domingo, 10 de novembro de 2024

Cremos na Ressurreição da carne e na vida eterna (XXXIIDTCC)


Cremos na Ressurreição da carne e na vida eterna

Com a Liturgia do 32º Domingo do Tempo Comum (ano C), refletimos sobre o horizonte da humanidade: uma vida que nunca se acaba, plena, total e nova: a vida eterna.

Na passagem da primeira Leitura do Segundo Livro do Macabeus (2 Mac 7,1-2.9-14), refletimos sobre o testemunho de sete irmãos que deram a vida pela fé, movidos pela certeza de que Deus reserva a vida eterna àqueles que percorrem, com fidelidade, os caminhos por Ele propostos.

O texto nos fala do martírio de uma mãe e dos seus sete filhos, que se recusaram a violar a fé e as tradições judaicas, e por isto, foram mortos.

“Os sete irmãos tiveram a coragem de defender a sua fé até a morte, porque acreditavam que Deus lhes devolveria, outra vez a vida, uma vida semelhante àquela que lhes ia ser tirada. O Deus criador tem, de acordo com a catequese aqui feita, o poder de ressuscitar os mártires para a vida eterna”. (1)

Havia um contexto de perseguição contra os judeus, feita por Antíoco IV Epifanes (175-164a.C.). Muitos judeus, ao manterem vivas as suas tradições, foram cruelmente perseguidos e mortos.

Com isto, temos pela primeira vez a doutrina da ressurreição explicitamente apresentada na Bíblia. Esta verdade será desenvolvida e culminará com a Ressurreição de Jesus Cristo.

A mensagem catequética nos convida a não ficarmos paralisados pelo medo, renovando compromissos com a justiça e a verdade e nossa coragem e força para o testemunho da fé.

Reflitamos:

- Quais os valores pelos quais consumimos a nossa vida, ou seja, que acreditamos e pelos quais somos capazes de morrer?
- Somos capazes de defender com a própria vida as verdades de nossa fé?
- Somos capazes de lutar contra a corrente, se preciso for, pelos valores significativos para a nossa vida de fé?

Na segunda leitura, ouvimos a passagem da Segunda Carta de Paulo aos Tessalonicenses (2 Ts 2,16-3-5), e temos um convite para que a comunidade mantenha um diálogo e comunhão com Deus, na espera da segunda vinda gloriosa de Cristo, e, com ela, a vida nova a nós reservada.

Deste modo, a comunidade precisará estar atenta e orante, a fim de que seja fiel ao Evangelho e anuncie a todos a Boa-Nova da Salvação, rezando também uns pelos outros:

“O cristão nunca é uma pessoa isolada, mas o membro de uma família de irmãos, chamados a viver no amor, na partilha, na entrega da vida, como membros de um único corpo – o Corpo de Cristo”. (2)

Na espera da segunda vinda do Senhor, a comunidade viverá o processo de salvação em dois planos: o primeiro de que a Salvação é dom de Deus, e o segundo exige esforço de fidelidade de todos nós.

Reflitamos:

- Temos consciência e que nossas vitórias e conquistas não se devem apenas de nossos esforços, méritos e qualidades, mas como expressão da graça e bondade divinas?

- Como estamos preparando a segunda vinda gloriosa do Senhor?
- Qual a profundidade e intensidade de nossa oração e confiança na força divina?

- Como enfrentamos medo e desânimo na missão evangelizadora?
- rezamos uns pelos outros em expressão de comunhão e solidariedade?

Com a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 20,27-38), refletimos sobre a ressurreição e a realidade última que nos espera nos céus.

A passagem retrata os últimos dias antes da morte de Jesus, e as grandes controvérsias d’Ele com as autoridades judaicas. Neste caso, trata-se dos saduceus que formavam um grupo aristocrático, recrutado entre os sacerdotes da classe superior.

Conservadores, enquanto política, e de bom entendimento com a dominação romana; de modo que pretendiam manter a situação, para não ver comprometidos os benefícios políticos, sociais e econômicos que desfrutavam.

Apoiando-se na “Torah”, não aceitavam a ressurreição dos mortos. A questão colocada para Jesus tinha como objetivo a ridicularização da crença na ressurreição e do próprio Jesus.

Não se trata de pensar a vida eterna com as categorias que marcam a nossa existência finita e limitada; a existência de ressuscitado é plena, total e nova. Como será não pode ser descrita, mas, no horizonte de quem crê, encontra-se a Ressurreição:

“A nossa capacidade de compreensão deste mistério é limitada, pois estamos a contemplar as coisas e classificá-las à luz das nossas realidades terrenas; no entanto, a ressurreição que nos espera ultrapassa totalmente a nossa realidade terrena” (2)

Na segunda parte da resposta, remetendo-se ao Livro do Êxodo, Jesus fala que o Deus, a quem se deve amar e servir, é o Deus dos vivos e não dos mortos, e todos devem viver para Ele (Lc 20,37-38).

Deste modo, após a morte, nos encontraremos com o Deus vivo; e assim, a ressurreição é a esperança que dá sentido a toda a caminhada do cristão.

A fé cristã torna a esperança da ressurreição uma certeza absoluta, pois Cristo ressuscitou, e quem com Ele se identificar, nascerá com Ele para a vida nova e definitiva:

“A ressurreição não é a revivificação dos nossos corpos e a continuação da vida que vivemos neste mundo; mas a passagem para vida nova onde, sem deixarmos de ser nós próprios, seremos totalmente outros... É a plenitudização de todas as nossas capacidades, a meta final do nosso crescimento, a realização da utopia da vida plena” (3).

Urge caminhar, confiantes e alegres, rumo à nova realidade, ainda que tenhamos as dificuldades, sofrimentos, dores... A fé na Ressurreição nos dá coragem para enfrentarmos as forças da morte que dominam o mundo, convictos de que cada ser humano que vem ao mundo é, verdadeiramente, “um pedaço de eternidade”:

“Cada ser humano será para sempre ‘ele’ e não um outro. Cada ser humano viverá para sempre, enraizado no amor eterno de Deus. Pela Sua ressurreição, Jesus abri-nos o caminho da nossa própria vida em plenitude em Deus.

A fé na Ressurreição e o enraizamento no amor de Deus nos credencia para o bom combate, e nos prepara para a glória futura, na espera do Senhor que veio, vem e virá, gloriosamente" (4).

Renovemos nossa coragem e fidelidade aos planos de Deus, movidos pelas verdades de nossa fé que professamos ao rezar o Credo nas Missas e celebrações:

“Creio em Deus-Pai, todo-poderoso...” 

Fonte de pesquisa e citações (1) (2) (3) (4): www.dehonianos.org


PS: Oportuno para reflexão da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 20,27-40)

Esperamos Vossa vinda gloriosa (XXXIIDTCA)

 


Esperamos Vossa vinda gloriosa

Para aprofundamento da Liturgia do 32º Domingo do Tempo Comum (ano A), sejamos enriquecidos por dois parágrafos do Catecismo da Igreja Católica:

“As afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja a respeito do Inferno são um apelo ao sentido de responsabilidade com que o homem deve usar da sua liberdade, tendo em vista o destino eterno.

Constituem, ao mesmo tempo, um apelo urgente à conversão: «Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçoso o caminho que levam à perdição e muitos são os que seguem por eles. Que estreita é a porta e apertado o caminho que levam à vida e como são poucos aqueles que os encontram!» (Mt 7, 13-14):

‘Como não sabemos o dia nem a hora, é preciso que, segundo a recomendação do Senhor, vigiemos continuamente, a fim de que, no termo da nossa vida terrena, que é só uma, mereçamos entrar com Ele para o banquete de núpcias e ser contados entre os benditos, e não sejamos lançados, como servos maus e preguiçosos, no fogo eterno, nas trevas exteriores, onde «haverá choro e ranger de dentes’»’” (Lumen Gentium n.48)”. (1)

Vejamos segundo parágrafo:

“Em Jesus, «o Reino de Deus está perto». Ele apela à conversão e à fé, mas também à vigilância. Na oração (Mc 1, 15), o discípulo vela, atento Aquele que é e que vem, na memória da sua primeira vinda na humildade da Carne e na esperança da sua segunda vinda na Glória (Mc 13; Lc 21,34-36). Em comunhão com o Mestre, a oração dos discípulos é um combate; é vigiando na oração que não se cai na tentação (Lc 22,40.46)”.  (2)

Caminhando para o final de mais um ano Litúrgico, é sempre tempo oportuno, como discípulos missionários do Senhor, avaliarmos o modo como vivemos a missão que Ele nos confia.

Reflitamos:

- Como vivemos a vigilância na espera do Senhor que virá gloriosamente?

- Quais são os momentos de oração e a qualidade destes na espera no Senhor que veio, vem e virá?

- Quais são as tentações que nos afastam do Senhor, Sua Pessoa, Palavra e Projeto do Reino?

- Como vivemos a liberdade e responsabilidade em nossas escolhas na espera do Senhor?

- Tem sido a nossa vida (pensamentos, palavras e ações) conduzida pela Sabedoria Divina do Santo Espírito que nos assistes e nos ilumina?

Oremos:

Concedei-nos, ó Deus, viver uma fé vigilante e inquebrantável; uma esperança ativa e comprometida, a fim de que sejamos sinais e instrumentos da caridade que jamais passará, em plena comunhão com Vosso Amado Filho, que veio na humildade da carne e virá gloriosamente no final dos tempos, e animados pelo Vosso Espírito. Amém.

 

 

(1)         - Catecismo da Igreja Católica – n.1036

(2)         - Idem n.2612


PS: Oportuno para o 34º sábado do Tempo Comum, em que ouvimos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 21,34-36) e 1º Domingo do Advento (ano C)

Fé, vigilância e sabedoria (XXXIIDTCA)

Fé, vigilância e sabedoria


“Portanto, ficai vigiando, pois não
sabeis qual será o dia, nem a hora” (Mt 25, 13)

Na Liturgia, do 32º Domingo do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho em que Jesus nos fala do Reino de Deus a partir da Parábola das dez virgens (Mt 25, 1-13).

Assim lemos no Missal Cotidiano:

“Jesus descreve a Bem-Aventurança eterna como uma festa de núpcias, em que o esposo é o Cristo. Mas a Parábola põe a tônica sobre as insensatas que encontram a porta fechada, porque não chegaram a tempo.

A Palavra que Jesus dirige a essas jovens é uma das mais terríveis de toda a Bíblia: ‘Não vos conheço’. Trata-se da separação total, se nos lembrarmos de que ‘conhecer’ implica na Bíblia um elemento afetivo.
Ser ‘repelido’ é o resultado da falta de ‘fé vigilante’. É terrível pensar que muitas vezes é salva a fachada, porém dentro está morto o amor, e com ele a esperança.

Continua-se por hábito, cansadamente, por comodismo ou por capricho, mas perdeu-se do ‘convite às bodas’. Falta no íntimo a espera vigilante e ativa (ter óleo) do encontro com Cristo, cuidadosamente preparado”. (1)

Como discípulos missionários, na prática de uma fé vigilante, não podemos deixar faltar o azeite da esperança, da justiça, da solidariedade, da confiança, do amor, da alegria: 

“As comunidades cristãs não devem permitir-se distrações ou superficialidades, mas são chamadas a alimentar a fé com o azeite da esperança e da paciência, que jamais podem abrandar em quem espera a sabedoria verdadeira e fecunda” (2).

E como afirmou o Pe. José Carlos Pereira:

 “Acordar com o propósito de ser melhor, de agir melhor, de não dar tanta importância às pequenas coisas que nos desgastam por qualquer motivo, de sorrir mais, de ajudar mais o próximo, de cuidar mais da vida, pois, agindo assim, estaremos vigilantes e preparados”. (3)

Oremos:

Senhor Deus, concedei-nos o dom da sabedoria que vem do Vosso Espírito, para acolhermos e vivermos a Palavra do Vosso Filho, para que um dia tenhamos a graça de participarmos do Banquete da Eternidade.

Concedei-nos, também, a graça de acrescentar cada vez mais o azeite em nossas lâmpadas, para que não se apague na espera, quando Vosso Filho vier gloriosamente pela segunda vez, e que o fogo do Espírito esteja crepitando em nossos corações, e assim, sejamos dignos de correr ao mais desejado e esperado encontro. Amém. (4)


(1) Missal Cotidiano – p.1211
(2) Lecionário Comentado – Editora Paulus - p. 221
(3) Liturgia da Palavra I – reflexões para os dias da semana – Editora Paulus – p.253
(4) Livre adaptação Lecionário Comentado p.223 

Vigilantes para um fecundo testemunho (XXXIIDTCA)

Vigilantes para um fecundo testemunho

Ouvimos, no 32º domingo do Tempo Comum, a passagem do Evangelho em que Jesus nos convida a uma atitude de vigilância na espera de Sua vinda gloriosa, à luz da parábola das dez virgens: cinco insensatas e cinco prudentes (Mt 25, 1-13).

A vigilância, na Sagrada Escritura, atinge o máximo de sua expressão, pois é uma atitude para que sigamos Jesus, como discípulos missionários: estar presente quando passar o Esposo e participar de Seu cortejo, da festa de Sua núpcia.

É preciso, como Igreja, estarmos sempre prontos para a Sua volta,  sobretudo nos tempos atuais, uma “época de fermentação contínua, de dinamismo e de evolução” (1), quando “no passado dominava uma concepção estática da história” (2).

Daqui decorre a mais do que necessária vigilância ativa na fé, para que nossa esperança ande de mãos dadas com a caridade criativa e inauguradora de novas realidades.

Esta vigilância nos coloca numa expectativa ativa, operante, que não nos permite o cruzar dos braços, nem omissões, ainda que difíceis sejam as realidades em que nos encontremos.

É preciso preparar, a cada instante, esta chegada e encontro com o Senhor, de modo que vigilância pode ser assim compreendida:

- lutar contra toda insensibilidade, indiferença, apatia moral,  negligência e atitudes de prostração, para que alcancemos a meta e estarmos prontos para quando Jesus chegar;

- a luta contínua contra o mal e a tentação, a cada dia, como rezamos na Oração que o próprio Senhor nos ensinou;

- viver como “filho da luz”, permanentemente desperto e resistente às trevas e suas seduções, como expressão do mal que possa nos seduzir e nos desviar do Caminho, da Verdade, da Vida e da Luz que é o próprio Senhor;

- saber discernir as “visitas” que o Senhor nos faz em cada momento, batendo em nossas portas, ou mesmo nos interpelando nos fatos da história, notícias, que se multiplicam e chegam até nós de formas múltiplas;

- saber ler os sinais dos tempos, indo ao encontro do Senhor que vem, que passa ao nosso lado nas pessoas, nos acontecimentos, nos fatos, e procurar caminhos de compromisso e solidariedade, de modo especial para com os que mais precisam;

- como Igreja, saber discernir o desafio que o mundo apresenta (fome, guerras, conflitos, desigualdades sociais, questão socioambiental...), procurando, à luz da Palavra e da Tradição, novas mentalidades, posturas e atitudes;

- não instalar-se nas aparentes seguranças do já alcançado e conhecido, abrindo-se ao sopro do Espírito, que age e faz, iluminando as realidades mais sombrias e desafiadoras.

Oremos:

“Fortalecidos por este Alimento sagrado, nós vos damos graças, ó Deus, e imploramos vossa clemência; fazei que perseverem na sinceridade do vosso amor aqueles que fortalecestes pela infusão do Espírito Santo. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.”



Fonte inspiradora: Missal Dominical – Editora Paulus - pp. 852-853

Permaneçamos vigilantes (XXXIIDTCA)

                                                     

Permaneçamos vigilantes

Com a Liturgia, do 32º Domingo do Tempo Comum (Ano A), refletimos sobre a necessária vigilância ativa na espera do Senhor que virá gloriosamente, Ele que veio, vem e virá.

O discípulo missionário do Senhor aguarda vigilante a Sua segunda vinda, pois ela se encontra presente no horizonte final da história humana, e, portanto, a necessidade de estarmos com o coração preparado para acolhê-Lo e com Ele caminhar.

Não podemos nos instalar em nosso egoísmo e autossuficiência, fechando nossos ouvidos aos apelos que o Senhor nos faz, de vigilância e espera de Sua chegada.

Na primeira Leitura, ouvimos uma passagem do Livro da Sabedoria, o Livro mais recente do Antigo Testamento, que apresenta a sabedoria como dom gratuito e incondicional de Deus para a humanidade, para conduzi-la à realização e felicidade (Sb 6,12-16).

Dois objetivos do autor do Livro: primeiro, ao dirigir-se aos seus compatriotas judeus (mergulhados no paganismo, na idolatria, na imoralidade), faz um convite para a redescoberta da fé dos pais e os valores judaicos; o segundo, ao dirigir-se aos pagãos para constatar o absurdo da idolatria, exortando a adoração e a adesão ao Senhor, o verdadeiro e único Deus.

A mensagem é explícita: somente Deus garante a verdadeira sabedoria e a verdadeira felicidade, no entanto pressupõe disponibilidade para acolhê-la e vivê-la.

Ouvimos, na segunda Leitura, a passagem da Carta de Paulo aos Tessalonicenses (1 Ts 4,13-18), na qual o Apóstolo Paulo fortalece a esperança na vinda gloriosa do Senhor, Ele  que virá novamente para concluir a história humana, inaugurando a realidade do mundo definitivo.

Importa que a comunidade fique vigilante e plenamente unida e identificada com o Senhor, para ir ao Seu encontro e com Ele permanecer para sempre.

Embora a Comunidade fosse entusiasta, ainda precisava de um amadurecimento catequético, e um dos temas era a questão da parusia, ou seja, o regresso de Jesus, no final dos tempos.

Daí o motivo do Apóstolo escrever aos tessalonicenses (entre o ano 50 ou 51), encorajando-os na fé e respondendo às suas dúvidas.

O Apóstolo confirma o que, provavelmente, já antes havia ensinado: “que Cristo virá para concluir a história humana; e que todo aquele que tiver aderido a Cristo e se tiver identificado com Ele, esteja morto ou esteja vivo, encontrará a salvação (vers. 14). Se Cristo recebeu do Pai a vida que não acaba, quem se identifica com Cristo está destinado a uma vida semelhante; a morte não tem poder sobre Ele… Isto deve encher de esperança o cristão, mantendo-o alegre, sereno e cheio de ânimo”. (1)

Deste modo, a certeza da ressurreição garante-nos que Deus tem um Projeto de salvação e de vida para todos nós; e que este está se realizando continuamente em nós até à sua concretização plena, quando nos encontrarmos definitivamente com Deus.

A comunidade que crê na Ressurreição e na vinda gloriosa do Senhor deve eliminar todo o medo e acomodação; o anúncio da Ressurreição implica no compromisso pela justiça e paz; compromisso com o mundo novo; uma caminhada confiante, ainda que no sofrimento e na dor.

Na passagem do Evangelho (Mt 25,1-13), somos exortados a nos preparar para acolher o Senhor que vem, vivendo na fidelidade aos Seus ensinamentos, com renovados compromissos com os valores do Reino, para participarmos do grande Banquete.

Trata-se da parábola das dez virgens, sendo cinco jovens “insensatas”, que não levaram azeite suficiente para manter as suas lâmpadas acesas enquanto esperavam a chegada do noivo, e as cinco ”prudentes”: “O Reino de Deus é, aqui, comparado com uma das celebrações mais alegres e mais festivas que os israelitas conheciam: o banquete de casamento. As dez jovens, representam a totalidade do Povo de Deus, que espera ansiosamente a chegada do Messias (o noivo)… Uma parte desse Povo (as jovens previdentes) está preparada e, quando o Messias finalmente aparece, pode entrar a fazer parte da comunidade do Reino; outra parte (as jovens descuidadas) não está preparada e não pode entrar na comunidade do Reino” (2).

Lembremos o contexto em que Mateus escreveu: finais do séc. I (década de 80): já tinha passado a “febre escatológica” e os cristãos já não esperavam a vinda iminente de Jesus, e uma vez passado o entusiasmo inicial, “a vida de fé dos crentes tinha arrefecido e a comunidade tinha-se instalado na rotina, no comodismo, na facilidade… Era preciso algo que abanasse os discípulos e os despertasse de novo para o compromisso com o Evangelho”.   (3).

Vigilantes na espera do Senhor, enquanto Ele não vem,  a comunidade precisa viver a sua fé com coerência e entusiasmo, na fidelidade aos ensinamentos de Jesus e comprometidos com a construção do Reino: escutar Suas Palavras, acolhê-las no coração e viver de forma coerente com os valores do Evangelho; viver na fidelidade aos projetos do Pai, amando os irmãos, até mesmo com o dom da vida, em todos os momentos.

A comunidade, portanto, não pode descuidar da vigilância, o que levaria ao enfraquecimento do compromisso com os valores do Reino, levando ao comodismo, instalação, adormecimento e o descuido, reduzindo a uma fé sem compromisso e pouco coerente.

Importa ser uma “Igreja em saída”, como tem insistido o Papa Francisco, uma Igreja em estado permanente de missão, que se alimenta da Palavra e da Eucaristia, e se coloca a serviço do Reino, com irrenunciáveis e sagrados compromissos.

Estejamos preparados para a chegada do Senhor, que vem ao nosso encontro todos os dias, e espera que nos empenhemos e nos comprometamos na construção de um mundo novo – o mundo do Reino:

“Ele faz ecoar o seu apelo na Palavra de Deus que nos questiona, na miséria de um pobre que nos interpela, no pedido de socorro de um homem escravizado, na solidão de um velho carente de amor e de afeto, no sofrimento de um doente terminal abandonado por todos, no grito aflito de quem sofre a injustiça e a violência, no olhar dolorido de um imigrante, no corpo esquelético de uma criança com fome, nas lágrimas do oprimido” (4).

Reflitamos:

- Estamos vigilantes e preparados para a  vinda gloriosa do Senhor?
- Estamos preocupados com o imediato, o visível, o efêmero (o dinheiro, o poder, a influência, a imagem, o êxito, a beleza, os triunfos humanos…), negligenciando os valores autênticos do Reino?

- Estamos abertos à sabedoria divina, dom que nos é dado para bem conduzirmos nossa vida, em fecunda e ativa vigilância na espera do Senhor que vem?

Caminhando para o final de mais um ano Litúrgico, à luz da Liturgia da Palavra, é tempo favorável de revermos o caminho que fizemos; se, ao longo do ano, na espera do Senhor, vivemos uma caridade esforçada, uma fé atuante e uma firme esperança em ver o Reino de Deus acontecendo.

É tempo de avaliar de que modo conduzimos e orientamos a nossa vida, iluminados pela Sabedoria divina, que deve ser procurada desde a aurora e ir sempre à frente de nossas decisões, para que nossas “lâmpadas” estejam sempre acesas para quando o “noivo chegar”, o Senhor Jesus, que virá, gloriosamente, numa segunda vinda.

Quando? Não importa. Antes, importa que estejamos verdadeiramente vigilantes e ativos na ansiosa espera de Sua chegada.

(1) (2) (3) (4): www.Dehonianos.org/portal

sábado, 9 de novembro de 2024

A boa morte: a passagem de tudo!

                                                          

A boa morte: a passagem de tudo!

“Por isto não te assuste a palavra morte, 
mas os benefícios da boa passagem te alegrem. 
Pois, que é a morte a não ser
a sepultura dos vícios, 
o despertar das virtudes?”

Reflitamos parte do Tratado sobre o benefício da morte, do Bispo Santo Ambrósio (Séc. IV), em que nos exorta a levar sempre em nós a morte de Cristo para que alcancemos a glória da Ressurreição.

“Disse o Apóstolo: ‘Para mim o mundo está crucificado, e eu, para o mundo’ (Gl 6,14). Para que saibamos, por fim, que nesta vida há morte e boa morte, exorta-nos a que ‘levemos a morte de Jesus em nosso corpo’ (cf. 2Cor 4,10).
  
Pois quem tiver em si a morte de Jesus, precisa também ter em seu corpo a vida do Senhor Jesus. Atue, portanto, a morte em nós, para que também possa agir a vida. Vida excelente depois da morte, isto é, vida excelente depois da vitória, vida excelente, terminado o combate.

Nela a lei da carne já não luta contra a lei do espírito, não há mais em nós peleja  da morte contra o corpo, mas no corpo, a vitória sobre a morte. E francamente não sei qual tem maior força, esta morte ou a vida. É claro que atendo à autoridade do Apóstolo que diz:

‘Portanto a morte age em nós, mas a vida, em vós’ (2Cor 4,12). A morte de um só a quanta gente faz crescer a vida! Por isto ensina ser desejável esta morte aos que ainda estão nesta vida, para que refulja em nossos corpos a morte de Cristo, aquela ditosa pela qual se destrói o ser exterior, ‘a fim de ser renovado nosso homem interior’ (cf. 2Cor 2,16) ‘e se desfaça nossa habitação terrena’ (cf. 2Cor 5,1), abrindo-se assim para nós a habitação celeste.

Imita, portanto, a morte, que se separa da união com esta carne e desata os laços de que fala o Senhor mediante Isaías: ‘Desata as cadeias iníquas, solta os laços das altercações violentas, deixa livres os oprimidos, rompe todo limite injusto’(Is 58,6).

O Senhor aceitou sujeitar-Se à morte para que a culpa desaparecesse. Mas, para não ser de novo a morte o fim da natureza humana, foi-lhe dada a Ressurreição dos mortos, para que pela morte se apagasse a culpa, pela Ressurreição se perpetuasse a natureza.

Por isso, a morte é a passagem de tudo. É preciso que passes continuamente; passagem da corrupção para a incorrupção, da condição mortal à imortalidade, das perturbações para a tranquilidade.

Por isto não te assuste a palavra morte, mas os benefícios da boa passagem te alegrem. Pois, que é a morte a não ser a sepultura dos vícios, o despertar das virtudes? Por isto disse Ele:

‘Morra minha alma nas almas dos justos’ (Nm 23,10), quer dizer, seja consepultada para depor seus vícios, assumir a graça dos justos, que trazem no corpo e na alma a morte de Cristo. ”

O Apóstolo Paulo também afirma:“Mas se morremos com Cristo, acreditamos que também viveremos com Ele, cientes de que Cristo, ressuscitado dos mortos, não morre mais; a morte já não tem domínio sobre Ele.” (Rm 6,8-9).

É preciso que esperemos pacientemente até o tempo oportuno, e então a alegria da vida eterna será nossa recompensa, e, de fato, a morte será a passagem de tudo.

Evidentemente, não se trata aqui do culto à morte, mas o olhar de fé sobre ela, que a transcende. Ninguém deve procurar a morte, ao contrário, lutamos contra ela a cada instante, mas ela não tem a última palavra.

Não se faz apologia da morte pela violência, fome, injustiças, perseguições, dependência de drogas, falta de atendimento médico e de recursos que a evitariam, ou a quaisquer outras situações.

Seja, de fato, a morte, uma “boa passagem”, um processo natural, não por imposição externa, intervenção das condições sociais as quais somos submetidos.

Também seja como o processo natural de um grão de trigo que se submete à morte, para não ficar só, mas morrendo produz muitos frutos, como  nos falou o Senhor – “Se o grão de trigo, ao cair na terra, não morrer, ficará sozinho. Mas, se morrer, produzirá muito fruto. Quem tem apego à sua própria vida, vai perdê-la; quem despreza a própria vida neste mundo, vai guardá-la para a vida eterna” (Jo 12,24-25).

Batismo: desposados pelo Senhor

 


Batismo: desposados pelo Senhor

Sejamos enriquecidos pela Catequese batismal do Bispo e Doutor da Igreja, São João Crisóstomo (séc. V):

“Hoje é o último dia da catequese, por isso eu, o último de todos, também cheguei ao último dia, porém chego ao final com o anúncio de que o esposo virá dentro de dois dias.

Mas levantai-vos, acendei as vossas lâmpadas e recebei com luz resplandecente o rei dos céus!

E de fato, este é o costume do cortejo nupcial: que as esposas sejam entregues aos esposos ao anoitecer. Porém, não vos façais de surdos ao escutar a voz de que chega o esposo, porque é uma voz realmente potente, e está cheia de bondade.

Não ordenou que na natureza dos homens fosse para Ele, mas Ele pessoalmente veio junto a nós, e acontece que, na realidade, a lei de núpcias é esta: que o esposo venha à esposa, mesmo que ele seja riquíssimo e ela, por outro lado, pobre e menosprezada.

Entretanto, nada há de estranho que isso aconteça entre os homens. Na realidade, se em questão de mérito a diferença pode ser muita, a diferença de natureza, porém, é nula: por rico que seja o esposo, e por indigente e pobre que seja a esposa, ambos são, contudo, da mesma natureza.

Porém, tratando-se de Cristo e da Igreja, a maravilha está em que Ele, apesar de ser Deus e possuir aquela bem-aventurada e puríssima substância – e sabeis quanto se diferencia dos homens! -, dignou-Se descer a nossa natureza e, deixando a Sua casa paterna, correu para a Esposa, não com um simples deslocamento, mas pela ação da Encarnação.

Conhecedor, portanto, disto, e admirado do excesso de solicitude e de estima, o próprio bem-aventurado Paulo proclamava dizendo: ‘Por isto o homem deixará ao seu pai e a sua mãe e se unirá a sua mulher: este mistério é grande, mas me refiro a Cristo e à Igreja’.

E o que tem de admirável que tenha vindo à esposa, quando nem sequer se negou a dar a sua vida por ela?

Contudo, nenhum esposo dispõe sua vida por sua esposa, e acontece que ninguém, nenhum enamorado, por louco que esteja, abra-se tanto no amor de sua amada, como Deus se consome pela Salvação de nossas almas:

‘Mesmo que tenha que ser cuspido – diz -, ser espancado e subir à própria cruz, não me negarei a ser crucificado, contanto que possa acolher a esposa’”. (1)

Roguemos a Deus para que nos conceda Sabedoria para vivermos o Batismo que é dom, graça e missão.

Urge que nos coloquemos como Igreja, num caminho sinodal, mergulhando no mar da proximidade, compaixão, solidariedade fortalecendo os vínculos da comunhão caridade, na vivência das virtudes divinas que nos movem: fé, esperança e caridade.

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013- pág. 249-250

 

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