossa misericórdia, a remissão. Por nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que vive e reina na unidade do Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.”

Oremos:

Senhor, não mais bebemos da água que jorrou daquela rocha no deserto. Bebemos da água viva que tendes para nos oferecer (Jo 4,1-25). Saciai, Senhor, nossa sede de amor, vida e paz.

Senhor, contemplamos Vosso trespassado Coração, do qual verteu água e sangue, sinais que nos remetem aos Sacramentos do Batismo e da Eucaristia. Ajudai-nos a viver a graça do Batismo, nutridos pelo Vosso Corpo e Sangue, no Divino Banquete Eucarístico.

Senhor, façais sair, não obstante a dureza de nosso coração, as necessárias lágrimas de arrependimento, para que, contritos e com propósitos de conversão, choremos copiosamente nossos pecados, despindo-nos das obras das trevas, revestindo-nos com as armas da luz. (Rm 13,11-14a).

Senhor, não permitais que nosso coração fique endurecido, frio, curvado diante da globalização da indiferença, diante da dor, sofrimento e angústia de nosso próximo, sobretudo dos que se encontram feridos à beira do caminho (Lc 10,25-37).

Senhor, concedei-nos a graça de viver neste Tempo da Quaresma os sinceros propósitos de reconciliação convosco e com nosso próximo, na prática da oração, jejum e esmola, a fim de que façamos progressos maiores ainda na prática das virtudes divinas que nos movem, e assim, poderemos celebrar a alegria transbordante da Páscoa. Amém.

Em poucas palavras...

                                             


 

“A fé que prefiro...”

“É preciso esperar em Deus, é preciso ter fé em Deus, é uma coisa só, é tudo a mesma coisa. É preciso ter em Deus esta fé de esperar n’Ele. É preciso crer n’Ele, isto é, esperar.

A fé vê aquilo que é, no tempo e na eternidade. A esperança vê aquilo que será, no tempo e na eternidade. A caridade ama aquilo que é, mas a esperança ama aquilo que será. A fé que prefiro, diz Deus, é a esperança.” (Charles Péguy)

 

Fonte: O Verbo se faz Carne – Raniero Cantalamessa - Editora Ave Maria – 2013 – pág. 486

Por um autêntico Jejum

Por um autêntico Jejum

 “Jejuou durante quarenta dias e
quarenta noites e, por fim, teve fome”.

Retomemos a mensagem do Papa Bento XVI para a Quaresma de 2009, a fim de melhor compreendermos e vivermos o verdadeiro sentido do Jejum, para uma frutuosa Quaresma e, assim, possamos saborear depois as Delícias da Páscoa.

Com o tema: “Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome”, ele nos propõe um Itinerário Espiritual a ser percorrido.

A espiritualidade Quaresmal nos propõe três práticas penitenciais muito queridas da tradição bíblica e cristã – a Oração, a Esmola, o Jejum – a fim de nos predispormos para celebrar melhor a Páscoa e, deste modo, fazer a experiência do poder de Deus na Vigília Pascal.

O Jejum é um dos três Exercícios Quaresmais que devemos realizar. 

Fundamentando-se em passagens bíblicas, sobretudo, o Papa nos falava do Jejum, que é de grande ajuda para evitar o pecado e tudo o que a ele induz. Por isto, na história da Salvação é frequente o convite a jejuar. Entorpecidos pelo pecado e pelas suas consequências, o Jejum é-nos oferecido como um meio para restabelecer a amizade com o Senhor.

Ele refletiu sobre o valor e o sentido do Jejum a partir da prática de Jesus, que jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome (Mt 4, 1-2), nos dando o exemplo necessário.

Como Moisés antes de receber as Tábuas da Lei (cf. Ex 34,28), como Elias antes de encontrar o Senhor no monte Horeb (cf. 1Rs 19, 8), assim Jesus rezando e jejuando Se preparou para a Sua missão, cujo início foi um duro confronto com o tentador.

Jesus nos dá o exemplo do Jejum necessário, respondendo a satanás, no final dos 40 dias transcorridos no deserto, que “nem só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4).

O verdadeiro Jejum se finaliza, portanto, a comer o “verdadeiro Alimento”, que é fazer a vontade do Pai (cf. Jo 4, 34). Há a necessidade de recuperar o verdadeiro sentido bíblico do Jejum que é para os que creem em primeiro lugar, uma “terapia” para curar tudo o que os impede de se conformarem coma vontade de Deus, valorizar o significado autêntico desta antiga prática penitencial, mortificando nosso egoísmo e abrindo nosso coração ao Amor de Deus e ao próximo, primeiro e máximo Mandamento da Lei e de todo o Evangelho (Mt 22,34-40).

A prática fiel do Jejum contribui ainda para conferir unidade à pessoa, corpo e alma, ajudando-a a evitar o pecado e a crescer na intimidade com o Senhor.

Privar-se do sustento material que alimenta o corpo facilita uma ulterior disposição para ouvir Cristo e para se alimentar da Sua Palavra de Salvação.

Com o Jejum e com a Oração permitimos que Ele venha saciar a fome mais profunda que vivemos no nosso íntimo: a fome e a sede de Deus. Ao mesmo tempo, o Jejum nos ajuda a tomar consciência da situação na qual vivem tantos irmãos nossos - “Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como estará nele o Amor de Deus?” (3, 17).

Jejuar voluntariamente ajuda-nos a cultivar o estilo do Bom Samaritano, que se inclina e socorre o irmão que sofre (cf. Enc. Deus caritas est, 15). Escolhendo livremente privar-nos de algo para ajudar os outros, mostramos concretamente que o próximo em dificuldade não nos é indiferente. Com o Jejum fazer o dom total de si a Deus (cf.Enc. Veritatis Splendor, 21– Papa João Paulo II).

Para manter viva esta atitude de acolhimento e de atenção para com os irmãos,  encorajou as Paróquias e todas as Comunidades a intensificarem na Quaresma a  prática do Jejum pessoal e comunitário, cultivando de igual modo à escuta da Palavra de Deus, a Oração e a Esmola, multiplicando coletas e gestos de partilha  e solidariedade, além de usar de modo mais sóbrio palavras, alimentos, bebidas,  sono e jogos...

Exortou-nos à prática da leitura orante da Bíblia, participação no Sacramento da Reconciliação e participação ativa na Eucaristia, sobretudo na Santa Missa dominical.

Finalizou pedindo a companhia e o amparo da Bem-Aventurada Virgem Maria, no esforço de libertar o nosso coração da escravidão do pecado para torná-lo cada vez mais “Tabernáculo vivo de Deus”.

Oração: Para escutarmos Deus, silenciar é preciso!

                                                      

Oração:
Para escutarmos Deus, silenciar é preciso!

Deus fala na ausência de nossas palavras!
Oração não consiste num multiplicar de palavras, como o próprio Senhor o disse. Oração, muitas vezes, é a ausência delas...

Se silenciarmos Deus nos falará!
No melhor silêncio que possamos fazer, captar a voz de Deus que fala serenamente em nossa alma, no mais profundo de nós…

São tantos ruídos, gritos que nos impedem de momentos verdadeiramente orantes…

Some-se a isso o tempo exíguo para o muito fazer, e muitas vezes não tão bem fazer…

Oração!
Quem dela não precisa?
Orar é ser capaz de um diálogo (não monólogo) com Deus, o Amor  que apenas quer ser amado.

Na Oração simplesmente estabelecemos uma relação de amor com Deus e os frutos indubitavelmente se multiplicam.

A Oração que o Senhor nos ensinou...
Haverá Oração mais bela?
Pai nosso que estais no céu...

Oração: diálogo e intimidade com Deus

                                                        

Oração: diálogo e intimidade com Deus

“... quando você rezar, entre no seu quarto,
feche a porta, e reze ao seu pai ocultamente;
e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.”
(Mt 6, 6)

Na passagem do Evangelho (Mt 6, 5-6), Jesus recomenda a Oração silenciosa como um dos elementos essenciais para o processo de conversão e sintonia com Deus.

Se quisermos que chegue até Deus, a nossa Oração precisa:

- Brotar da sinceridade de um coração sedento de contínua conversão;

- Ser oculta, no silêncio do quarto, de portas fechadas e a sós com Deus.

Neste espaço do recolhimento e na intimidade, diante d’Ele, a sós, não há necessidade de usar máscaras e representar papéis.

Quaresma é tempo favorável para que nos coloquemos diante do Pai com alma e o coração nus, sem querer encobrir erros, falhas e pecados, revelando a sinceridade do coração e das intenções, porque Deus sabe quem cada um é e o que pretende:

“Javé, Tu me sondas e me conheces. Tu conheces o meu sentar e o meu levantar, de longe penetras o meu pensamento. Examinas o meu andar e o meu deitar, meus caminhos são todos familiares a Ti. A palavra ainda não me chegou à língua, e Tu, Javé, já a conheces inteira. (Sl 138, 1-4).

Multipliquemos e intensifiquemos este tempo diante de Deus, abrindo a Ele nosso coração, numa relação sincera, íntima, confiante, e assim, daremos passos significativos para celebrarmos com exultação a Páscoa do Senhor.

Oremos ocultamente, no silêncio do quarto, que é o nosso coração, onde Deus habita, onde podemos encontrá-Lo.


Fonte: Liturgia da Palavra I – reflexões para os dias da semana – Paulus, p.46

Quaresma, Tempo de ascese e fraternidade

                                                    

Quaresma, Tempo de ascese e fraternidade

Quaresma é tempo de ascese, da prática de exercícios que nos levam ao aperfeiçoamento espiritual. De modo especial, a Igreja nos convida a três indispensáveis exercícios: Oração, Jejum e Esmola (Lc 4,1-13; Mt 6,1-6.16-18).

O Missal Dominical cita longamente o Teólogo Paulo Evdokimow, e quem não pode ter acesso a este, não tenho dúvida que poderá em muito ser enriquecido em seu esforço de conversão.

Nesta caminhada rumo à Páscoa do Senhor, a ascese nos fará mais puros de todas as escórias que nos roubam a liberdade ou impossibilitem ver melhor os traços tão belos de Deus impressos em cada um de nós, porque feitos a Sua imagem e semelhança.

"A ascese cristã nunca foi fim em si mesma; é apenas um meio, um método a serviço da vida, e como tal procurará adaptar-se às novas necessidades.

Outrora, a ascese dos Padres do deserto impunha jejuns e privações intensas e extenuantes; hoje a luta é outra. O homem não tem necessidade de sofrimento suplementar; cilício, cadeias de ferro, flagelações, correriam o risco de extenuá-lo inutilmente.

A mortificação da nossa época consistirá na libertação da necessidade de entorpecentes, pressa, ruídos, estimulantes, drogas, álcool sob todas as formas.

A ascese consistirá acima de tudo no repouso imposto a si mesmo, na disciplina da tranquilidade e do silêncio, onde o homem encontra a possibilidade de concentrar-se para a Oração e a contemplação, mesmo em meio a todos os ruídos do mundo, no metrô, entre a multidão, nos cruzamentos de uma cidade. 

Consistirá principalmente na capacidade de compreender a presença dos outros, dos amigos, em cada encontro. O jejum, ao contrário da maceração imposta, será a renúncia alegre do supérfluo, a sua repartição com os pobres, um equilíbrio espontâneo, tranquilo".

Ainda o mesmo Missal cita o Bispo São João Crisóstomo (séc. IV) que já nos advertia sobre esta necessidade da ascese espiritual para a construção de relações mais sinceras e fraternas na vivência comunitária:

"Mas, direis, que divisão vês entre nós? Aqui, nenhuma, mas quando termina a nossa assembleia, um critica o outro; esse injuria publicamente o irmão; aquele se enche de inveja, de avareza ou de cobiça; aquele outro se entrega à violência; outro ainda à sensualidade, à impostura, à fraude.

Se nossas almas pudessem ser postas a nu, veríeis então a exatidão de tudo isso... Desconfiando uns dos outros, nos tememos mutuamente, falamos ao ouvido do vizinho e se vemos aproximar-se um terceiro, calamo-nos e mudamos de assunto...

Respeitai, respeitai esta Mesa da qual todos nós comungamos; respeitai o Cristo imolado por nós, respeitai o Sacrifício que é oferecido".

Iniciemos o itinerário quaresmal, revendo nossa conduta cristã, e neste caminho de conversão, abrirmo-nos à graça divina, para que nossas comunidades sejam mais fraternas, mais credíveis da presença do Ressuscitado.

Que a cada Oração, e de modo especial a cada Celebração Eucarística participada renovemos sagrados compromissos do aperfeiçoamento espiritual, para que possamos celebrar verdadeiramente a alegria da Páscoa, precedida de esforços indispensáveis para que o resplendor da glória divina seja vislumbrado em nosso olhar, porque oriunda de um coração que foi moldado e purificado pela misericórdia divina.

Práticas que nos santificam

                                                            

Práticas que nos santificam

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 6,1-6.16-18), em que Jesus nos aponta o caminho da autêntica e frutuosa prática da Oração, jejum e caridade, e tão somente assim firmamos nossos passos no  caminho de aperfeiçoamento espiritual desejável.

Vejamos no que estas práticas consistem:

A Oração:
Trata-se do relacionamento da criatura com o Criador, através da oração, viver e intensificar a profunda relação filial com Deus;

A Esmola:
Trata-se do relacionamento da criatura com o seu próximo, através da partilha, sobretudo com os mais necessitados;

O Jejum:
Trata-se do relacionamento da criatura com a natureza, com os bens criados por Deus.

O homem e mulher são senhores de todos os bens. Através do jejum, sentem na pele a necessidade do outro; sentem-se interpelados a fazer com que todos participem dos frutos da criação e do trabalho humano.

Concluo com as palavras do Bispo São Pedro Crisólogo (séc. V):

“Há três coisas, meus irmãos, três coisas que mantém a fé, dão firmeza à devoção e perseverança à virtude. São elas a Oração, o Jejum e a Misericórdia. O que a Oração pede, o Jejum alcança e a Misericórdia recebe".

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG