domingo, 23 de junho de 2024

O Senhor foi prefigurado na pessoa de Jó (XIIDTCB)

O Senhor foi prefigurado na pessoa de Jó

O Bispo São Zeno de Verona (séc. IV) nos fala em seu Tratado sobre a prefiguração de Cristo na figura de Jó.

“Tanto quanto se pode entender, irmãos caríssimos, Jó prenunciava a figura de Cristo, o que é provado por uma comparação:

Jó é chamado de justo por Deus. Ora, Cristo é a Justiça de cuja fonte bebem todos os bem-aventurados. Dele se disse: Levantar-se-á para vós o Sol da Justiça.

Jó é dito veraz. O Senhor, que declara no Evangelho: Eu sou o Caminho e a Verdade, é a própria Verdade.

Jó foi rico. E quem mais rico do que o Senhor? D’Ele são todos os servos ricos, d’Ele o mundo inteiro e toda a natureza, no testemunho do Santo Davi: Do Senhor é a terra e sua plenitude, o orbe da terra e todos quantos nele habitam.

O diabo tentou Jó por três vezes. De modo semelhante, narra o Evangelista, por três vezes o mesmo diabo esforçou-se por tentar o Senhor.

Jó perdeu os bens que possuía. O Senhor, por nosso amor, abandonou os bens celestes e fez-Se pobre para enriquecer-nos.

O diabo, furioso, matou os filhos de Jó. E aos profetas, filhos de Deus, o louco povo fariseu assassinou.

Jó manchou-se pelas úlceras. O Senhor, assumindo a carne de todo o gênero humano, apareceu manchado com as sujeiras dos pecadores.

Jó foi instigado pela esposa a pecar. A sinagoga quis obrigar o Senhor a seguir a depravação dos anciãos.

Apresentam-se os amigos de Jó a insultá-lo. E ao Senhor insultaram os sacerdotes que deviam cultuá-Lo.

Jó senta-se no monturo coberto de vermes. Também o Senhor no verdadeiro monturo, isto é, na lama desse mundo se demorou rodeado de homens estuantes de crimes e paixões, os verdadeiros vermes.

Jó recuperou tanto a saúde quanto a riqueza. E o Senhor, ressuscitando, concedeu não só a saúde, mas a imortalidade aos que n’Ele creem e recuperou o domínio sobre toda a natureza, segundo Suas próprias palavras: Tudo me foi dado por meu Pai.

Jó teve filhos em substituição aos primeiros. O Senhor também gerou, depois dos filhos dos Profetas, os Santos Apóstolos.

Jó, feliz, descansou em paz. O Senhor, porém, permanece o Bendito eternamente, antes dos séculos, nos séculos e por todos os séculos dos séculos”.

Muitas vezes lembrando os sofrimentos dos justos, vem-nos,  imediatamente, à lembrança Jó; mas quantos de nós fizemos um paralelo entre Jó e o Senhor?

Jó no seu tempo, fidelidade inquestionável a Deus.
O Servo Sofredor, no seu tempo, Amor que ama até o fim.

Quão belas lições podemos tirar deste Tratado, para fortalecimento de nossa espiritualidade na fidelidade ao Senhor!

Como Discípulos Missionários do Senhor,
trilhemos mesmo caminho,
Nutridos pelo Sagrado Pão, inebriados e
redimidos pelo Sagrado Vinho!


PS: Liturgia das Horas – Vol. III – pág. 252-253.

Por Vossa Morte e Ressurreição (XIIDTC)


Por Vossa Morte e Ressurreição

No 12º Domingo do Tempo Comum (ano C), ao ouvirmos a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 9,18-24), sejamos iluminados por esta reflexão escrito por São Basílio Magno, Doutor da Igreja (séc. IV).

“Na realidade, a total destruição da morte, a supressão da corrupção, o espólio do inferno, a subversão da tirania do diabo, o cancelamento do pecado do mundo, a abertura aos habitantes da terra das portas do céu e a união do céu e da terra: todas estas coisas são, repito, a prova digna de fé e de que o Emanuel é o Deus verdadeiro.

Por isso lhes ordena cobrir temporalmente o Mistério com o respeitoso véu do silêncio até que todo o processo da economia divina tenha chegado a sua natural culminação. Então, a saber: uma vez ressuscitado dentre os mortos, deu ordem de revelar o Mistério ao mundo inteiro, propondo a justificação pela fé e a purificação mediante o Batismo.

Ele disse verdadeiramente: Foi-me concedido todo poder no céu e na terra. Ide e fazei discípulos de todos os povos, batizando-os no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eu estarei convosco todos os dias até o fim do mundo”. (1)

Oremos:
Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos na total destruição da morte.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos na supressão da corrupção da carne.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos no despojamento e aniquilamento do inferno.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos na derrubada da tirania do diabo.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos no cancelamento de nossa dívida pelo pecado.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos na abertura das portas dos céus: nossa eternidade.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
contemplamos e cremos que agora é o tempo de nossa missão de evangelizar.

Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
Caminhas conosco, na comunhão com Vosso Pai e Vosso Espírito.
           
Senhor, por Vossa Morte e Ressurreição,
Sejam fortalecidos os pilares da evangelização: Pão, Palavra, Caridade e Missão. Amém.



(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes – 2013 – p.665.

“Por fora, luta; por dentro, temores” (XIIDTCA)

 


“Por fora, luta; por dentro, temores”

Sejamos enriquecidos pelo comentário sobre o Salmo 118, escrito pelo bispo e doutor da Igreja, Santo Ambrósio (séc. IV).

Todos os que querem viver piedosamente em Cristo, sofrerão perseguição. O apóstolo escreveu “todos”, não excluiu nenhum. Pois quem pode ser excluído quando o próprio Senhor tolerou as tentativas de perseguição? A avareza persegue, a ambição persegue, a luxúria persegue, a soberba persegue e os prazeres da carne perseguem. Não esqueças que o apóstolo disse: fugi da fornicação. E do que tu foges, senão daquilo que te persegue? O mau espírito da luxúria, o mau espírito da avareza, o mau espírito da soberba.

Os temíveis perseguidores são aqueles que, sem o terror da espada, constantemente destroem o espírito do homem; aqueles que, mais com afagos do que com pavor, submetem as almas dos fiéis. Estes são os inimigos dos quais deves te guardar; estes são os tiranos mais perigosos, pelos quais Adão foi vencido. Muitos, coroados em públicas perseguições, caíram nestas perseguições ocultas. Por fora, diz o apóstolo, lutas; por dentro, temores.

Observas quão duro é o combate que há no interior do homem, para que se debata consigo mesmo e lute contra as suas paixões. O próprio apóstolo vacila, duvida, é atormentado e manifesta que está sujeito à lei do pecado e reduzido por seu corpo à morte, e não poderia escapar se não fosse libertado pela graça de Cristo Jesus.

E assim como há muitas perseguições, assim também há muitos martírios. Todos os dias és testemunha de Cristo. És mártir de Cristo se sofreste a tentação do espírito de luxúria, porém, temeroso do futuro juízo, não pensaste em profanar a pureza da alma e do corpo. És mártir de Cristo se foste tentado pelo espírito de avareza para apossar-te dos bens dos mais fracos ou não respeitar o direito das viúvas indefesas, porém, julgaste que era melhor alcançar a riqueza pela contemplação dos preceitos divinos, que cometer a injustiça.

Cristo quer estar próximo de tais testemunhas, conforme está escrito: aprendei a realizar o bem, buscai o justo, respeitai ao oprimido, fazei a justiça ao órfão, e amparai a viúva: vinde e entendamo-nos. És mártir de Cristo se foste tentado pelo espírito da soberba, mas vendo ao fraco e desvalido, te compadeceste com espírito piedoso, e amaste a humildade mais que a arrogância. E ainda mais se deste testemunho não somente de palavra, mas também com obras.

Pois quem é testemunha mais fiel do que aquele que confessa que o Senhor Jesus Se encarnou, ao mesmo tempo em que guarda os preceitos do Evangelho? Porque quem escuta e não coloca em prática, nega a Cristo. Ainda que o confesse por palavra, o nega por obras. Porque existem muitos que dizem: Senhor, Senhor, não profetizamos em Teu nome? Não expulsamos demônios em Teu nome? E não fizemos o bem em Teu nome? E Ele lhes dirá naquele dia: Apartai-vos de mim todos vós que realizais a iniquidade. Porque é testemunha aquele que, tornando-se fiador com suas obras, confessa a Cristo Jesus.

Quantos, todos os dias, são mártires de Cristo em segredo, que confessam ao Senhor Jesus com suas obras! O apóstolo conhecia este martírio e testemunho fiel de Cristo, quando afirmava: Esta é a nossa glória: o testemunho de nossa consciência.” (1)

Na fidelidade ao Senhor, como discípulos missionários, desafiador é o combate que há no mais profundo de todos nós, para que melhor correspondamos na missão, como nos falou o bispo:

“Observas quão duro é o combate que há no interior do homem, para que se debata consigo mesmo e lute contra as suas paixões.”

Concluímos rogando a Deus a força e a presença do Santo Espírito, para que vivamos a graça da missão que Jesus nos confiou, encorajados pelas palavras do apóstolo Paulo:

“Em verdade, quando chegamos à Macedônia, nossa carne não teve repouso algum, mas sofremos toda espécie de tribulação: por fora, luta; por dentro, temores.” (2 Cor 7,5).

 

(1) Lecionário Patrístico Dominical, Editora Vozes – 2013 - pp.163-164.


“Fogo abrasador” (XIIDTCA)

“Fogo abrasador”

Na Liturgia do 12º Domingo do Tempo Comum (ano A), meditamos o Salmo 68.

Retomemos este versículo (v.10): “Pois meu zelo e meu amor por Vossa casa me devoram como fogo abrasador”, e sejamos enriquecidos à luz de uma das Cartas escrita pelo Presbítero São Paulo da Cruz (séc. XVIII), para que também este fogo nos aqueça o coração, e nos faça zelosos pela casa do Senhor e pelos Seus templos, nosso próximo, onde Deus habita, para que nossa fé seja verdadeiramente Pascal.

"Coisa excelente e muito santa é pensar e meditar sobre a Paixão do Senhor, pois por este caminho chegamos à união com Deus.

Nesta escola tão santa, aprende-se a verdadeira sabedoria. Foi aí, que todos os Santos a estudaram. Quando, pois, a Cruz de Nosso Bom Jesus lançar raízes mais profundas em vosso coração, então cantareis: seja 'Sofrer e não morrer'; seja 'Ou sofrer ou morrer', seja, ainda melhor, 'Nem sofrer nem morrer', apenas a perfeita conversão à vontade de Deus.

O amor é força de união e faz seus os tormentos do Bem, muito amado. Este fogo vai até à medula, converte o que ama no amado. De modo mais profundo, o amor se mistura à dor e a dor ao amor. Há, então, uma mistura de amor e de dor tão estreita que não se pode separar o amor da dor, nem a dor, do amor. Por isto, quem ama, se alegra com sua dor e exulta em seu amor sofredor.

Sede, portanto, constantes na prática de todas as virtudes, imitando, de modo particular, o suave Jesus padecente, porque é isto o cume do puro amor.

Procedei de modo que todos reconheçam que trazeis não só interior, mas ainda exteriormente, a imagem de Cristo crucificado, modelo de toda doçura e mansidão.

Quem está interiormente unido ao Filho de Deus vivo, revela no exterior Sua Imagem pelo contínuo exercício da virtude heroica, principalmente pela paciência cheia de força que nem em segredo nem em público se queixa. Portanto, escondei-vos em Jesus crucificado, sem desejar coisa alguma a não ser que todos em tudo aceitem Sua vontade.

Verdadeiros amigos do Crucificado celebrareis sempre no templo interior a festa da Cruz, suportando em silêncio, sem vos apoiar em criatura alguma. Uma festa deve ser celebrada na alegria; por isso os que amam o Crucificado irão à festa da Cruz com rosto jovial e sereno, suportando calados, de forma que permaneça oculta aos homens, só conhecida pelo sumo Bem.

Numa festa há sempre banquete; as iguarias são a vontade divina, a exemplo de nosso Amor crucificado”

Para a solidificação de nossa fé, retomo, também, esta parte da Carta:

“O amor é força de união e faz seus os tormentos do Bem, muito amado. Este fogo vai até à medula, converte o que ama no amado. De modo mais profundo, o amor se mistura à dor e a dor ao amor. Há, então, uma mistura de amor e de dor tão estreita que não se pode separar o amor da dor, nem a dor, do amor. Por isto, quem ama, se alegra com sua dor e exulta em seu amor sofredor”.

Configuremo-nos à Paixão do Senhor, abrindo-nos à verdadeira sabedoria que nos vem da “loucura da Cruz”, para vivermos com ousadia e profecia o amor e a dor que são inseparáveis.

Imitemos o suave Jesus padecente, o cume do mais puro amor, e d’Ele tenhamos mesma doçura, mansidão e paciência.

Celebrar com alegria, com um rosto jovial e sereno, suportando calado o sofrimento, mas com a confiança de que ele não terá a última palavra, e assim fortalecidos na fidelidade ao Senhor, vivendo intensamente o Mistério de Sua Paixão, sejamos devorados pelo fogo abrasador do amor de Deus que jamais nos abandona.

“Não tenhais medo” (XIIDTCA)

“Não tenhais medo”

“Não tenhais medo daqueles que matam o corpo,
mas não podem matar a alma!”

A Liturgia do 12º Domingo do Tempo Comum (ano A) nos convida a refletir sobre a solicitude e o Amor de Deus para com aqueles que Ele chama e envia em missão, uma vez que a perseguição está sempre presente no horizonte dos discípulos de Jesus.

A passagem da primeira Leitura (Jr 20, 10-13) nos mostra que Jeremias, como tantos outros Profetas, sofreu o abandono dos amigos, o sofrimento, a solidão e a perseguição, por isto é um paradigma do Profeta sofredor, que merece ser lembrado para nos inspirar e fortalecer na caminhada de fé e no testemunho da vocação profética.

O Profeta Jeremias faz forte apelo à conversão e a fidelidade a Javé e à Aliança, num período, da história do Povo de Deus, marcado por desgraças, infidelidade e injustiça social.

Por sua veemência e fidelidade, Jeremias é chamado de o “amargo Profeta da desgraça” e é acusado de traidor. Sua missão tem um alto preço pago: o abandono e a solidão. Ele é tratado como objeto de desprezo e de irrisão e tido como um maldito, porque não é aceita e compreendida sua mensagem em nome de Javé.

Encontramos no Livro desabafos seus, expressando desilusão, amargura, queixas, confissões e frustração, mas mantém-se fiel, porque estava verdadeiramente apaixonado pela Palavra de Deus.

Apesar do abandono experimentado, até dos amigos mais íntimos, eleva hino de louvor, que expressa confiança em Deus, para além de todo sofrimento e perseguição.

Bem sabemos que o caminho do Profeta é marcado pelo risco da incompreensão e da solidão, e precisamos de coragem para trilhar este caminho, com a certeza e confiança de que Deus jamais nos abandona.

Na passagem da segunda Leitura (Rm 5,12-15), o Apóstolo fala da vida, que se coloca sempre diante de uma decisão: ou viver no egoísmo e autossuficiência que gera a morte; ou pôr-se decidida e corajosamente numa caminhada de fidelidade ao Projeto de Deus que gera vida nova. É preciso centralizar nossa fé em Cristo, e em Sua Palavra, enraizando a nossa vida.

Como discípulos missionários, cremos que a Salvação vem pela fé em Jesus Cristo e se destina a todos, indistintamente. Somente a fidelidade a Jesus é garantia de vida nova e vida plena, fazendo da nossa vida um dom, uma doação feita por amor à causa do Reino de Deus.

Na passagem do Evangelho (Mt 10,26-33), o tema da inevitabilidade da perseguição na vida dos discípulos é explícito, assim como vimos na primeira Leitura.

O Evangelista exorta à superação do desânimo e frustração decorrentes das perseguições.

Apresenta como que um “manual do missionário cristão”, que consiste no “discurso da missão” – “Para mostrar que a atividade missionária é um imperativo da vida cristã. Mateus apresenta a missão dos discípulos como a continuação da obra libertadora de Jesus.

Define também os conteúdos do anúncio e as atitudes fundamentais que os missionários devem assumir, enquanto testemunhas do Reino” (1)

Três vezes aparece a expressão “Não temais”, assegurando a presença, ajuda e proteção divina para superação do medo que impeça a proclamação da Boa Nova; o medo da morte física; e neste medo se pode experimentar a solicitude de Deus, um cuidado que desconhece limites.

A mensagem é que a vida em plenitude é para quem enfrentar o medo, na fidelidade, até o fim. O medo não pode nos deixar acomodados.

A ternura, a bondade e a solicitude divina são imprescindíveis, pois fortalecem na missão. É preciso se entregar confiadamente nas mãos de Deus:

“Jesus encoraja os Seus discípulos a alargar o horizonte da vida e a avaliar os riscos vividos por Sua causa, no contexto mais amplo da vida com Deus, da vida eterna.

O cristão é chamado a viver na confiança de que o Pai não o abandona nas mãos dos perseguidores (v.28), que a sua vida, a sua salvação custou o Sangue do Filho e tem por isso, aos Seus olhos, um valor imenso (vv. 29-31).

A fidelidade e a confiança no Senhor serão recompensadas por aquele ‘reconhecimento’ que já se manifestou na Ressurreição de Cristo” (2).

No testemunho da fé, é possível a perseguição, portanto é necessária a confiança. 

Anunciar e testemunhar a Boa Nova é não deixar que o medo nos paralise, pois o medo nos impede de ser autênticos discípulos missionários:

“O cristão não é chamado a procurar o martírio como prova da sua fé, mas a viver constantemente a vida com os olhos fixos no Alto, isto é, a alargar aquele horizonte que hoje, mais do que nunca, tende a fechar-se no círculo dos benefícios desfrutáveis, aqui e agora.” (3)

Também nós precisamos ouvir a todo instante – “Não tenhais medo”. É preciso que a Palavra de Jesus ressoe em nossos ouvidos e fique entranhada no mais profundo de nosso coração:

“Impressiona a história de tantos mártires cristãos, antigos e atuais, que escolheram o caminho da coerência e da fidelidade ao Senhor a custo da própria vida.

É com eles que nos encontramos na Comunhão dos Santos, vivida, sobretudo, na Celebração Eucarística; uma companhia que a comunidade dos crentes gosta de ter ao seu redor, mesmo com as pinturas, os afrescos, os mosaicos que adornam as nossas Igrejas (hoje reduzidas muitas vezes a belas obras que se admiram em igrejas-museu) expressões artísticas surgidas para tornar humanamente visível o que vivemos na fé.” (4)

Antes de concluirmos com a expressiva Oração do Dia, da Missa, que muito bem expressa a realidade humana, marcada pela fragilidade, portanto, necessitada da força e intervenção divina, é preciso que como cristãos levantemos o olhar para a vida a que Cristo nos chama, ou seja, “viver a força de contestação profética que viveu Jeremias, que Jesus levou perante as autoridades judaicas e romanos e conduziu os Apóstolos ao martírio.

É na relação íntima e comunitária que vivemos com  Deus, no desejo de sermos reconhecidos por Ele que se reforça a adesão a Cristo e ao seu Evangelho, com a esperança libertadora de vivermos confiando no Pai.” (5)

Oremos:

“Senhor, nosso Deus, dai-nos por toda a vida a graça de Vos amar e temer, pois nunca cessais de conduzir os que firmais no Vosso amor. Por N. S. J. C. Amém.”



(2) (3) (4) Lecionário Comentado p. 560.
(5) Idem p. 561.

Assumir a Cruz quotidiana com a força da Oração (XIIDTCC)

Assumir a Cruz quotidiana com a força da Oração

A Liturgia do 12º Domingo do Tempo Comum (Ano C) nos interroga a respeito de Jesus:  

Quem é Ele para nós?
Quais são as consequências de Sua proposta para nossa vida?
Qual é o impacto de Sua Vida em nós? 

Para segui-Lo, é preciso fazer da própria vida um dom generoso, conhecer sua Pessoa, aderir à Sua proposta, segui-Lo com coragem, doar-se totalmente, viver com intensidade o amor, amando como Ele nos amou. Inevitavelmente, o seguimento de Jesus é um caminho que passa pelo amor vivido na radicalidade da Cruz.

A passagem da primeira leitura (Zc 12,10-11; 13,1) nos fala da figura de um Profeta trespassado, que a Igreja mais tarde identificou como o próprio Jesus Cristo, como vemos no Evangelho (Jo 19,34). 

O Profeta manifesta total confiança e abertura à vontade de Deus, e o sacrifício deste mártir inocente é fonte de transformação dos corações, de modo que a sua contemplação levará o Povo de Deus a um processo de arrependimento e purificação. 

A mensagem nos revela que o sofrimento profético não é em vão, e ainda, que Deus está do lado dos inocentes, perseguidos e massacrados. 

Não podemos nos instalar por causa dos medos, cumprindo, com coragem e ousadia, nossos compromissos proféticos, vivendo assim o nosso Batismo, e também, que não se pode ter para com os Profetas atitudes de desprezo, arrogância, frieza e indiferença.

O Apóstolo Paulo na passagem da segunda Leitura (Gl 3,26-29) exorta para que sejamos revestidos de Jesus Cristo, colocando-nos neste caminho de amor e doação da própria vida, tornando-nos herdeiros de vida em plenitude.

A comunidade que adere ao Senhor, e d’Ele se reveste, é marcada pela liberdade e igualdade. Deste modo, é preciso que se destruam quaisquer muros que possam existir ou quaisquer atitudes que fragilizem ou restrinjam a verdadeira liberdade que o Espírito nos concede, não uma liberdade qualquer, que diminua ou escravize o outro; que lhe roube espaço e identidade. 

Na passagem do Evangelho (Lc 9,18-24), Jesus começa a etapa decisiva rumo a Jerusalém. O caminho é árduo, marcado pela entrega da vida pelo Reino de Deus. A morte de Cruz está no horizonte bem próximo de Sua existência.

Os discípulos se quiserem segui-Lo, poderão ter o mesmo fim, e  por isto Jesus quer saber o que pensam a Seu respeito. Ele não é um Messias que vai reinar sem passar pela Cruz, pois ela precede à glória a ser alcançada. A Cruz será o Seu Trono, como Rei e Senhor.

Tomar a cruz para segui-Lo, implica não pautar a vida pelo prestígio, poder, domínio, acúmulo. É preciso renunciar ao egoísmo e orgulho, e em total confiança em Deus, nutrido pela força da Oração, pôr-se decididamente a caminho, assumindo a cruz quotidiana com a força da Oração. 

A interrogação de Jesus chega até nós: “... E vós, quem dizeis que Eu sou?” 

É preciso dar resposta à Sua pergunta:  

Quem é Jesus para a comunidade que participo?
Quem é Jesus para mim? 

Dependendo da resposta, a intensidade do nosso compromisso, engajamento, entrega e doação pela causa do Reino; dependendo dela, a coragem para assumirmos a cruz quotidiana, e sempre a caminho, edificarmos a Igreja e confessarmos o Seu nome.

Sejamos também questionados por estas palavras:

“Se fosse mais viva em nós a consciência de estarmos ‘revestidos de Cristo, de sermos filhos como o Filho ‘ (Gl 3,26-27), compreender-nos-íamos melhor a nós mesmos.  

Compreenderíamos a nossa vida como liberdade: liberdade de colocar sobre os nossos ombros a nossa cruz e a cruz dos nossos irmãos, de perdermos também a nossa vida como resposta de amor Àquele que nos ama e dá a vida por nós” .(1)

E, tão somente assim, solidificamos nossa fé, renovamos nossa esperança e crescemos na caridade, que amplia e dá sentido à liberdade e à igualdade, para seguirmos, com confiança e serenidade, no carregar da cruz, até que possamos merecer a glória eterna. 

Sejamos interpelados pelo Amor d’Aquele que foi trespassado em nosso favor, pela nossa redenção, para que vivamos na liberdade do Espírito, comprometidos com o Reino de Deus.


(1) Leccionário Comentado - Tempo Comum - pág. 773.

sábado, 22 de junho de 2024

Liberta-me, Senhor, de todo o medo!

                                           

Liberta-me, Senhor, de todo o medo!

Senhor, ofereço-Te meus medos, ânsias, angústias, temores, complexos, traumas psicológicos....

Quero arrancá-los do coração, como braceletes e correntes de ouro, e dizer-Te:
Toma, Senhor. Não quero mais que meu coração fique cheio de medo, mas  pleno de Ti, de Tua graça, ternura e amor.

Arranca, Senhor, todo o medo, ou me ajude a enfrentá-lo e assim poder vencê-lo; livra-me de todo o mal, de modo especial do mal que me corrói a alma e me fragiliza na conquista de meus sonhos.

Obrigado, Senhor, porque me libertas da necessidade de ter medo, e me dirige a Tua Santa Palavra:“ Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32); e ainda: “Coragem, Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

Gratidão a Ti, Senhor, pelo Teu Espírito concedido, que é princípio de liberdade interior, luz que dissipa todos os medos; bálsamo indispensável e indizível que dá paz ao coração.

Por fim, Senhor, com Teu Apóstolo, agradeço porque não nos deste um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de sabedoria (2 Tm 1,7).


PS: Livre adaptação – O Verbo Se faz Carne – Raniero Cantalamessa – Editora Ave Maria - 2013 - p.793.

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