Tempo de vigilância e perseverança na fé
“É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19)
Na proximidade do final do Ano Litúrgico, a Liturgia da Quarta-feira da 34ª Semana do Tempo Comum, convida-nos a refletir sobre o sentido da História da Salvação e para onde Deus nos conduz: um mundo marcado pela felicidade plena e vida definitiva, no entanto, precedida do testemunho da fé, enfrentando as provações que se fizerem presentes.
É preciso renascer em nós a esperança, para que dela brote a coragem para o enfrentamento das dificuldades, provações próprias na construção do Reino de Deus, como vemos na passagem do Evangelho proclamada (Lc 21,12-19).
Assim foi com a História do Povo de Deus como vemos na passagem do Livro do Profeta Malaquias (Ml 4,1-2).
Trata-se do período pós-exílio, uma realidade marcada pelo desânimo, apatia e falta de confiança. O Profeta Malaquias (“o meu mensageiro”) convoca o Povo de Deus à conversão e à reforma da vida cultual, pois vivendo a fidelidade aos Mandamentos da Lei Divina reencontrará a vida e a felicidade.
Seu anúncio sobre o Dia do Senhor é uma mensagem de confiança e esperança. Virá o Sol da Justiça. Este Sol é o próprio Jesus que brilha no mundo e insere a humanidade na dinâmica de um mundo novo, que consiste na dinâmica do Reino.
Numa situação difícil vivida pelo povo, é preciso viver a espera vigilante e ativa, reconhecendo a presença de Deus que intervém e comunica Sua força e poder. É preciso fortalecer a esperança, vencendo todo medo que paralisa.
Retomando a passagem do Evangelho, que retrata a aproximação do final da caminhada de Jesus para Jerusalém.
É no Templo de Jerusalém que realiza o Seu último discurso público acerca do cumprimento da Sua vida e da História inteira.
Na fidelidade ao Senhor, a Igreja, na realização de sua missão, também poderá sofrer dificuldades e perseguições, mas precisa manter-se confiante e perseverante.
Podemos falar em três tempos:
– O tempo da presença de Jesus e Sua missão, seguido da destruição do Templo alguns anos mais tarde;
– O tempo da missão da Igreja;
– O tempo da vinda do Filho do Homem.
Enquanto aguardamos a segunda vinda do Senhor, Ele nos alerta para que não nos deixemos enganar por falsos pregadores (21,8); haverá catástrofes, terremotos, fome, epidemias (21,10-11), mas ainda não será o fim do mundo; assim como as perseguições serão inevitáveis para os que n’Ele crerem (21,12).
Por causa do Nome do Senhor Jesus, Seus discípulos serão levados aos tribunais e às “sinagogas”, na presença de reis e lançados nas prisões. Mas contarão sempre com a força de Deus para enfrentar os adversários e as dificuldades.
“Quem segue a Cristo poderá encontrar dificuldades, mesmo no seio da própria família; aderir a Jesus, de fato, muitas vezes comporta uma ruptura com as próprias tradições, e conflitos com o ambiente de onde se provém, a ponto de incorrer na denúncia dos próprios familiares (21,16-17). (1)
Nesta vigilância ativa e no testemunho dado é que a comunidade vivificará a fé, reencontrará a intimidade com Jesus, superará todo medo e alcançará a vida eterna plena e feliz: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (21,19).
Urge a coragem e resistência para fidelidade no seguimento de Jesus Cristo no carregar da cruz quotidiana, a fim de que Ele reine verdadeiramente em nossa vida.
Considerando que “Toda a Igreja é missionária, em virtude da mesma caridade com que Deus enviou Seu Filho para a Salvação de todos os homens. E única é sua missão, a de se fazer próxima de todos os homens e todos os povos, para se tornar sinal universal e instrumento eficaz da paz de Cristo (RdC 8)” (3), ao término de mais um Ano Litúrgico, é tempo de avaliarmos e projetarmos uma nova caminhada.
Reflitamos:
– Qual foi o testemunho de fé que demos ao longo desta caminhada litúrgica?
– Tenho permanecido firme na fé, ou tenho vacilado em alguns momentos?
– Diante das dificuldades que marcam a vida de cada um e da história, qual confiança tenho em Deus para enfrentá-las?
– Qual esperança cultivo no coração?
– Como estou preparando a segunda vinda do Senhor?
– Quais os reais compromissos com o Reino que multiplico como expressão de uma vigilância ativa?
– Como tenho consumido o tempo na espera do Senhor que vem?
Oremos renovando nosso compromisso diante de Deus para que permaneçamos firmes na fé, e um dia alcancemos a vida eterna:
“Ó Deus, princípio e fim de todas as coisas,
Que reunis a Humanidade no Templo vivo do Vosso Filho,
Fazei que através dos acontecimentos,
Alegres e tristes deste mundo,
Mantenhamos firme a esperança do Vosso Reino,
Com a certeza de que, na paciência,
possuiremos a vida. Amém.” (4)
(1) (2) – Lecionário Comentado - p. 807.
(3) – Missal Dominical - p. 1296.
(4) – Lecionário Comentado - p. 809.