sábado, 8 de novembro de 2025

Comunidades em permanente conversão

 


               Comunidades em permanente conversão
 
Na passagem da Carta de Paulo aos Coríntios, (1 Cor 3,9c11.16-17), o Apóstolo Paulo afirma que os cristãos são o templo de Deus onde reside o Espírito, e assim precisam viver uma nova dinâmica.
 
Em Corinto, cidade nova e muito próspera, servida por dois portos de mar, com característica de cidades marítimas, com população de todas as raças e religiões, também tinha comportamentos inapropriados.
 
É neste contexto que temos a comunidade de Corinto, uma comunidade viva e fervorosa, mas não livre destas influências, com a necessidade de aprofundar a sua vivência na lógica de Deus, sem partidos, divisões, competições, e incoerências, dando melhor testemunho de Deus, vivendo a sabedoria de Deus que consiste na “loucura da Cruz”.
 
Como Edifício de Deus, animadas pelo Espírito, precisa fortalecer os vínculos de fraternidade e unidade, vivendo uma dinâmica nova, seguindo Jesus no caminho do amor, da partilha, do serviço, da obediência a Deus em favor dos irmãos, num autêntico testemunho.
 
Urge que nossas comunidades cresçam em fraternidade, solidariedade, para o testemunho da “loucura da Cruz”, com gestos concretos de amor, de partilha, de doação, de serviço, evitando todo tipo de fragmentação, divisão, contradições, e jamais sobrepor os interesses e vaidades pessoais.
 
Vivendo a “sabedoria de Deus”, não rompam as relações de fraternidade na busca do poder; a tentação do prestígio e reconhecimento social; discernindo quais são os bens perecíveis e secundários.
 
Deste modo, em permanente atitude de conversão, serão sinal e luz diante da “sabedoria” do mundo, irradiando a verdadeira e eterna luz divina.

Que nosso coração seja puro e luminoso

                                                           

Que nosso coração seja puro e luminoso

“... Não manches tua alma
com as nódoas do pecado...”

Acolhamos o Sermão do Bispo São Cesário de Arles, quando da Celebração desta Festa da Basílica do Latrão (séc. IV), no dia 09 de novembro.

“Celebramos hoje, irmãos diletos, com exultação jubilosa e com a Bênção de Cristo, o natalício deste templo. Nós, porém, é que temos de ser o verdadeiro templo vivo de Deus. Todavia é com muita razão que os povos cristãos observam com fé a solenidade da Igreja-mãe, por quem reconhecem ter nascido espiritualmente. Pois pelo primeiro nascimento éramos vasos da ira de Deus; pelo segundo, foi-nos dado ser vasos da Sua misericórdia. O primeiro nascimento lançou-nos na morte; e o segundo, chamou-nos de novo à vida.

Todos nós, caríssimos, antes do Batismo fomos templos do demônio; depois do Batismo, obtivemos ser templos de Cristo. E se meditarmos com atenção sobre a salvação de nossa alma, reconheceremos que somos o verdadeiro templo vivo de Deus. Deus não habita somente em construções de mão de homem (At 17,24) nem em casa feita de pedras e madeira; mas principalmente na alma feita à imagem de Deus e edificada por mãos deste Artífice. Desse modo pôde São Paulo dizer: O templo de Deus, que sois vós, é santo (1Cor 3,17).

E já que Cristo, quando veio, expulsou o diabo de nossos corações para preparar um templo para Si, quanto pudermos, esforcemo-nos com Seu auxílio para que em nós não sofra injúria por nossas más obras. Pois quem proceder mal, faz injúria a Cristo. Como disse acima, antes que Cristo nos redimisse, éramos casa do diabo; depois foi-nos dado ser casa de Deus. Deus Se dignou fazer de nós Sua casa.

Por isso, diletos, se queremos celebrar na alegria o natalício do templo, não devemos destruir em nós, pelas obras más, os templos vivos de Deus. E falarei de modo que todos compreendam: cada vez que entramos na igreja, queremos encontrá-la tal como devemos dispor nossas almas.

Queres ver bem limpa a Basílica? Não manches tua alma com as nódoas do pecado. Se desejas que a Basílica seja luminosa, também Deus quer que tua alma não esteja em trevas, mas que em nós brilhe a luz das boas obras, como disse o Senhor, e seja glorificado Aquele que está nos céus. Do mesmo modo como tu entras nesta Igreja, assim quer Deus entrar em tua alma, conforme prometeu: E habitarei e andarei entre eles (cf. Lv 26,11.12)”.

Basílica do Latrão foi “... um dos primeiros templos que os cristãos puderam erguer depois da época das perseguições. Foi consagrada pelo Papa Silvestre no dia 9 de novembro de 324. 

A festa, que a princípio era celebrada apenas em Roma, passou a ser festa universal no rito romano, em honra dessa Igreja chamada 'Mãe e Cabeça de todas as Igrejas de Roma e de todo o mundo' (Urbis et orbis), como sinal de amor e de unidade para com a Cátedra de São Pedro. A história desta Basílica evoca a chegada à fé de milhares de pessoas que ali receberam o Batismo”.

Tomemos consciência de nossa condição pecadora e na acolhida da misericórdia e luz divinas que nos purificam e nos iluminam, e também para que nos tornemos menos impuros para acolhida de Deus em nós, uma vez que o Batismo nos torna templos de Deus.

Acompanhe-nos, todos os dias,  a Oração, a vigilância, a conversão e a penitência para que sejamos pedras vivas na Igreja, tendo Cristo como a Pedra principal, e os Apóstolos como seus fundamentos.

Sejamos uma comunidade eclesial, onde favoreça o encontro pessoal com o Senhor, num processo de formação permanente, para que vivendo a dimensão missionária não nos omitamos no anúncio do Evangelho a todos os povos.

Purifiquemos nosso coração, pois como o próprio Senhor disse no Sermão da Montanha: “Bem -aventurados os puros de coração porque verão a Deus” (Mt 5,8).

Um canto para finalizar:

“Senhor, quem entrará no Santuário para te louvar?
Quem tem as mãos limpas e o coração puro...”

Em poucas palavras...

 


Igreja: templo do Espírito Santo

A Igreja é o Templo do Espírito Santo. O Espírito é como que a alma do Corpo Místico, princípio da sua vida, da unidade na diversidade e da riqueza dos seus dons e carismas.” (1)

 

(1)               Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 809

Rezando com os Salmos - Sl 73 (74)

 


Deus jamais nos decepciona e escuta nossos lamentos

“–1 Ó Senhor, por que razão nos rejeitastes para sempre
e Vos irais contra as ovelhas do rebanho que guiais?
=2 Recordai-Vos deste povo que outrora adquiristes,
desta tribo que remistes para ser a Vossa herança,
e do monte de Sião que escolhestes por morada!

–3 Dirigi-Vos até lá para ver quanta ruína:
no santuário o inimigo destruiu todas as coisas;
–4 e, rugindo como feras, no local das grandes festas,
lá puseram suas bandeiras os ímpios inimigos.

–5 Pareciam lenhadores derrubando uma floresta,
6 ao quebrarem suas portas com martelos e com malhos.
–7 Ó Senhor, puseram fogo mesmo em Vosso santuário!
Rebaixaram, profanaram o lugar onde habitais!

–8 Entre si eles diziam: 'Destruamos de uma vez!'
E os templos desta terra incendiaram totalmente.
–9 Já não vemos mais prodígios, já não temos mais profetas,
ninguém sabe, entre nós, até quando isto será!
–10 Até quando, Senhor Deus, vai blasfemar o inimigo?
Porventura ultrajará eternamente o Vosso nome?
–11 Por que motivo retirais a Vossa mão que nos ajuda?
Por que retendes escondido Vosso braço poderoso?
–12 No entanto, fostes Vós o nosso Rei desde o princípio,
e só Vós realizais a salvação por toda a terra.

–13 Com Vossa força poderosa dividistes vastos mares
e quebrastes as cabeças dos dragões nos oceanos.
–14 Fostes Vós que ao Leviatã esmagastes as cabeças
e o jogastes como pasto para os monstros do oceano.
–15 Vós fizestes irromper fontes de águas e torrentes
e fizestes que secassem grandes rios caudalosos.

–16 Só a Vós pertence o dia, só a vós pertence a noite;
Vós criastes sol e lua, e os fixastes lá nos céus.
–17 Vós marcastes para a terra o lugar de seus limites,
Vós formastes o verão, vós criastes o inverno.

–18 Recordai-Vos, ó Senhor, das blasfêmias do inimigo
e de um povo insensato que maldiz o Vosso nome!
–19 Não entregueis ao gavião a Vossa ave indefesa,
não esqueçais até o fim a humilhação dos Vossos pobres!

–20 Recordai Vossa Aliança! A medida transbordou,
porque nos antros desta terra só existe violência!
–21Que não se escondam envergonhados o humilde e o pequeno,
mas glorifiquem Vosso nome o infeliz e o indigente!

–22 Levantai-Vos, Senhor Deus, e defendei a Vossa causa!
Recordai-Vos do insensato que blasfema o dia todo!
–23 Escutai o vozerio dos que gritam contra Vós,
e o clamor sempre crescente dos rebeldes contra Vós!”

O Salmo 73(74) é uma profunda lamentação sobre o templo devastado:

“Depois da destruição do Templo e da Cidade Santa (586 a.C.), o povo eleito está prostrado. Mas a recordação das maravilhas de Deus na Criação e na História faz crer que Deus não esquecerá seu povo.” (1)

Também podemos viver situações desoladoras, tanto pessoal como social. No entanto é preciso manter viva a fé, dando razão de nossa esperança, perseverando na prática da caridade, e contanto com a intervenção e manifestação da onipotência do amor de Deus que jamais nos abandona ou nos decepciona.


(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – pág. 788

Em poucas palavras...

 


Cristãos: templo do Espírito Santo

“«Justificados pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus» (1 Cor 611), «santificados e chamados a serem santos» (1 Cor 1,2) os cristãos tornaram-se «templo do Espírito Santo» (1 Cor 6, 19).

Este, que é o «Espírito do Filho», ensina-os a orar ao Pai (Gl 4,6) e, tendo-Se feito vida deles, impele-os a agir (Gl 5,25) para produzirem os frutos do Espírito (Gl 5,22) mediante uma caridade ativa.

Curando as feridas do pecado, o Espírito Santo renova-nos interiormente por uma transformação espiritual (Ef 4,23), ilumina-nos e fortalece-nos para vivermos como «filhos da luz» (Ef 5, 8) «em toda a espécie de bondade, justiça e verdade (Ef 5, 9).”   (1)

 

 

(1)  Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 1695

Em poucas palavras...

 


Somos templos do Espírito Santo

“O Batismo não somente purifica de todos os pecados, como faz também do neófito «uma nova criatura» (2 Cor 5,17), um filho adotivo de Deus (Gl 4,5-7), tornado «participante da natureza divina» (2 Pd  1,4), membro de Cristo (1 Cor 6,15; 12,27) e co-herdeiro com Ele (Rm 8,17), templo do Espírito Santo (1 Cor 6,19).” (1)

 

(1) Catecismo da Igreja Católica – parágrafo n. 1265

Proximidade e separação

                                                          

Proximidade e separação

Maria viveu “uma mistura de
proximidade e de dolorosas separações”

Retomo parte da reflexão feita pelo Bispo Dom Bruno Forte, na 52ª Assembleia dos Bispos do Brasil (2014), em que retrata os diversos testemunhos da fé, dentre os quais Maria:

“Maria é capaz de um amor atento, concreto, alegre e terno... Maria se aproxima sob o signo da ternura, isto é, do amor que gera alegria, que não cria distâncias, que antes aproxima os distantes, fazendo com que se sintam acolhidos e os enche com o espanto e a beleza de descobrir-se objeto de puro dom...

Mãe atenta e terna, vive as expectativas, os silêncios, as alegrias e as provas que toda mãe é chamada a atravessar: é significativo que nem sempre compreenda tudo sobre Ele.

Mas vai adiante, confiando em Deus, amando e protegendo a seu modo aquele Filho, tão pequeno e tão grande, numa mistura de proximidade e de dolorosas separações, que a tornam modelo de maternidade: os filhos são gerados na dor e no amor por toda a vida”.

- Do que se trata esta mistura de “proximidade e dolorosas separações” com seu Filho, a partir do que nos dizem os Evangelhos?

- Quando aconteceu, nos diversos momentos, desde o anúncio do Anjo que Ela seria Mãe do Salvador por obra do Espírito, até a Morte do seu Filho?

Proximidade e separação, já subentendida no medo sentido e no diálogo, quando do anúncio do Anjo. Maria não deu ouvidos ao medo, mas confiou na promessa de Deus. Ele ficou tão próximo no ventre de Maria, mais do que em qualquer outra criatura, e ela teve que suportar a dolorosa separação, no momento ápice da Morte de Seu Filho.

Proximidade e separação, já experimentada na fuga para o Egito, ao lado do esposo José, na defesa do Menino, tão cedo, tão pequeno, tão frágil, mas já causando medo aos poderosos de Seu tempo.

Proximidade e separação, indiscutivelmente sentida, acolhida e meditada no silêncio do coração, quando da apresentação do Menino Jesus no templo, e as palavras do justo Simeão: “Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma.” (Lc 2, 35).

Proximidade e separação, quando depois de três dias de procura O encontra discutindo com os doutores e sábios no Templo, e guarda, contemplativa, as Palavras do Filho no coração: “Por que me procuravam? Não sabiam que Eu devo estar na casa do meu Pai?” (Lc 2, 49).

Proximidade e separação, quando vê os parentes mais próximos e conterrâneos ficarem estupefatos e escandalizados pelos sinais que o Filho realizava: Esse homem não é o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Joset, de Judas e de Simão? E Suas irmãs não moram aqui conosco? E ficaram escandalizados por causa de Jesus.” (Mc 6, 3).

Proximidade e separação, quando começa a chamar discípulos para O seguirem; multidões arrebanhando, mas na hora decisiva, abandonado, negado, traído, solitário. Ela, porém, como Mãe inseparável, irredutível, acompanhando passo a passo o ápice da alma e do corpo vivido pelo Filho.

Proximidade e separação, acompanhada de lágrimas, dor tão intensa, profunda e indescritível. Como podem crucificar e matar o Amor que um dia se Fez Carne em Seu Ventre? Matam Aquele que se fez Carne em seu Ventre pela ação do Espírito Santo.

Proximidade, separação, pranto, lágrimas...
Quem suportaria tamanha dor?

Lá, ao pé da Cruz...
Proximidade do Filho para ouvir Suas últimas Palavras:
“Mulher, eis aí o seu Filho”; “Filho, eis aí a sua Mãe” (Jo 19, 26).

Desde então, Maria se tornou Mãe da Igreja e Mãe de toda a humanidade.

E lá, nas primeiras páginas dos Atos dos Apóstolos, encontramos Maria, tão próxima, novamente unida ao seu Filho, em Oração, junto com Seus Apóstolos: “Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na Oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus.” (At 1, 14).

Como a Igreja nos ensina, cremos que, se na proximidade suportou a separação, isto a fez merecedora de com Ele para sempre estar, na glória da eternidade, Assunta ao céu e Coroada Mãe e Rainha por toda a eternidade.

Com Maria aprendamos a viver imensurável proximidade, com a maturidade de também suportar a dor da separação, das renúncias, do peso e exigências da cruz cotidiana.

Tão somente assim, desejosos de um dia vê-la no céu, e o encontro definitivo com o Pai, o Filho e o Espírito Santo, comunhão profunda e eterna de amor viver, na plenitude de luz mergulhar, com os Anjos e Santos que nos precederam. 

Maria, sempre Maria!
Proximidade, separação, pranto, lágrimas...
Proximidade, comunhão, eterna e plena alegria.
Amém.

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG