sábado, 29 de junho de 2024

Curados para amar e servir

                                                         

Curados para amar e servir

 “Minhas lágrimas e minha penitência
têm sido para mim como o Batismo”

Ouvimos, no sábado da 12ª Semana do Tempo Comum, a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 8, 5-17) em que Jesus cura a sogra de Pedro que estava com febre.

Sejamos iluminados pelo Comentário de São Jerônimo, doutor da Igreja, (séc. V).

“A sogra de Pedro estava com febre.
Oxalá venha e entre em nossa casa o Senhor e com uma ordem Sua cure as febres de nossos pecados! Porque todos nós temos febre.

Tenho febre, por exemplo, quando me deixo levar pela ira. Existem tantas febres como vícios. Por isso, peçamos que intercedam frente a Jesus, para que venha a nós e segure nossa mão, porque se Ele segura a nossa mão, a febre foge em um instante. Ele é um médico nobre, o verdadeiro protomédico. Médico foi Moisés, médico Isaías, médico todos os Santos, mas este é o protomédico. Sabe tocar sabiamente as veias e perscrutar os segredos das enfermidades.

Ele não toca o ouvido, não toca a fronte, não toca nenhuma outra parte do corpo, mas a mão. Tinha febre, porque não possuía boas obras.

Em primeiro lugar, portanto, tem que curar as obras, e logo remover a febre. A febre não pode fugir se não são curadas as obras. Quando nossa mão possui más obras, jazemos no leito, sem podermos levantar, sem poder andar, pois estamos totalmente consumidos na enfermidade.

E aproximando-Se daquela que estava enferma.
Ela mesma não pôde levantar-se, pois jazia no leito e, portanto, não pôde sair ao encontro do que vinha. Porém, este médico misericordioso, ele mesmo acode ao leito; Aquele que tinha levantado sob Seus ombros a ovelhinha enferma, Ele mesmo acorre ao leito. E aproximando-Se...Sobretudo Se aproxima, e o faz para curá-la. E aproximando-Se... Observa o que Ele diz. É como dizer: seria suficiente sair-me ao encontro, achegar-te à porta e receber-me, para que tua saúde não fosse totalmente obra de minha misericórdia, mas também de tua vontade. Porém, já que te encontras oprimida pelas altas febres e não pode levantar-se, Eu mesmo venho a ti.

E aproximando-Se, a levantou.
Visto que ela mesma não podia levantar-se, é segurada pelo Senhor. Ele a levantou, tomando-a na mão. Segurou-a precisamente na mão. Também Pedro, quando perigava no mar e afundava, foi agarrado na mão e erguido. E levantou-a tomando-a pela mão, Com Sua mão o Senhor tomou a mão dela. Ó feliz amizade, ó formoso afago! Levantou-a segurando-a com Sua mão: com Sua mão curou a mão dela. Segurou sua mão como um médico, tomou o pulso, comprovou a intensidade das febres, Ele mesmo, que é médico e medicina ao mesmo tempo.

Jesus a toca e a febre foge. Que Ele toque também a nossa mão, para que nossas obras sejam purificadas, que Ele entre em nossa casa: por fim, levantemo-nos do leito, não permaneçamos abatidos. Jesus está de pé frente ao nosso leito, e nós permanecemos deitados? Levantemo-nos e fiquemos de pé: é para nós uma vergonha que estejamos recostados diante de Jesus.

Alguém poderá dizer: Onde está Jesus? Jesus está aqui agora. No meio de vós, diz o Evangelho, está alguém a quem não conheceis. O Reino de Deus está no meio de vós. Creiamos e vejamos que Jesus está presente. Se não podemos tocar Sua mão, prostremo-nos aos Seus pés. Senão podemos chegar à Sua cabeça, ao menos lavemos Seus pés com nossas lágrimas. Nossa penitência é unguento do Salvador. Vede quão grande é a Sua misericórdia. Nossos pecados fedem, são podridão e, contudo, se fizermos penitência pelos pecados, se os chorarmos, nossos pútridos pecados se convertem em unguento do Senhor. Peçamos, portanto, ao Senhor que nos tome pela mão.

E no mesmo instante, afirma, a febre a deixou.
Apenas a segura pela mão e a febre a deixa. Observa o que segue: No mesmo instante a febre a deixou. Tem esperança, pecador, contanto que te levantes do leito.

O mesmo ocorreu com o santo Davi, que tinha pecado, deitado na cama com a mulher de Urias, o hitita, sentindo a febre do adultério, depois que o Senhor o curou, depois de ter dito: tem piedade de mim, ó Deus, por tua grande misericórdia, assim como: Contra Ti, só contra Ti pequei, cometi o mal aos Teus olhos. Livra-me do sangue, ó Deus, Deus meu... Porque ele tinha derramado o sangue de Urias, ao ter ordenado derramá-lo. Disse: livra-me do sangue, ó Deus, Deus meu, e renova meu espírito em meu interior.

Observa o que diz: Renova. Porque o tempo em que cometi o adultério e perpetrei o adultério e o homicídio, o Espírito Santo envelheceu em mim. E o que mais ele diz? Lava-me e ficarei mais branco do que a neve. Porque me lavaste com minhas lágrimas.

Minhas lágrimas e minha penitência têm sido para mim como o Batismo. Observa, então, de penitente em que se converte. Fez penitência e chorou, por isso foi purificado. O que acontece em seguida? Ensinarei aos iníquos Teus caminhos e os pecadores voltarão a Ti. De penitente se tornou mestre.

Por que disse tudo isto? Porque aqui está escrito: E no mesmo instante a febre a deixou e se pôs a servir-lhes. Não basta que a febre a deixasse, mas também se levanta para o serviço de Cristo. E se pôs a servi-lhes. Servia-lhes com os pés, com as mãos, corria de um lugar ao outro, venerava ao que lhe tinha curado. Sirvamos também nós a Jesus. Ele acolhe com gosto o nosso serviço, mesmo que tenhamos as mãos manchadas: Ele Se digna olhar aquele que curou, porque Ele mesmo o curou. A Ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.” (1)

Jesus é, ao mesmo tempo, o médico e a medicina. Ele tem a cura para nossas enfermidades, sejam quais forem.

Assim como Jesus curou a sogra de Pedro da febre que a acometia, e ela logo se pôs a serviço, também sejamos curados de nossas febres de tantos nomes (soberba, avareza, luxúria, ira, inveja, gula e preguiça), que consistem exatamente nos sete pecados capitais, que nos escravizam e nos roubam a alegria do serviço.

Curados pelo Médico e pela Medicina, curados pelo próprio Senhor, tomados pela Sua Mão, levantemo-nos e coloquemo-nos a serviço da vida e da esperança, para que a justiça e a paz se abracem, o amor e a verdade se encontrem, como rezou o Salmista (Sl 85,11). 

A sogra foi curada de uma febre para pôr-se a serviço; Pedro precisou, mais tarde, ser tomado pela febre de amor, para que o Senhor lhe confiasse o rebanho.

Há febres que precisamos ser curados, e há uma febre que deve, a cada dia mais, tomar conta de nosso coração: a febre de amor pelo Senhor.

Tão somente febris de amor pelo Senhor é que somos curados das febres indesejáveis que nos afastam da alegria da participação da construção do Seu Reino.


Lecionário Patrístico Dominical – 2013 - Editora Vozes - pp.382-384

Compassivos e missionários

                                                        

Compassivos e missionários

A Liturgia, do Sábado da 12ª Semana do Tempo Comum, nos apresenta a passagem do Evangelho (Mt 8, 5-17), em que Jesus cura a sogra de Pedro, à porta da casa deste, faz curas e expulsa demônios ao cair da tarde.

Sobre esta passagem do Evangelho, voltemo-nos para a reflexão de São Pedro Crisólogo (séc. V), em que nos apresenta a ação de Deus, que busca os homens e não as coisas dos homens.

“A Leitura evangélica de hoje ensina ao ouvinte atento porque o Senhor do céu e restaurador do universo entrou nos domicílios terrenos de Seus servos. Mesmo que nada tenha de estranho que se tenha mostrado afavelmente próximo a todos, ele que com grande clemência tinha vindo para socorrer a todos.

Já conheceis o que moveu Cristo a entrar na casa de Pedro: com certeza não o prazer de recostar-se à mesa, mas a enfermidade daquela que se encontrava na cama; não a necessidade de comer, mas a oportunidade de curar; a obra do poder divino, não a pompa do banquete humano. Na casa de Pedro não se servia vinho, somente se derramavam lágrimas. Por isso Cristo entrou ali, não para banquetear, mas para vivificar. Deus busca aos homens, não as coisas dos homens; deseja dispensar bens celestiais, não espera conseguir as terrenas. Em resumo: Cristo veio buscar-nos, e não buscar as nossas coisas.

Ao chegar Jesus à casa de Pedro, encontrou sua sogra na cama com febre. Entrando Cristo na casa de Pedro, viu ao que vinha buscando. Não se fixou na qualidade da casa, nem na afluência de pessoas, nem nas cerimoniosas saudações, nem na reunião familiar; também não pensou no adorno dos preparativos: Fixou-se nos gemidos da enferma, dirigiu sua atenção ao ardor daquela que estava sob a ação da febre. Viu o perigo daquela que estava para além de toda esperança, e imediatamente coloca mãos para obra de Sua santidade: Cristo nem se sentou para tomar alimento humano, antes que a mulher que jazia se levantasse para as coisas divinas.

Tomou sua mão e sua febre passou. Vês como a febre abandona a quem segura a mão de Cristo. A enfermidade não resiste, onde o Autor da saúde assiste; a morte não tem acesso algum onde entrou o Doador da vida.

Ao anoitecer, levaram-lhe muitos endemoniados; Ele expulsou os espíritos. O anoitecer acontece ao acabar o dia do século, quando o mundo pende para entardecer da luz dos tempos. Ao cair da tarde vem o Restaurador da luz para introduzir-nos o dia sem ocaso, a nós que viemos da noite secular do paganismo.

Ao anoitecer, ou seja, no último momento, a piedosa e solene devoção dos Apóstolos nos oferece a Deus Pai, a nós que somos procedentes do paganismo: são expulsos de nós os demônios, que nos impunham o culto aos ídolos. Desconhecendo ao único Deus, cultuávamos a inumeráveis deuses em nefanda e sacrílega servidão.

Como Cristo já não vem a nós na carne, vem na Palavra: e aonde quer que a fé nasça da mensagem, e a mensagem consiste em falar de Cristo, ali a fé nos liberta da servidão do demônio, enquanto que os demônios, de ímpios tiranos, converteram-se em prisioneiros. Por isso os demônios, submetidos a nosso poder, são atormentados a nossa vontade. O único que importa, irmãos, é que a infidelidade não volte a reduzir-nos a sua servidão: coloquemos antes em nosso ser e nosso fazer, nas mãos de Deus, entreguemo-nos ao Pai, confiemo-nos a Deus: porque a vida do homem está nas mãos de Deus; em consequência, como Pai dirige as ações de Seus filhos, e como Senhor não deixa de preocupar-se por Sua família.” (1)

Esta passagem do Evangelho nos apresenta dois adjetivos que exprimem a identidade de Jesus: compassivo, contemplativo.

Compassivo, Se compadece da sogra de Pedro e a cura da febre, para que esta se coloque a serviço; bem como curou todos os que vieram ao Seu encontro, à porta da casa; também expulsou muitos demônios.

Missionário, não Se instala nem Se acomoda com a possível acolhida na casa da sogra de Pedro, mas, aos discípulos, diz que é preciso continuar a missão em outros lugares.

Assim também é a Igreja, anunciando a Palavra de Deus, realizando a missão do Senhor, com a força e presença do Espírito, verdadeiro protagonista da missão na construção do Reino.

Para anunciar e testemunhar o Senhor e Sua Boa-Nova, precisamos ser como o Divino Mestre: compassivos e missionários.



(1) Lecionário Patrístico Dominical – Editora Vozes - pp.380-382

Curados pelo Senhor para o discipulado

                                                         

Curados pelo Senhor para o discipulado

A Liturgia do sábado da 12ª Semana do Tempo Comum nos apresenta a passagem do Evangelho de Mateus (Mt 8, 5-17) em que Jesus cura a sogra de Pedro, e curada põe-se a servi-Lo.

Oportuno para refletirmos sobre qual é o sentido do sofrimento e da dor que acompanham a caminhada da humanidade, apesar de Deus possuir um Projeto de vida verdadeira e felicidade plena e infinita para a mesma.

Como explicar o sofrimento dos bons, dos justos, dos inocentes?

No Livro de Jó (7, 1-4.6-7) já fora retratado sobre o sofrimento do justo, do inocente.

O sofrimento de Jó leva-nos a afirmar que fora de Deus não há nenhuma possibilidade de salvação: Deus é nossa única esperança. O grito de revolta de Jó é ao mesmo tempo a afirmação de que somente em Deus encontra-se o sentido da existência e da salvação, insisto.

Jó procura o verdadeiro rosto de Deus – “... numa busca apaixonada, emotiva, dramática, veemente, temperada pelo sofrimento, marcada pela rebeldia e, às vezes, pela revolta, Jó chega ao face a face com Deus. Descobre um Deus onipotente, desconcertante, incompreensível, que ultrapassa infinitamente as lógicas humanas; mas descobre também um Deus que ama com Amor de Pai cada uma das Suas criaturas. Jó reconhece, então, a sua pequenez e finitude, a sua incapacidade para compreender os Projetos de Deus. Reconhece que ele não pode julgar Deus, nem entende-Lo à luz da lógica dos homens. A Jó, o homem finito e limitado, só resta uma coisa: entregar-se totalmente nas mãos desse Deus incompreensível, mas cheio de Amor, e confiar plenamente n'Ele. É isso que Jó faz, finalmente”.

Voltando à passagem do Evangelho, vemos qual é a preocupação de Deus a partir da atividade pastoral de Jesus, que torna o Reino uma realidade na vida das pessoas.

A ação de Jesus é para nos libertar de nossas misérias mais profundas, sejam quais forem. Jesus Se aproxima da sogra de Pedro, levanta-a tomando pela mão e esta curada põe-se a servir. Assim acontece quando o Senhor de nós Se aproxima, nos toca, nos cura. Põe-nos curados, de pé para amar e servir. Assim é a atitude e a vida de quem crê no Ressuscitado.

Reflitamos:

- Como enfrentamos a dor e sofrimento em nossa vida?
- O que eles nos ensinam?
- O que aprendemos com Jó?
- Como e onde procuramos encontrar a verdadeira Face de Deus?
- O que aprendemos com a cura da sogra de Pedro?
- O que a ação de Jesus nos ensina para que sejamos discípulos missionários como assim Ele deseja?

Oremos: 

Ó Deus, enraizados no Vosso Amor de Pai, tornemo-nos testemunhas eficazes do Reino, na fidelidade a Boa-Nova do Vosso Filho com a Luz e Sabedoria do Espírito. Amém.

sexta-feira, 28 de junho de 2024

A escuridão do palco

A escuridão do palco

A escuridão do palco parece um vazio.
A tela do meu celular ficou toda preta.
Ledo engano! Aos poucos, as luzes e seus efeitos,
Que não seriam os mesmos, se as luzes acesas.

Cada efeito da luminosidade, um deleite;
Uma sensação da alma em elevação,
Ao som das cordas da guitarra e do baixo,
A melodia, o palco, perfeita combinação.

Luzes, sons, melodia, a voz de quem canta,
Invadem em doce e harmoniosa sintonia,
Levando a voos a quem se encanta,
Para ver o mundo com esperança e poesia.

A escuridão do palco parece um vazio,
A escuridão da vida, também assim me parece.
Ledo engano, também, aos poucos surgem a Luz e seu efeito:
A Luz de Deus em nossa escura travessia.

O cenário político, a realidade social,
Uma escuridão que teima em persistir.
Corrupção, violência, tráfico, agressões,
Destruição, depredação, insana ganância.

E ainda outras, sombrias e obscuras realidades,
Permanentemente, a nossa fé desafiam:
Como ser luz do mundo em contextos assim?
Como ser sinal de esperança com caridade e ousadia?

A escuridão do palco é como a vida:
Reencontrar a necessária harmonia
Da voz, do canto, dos sons, da música,
Um grito pela edificante, dia pós dia.

Enamorados por Jesus, a Luz que veio ao mundo,
Para aqueles que nas trevas jaziam,
Iluminando o palco escuro da história.
A Ele, rendemos toda a honra, poder, louvor e glória.

O palco escuro da vida nos desafia.
Revigoremos nossas forças no Sagrado Banquete,
No Divino Banquete da Eucaristia: pela Palavra, iluminados;
Pelo Pão de Imortalidade, revigorados. Amém. 

O Sol do Amor amadurece nossa liberdade

O Sol do Amor amadurece nossa liberdade

Todos ansiamos pela liberdade, que não se confunde em estar sem cadeias, sem saber em que direção andar, sem meta que dê um sentido à caminhada, pois se assim o fosse seria apenas ausência de constrangimento ou espontaneidade inconsequente.

Ser livre não significa que a ninguém tenhamos que obedecer, mas ser alguém que a Deus obedece, em total adesão a Cristo que, na obediência ao Pai, alcançou a verdadeira liberdade.

Livre somos quando permanecemos plenamente fiéis ao Pai e realizamos a Sua vontade, assim como Jesus o fez, até a morte e morte de Cruz, o  lugar de maturação de nossa liberdade, na alegria dos frutos Pascais.

Não há liberdade se não tivermos a maturidade para o carregar da cruz quotidiana, silenciosamente, sem esmorecimentos, fazendo progressos na atuação da fé, esforços na caridade e dando firmeza à esperança.

Ser livre é experimentar a presença e ação de Deus, que é amor em nossa vida, pois “Somente o Sol do Amor faz amadurecer a liberdade", enfrentando os momentos de adversidades e crise, pois assim, tomamos consciência de nossa incondicional adesão ao Senhor.

Ser livre é confiar na Palavra do Senhor e jamais andar a deriva, ou na travessia do mar, não naufragar em nossas fraquezas, mediocridade, incertezas e medos, confiando na presença e ação divina, que nos ampara e nos toma pela mão, porque é nosso refúgio e proteção.

Provemos e vejamos como o Senhor é bom para quem n’Ele encontra o seu refúgio, e assim a autêntica liberdade desejada alcança, e não se perde, também,  na travessia do vale escuro da existência, iluminado e assistido pela luz divina que nos ilumina.



Fonte de inspiração: Romanos 6, 12-18; Missal Cotidiano – Editora Paulus - p.1406

Se Ele vier amanhã...


Se Ele vier amanhã...
Assim se proclama na Missa:

“Eis o Mistério da fé”, e tão logo se responde:
“Anunciamos Senhor a Vossa morte,
E proclamamos a Vossa Ressurreição,
Vinde Senhor Jesus”.

Quando o Senhor voltará?
Quando se dará a Sua gloriosa parusia?
Nem os anjos, nem o Filho sabem,
Falou-nos Ele que é segredo do Pai,
Assim cremos, assim esperamos...

O que faria se Ele voltasse amanhã?
Se o mundo amanhã fosse consumado,
Se não nos restasse outro dia,
Outro amanhecer no tempo presente,
Porque a História teria chegado ao seu ápice glorioso...

Quando o Senhor voltará?
Se Ele voltasse amanhã, amado tão esperado,
Gloriosamente para julgar os vivos e os mortos,
Introduzir o justo na morada do Altíssimo,
Para a face do Pai contemplar?

Continuaria minha missão, meu ministério,
Sem remorsos, consciente de que vivi movido
Pelo mais belo e divino Mistério
De um Amor Uno e Trino que me chamou
Me consagrou, me enviou, Presbítero Seu;

Escreveria mais um texto, uma poesia,
Faria minha Oração da noite serenamente,
E se merecedor, ao amanhecer
O maravilhoso encontro com o coração confiante,
A Ele eternamente agradecido.

Ah, que bom se a amada continuasse penteando
O cabelo de seu amado, porque já trêmulo,
Enfermo, jubilados de ouro no matrimônio,
Mas amor renovado, no Sacramento nutrido,
Reluzindo em cada secreto e pequeno gesto de amor.

Que bom se a criança continuasse a brincar,
E que não fosse tão apenas diante de uma tela,
Mas nas ruas, de ciranda, de mãe da rua,
De esconde-esconde, de pega-pega,
Como em tempos idos, na alegria e na paz;

Que o jovem continuasse a sonhar,
Porque não será mais um número
Na tão triste estatística dos que são ceifados
Pela morte precoce, pela violência da vida banidos,
Não mais sangue dos pequenos, jovens e inocentes.

Que esperássemos com mesas postas,
Sem fome, sede sacrificando vidas e povos;
Esperar alimentados, esperar amados,
Sem angústia pelo que falta cruelmente,
Mas na alegria do pão quotidiano partilhado

Que o contador de história contasse novamente
A mesma história, com matizes de esperança,,
Fazendo brilhar os olhos de adultos,
Porque histórias belas contadas,
Não apraz somente coração de criança.

Que o cantor não parasse seu canto,
Que a melodia soasse mais suavemente
Dedicada ao tempo novo que se anuncia,
Porque amanhã será o fim, não um trágico fim,
Mas a grande e esperada parusia.

Que na veia do poeta o sangue continuasse circulando,
As palavras grafadas, digitadas, no muro da história
Gravadas, para que reproduzisse o que se encontra
Muito mais que na mente humana, o que fica no coração,
Porque é assim tudo que se eterniza na memória.

Que o pão assado no forno continuasse sendo assado,
Exalando o perfume que encanta o olfato do faminto,
Porque assim será o eterno futuro, uma exalação ininterrupta
Do Amor de Cristo para aqueles que  assim o quiserem;
Exalação do odor de amor no Paraíso reinventado, reconstruído...

Assim haveria e haverá de ser,
Não importa se o mundo amanhã acabará,
Importa antes de tudo, o que ora faço,
O que posso fazer para que o mundo seja melhor,
Sem medos, discursos funestos e alarmistas...

É tempo de viver a fé para que dê frutos.
É tempo de solidificar a esperança
Na caridade ativa, vigilante sejamos.
Quando será o fim do mundo não importa,
Importa o que estamos fazendo no mundo e do mundo...

Sementes a cuidar, Frutos a colher

Sementes a cuidar, Frutos a colher

Em cada Eucaristia que celebramos,
O melhor de Deus Ele nos oferece.
No Sacrifício Redentor de Seu Filho,
Sacia-nos com Seu Corpo, n’Ele o Espírito.

Em cada Eucaristia que celebramos,
Sabedoria e esplendor da luz divina
Do alto dos céus, que nos orienta e ilumina,
Para que no caminho não tropecemos.

Em cada Eucaristia que celebramos,
No coração, sementes são lançadas,
De cultivo e carinho tão necessitadas,
Regadas com a vigilância e oração.

Quem sou eu

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG