quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Natal: Envolvidos pelo Amor da Santíssima Trindade (Natal do Senhor)

                                                                  


Natal: Envolvidos pelo Amor da Santíssima Trindade 

“Creiamos no Pai como Ele quer ser acreditado;
glorifiquemos o Filho como Ele quer ser glorificado;
e recebamos o Espírito Santo como Ele quer Se dar a nós”

Celebrando o Natal do Senhor, sejamos iluminados pelo Tratado do Presbítero Santo Hipólito contra a heresia de Noeto (séc. III), contemplemos o Mistério escondido, e sejamos envolvidos pelo Amor da Santíssima Trindade, pela qual tudo foi criado:
 
“Único é o Deus que conhecemos, irmãos, e não por outra fonte que não seja a Sagrada Escritura. Devemos, pois, saber o que ela anuncia e compreender o que ensina.
 
Creiamos no Pai como Ele quer ser acreditado; glorifiquemos o Filho como Ele quer ser glorificado; e recebamos o Espírito Santo como Ele quer Se dar a nós. Consideremos tudo isso, não segundo nosso próprio arbítrio e interpretação pessoal, nem fazendo violência aos dons de Deus, mas como Ele próprio nos ensinou pelas santas Escrituras.
 
Quando só existia Deus, e não havia ainda nada que existisse com Ele, decidiu criar o mundo. Criou-o por Seu pensamento, Sua vontade e Sua Palavra; e o mundo começou a existir como Ele quis e realizou. Basta-nos apenas saber que nada coexistia com Deus. Não havia nada além d’Ele, só Ele existia e era perfeito em tudo. N’Ele estava a inteligência, a sabedoria, o poder e o conselho. Tudo estava n’Ele e Ele era tudo. E quando quis e como quis, no tempo que havia estabelecido, manifestou o Seu Verbo, por quem fez todas as coisas.
 
Deus possuía o Verbo em Si mesmo, e o Verbo era imperceptível para o mundo criado; mas fazendo ouvir Sua voz, Deus tornou-O perceptível. Gerando-O como luz da luz, enviou como Senhor da criação Aquele que é Sua própria inteligência. E este Verbo, que no princípio era visível apenas para Deus e invisível para o mundo, tornou-Se visível para que o mundo, vendo-O manifestar-Se, pudesse ser salvo.
 
O Verbo é verdadeiramente a inteligência de Deus que, ao entrar no mundo, Se manifestou como o servo de Deus. Tudo foi feito por Ele, mas Ele procede unicamente do Pai. Foi Ele quem deu a Lei e os Profetas; e ao fazê-lo, impulsionou os Profetas a falarem sob a moção do Espírito Santo para que, recebendo a força da inspiração do Pai, anunciassem o Seu desígnio e a Sua vontade.
 
O Verbo, portanto, Se tornou visível, como diz São João. Este repete em síntese o que os Profetas haviam dito, demonstrando que Aquele era o Verbo por quem tinham sido criadas todas as coisas: ‘No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus; e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por Ele e sem Ele nada se fez’ (Jo 1,1.3). E, mais adiante, prossegue: ‘O mundo foi feito por meio d’Ele, mas o mundo não quis conhecê-Lo. Veio para o que era Seu, os Seus, porém, não O acolheram’ (Jo 1,10-11)”. (1)
 
À luz da fé, a Festa do Natal é a celebração do nascimento d’Aquele por meio do qual Deus tudo criou, que já existia com Deus em comunhão com o Espírito Santo.
 
O invisível Se fez visível. O intangível nos permitiu que O tocássemos.
 
É sempre Natal, quando percebemos a presença do Senhor em nosso meio, como “Emanuel”, o “Deus conosco”, nosso Salvador que, por amor, lenhos distintos assumiu: da Manjedoura, da Barca e da Cruz.
 
Ofereceu-nos a Cruz como condição para segui-Lo com necessárias renúncias. É nesta mesma Cruz que o Sangue, por amor, derramou, e com Deus nos reconciliou e, ao mundo, a mais bela lição de humildade, amor, e doação deixou.
 
Celebrando o Natal do Senhor, não separemos o Menino da Manjedoura do Homem Jesus de Nazaré que morre na Cruz, o nosso Redentor, o Salvador de toda humanidade.
 
O Senhor armou Sua tenda entre nós, e que em nosso coração encontre morada, como o mais belo Hóspede de nossa alma, então a Luz do Natal resplandecerá mais forte e iluminará todo o mundo. 
 
Deste modo, celebrar o Natal do Senhor consiste em mergulhar neste amor profundo e intenso da Santíssima Trindade.
 
Quanto mais nos deixamos envolver pelo amor Trinitário, mais luz, sabedoria, graça, força, ternura alcançamos.
 
Quanto mais intensamente celebrarmos o Mistério da Encarnação do Verbo, que veio e vem fazer morada em nós, acompanhado da fidelidade à Palavra que nos anunciou, mais revigoradas serão as nossas mãos, mais fortalecidos serão os nossos joelhos, com os olhos, pelo colírio da fé, iluminados, e curados de toda a surdez para ouvir o Senhor, que nos fala no silêncio e através de fatos e de pessoas que nos cercam.
 
Quanto mais em Deus crermos, o Filho glorificarmos e do Espírito Seus dons recebermos, mais firmaremos nossos passos no caminho da santidade, sendo sinal de Deus para quantos precisarem.
 
Tão somente assim celebramos o verdadeiro Natal: fazer nascer e renascer o melhor de Deus no coração de todas as pessoas, porque também desejamos e nos preparamos para que isto acontecesse na manjedoura de nosso coração. Amém. 


(1) Liturgia das Horas - Volume Advento/Natal - pp.333-335

Natal: A Divina Fonte não dispensa compromissos! (Natal do Senhor)

                                                          

Natal: A  Divina Fonte não dispensa compromissos!

O tempo de Natal e a própria Festa do Natal hão de ter sempre um tom festivo, com conotação religiosa profunda para todos os cristãos, libertos de todo tom consumista e passageiro, esvaziados do seu verdadeiro sentido.

Trata-se da Festa do Nascimento de Jesus Cristo, Deus feito homem, que toma as condições e os limites da natureza humana, conferindo à nossa humanidade a divindade.

Natal:
Deus Se humaniza e possibilita a divinização da pessoa humana. Realiza-se a profecia de Isaías, ao dizer que:
“De uma virgem nasceria o Emanuel” (Is 7,14).

Na Encarnação do Verbo, Deus mostrou que Ele mesmo Se envolveu na história da humanidade, assumindo-a com a disposição divina de conduzi-la ao seu destino verdadeiro, agindo dentro dela e respeitando sua dinâmica humana própria.

Mas o nascimento de Jesus não significou o esgotamento da esperança, nem o fim da promessa velada até o tempo dos Profetas (AT).

O Reino inaugurado pelo mais importante de todos os  nascimentos, testemunhado pelos pobres marginalizados (pastores), ainda continua sua trajetória, e conta com a nossa participação consciente e comprometida.

Por isto o Natal tem três tempos: ontem, hoje e amanhã.

ontem, na humilde gruta, com todas as suas vicissitudes e poesia da acolhida no despojamento.

amanhã da segunda vinda gloriosa, que vigilante esperamos, quando dizemos na Missa, ao proclamar o Mistério de nossa Fé: Anunciamos, Senhor, a Vossa morte, e proclamamos a Vossa Ressurreição, vinde Senhor Jesus!”.

Mas tem o hoje; o hoje do nosso sim, da nossa mencionada participação ativa, consciente e piedosa.

Festa do Natal não se esgota num dia, como a beleza de uma vida não se alcança apenas de um pôr do sol ao outro.

Nada como fazer de cada dia um verdadeiro Natal! De cada amanhecer do sol, o nascimento do Sol nascente que veio nos visitar:

Eterna acolhida amorosa da semente do Verbo, para que  a alegria, a bondade, a ternura, a justiça, a graça, verdade, a paz, o amor e a luz resplandeçam em nós.

Sementes que hão de ser regadas pela água da vida que somente o Senhor tem para dar, com a luz do Espírito que pousa sobre nós!

E semente nunca há de faltar, pois nosso Deus Pai criador, além de onipotente e onisciente, é infinitamente providente.

Natal, em uma palavra, é a acolhida da Palavra: o renascer da esperança, o fortalecer de santos compromissos para que a vida humana seja edificada, santificada, e o Reino de Deus inaugurado, em pequenos e grandes sinais, desde aquela  manjedoura, contemplados.

Reflitamos:

- Como acolhemos a Palavra que Se fez Carne?
- Como estão nossos pés como mensageiros desta Boa Nova?

Sim, a partir daquela Manjedoura a história nunca mais foi e nem será a mesma, porque o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, o amor veio morar para sempre, entre nós (cf. Jo 1,14).

É preciso que a cada sol poente e a cada sol nascente, e no espaço entre eles,  estejamos indo sempre ao encontro da Divina Fonte, para que nossa esperança se traduza em compromissos sagrados com a vida, na mais bela paixão das paixões: A paixão pelo Reino renovada e votos de Feliz Natal trocados.

É Natal! A Luz veio ao encontro de nossas trevas (Natal do Senhor)

                                                        

É Natal! A Luz veio ao encontro de nossas trevas 

“O Verbo Se fez Carne
e habitou entre nós e nós vimos a Sua glória” (cf. Jo 1,14)

As vitrines e comércios anunciaram o Natal, com o perigo de ficar esquecido o verdadeiro sentido desta Festa, pelo consumismo, materialismo, com tantas luzes e a verdadeira Luz pouco aparecendo ou nada dizendo; com o empobrecimento de um acontecimento tão especial: a encarnação de Deus na história da humanidade.

É Natal e, como Igreja, nos preparamos para receber o Deus que Se fez Carne e veio habitar em nosso meio, fazendo do presépio o Seu primeiro altar.

Esperamos Aquele que veio, vem e virá sempre para nos redimir e reconciliar com Deus, e nos alcançar a salvação eterna que tanto ansiamos, reorientando nossos passos para que reencontremos o Paraíso, sem reduzi-lo a uma nostálgica lembrança, mas com sinceros compromissos com o Reino.

Ressoou mais forte em nossos corações as palavras do profeta: ”Nivelem-se todos os vales, rebaixem-se todos os montes e colinas; endireite-se o que é torto e alisem-se as asperezas: a glória do Senhor então se manifestará e todos os homens verão juntamente o que a boca do Senhor falou” (Is 40,4-8).

Esforçamos em dar testemunho de uma vida autenticamente cristã com os irrenunciáveis e inadiáveis compromissos no “rebaixar montanhas”.

Derrubamos o monte do orgulho, da autossuficiência, da indiferença e da apatia diante de tantas realidades que nos desafiam: o tráfico humano; a indevida concepção e concretização da política, a corrupção em todos os âmbitos e dimensões; a destruição planetária, com o consumo avassalador, que coloca em crise a sustentabilidade e as condições de vida; a violência que nos rouba a alegria de circular pelas ruas e praças, etc.

Rebaixamos os montes, mas ainda se faz necessário preencher os vales de nossa fragilidade, procurando estabelecer relações mais fraternas, marcadas pela ternura, bondade, paciência, acolhida do outro com suas diferenças, eliminando-se quaisquer resquícios de atitudes xenofóbicas e preconceituosas.

É Natal! E somente com reconciliação, perdão, superação e conversão, as “asperezas são alisadas” para reluzir a presença do Senhor, do Verbo que veio, vem e virá sempre, em nós morada Sua fazer.

A Luz do Menino Deus veio ao nosso encontro, iluminando os caminhos escuros por que temos que passar, fazendo transbordar em nosso coração, a alegria, a vida, o amor e a paz, resgatando em nossa alma o sentido cristão e real do Natal.

É Natal! Vejamos a realização do que rezou o Salmista: “O amor e a verdade se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão; da terra brotará a fidelidade, e a justiça olhará dos altos céus. O Senhor nos dará tudo o que é bom, e a nossa terra nos dará suas colheitas; a justiça andará na sua frente e a salvação há de seguir os passos seus” (Sl 85,11-14).

Montes foram rebaixados, vales nivelados... Mas ainda há muito mais a ser feito para que Natal não fique reduzido a um dia, mas que sua luminosidade resplandeça todos os dias de nossa vida, como expressão de quem por Deus sentiu-se acolhido e amado, pois quem ama reflete a luz divina, dá gosto de Deus ao mundo, como sal; e fermenta o mundo novo com seus sonhos e esperança.

Fez-Se homem, tangível, visível para tornar visível e tangível a presença amorosa de Deus na humanidade, em Sua própria Pessoa.

Feliz Natal! Hoje e sempre! Amém.

O Sol dos sóis... (Natal do Senhor)

                                                               

O Sol dos sóis...

Esta reflexão de São Jerônimo nos enriquece para que melhor compreendamos e celebremos o Natal do Senhor:

“O Cristo não encontra lugar no Santo dos Santos, onde o ouro, as pedras preciosas, a seda e a prata reluziam: não, Ele não nasce entre o ouro e as riquezas, mas nasce num estábulo, na lama dos nossos pecados. Ele nasce num estábulo para reerguer os que jazem no meio do estrume: ‘Ele retira o pobre do estrume’.

Que todos os pobres encontrem nisso consolo! Não havia outro lugar para o nascimento do Senhor, a não ser um estábulo; um estábulo onde se achavam amarrados bois e burros! Ah! Se me fosse dado ver este estábulo onde Deus repousou!

Na realidade, pensamos honrar o Cristo retirando o presépio de palha e substituindo-o por um de prata… Para mim tem mais valor justamente o que foi retirado: o paganismo merece prata e ouro. A fé cristã merece o estábulo de palha. Pois bem! Ouvimos a criança choramingar no estábulo: adoremo-la, todos nós, no dia de hoje.

Ergamo-la em nossos braços, adoremos o Filho de Deus. Um Deus poderoso, que por longo tempo, bradou alto dos céus e não salvou ninguém: agora choramingou e salvou. A elevação jamais salva; o que salva é a humildade! O Filho de Deus estava no céu, e não era adorado; desce à terra e passa a ser adorado.

Mantinha sob seu domínio o sol, a lua, os anjos, e não era adorado; nasce na terra, homem, homem completo, integralmente homem, a fim de curar a terra inteira. Tudo o que não assumisse de humano, também não salvaria…”.

No dia de Natal, contemplamos o mais extraordinário acontecimento, a Encarnação do Verbo. 

Poderia Deus expressar de melhor forma Seu amor, ternura, compaixão, misericórdia por nós, ainda que não merecedores?

Deus aceitou Encarnar-Se, fazer-Se um de nós, exatamente como cada um de nós, menos no pecado; para que assim o destruísse, dele nos resgatasse... Não cometeu pecado para que o destruísse e a graça abundante nos comunicasse...

Sintamo-nos tocados por esta reflexão, e creio que até os mais insensíveis dobrar-se-ão diante dela. Se é que ainda a insensibilidade teime em fincar âncoras em corações, se é que ainda permitem que a insensibilidade forme crostas impenetráveis para a acolhida do transbordamento da misericórdia divina...

Acolhamo-la. Estremeçamos diante da beleza e, ao mesmo tempo, dureza das palavras que revelam nossa condição não meritória de tão belo e grande Presente, tão belo e grande hóspede como nos falou também o Papa Leão Magno (séc. V). 

Que neste Natal os raios do Sol Maior, Sol Invicto, Cristo Jesus, ilumine o mais profundo de nossa mente e coração, para que assim nossas ações, expressão de equilíbrio, justiça e piedade, revelem ao mundo que a graça veio ao nosso encontro e nos envolveu.

Abandonemos a impiedade e as paixões mundanas e o imperativo a reger nosso coração seja: amar e cuidar com amor da vida, acolhendo a Vida que veio habitar entre nós.

Sintamo-nos aquecidos e iluminados pelos raios do Sol dos sóis, se me permite assim dizer. Não nos iludamos com aquilo que aparentemente parece trazer calor, mas muitas vezes nos faz gélidos, insensíveis e indiferentes para com o outro.

Não nos iludamos com tantas coisas que parecem ser a última verdade, a iluminação de que precisávamos, mas são verdades transitórias que não duram talvez mais que um amanhecer, ervas que murcham ao entardecer, orvalhos que secam nas primeiras horas do amanhecer.

Nenhum canto do coração humano fique envolto em escuridão, não abrindo à saúde trazida pelo Sol dos sóis, Cristo Jesus!

Feliz Natal acolhendo no mais profundo de nós, o Sol dos sóis e Seus raios, porque neles há vida, saúde, paz, alegria, amor, vitalidade, sonhos, esperanças, confiança, pureza, sutileza, leveza, vigor e encantamento para construirmos um novo mundo possível.

Natal do Senhor: transbordamento do amor divino em nosso coração (Natal do Senhor)

                                            


Natal do Senhor: transbordamento do amor divino em nosso coração
 
Anos passados, ao terminar a homilia, após ter refletido sobre as leituras e Evangelho proclamados, conclui com estas palavras:
 
“... que o nosso Natal possa ser farto de comida, desde que o nosso coração esteja cheio de amor, cheio das coisas de Deus... o importante será termos o que, de fato, precisamos: O Amor!”
 
Em uma noite de Natal, depois da meia-noite, após celebrar as Missas, cheguei à casa da minha irmã para uma provável e desejável ceia.
 
Mas todos já dormiam (nem todos estavam em casa).
Ela se levantou, esquentou arroz e alguns pedaços de frango frito.
 
Comi e me senti feliz, pois era tudo que eu precisava: um prato de comida e um pouco de atenção. Amém.
 
Um Natal com mesa farta é muito bom! Porém, um coração  transbordante de amor, fazendo progressos na santidade, é melhor ainda, como nos exortou Paulo na Carta aos Tessalonicenses ( 1Ts 3,12-4,2).
 
Que o Tempo do Advento seja propício para uma profunda e sincera preparação para o verdadeiro sentido do Natal: Vida Nova e Alegria!
 
O Salvador somente nascerá e será visto por um coração que para Ele se preparou! Vem, Senhor Jesus!

Natal: gerar e formar Cristo em nós (Natal do Senhor)

                                                   


Natal: gerar e formar Cristo em nós

Mais algumas manhãs, e com o despertar do sol, estaremos mergulhados na intensidade da beleza da Festa do Natal do Senhor, celebrada na véspera, quando o mesmo sol se pôs.

A Liturgia das Horas nos apresenta uma pequena “Exposição sobre o Evangelho de São Lucas”, do Venerável Presbítero São Beda (Séc. VIII) sobre o Magnificat cantado por Maria; cantado por todas as gerações, e que muito nos ajuda na preparação do Natal.

“E Maria disse: A minh’alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador (Lc 1,46-47).

O Senhor, diz ela, elevou-me por um dom tão grande e inaudito, que nenhuma palavra o pode descrever e mesmo no íntimo do coração é difícil compreendê-lo. Por isso dedico todas as forças de meu ser ao louvor e à ação de graças, contemplando a grandeza d’Aquele que é eterno, e ofereço com alegria minha vida, tudo que sinto e penso, porque meu espírito rejubila pela divindade eterna de Jesus, o Salvador, que concebi e é gerado em meu seio.

O Poderoso fez em mim maravilhas, e santo é o seu nome! (Lc 1,49).

Estas palavras se relacionam com o início do cântico que diz: A minh’alma engrandece o Senhor. De fato, só a alma em quem o Senhor Se dignou fazer maravilhas pode engrandecê-Lo e louvá-Lo dignamente e dizer, exortando os que compartilham seus desejos e aspirações:

Comigo engrandecei ao Senhor Deus, exaltemos todos juntos o seu nome (Sl 33,4).

Quem conhece o Senhor e é negligente em proclamar Sua grandeza e santificar o Seu nome, será considerado o menor no Reino dos Céus (Mt 5,19).

Diz-se que Santo é o Seu nome porque, pelo Seu poder ilimitado, transcende toda criatura e está infinitamente separado de todas as coisas criadas.

Acolhe Israel, Seu servidor, fiel ao Seu amor (Lc 1,54).

Israel é, com razão, denominado servidor do Senhor, porque, sendo obediente e humilde, foi por Ele acolhido para ser salvo, como diz Oséias: Quando Israel era criança, eu já o amava (Os 11,1). Aquele que recusa humilhar-se não pode certamente ser salvo, nem dizer com o Profeta: Quem me protege e me ampara é meu Deus; é o Senhor quem sustenta a minha vida! (Sl 53,6). Mas, quem se fizer humilde como uma criança, esse é o maior no Reino dos Céus (cf. Mt 18,4).

Como havia prometido a nossos pais, em favor de Abraão e de seus filhos para sempre (Lc 1,55).

Trata-se da descendência de Abraão segundo o Espírito e não segundo a carne, isto é, não apenas dos filhos segundo a natureza, mas de todos que seguiram o exemplo da sua fé, fossem eles circuncidados ou incircuncisos. Pois o próprio Abraão, ainda incircunciso, acreditou e isto lhe foi imputado como justiça.

A vinda do Salvador foi, portanto, prometida a Abraão e a seus filhos para sempre, isto é, aos filhos da promessa, dos quais se diz:

Sendo de Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa (Gl 3,29).

É com razão que, antes do nascimento do Senhor e de João, Suas mães profetizam, para que, tendo o pecado começado pela mulher, os bens comecem igualmente por ela; e se foi pela sedução de uma só mulher que a morte foi introduzida no mundo, agora é pela profecia de duas mulheres que se anuncia ao mundo a Salvação.”

O Salvador foi formado e gerado no ventre de Maria pela ação do Espírito Santo  (cf. Mt 1,18-24).

Maria soube submeter-se aos desígnios de Deus, acolhendo o anúncio do Anjo Gabriel, deu o SIM mais expressivo da História – “Eis aqui a serva do Senhor...” (Lc 1,38)

Agora é a nossa vez de sermos fecundados pelo Espírito Santo em coração, para celebrarmos com alegria e júbilo o Natal do Salvador.

É preciso que geremos e formemos Cristo em nós, somente assim poderemos trocar sinceros e profícuos votos de Feliz Natal.

Quando o Natal chegar… (Natal do Senhor)

                                                   

Quando o Natal chegar…

Quando o Natal chegar, não será apenas mais um Natal,
Será o Natal do Senhor!

Algo de novo surgirá em nosso coração e em nossa vida se contemplarmos o Mistério do Natal com um tríplice olhar.

Contemplar, primeiramente,  o Menino Jesus na manjedoura: Apontando para a beleza e sacralidade da vida, do princípio ao seu declínio natural.

Contemplá-Lo pregando a Boa Nova:

A partir de Sua barca chamando e fazendo-nos pescadores de outros mares, e resgatando a humanidade para a vida. Finalmente contemplá-Lo na Cruz: Como mistério de uma vida vivida intensamente no amor, e doada por amor, pela salvação de toda a humanidade: amor que ama até o fim.

Deste modo, quando o Natal chegar...
Mais que árvores de natal montadas, nós teremos que estar enxertados na árvore da vida, alimentando-nos da seiva do amor que emana do Verbo que Se fez Carne.

Mais que presépios preparados, montados, é o coração humano que deverá estar devidamente preparado, como privilegiada manjedoura para a colhida do Verbo, presente em cada criança, em cada pessoa humana...

Mais que luzes piscando, estará mais do que nunca, acesa em nosso coração a Luz que Ele é e veio trazer à humanidade, e mais que isto, nos fazer sinal desta luz, como várias vezes cantamos:

“... Minha luz é Jesus, e Jesus me conduz pelos caminhos da paz...”

Mais que  amigos secretos seremos amigos para todos os momentos: bons e ruins, alegres e tristes, nas angústias e esperanças, nas vitórias e derrotas... Pois, a acolhida d'Aquele que nos chamou de amigos, nos possibilitará a criação de laços sinceros e verdadeiros de amizade, que se nutrem e se reforçam em cada Eucaristia celebrada.

Não haverá mesas fartas apenas um dia, mas todos terão pão em suas mesas em todos os dias, para que todo dia seja verdadeiro Natal.

Não haverá saudações mecânicas e formalmente repetidas, mas carregadas de conteúdo, acenando para a chegada Daquele que vem para reorientar nossos passos, acolhendo Aquele pelo qual tudo se renova, tudo se redime, tudo se reconcilia. Deus fará nascer no coração de quem faz a guerra, a paz de um Menino.

Armas serão transformadas em instrumentos que fabricam o pão; bilhões de dólares não mais se aplicarão na produção das armas que matam, mas na edificação de lares, escolas, espaços de convivência, crescimento, amadurecimento, favorecendo a promoção da dignidade de cada pessoa e da pessoa inteira. Nossos joelhos fortalecidos, mãos estendidas, mente predisposta a ser moldada pela Palavra; coração aberto para a Semente do Verbo.

Que em cada coração se reacenda a alegria de ser discípulo missionário, e como Igreja na América Latina, estaremos mais do que nunca, empenhados na grande Missão Continental por um “Continente da Esperança e do Amor!”

Quando o Natal chegar... Como estaremos?

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