domingo, 2 de março de 2025

Livrai-nos, Senhor, da cegueira e da hipocrisia (VIIIDTCC)

                                                              

Livrai-nos, Senhor, da cegueira e da hipocrisia

Com a Liturgia do 8º Domingo do Tempo Comum, continuamos o aprofundamento do Sermão da Planície, que Jesus nos apresentou na passagem do Evangelho.

Na primeira Leitura, ouvimos a passagem do Livro do Eclesiástico (Eclo 27,4-7), que nos adverte que não julguemos as pessoas pela primeira impressão.

O autor convida a maior fidelidade à Lei de Deus, para que vivamos a autêntica Sabedoria.

É preciso rever sempre os critérios de nossas escolhas, para que não nos deixemos enganar pelas falsas impressões.

O autor nos ensina que a palavra revela, claramente, o íntimo do coração do homem.

Sendo possível ao homem fingir, enganar, disfarçar e encenar determinados tipos de comportamento, é preciso considerar que a Palavra o revela e põe a nu os seus sentimentos mais profundos.

Na passagem da segunda leitura (1 Cor 15,54-59), o Apóstolo Paulo conclui sua Catequese sobre a Ressurreição de Jesus.

Nela acreditando, o discípulo missionário deverá testemunhar, com verdade, sinceridade e coerência, a Sua proposta, que consiste no único caminho necessário para a vida plena que Deus reserva.

Deste modo, aqueles que professam a fé no Ressuscitado devem permanecer firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor (1 Cor 15,58), não cruzando os braços numa passividade que aliena, mas empenhando-se, verdadeiramente, numa efetiva transformação que traga vida nova para todos e para todo o mundo:

“A Igreja ensina que a importância das tarefas terrenas não é diminuída pela esperança escatológica, mas que esta antes reforça com novos motivos a sua execução” (Gaudium et spes, n.21).

Portanto, acreditar na Ressurreição, é compromisso de empenho na construção de um mundo mais humano e fraterno, eliminando as forças do egoísmo, do pecado e da morte que impeçam a viver a vida em plenitude.

Na passagem do Evangelho (Lc 6, 39-45), Jesus adverte Seus discípulos sobre o perigo de um cego guiar outro cego, com risco de ambos caírem num buraco e o perigo de enxergar com nitidez os defeitos do próximo sem dar conta dos próprios:

“Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Lc 6, 42).

Somos exortados a crescer sempre mais na prática da Misericórdia, procurando suas múltiplas faces, expressões e concretizações.

Esta prática, além de levar ao amor e oração pelos inimigos, também exige coerência de vida, evitando uma vida pautada por “dois pesos e duas medidas”, procurando a cura do mínimo sinal de miopia espiritual, para que enxergando bem, sem traves nos olhos, para que se possa ajudar mutuamente, sem desviar do caminho da prática da misericórdia, não mergulhando nos buracos que uma cegueira nos levaria (cegueira como ausência da Misericórdia).

Se por um lado a Misericórdia se expressa na coerência de vida, há algo que a ofusca: hipocrisia, ambiguidade, julgamento rigoroso de nossos irmãos e impaciência de vê-los trilhar o caminho do crescimento, aperfeiçoamento...

Somente a Misericórdia vislumbrada na prática da caridade resgata, recria e possibilita o novo, muitas vezes materializada no gesto da acolhida e do perdão reintegrador. Somente a Misericórdia na prática da caridade constrói, edifica, promove...

A ausência da Misericórdia destrói a paciência, a caridade, e, consequentemente, o outro.

Jesus nos adverte para um mal que rouba a luminosidade de nossa fé, porque rouba a coerência, a transparência, e leva à perda da força do testemunho da Palavra que o Senhor nos comunica, levando-nos à hipocrisia.

Urge suplicar ao Senhor para que nos liberte do fermento da hipocrisia, e que Ele nos dê o ázimo da sinceridade e da verdade, e tão somente assim nos tornaremos mais transparentes nas intenções e na pureza do coração, condição indispensável para que um dia a Deus vejamos, pois somente os puros de coração verão a Deus (Mt 5,8).

Esta hipocrisia consiste em toda tentativa inútil de ludibriar a Deus, porque a Deus ninguém engana. Podemos enganar os outros e a nós mesmos, o que seria o ápice da hipocrisia.

Manifesta-se quando há falsidade do coração, quando professamos com os lábios verdades que não cremos; sentimentos que procuramos expressar, mas não brotam com naturalidade, pureza e autenticidade, porque não vêm das entranhas do coração.

Também quando supomos agradar a Deus com as aparências, com longas Orações, sacrifícios com segundas intenções, beirando à simulação, como que se Deus não conhecesse o mais profundo de nós, como tão bem expressou o Salmista (Sl 138), e acreditamos que Ele veria bondade, onde tão apenas existe uma superficialidade de relacionamento, sem verdadeira entrega a Ele de todo nosso ser, de toda a nossa vida.

Hipocrisia que pode ser entendida como sinônimo de astúcia, esperteza, duplicidade, mas nos faz tão apenas falsários, com a estéril tentativa de pagar a Deus com moeda falsa, reduzindo nossa honra ao Senhor com os lábios, mas o coração longe d’Ele se encontrando (Mt 5,  8).

Deste modo, as palavras e obras de fé, esperança e caridade devem nos acompanhar cada dia para que sejamos libertos de toda hipocrisia e de qualquer outro sentimento que não seja conforme os  pensamentos, palavras e sentimentos de Jesus, e assim possamos gerar e formar Cristo em nós e nos outros.

Jesus também disse que a boca fala daquilo que o coração está cheio, e também podemos concluir que nossos olhos revelarão aquilo que se encontra em nosso íntimo, em nosso coração.

Se nele houver rancor, ódio, tristeza, indiferença, preconceitos, egoísmo, materialismo, hedonismo cultuado (busca do prazer sem medida), ídolos cultivados, o nosso olhar será a mais perfeita e triste expressão de tudo isto.

É tempo de olharmos para dentro de nós mesmos, para que possamos dizer como São Paulo:

“Pregar o Evangelho não é, para mim, motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho” (1Cor 9,16).

E pregando, vivamos, pois diz ele mesmo:

“Trato duramente o meu corpo e o subjugo, para não acontecer que, depois de ter proclamado a boa nova aos outros, eu mesmo seja reprovado” (1Cor 9, 27).

Quando a Misericórdia, o Amor de Deus em ação, na ação dos que creem, for vivida, com ousadia, vigor, ardor inextinguível, e paixão por Cristo, à luz da espiritualidade paulina, resplandecerão os sinais do Reino: amor, verdade, justiça e paz, reencantamento da vida.

Somente guiados pela Luz Divina, seremos para o irmão e irmã, com humildade, guias luminosos!

Oremos:

Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
semente plantada que, abundantemente, germina!

Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que toda cegueira elimina!

Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que toda hipocrisia abomina!

Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que nossos olhos ilumina!

Oh múltipla face da Misericórdia Divina,
Que a humanidade incansavelmente ensina!
Amém! 

“Quem me dera ver” (VIIIDTCC)

 


“Quem me dera ver”

Para aprofundamento da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,39-45), reflitamos a poesia de Benjamin González Buelta – SJ – Salmos para sentir e saborear as coisas internamente:

“Quem me dera ver

Quem me dera ver
quanto tem de mendigo,
o ouro no pulso,
a maquiagem no espelho,
a assinatura no cheque,
o título emoldurado na parede.

Quem me dera ver
quanto tem de infinito,
uma mão esgotada,
um rosto atrás das grades,
um sorriso sem retribuição,
o aroma partilhado do café.

Quem me dera olhar
com olho simples
as pessoas
e as coisas como são!

Quem me dera ver.”

Confiantes, supliquemos ao Senhor (12/09)

                                                                           


Confiantes, supliquemos ao Senhor

"Senhor, Vós nos interrogastes:
'Pode um cego guiar outro cego?
Não cairão os dois num buraco?'"  (Lc 6,39).

Senhor, nós vos pedimos confiantes, a luminosidade de olhar, para enxergarmos novos caminhos, como peregrinos da esperança. 

Vós que sois a luz do mundo, dai-nos o colírio da fé, para que tenhamos U, olhar de esperança e o concretizemos em gestos multiplicados de amor para com os amigos, bem como os inimigos, misericórdia para com os pecadores e caridade para com os pobres.

Senhor, a Vós que nos interrogastes dizendo: “Por que vês o cisco que está no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? (Lc 6,41), nós Vos suplicamos: 

Dai-nos reconhecer com humildade nossos pecados e fragilidades, para que tenhamos compreensão e misericórdia para com nosso próximo, sem que isto seja uma conivência com o pecado, mas, antes, é preciso reconhecer os próprios e confessá-los diante de Vós.

Dissestes com sabedoria e propriedade, porque conheceis nosso coração: “Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”. (Lc 6,43.45).

Rogamos, Senhor, a graça da fecundidade, a fim de que nosso coração seja manso e humilde como o Vosso, para que mais e melhor correspondamos ao amor do Vosso Pai, com a iluminação e a fecundação dos dons do Espírito, que nos são copiosamente concedidos para a graça do discipulado e testemunho cristão: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, temor e piedade. Amém.

PS: Inspirado na passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,39-45), proclamado no 8º Domingo do Tempo Comum (Ano C) e Lucas (Lc 6,39-42) na sexta-feira da 23ª Semana do Tempo Comum.

Discípulos missionários da misericórdia divina (VIIIDTCC)

                                                                


Discípulos missionários da misericórdia divina

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 6,39-45), em que Jesus nos convida à coerência, prudência e compreensão dos outros.

Assim lemos no Lecionário Comentado:

“Ele (Jesus) diz que guia bem os outros, e é bom mestre, aquele que por sua vez é ajuizado, prudente e não cego! Nas relações fraternas é preciso estarmos atentos aos juízos, para não condenarmos hipocritamente o próximo pelos pequenos defeitos, esquecendo os grandes defeitos que podem existir em nós.

O homem bom é-o no coração e demonstra no exterior frutos de bondade, tal como o homem mau deixa transparecer o mal que existe nele. É importante para Jesus harmonizar o bem interior com o exterior, contra a falsidade de quem pensa diversamente de como fala ou de como se manifesta.” (1)

Como discípulos missionários do Senhor, misericordiosos como o Pai haveremos de ser como Ele mesmo nos falou (cf. Lc 6,36).

A vivência da misericórdia divina pode ser expressa de diversos modos, e dentre eles, na coerência, prudência e compreensão do próximo, que não significa conivência com o pecado, antes, atitude de amor e desejo do melhor no coração do pecador, pois pecadores todos o somos, e necessitados do perdão divino, como rezamos na Oração que o Senhor nos ensinou: – “...Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (cf. Mt 6,9-15; Lc 11,1-4).

Oremos:

“Pai Santo, a Palavra que ressoa hoje na Vossa Igreja, como fonte de sabedoria e norma de vida, nos ajude a compreender e a amar os nossos irmãos, para que não nos tornemos juízes presunçosos e maldosos, mas antes agentes incansáveis da bondade e da paz.” (2)

  

1. Lecionário Comentado – Volume Quaresma/Páscoa – Editora Paulus – Lisboa – 2011 – p.367

2.  Idem p.368

"Buscar primeiro o Reino de Deus” Que bela e maravilhosa Missão! (VIIIDTCA)

                                                

"Buscar primeiro o Reino de Deus”
Que bela e maravilhosa Missão!

Como nos preocupamos com as exigências do dia a dia, muitas vezes sem colocar em primeiro lugar a busca pelo Reino de Deus, confiando no Senhor.

Esta é a essência da mensagem da Liturgia da Palavra do 8º. Domingo do Tempo Comum (ano A).

O Profeta Isaías, na primeira Leitura (Is 49, 14-15), nos ensina que Deus nunca nos abandona, mas nos trata com verdadeiro amor de mãe:

“Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, Eu não te esqueceria nunca.”

Com esta belíssima comparação, o Profeta nos fala de Deus tomando a imagem do amor maternal: amor instintivo, avassalador, eterno, gratuito e incondicional, mas elevado ao grau infinito. Elevado à enésima potência tendendo ao infinito, se matematicamente pudéssemos dizer...

O Profeta, homem da confiança e esperança, é aquele que ajuda o Povo de Deus a perceber a presença divina em Sua aparente ausência, despertando para resposta amorosa a Ele. Ajuda o Povo de Deus a perceber a face oculta de Deus revelada na ternura, misericórdia, compaixão...

Relacionar-se e corresponder a este Deus, somente assim o futuro tornar-se-á promissor... O Profeta, com a Palavra Divina em seus lábios, faz reacender a chama que não fumega no coração daquele que crê. Sempre precisamos de Profetas assim.

Quando tudo parece mais nada, há alguém que nos aponta o Todo Poderoso, Onipotente, Aquele que para o qual nada é impossível: “Tudo podemos n’Aquele que nos fortalece”, nos dirá mais tarde o Apóstolo Paulo ( Fl 4,13).

Esse mesmo Apóstolo na segunda Leitura (1Cor 4, 1-5), fala da autenticidade de seu Ministério, de “simples operário de Cristo e administrador dos Mistérios de Deus”, o qual exerce com muita fidelidade, com os olhos fixos no essencial que é a proposta de salvação/libertação que Jesus veio realizar. Somos apenas veículos desta mensagem, imprescindíveis porque assim Deus o quis.

O Evangelista Mateus (Mt 6, 24-34) nos revela que Jesus ensina a darmos o devido valor às coisas, colocando Deus em primeiro lugar: “Não podeis servir a Deus e a riqueza”.

E também convida a nos abandonarmos completamente à Providência de Deus: “Não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis.”

Não entendamos confiança como sinônimo de passividade ou de comodismo: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo.”

Insisto, a Ação Divina não dispensa a ação humana, muito pelo contrário, eleva-a como possibilidade de participação na construção do Reino. Haverá responsabilidade e graça tão belas quanto essas?

Quanto maior for nossa confiança em Deus, tanto mais cresce nossa responsabilidade. Também poderemos dizer que a responsabilidade é diretamente proporcional à confiança que temos em Deus.

Santo Inácio de Loyola diz de forma límpida e contundente: “devemos confiar como se tudo dependesse de Deus e nos empenhar como se tudo dependesse de nós.”.

“Buscar o Reino de Deus” com absoluta confiança em Deus, como meros instrumentos, veículos de Sua Mensagem. Lembremo-nos que continuamos a refletir o desdobramento das Bem Aventuranças, a Missão de ser Sal e Luz (Capítulos 5 e 6 de Mateus).

Sendo assim, concluindo, podemos afirmar que ser Discípulo do Senhor é ter encontrado uma Pessoa que mudou nossa vida, e que ela só tem sentido e conteúdo quando em relacionamento contínuo e íntimo, renovado no Banquete da Eucaristia.

É preciso trilhar o caminho da santidade empenhados na construção do Reino, com total confiança em Deus e em Sua força, com disponibilidade, fidelidade, alegria e com muito amor a fim de que correspondamos ao Amor Divino que jamais nos falta.

Somente assim comunicaremos luz da Fonte de Luz nas mais diversas situações obscuras, nas "cavernas sombrias e escuras" da existência.

Confiemos plenamente no Amor de Deus (VIIIDTCA)

                                                       

Confiemos plenamente no Amor de Deus

Com a Liturgia do 8º Domingo do Tempo Comum (ano A), continuaremos a refletir sobre as Bem-Aventuranças, anunciadas pelo Senhor na montanha para serem vividas na planície.

É sempre necessário rever quais são nossas prioridades, para que melhor correspondamos ao Amor de Deus, que cuida de nós com Amor gratuito e incondicional, de modo que precisamos libertar nosso coração das tiranias materiais que possam nos escravizar em autossuficiência, individualismos e egoísmos que nos empobrecem.

Duas imagens poéticas as leituras nos oferecem para falar do Amor de Deus: Deus nos ama como uma Mãe carinhosa e um Pai providente.

O Profeta Isaías, na primeira Leitura (Is 49, 14-15), exorta o Povo de Deus, no difícil e desolador período final do exílio, a manter a confiança e a esperança em Deus, reconhecendo Sua solicitude e Seu Amor, irrevogável e irrenunciável, pelo Seu Povo.

A passagem proclamada encontra-se nos capítulos 40-55, o chamado “Livro da Consolação”. O Profeta consola um povo cansado, desiludido, e sua mensagem é para que venham a confiar no Amor de Deus, e todos se coloquem a caminho, para reconstrução e restauração de Jerusalém.

O Profeta tem plena convicção de que Deus ama e não abandona o Seu Povo, e cabe a este descobrir Sua presença na aparente ausência. Para o Profeta, a experiência dramática em que o Povo se encontra torna-se ocasião de confessar a confiança em Deus e n’Ele colocar a  esperança, experimentando a ternura, a misericórdia, a compaixão e a fidelidade de Deus, que é desde sempre e para sempre.

Deus é incapaz de esquecer Seu Povo e Sua Cidade; amando-os ainda mais do que uma mãe ama seu filho, assim o Profeta compara o Amor de Deus.

Reflitamos:

- Como redescobrir, sobretudo nos momentos mais difíceis que possamos passar, o Amor materno de Deus?

- Como amar como Deus ama: um amor gratuito e eterno?

- Apesar de rebelde, Deus continuou a amar Seu Povo. Como corresponder melhor ao Amor de Deus?

O Apóstolo Paulo, na segunda Leitura (1 Cor 4,1-5), exorta a comunidade, e também a nós, a fixar o olhar no essencial da proposta de Salvação e Libertação que Jesus tem a nos oferecer, tomando consciência de que somos, apesar das limitações próprias da condição humana, veículos da Mensagem Divina, não donos da mesma, procurando levar todos para Jesus e não para si próprios.

Evangelizar com ardor e fidelidade, com coerência e sem temor, colocando-se, confiantemente, diante de Deus, a quem cabe o julgamento de todos nós, nos exorta o Apóstolo. Ele está convicto de que tudo faz e fez para ganhar muitos para Cristo.

Reflitamos

- Sentimo-nos como veículos imperfeitos para a comunicação da mensagem do Senhor?

- Sentimo-nos verdadeiramente servos da Palavra e do Senhor em nossas atividades pastorais?

- Qual a alegria que sentimos, como discípulos missionários, em nossa atividade evangelizadora, dentro e fora da comunidade?

- Transmitimos com fidelidade a proposta de Deus, não visando os próprios interesses e tão pouco a promoção de nossa pessoa, como tão bem fez o Apóstolo Paulo?

- Anunciamos a Boa Nova do Senhor ou a nós próprios, nossas ideias, sentimentos e concepções?

Na passagem do Evangelho (Mt 6, 24-34), Jesus nos exorta a confiar totalmente em Deus, no Pai de Amor, em quem confiou e colocou toda Sua vida em entrega de amor, confiança, doação e serviço.

Nisto consiste a mensagem do Senhor: a incompatibilidade entre o Amor a Deus e o amor aos bens materiais. A razão desta incompatibilidade deve-se ao fato de que Deus deve ser o centro de nossa vida, e sobre Ele construirmos nossa existência, e o amor ao dinheiro como valor absoluto fecha o nosso coração, num empobrecedor egoísmo estéril que não abre espaço para a comunhão e a solidariedade para com o próximo.

Confiar num Deus de Amor, providente e atento as nossas necessidades, para que sejamos felizes, tenhamos sal em nós, e façamos resplandecer a luz divina na planície sombria do cotidiano.

Somente assim buscaremos o Reino de Deus e a sua justiça: crer em Deus e viver serenamente tranquilo, pois Deus não falha, e nada nos deixa faltar, mas não nos dispensa de sagrados compromissos na busca e promoção do bem comum, para uma vida digna que corresponda assim aos Seus desígnios.

Afirmar que Deus é providente não significa que possamos cruzar os braços, à espera que Deus faça chover do céu aquilo que  necessitamos, mas é viver  comprometidos e trabalhando todos os dias a fim de que o Seu sonho se realize: um mundo novo marcado por relações de justiça, verdade e paz. Afinal Jesus falou na Montanha Sagrada: Bem-Aventurados os que têm fome e sede de justiça e Bem-Aventurados os que promovem a paz.

O Amor de Deus não nos torna passivos, mas nos impulsiona a uma prática de caridade viva e operosa, esforçada e contínua.

Assim Jesus nos revela um Deus que nos conhece, sabe de nossas necessidades, carrega-nos colo, mas não nos infantiliza. Carrega-nos no colo para nos garantir o Amor e a ternura, para que nossos passos sejam mais firmes e corajosos.

A segunda mensagem que aparece explicitamente é que nossas preocupações não são indiferentes a Deus, sempre solícito para conosco.

Jesus nos convida a olhar os lírios do campo e os pássaros, que não ficam sem a atenção de Deus, e assim muito mais nós, que fomos feito à Sua imagem e semelhança.

Reflitamos:

- O que significa para nós – “é preciso confiar totalmente em Deus”?
- Adoramos a Deus ou ao dinheiro?

- Quais são as consequências que vemos e sentimos quando não adoramos a Deus acima de tudo e de todos, com toda força, alma, entendimento e de coração?

- Adorar a Deus ou ao dinheiro. Quais são as marcas presentes no cotidiano que revelam que o Amor a Deus foi colocado em segundo plano, e o amor ao dinheiro falou mais alto e determinando interesses, leis, atitudes?

Oremos:

“Fazei ó Deus, que os acontecimentos deste mundo decorram na paz que desejais, e Vossa Igreja Vos possa servir, alegre e tranquila. Por N.S.J.C. na unidade do Espírito Santo. Amém.”

Amar e adorar tão somente a Deus (VIIIDTCA)

Amar e adorar tão somente a Deus

No 8º Domingo do Tempo Comum (ano A), ouvimos a passagem do Evangelho que nos fala da adoração a Deus, tão somente, e n’Ele depositar a plena confiança, não como sinônimo de passividade (Mt 6,24-34).

Olhando a cidade pela janela,  vemos os movimentos dos carros, das pessoas indo e vindo, de onde e para onde não sei.

Vão com seus pensamentos e projetos, potencializados e a serem concretizados, com horizontes ora amplos, ora nem tão redimensionados, mas com sonhos na mente e coração entranhados.

Carregam também seus medos, angústias, pesadelos, insegurança, inquietações, que acompanham a vida moderna cada vez mais marcada pela satisfação de necessidades urgentes, criadas pela sociedade e pela cultura.

Cultura moderna que também tem seu lado bom, mas a muitos impele na busca da satisfação dessas necessidades, ocupando praticamente o nosso tempo todo, consumindo nossos recursos, forças, e nem sempre com pleno sucesso obtido, pois sempre fica sempre um nicho, uma lacuna, fica faltando alguma coisa.

Uma das explicações possíveis é o fato de que, contemporâneos que somos, podemos ter deixado de lado o Deus verdadeiro para nos colocarmos a serviço dos deuses, que marcam o disfarçado paganismo moderno, como o dinheiro, o prazer e o poder.

São os antigos e novos deuses, que nunca estão satisfeitos e nem trazem satisfação para o coração humano, que levaram a escrever  páginas da mitologia, da teologia e da história da humanidade.

Como cristãos, tendo o coração por Deus seduzido, nosso único, eterno e supremo Bem, não devemos nos alienar, afastando-nos do mundo como se ele fosse uma coisa má, numa (pseudo) “ilha da fantasia”, do refúgio pelo medo, omissão e covardia, tão apenas imaginária, que nos distanciaria dos irrenunciáveis compromissos que brotam de nossa fé.

Sem distanciamento do mundo, mas sem a servidão aos deuses e mitos da modernidade, que prometem, mas não podem nos conferir a autêntica felicidade, sadia liberdade, realização humana, laços estreitos e indestrutíveis de fraternidade.

Alimentados e iluminados pela Palavra de Deus, tenhamos Cristo como nossa riqueza maior. E como o Apóstolo Paulo, possamos dizer:

 “Para mim viver é Cristo, morrer é lucro” (Fl  1,21). E ainda: “Mais do que isso, tudo considero perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por Ele, perdi tudo e tudo tenho como esterco, para ganhar a Cristo e ser achado n’Ele, não tendo como minha justiça  aquela que vem da Lei, mas aquela pela fé em Cristo, aquela que vem de Deus e se apoia na fé” (Fl 3,8-9).

É missão nossa de cada dia, amar a Deus e adorá-Lo em espírito e verdade, sem jamais nos curvarmos aos deuses de ontem, hoje e sempre, sobretudo deuses que se nos apresentam com aparências novas, mas não nos possibilitam a felicidade e o alcance da eternidade.



Quem sou eu

Minha foto
4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG