domingo, 29 de setembro de 2024

Os “Lázaros” nos questionam (XXVIDCC)

Os “Lázaros” nos questionam

Na Liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum (Ano C), ouvimos a passagem do banquete dado por um rico e o pobre Lázaro à porta mendicante (Lc 16,19-31).

Reflitamos sobre o escândalo da riqueza construída à custa do sofrimento dos pobres, dos tantos “Lázaros”, à luz das palavras do Bispo São João Crisóstomo (séc. V), a fim de que cresçamos no amor e na fidelidade ao Senhor, com gestos de amor, partilha e solidariedade.

“O indigente está atormentado pela falta do necessário e se lamenta e levanta muitos acusadores e não deixa nenhuma rua sem percorrer, perseguido por sua miséria, sem ter onde passar a noite. 
Como conseguirá o infeliz dormir, atormentado pelo estômago, cercado pela fome, desprotegido quando vem o frio ou quando cai o aguaceiro?

Você sai limpo do seu banho, vestindo roupas claras, cheio de satisfação e euforia e se dirige a esplêndida mesa que lhe foi posta.

O outro, porém transtornado de frio e morto de fome, dá voltas e mais voltas pela praça pública, com a cabeça baixa e estendendo as mãos.

O infeliz já nem tem ânimo para se dirigir ao bem alimentado e bem descansado, pedindo-lhe o sustento necessário e muitas vezes se retira coberto de insultos.”

Muito antes, os "ais” do Profeta Amós foram dirigidos aos ricos que viviam luxuosamente à custa do empobrecimento e sofrimento dos pobres.

A denúncia do Profeta Amós e a advertência do Sublime Mestre Jesus ultrapassam o tempo, para que reconstruamos um novo tempo sem miséria, dor, luto, fome e sofrimento...

Os nossos olhos, ouvidos e também o coração devem se abrir sempre na acolhida e fidelidade à Palavra. Somos sempre interpelados e chamados ao amor, solidariedade e partilha com os “Lázaros” de cada tempo.

Os cães da parábola e os “ais” do profeta devem ser interpelações mais que audíveis para todos nós, no amor de compaixão para a superação de relações de miséria e opressão.

A grande lição que emerge desta Parábola: a eternidade somente será alcançada no amor que se traduza em partilha, solidariedade e sensibilidade com os clamores dos que mais precisam.

Algumas lições aprendemos:

- a justiça deve ser compreendida como retidão em relação às pessoas, em relação ao nosso próximo;

- a piedade é a expressão da nossa relação de retidão para com Deus em estreita intimidade e fidelidade ao Bem Maior;

- nossa fé a adesão a Jesus Cristo deve ser plena e incondicional;

- o amor vivido é a concretização de nossa fé e norma de comportamento em tudo e em todos os momentos;

- é preciso a  perseverança a capacidade de superação de conflitos internos e externos;

- a  mansidão é uma virtude que nos identifica como cristãos, e esta nos foi apresentada por Jesus no Sermão da Montanha.

Reflitamos:

- O que podemos fazer para superar brutal e pecaminosa situação de miséria e injustiça social que questiona nossa fé, esperança e caridade?
- O que fazer para superar a pecaminosa distância entre os ricos e os pobres de nosso tempo?

- Como reconstruir relações justas e fraternas em que a riqueza não será consequência do processo de empobrecimento do outro?
- Quais são nossas atitudes que clamam por conversão a fim de acolhermos Cristo nos “Lázaros” de hoje?

Sem muitas palavras diante de Deus, mas com muita solidariedade e compromisso com os pobres é o suprassumo da Liturgia bem celebrada e que deve ser vivida.

“Cessem as palavras, falem as obras”, já nos disse Santo Antônio.

- Lázaro clama, qual a nossa resposta?
- Lázaro grita, qual a nossa escuta?

- Lázaro chora, como enxugamos seu pranto?
- Lázaro geme de dor, qual nosso bálsamo?

- Lázaro tem pesadelos, como torná-los sonhos?
- Lázaro já “não é”, como ajudá-lo a ser?
- Lázaro não existe! Como não existe?!

Existe, e com ele: o apelo de nossa conversão; o amor se expressa em compaixão; o outro não é fonte de meu enriquecimento, mas é apelo de solidariedade neste exato momento!

Que Lázaro não se decepcione conosco, somente assim nossa fé será mais verdadeira, nossa esperança mais comunitária, a caridade visibilizada em ação solidária!

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