sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Presbítero: Homem da Palavra e de palavra

                                                       


Presbítero: Homem da Palavra e de palavra

A pós-modernidade apresenta para a humanidade inúmeros desafios, dentre eles, podemos destacar a crise da credibilidade da palavra. Se há algo que entrelaça as pessoas, e cria elos de confiança, solidariedade e comunhão, é a palavra.

Quando tudo parece efêmero, passageiro e fugaz, emerge a necessidade de algo que dê segurança na grande travessia e aventura da história humana: a força da palavra.

Missão fundamental, neste contexto, desempenham os presbíteros, que foram constituídos ministros do Verbo que Se fez Carne e habitou no meio de nós (Jo 1), a própria Palavra viva e eficaz, mais penetrante que qualquer espada (Hb 4,12).

Pregam não a si mesmos, tão pouco ideias próprias e filosofias que passam, mas a Palavra Eterna – “Toda a Escritura é inspirada por Deus, para instruir, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda obra” (2Tm 3,16-17).

Já no século VI, o papa São Gregório Magno dizia-nos “Seja o pastor discreto no silêncio, útil na fala, para não falar o que deve calar, nem calar o que deve dizer. Pois da mesma forma que uma palavra inconsiderada arrasta ao erro, o silêncio inoportuno deixa no erro aqueles a quem poderia instruir...”, e ainda dizia com tristeza -“... embora haja quem escute as boas palavras, falta quem as diga. Eis que o mundo está cheio de Sacerdotes. Todavia na messe de Deus é muito raro encontrar-se um operário. Recebemos, é certo, o ofício sacerdotal, mas não o pomos em prática...”.

O sopro do Concílio Vaticano II nos desafiou a assumir as alegrias e tristezas, angústias e esperanças da humanidade, como Igreja de Cristo. Tudo o que há de humano, toca a vida da Igreja, consequentemente, o Ministério Presbiteral.

Deste modo, as comunidades esperam do presbítero uma palavra, não uma palavra qualquer, paliativa, provisória, mas uma palavra divina, inspiradora e fonte para a busca de novos horizontes, no embate cotidiano.

A cada instante, as mais diversas situações vividas pelo Povo de Deus pedem uma palavra: diante de um nascimento, a gratidão a Deus pelo dom da vida; no processo educativo das crianças, compartilhamos a missão dos pais; na ausência da saúde, a palavra de bênção e encorajamento; na hora da agonia, uma palavra de carinho e esperança; quando tudo parece escuridão, uma palavra que se faz uma centelha de luz; na insegurança que nos acompanha, uma palavra de confiança d’Aquele que jamais nos decepciona: “Provai e vede como o Senhor é bom, feliz quem n’Ele encontra o seu refúgio” (Sl 34,9); nas questões emergentes uma palavra ética, que assegure a sacralidade da vida; na hora derradeira, na hora da morte, a palavra que aponta à eternidade; à glória da Ressurreição.

Os presbíteros são por excelência ministros de um Deus vivo e Ressuscitado, que quer vida plena para todos, desde o tempo presente, culminando na luz da eternidade, manifestação da plenitude do Amor de Deus. O presbítero é testemunha de que o céu é possível, e começa agora, aqui, e completa-se na Jerusalém Celeste.

Lembremos sempre as palavras pronunciadas pelo bispo, no dia da Ordenação Diaconal, quando entrega ao candidato o Livro dos Santos Evangelhos e diz: “Recebe o Evangelho de Cristo do qual foste constituído mensageiro; transforma em fé viva o que leres, ensina aquilo que creres e procura realizar o que ensinares”

Desde então, e para sempre, o presbítero se torna o homem da Palavra e há de ser sempre um homem de palavra!

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

A autêntica esperança de cada dia, renovai, Senhor

                                                      


A autêntica esperança de cada dia, renovai, Senhor

 

“Em um mundo no qual o progresso e o retrocesso se entrelaçam, a Cruz de Cristo permanece a âncora da salvação: sinal da esperança que não desilude, porque está fundada no amor de Deus, misericordioso e fiel.” (1)

 

Não creio em esperança como risonha expectativa sem compromissos,

Tampouco em esperanças aéreas, sem raízes fincadas no chão do cotidiano.

 

Não creio em esperança como miragem do inatingível e inexequível,

Tampouco em castelos de douradas fantasias inexistentes.

 

Não creio em esperança que invada e encha a alma de ilusões

Tampouco em esperanças fundadas em torres sob o vento avassalador de mentiras.

 

Creio na esperança que não decepciona, como nos falou o Apóstolo,

porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito (Cf. Rm 5,5).

 

Creio no alvoroço de esperança que nos desinstala de medíocres acomodações,

E nos impulsiona em busca do melhor de Deus para toda a humanidade.

 

Creio na esperança que faz arder o coração, chamas inflamáveis de misericórdia:

caridade para com os amigos, perdão para os pecadores, compaixão com os pobres.

 

Creio na esperança que nos faz adejar nas asas da fantasia,

Comprometidos com uma nova realidade, mistério que se revela no dia a dia.

 

Creio na esperança que nos faz semeadores do horizonte do inédito de Deus para nós,

Com a Semente da Palavra do magnífico Jardim das Sagradas Escrituras.

 

Creio que a esperança nos impulsiona para melhores dias que hão de vir,

Um Céu menos sombrio, porque nos acompanha como chama permanentemente acesa.

 

Creio na esperança contemplada no Imaculado Coração de Maria,

Que no auge da escuridão, acreditou na vitória gloriosa do Seu Filho. Amém. 

 

(1)        Papa Francisco -  Audiência Geral – Praça de São Pedro – 21/09/22

Dar razão de nossa esperança

                                             

                      Dar razão de nossa esperança
"Estejam sempre preparados para responder a
qualquer que lhes pedir a razão da esperança
que há em vocês." (1Pd 3, 15)

Esperança é como uma frágil semente, que precisa ser cuidada e semeada no chão dos acontecimentos, para que floresça e dê frutos que levem à saciedade, e mais que isto, à certeza de que fomos bem alimentados.

A esperança é a construção da própria existência na base sólida da Palavra de Deus, nutrindo-se pelo Pão de Eternidade, que é o Cristo Senhor, que Se dá a nós no Banquete da Eucaristia, toda vez que dele participamos.
Sua solidez não permite confundir com esperanças aéreas, imaginosas, ou frutos especulativos de nossa fantasia, de nossos enganos, ilusões que não contribuem para que alcancemos o melhor que Deus tem para cada um de nós.
Como pássaros, que batem suas asas para voo certeiro ao encontro do alimento, do filhote ou do ninho, dos seus semelhantes para sobreviverem, a esperança é o adejar das asas de nossa alma para encontros com a vida, com os sonhos, com nossas conquistas...
Cultivar a esperança sempre, sem permitir a perda das utopias, convictos de que o céu sombrio tem sua provisoriedade, e que dias melhores sempre haverão de vir.
Não permitamos a morte da esperança, não nos aliemos aos que promovem o seu cortejo, não a sepultemos no vale dos que nada mais esperam, nada mais buscam, porque ela já não mais vive em seu interior, num vazio absurdamente entristecedor e enlouquecedor.
Não percamos jamais a esperança, para que nossos dias não sejam avaramente contados, sem voos anunciados nas asas da esperança, que nos levam ao encontro das coisas do alto onde habita Deus e que devemos sempre buscar, como tão bem falou o Apóstolo (Cl 3,1-4).
Que não se mate a esperança,
Que não matemos a esperança.

Demos sempre razão de nossa esperança.
Há motivos para crer, há motivos para esperar...

Temos fé, e ainda mais,
Somos discípulos e testemunhas
D’Aquele que, por Sua Morte e Ressurreição,
Vem ao encontro de nossa fragilidade,
Humana debilidade...

Ele vem para nos ensinar que
Fé aliada à esperança,
De braços com a caridade
Mundo Novo, Reino presente entre nós veremos,
Novo céu e Nova terra buscaremos e alcançaremos.

Com Ele para sempre viveremos,
A Ele toda honra, glória, poder e louvor
Para sempre cantaremos.
Amém. 

Os crisóis de nossa purificação

                                                          

Os crisóis de nossa purificação

É sempre tempo para refletirmos sobre História da Salvação do Povo de Deus.
Páginas difíceis, com traições, sacrifícios, devastações,
Desolações, amargura, maldade, infidelidade, cinzas, lágrimas,
O povo ao nada, impiedosamente e absolutamente, reduzido.

Sonhos e esperanças pisoteadas numa sensação de que não havia mais saída.
Vida a ser vivida em terras tão distantes e estranhas, sem história e raízes.
Os que permanecem, um pequeno resto, os pobres por Deus amados e escolhidos,
Mas Deus sempre fiel à Aliança, a História irrevogável de Amor e fidelidade continuará.

Página atroz do Exílio, imposto ao Povo de Deus há muitos séculos.
A ausência da justiça fez sucumbir quaisquer possibilidades de experimentar a paz.
Medito o célebre cântico de nostalgia dos exilados da Babilônia, fonte divina inspiradora.
Dor emudecida, canto de dor sufocado: como cantar em terra tão estranha ao coração?

Ó cruentos dias vividos no exílio, aparente tempo de eternidade;
Verdadeiramente uma espécie de crisol purificador,
Mas é nele que a fé se fortalecerá para o verdadeiro amor;
Braços à esperança dará, tempo novo somente com Deus virá...

Outras páginas hoje são escritas, outros tempos, outros desafios.
Dificuldades podem ser outras, mas a fé é sempre a mesma,
A esperança ganha novos contornos, mas a chama da caridade
É a mesma que os corações do crente fiel aquece e inflama.

Há por vezes crisóis purificadores a serem silenciosamente suportados,
Mas não será o bastante para consumir a fé no coração como dom plantada,
Nem suficiente para fazer sucumbir no lamaçal a vitalidade do sonho e da esperança
Que nos amadurecem para o essencial da existência: amor vivo e encarnado.

Amor ao Deus vivo e único em Três Pessoas glorificado, para sempre adorado:
Santíssima Trindade amada na qual nos fazemos imersos e plenamente fortalecidos
Para suportar o crisol purificador, adentrando pela porta estreita que leva à vida,
Carregando com renúncias, coragem, o crisol purificador da inevitável cruz,

Até que um dia a face do Deus Uno e Trino possamos e mereçamos contemplar.
Amadurecidos e purificados pelo crisol da dor, da fidelidade, dos sacrifícios, da profecia,
Veremos acontecer dias tão sonhados e no coração regados e cultivados,
Na espera da segunda vinda, numa grande, bela e professada Parusia. Amém.

Revistamo-nos da armadura divina!

                                                      

Revistamo-nos da armadura divina!

Ouvimos na quinta-feira da 30ª Semana do Tempo Comum a passagem do Evangelho de Lucas (Lc 13,31-35).

Vejamos o comentário do Missal Cotidiano sobre esta  passagem:

“Jesus era personagem incômoda para a autoridade. Não entrava em nenhum de seus esquemas, mas na longa série de incompreensões e assassínios contra os Profetas. Porém não brinca de herói.

Sua contestação não é objeto de propaganda ou publicidade. É árdua vida de Profeta. Toda a Sua existência constitui longa caminhada rumo a Jerusalém, como Lucas tem o cuidado de sublinhar.

Se a viagem de nossa vida é participação na vida de Jesus, deve tender para Jerusalém, a ‘cidade que mata os Profetas’”.(1)

A missão de Jesus é a revelação radical do rosto de Deus, que Se despoja de toda onipotência para Se nos dar a conhecer na escandalosa impotência de um Crucificado:

“O Senhor revela-Se num aspecto impensável: não como soberano vencedor, garantia de possíveis projetos de poder, mas como um Deus derrotado, segundo as categorias humanas. E essa crise renova-se diante de cada crucificado da História, das muitas situações de sofrimento que levantam perguntas: por que é que Deus o permite? Por que é que não mostra Sua onipotência para as remediar?”

E, assim, muitas outras interrogações semelhantes são feitas. Deus que fica escandalosamente impotente sobre a Cruz, revela um poder inesperado:

“Ele permanece na Cruz, não porque não possa descer dela, mas porque não quer descer; não porque procura o suplício, mas porque procura a solidariedade extrema, a partilha incondicional conosco, com os nossos sofrimentos, com as nossas crucifixões, para nos dizer que através dessa partilha tem início a aurora de uma vida nova”. (2)

Para quem crê a Cruz não se revela como poder domínio, mas como poder de salvação que expressa o Amor incondicional, Amor extremo, Amor incompreendido, Amor não correspondido, Amor sem limites... 

Amor incrível, indizível, sem igual, Amor que redime, liberta e aponta para um novo modo de viver e se relacionar para que seja banida toda dor, sofrimento, opressão, injustiça, miséria, lamento, lágrimas e morte (Ap 21, 3-4).

A Ressurreição do Senhor será a Suprema e Onipotente vitória da luz sobre as trevas, da graça sobre o pecado, do amor sobre o ódio, da vida sobre a morte.

Jesus não brincou de herói, e foi fiel à missão confiada pelo Pai, em obediência incondicional.

O cristão, portanto, também não é herói no termo comum como se possa conceber. Ele é muito mais, é alguém que vive o escândalo da cruz, loucura para os gregos, escândalo para os judeus (1 Cor 1,18-31).

O cristão assume toda dor e sofrimento por um amor que muitas vezes não é compreendido. Mas amor não é para ser compreendido, amor é para amar, simplesmente.

Criado pelo Amor de Deus para amar, caberá ao cristão, muito mais do que título de herói, amar até mesmo anonimamente, silenciosamente, carregando com fé, coragem, confiança, resistência, a sua cruz cotidiana.

Ser cristão é viver o bom combate da fé, para tanto é imprescindível contar com a graça e a força divina, como Paulo tão bem nos exorta na Carta aos Efésios (Ef 6,10-20).

Por ora, 
vamos cantando e lutando com o Senhor, 
e como Ele o fez,
até que venha o Seu Reino, 
o novo céu e a nova terra:

“Eu confio em nosso Senhor, 
com fé, esperança e amor...”

(1) Missal Cotidiano - Editora Paulus - pág. 1439
(2) Lecionário Comentado – Editora Paulus - Lisboa - pág. 676.

Não tenhamos medo! “Ele está no meio de nós”

                                                      

Não tenhamos medo!
“Ele está no meio de nós”

A Liturgia do 19º Domingo do Tempo Comum (ano A) leva-nos a contemplar o Amor de Deus, que está sempre de braços dados com a humanidade.

Sua mão está sempre estendida ao nosso alcance. Mais ainda, na travessia do mar, a partir da fé de Pedro, somos convidados a renovar nossa fé e confiança no poder de Deus e atravessar para a outra margem, comprometidos com o Reino de Deus. 

A barca da Igreja fará a travessia para a outra margem, e Deus nos garante o êxito nesta travessia.

A manifestação de Deus não se dá segundo a lógica, critérios e concepções humanas, como vemos na primeira Leitura. Deus Se manifesta no silêncio, no recolhimento,  e na intimidade com Ele renovamos nossas forças.

Como Elias, temos que confiar na presença de Deus, que Se apresenta na suave brisa divina, e com ele somos convidados a regressar aos inícios de nossa fé, reavivando a chama do primeiro amor em confiança, intimidade, humildade, simplicidade e interioridade no relacionamento com Deus.

É preciso que reencontremos nossas raízes cristãs. Não podemos perder os princípios cristãos e éticos que norteiam a nossa vida. Não podemos sucumbir diante da tentação idolátrica que o mundo nos propõe a cada instante.

É preciso recuperar o entusiasmo inicial, superar toda e qualquer forma de contrariedade e perseguição numa fé sólida e enraizada, só assim não seremos naufragados no mar das dificuldades, mediocridades, mentiras, cansaços, desânimos, marasmos, indiferenças, incompreensões e perseguições.

Tenhamos fé! A Salvação de Deus é para todos, mas depende do empenho de cada um de nós; de nossa abertura, da nossa entrega, do nosso compromisso e confiança.

Não percamos a oportunidade da Salvação que Deus nos oferece, nos lembra o Apóstolo Paulo na segunda Leitura (Rm 9,1-5). 

É preciso superar esquemas medíocres e fechados de fé, procurando fazê-la frutificar-se, abrir-se em renovados compromissos; não nos instalarmos em nossas certezas e autossuficiências, que facilmente podem nos conduzir à ditadura do relativismo; e também fortalecer nossa adesão incondicional a Jesus e ao Projeto do Reino pelo qual Ele deu a vida e nos chamou a fazer o mesmo.

Na passagem do Evangelho (Mt 14,22-33), Jesus nos diz: “Vem, não temais, tende confiança...". A noite da qual fala o Evangelho pode ser iluminada com a presença de Jesus Cristo Ressuscitado. 

A escuridão será iluminada, o medo será afastado; as forças devoradoras da vida serão vencidas; os ventos contrários cessarão e as tempestades serão acalmadas, pois elas não são e não serão para sempre. Em outro momento Jesus disse: “Coragem, eu venci o mundo!”

O simbolismo é extremamente rico: O mar é sinal de morte, frustração, desânimo, desilusão.

Vençamos as forças da morte! Façamos a mesma experiência de fé das primeiras comunidades.

A outra margem é o Banquete do Reino, que só será alcançado por quem não sucumbir, não submergir na luta. É preciso enfrentar o mar de dificuldades com fé.

Reflitamos:

- Qual o tempo reservo e dedico para a minha intimidade com Deus?
- Sei fazer silêncio para que Deus e Sua presença possa sentir?
- Quais são as raízes que não posso perder, ou que devo revitalizar, para corresponder ao Projeto de Salvação que Deus tem para mim e para a humanidade, para não ficar mergulhado num estéril intimismo que d’Ele, ao contrário, me afasta?

- Abro-me à Salvação que Deus me oferece e correspondo com gestos, compromissos, atitudes?
- Quais são as minhas referências para o existir?
- Sou fiel aos valores do Reino?

- A Celebração Eucarística tem sido para mim o maior e o melhor momento do meu encontro com Deus e com os meus irmãos?
- Tenho uma proposta credível para ao mundo apresentar e testemunhar?

Concluindo, crer no Cristo Ressuscitado é a certeza de que jamais seremos vencidos. 

Como disse o Apóstolo Paulo: “Nada nos separe do Amor de Cristo porque n’Ele somos mais que vencedores” (Rm 8,37-39).

Coragem! Com o Senhor atravessaremos as noites escuras e enfrentaremos os ventos contrários.

“Creio em Deus Pai todo Poderoso... 

PS: Oportuno para a reflexão das passagens da Carta de Paulo aos Romanos (Rm 8,31-39; 9,1-5).

Rezando com os Salmos - Salmo 17 (18)

 


Com o Senhor, mais que vencedores

“– 1 Do mestre de canto. De Davi, servo de Deus, que dirigiu as palavras deste cântico, quando Deus o libertou de todos os seus inimigos e da mão de Saul. Ele disse:

– 2 Eu Vos amo, ó Senhor! Sois minha força,
-   3 minha rocha, meu refúgio e Salvador!
= Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga,
minha força e poderosa salvação,
sois meu escudo e proteção: em Vós espero!

– 4 Invocarei o meu Senhor: a Ele a glória!
e dos meus perseguidores serei salvo!
– 5 Ondas da morte me envolveram totalmente,
e as torrentes da maldade me aterraram;
– 6 os laços do abismo me amarraram
e a própria morte me prendeu em suas redes.

– 7 Ao Senhor eu invoquei na minha angústia
e elevei o meu clamor para o meu Deus;
– de Seu Templo Ele escutou a minha voz,
e chegou a Seus ouvidos o meu grito.

  – 8 a terra toda estremeceu e se abalou,
os fundamentos das montanhas vacilaram
e se agitaram, porque Deus estava irado.
= 9 De Seu nariz fumaça em nuvens se elevou,
da boca saiu fogo abrasador
dos Seus lábios, carvões incandescentes.

– 10 Os céus Ele abaixou e então desceu,
pousando em nuvens pretas os Seus pés.
– 11 Um querubim O conduzia no Seu voo,
sobre as asas do vento Ele pairava.

– 12 Das trevas fez um véu para envolver-Se,
escondeu-Se em densas nuvens e água escura.
– 13 No clarão que procedia de Seu rosto,
carvões incandescentes se acendiam.

– 14 Trovejou dos altos céus o Senhor Deus,
o Altíssimo fez ouvir a Sua voz;
– 15 e, lançando as Suas flechas, dissipou-os,
dispersou-os com Seus raios fulgurantes.

– 16 Até o fundo do oceano apareceu,
e os fundamentos do universo foram vistos,
– ante as Vossas ameaças, ó Senhor,
e ao sopro abrasador de Vossa ira.

– 17 Lá do alto Ele estendeu a Sua mão
e das águas mais profundas retirou-me;
– 18 libertou-me do inimigo poderoso
e de rivais muito mais fortes do que eu.

– 19 Assaltaram-me no dia da aflição,
mas o Senhor foi para mim um protetor;
– 20 colocou-me num lugar bem espaçoso:
o Senhor me libertou, porque me ama.

– 21 O Senhor recompensou minha justiça
e a pureza que encontrou em minhas mãos,
– 22 pois nos caminhos do Senhor eu caminhei,
e de meu Deus não me afastei por minhas culpas.

– 23 Tive sempre à minha frente os Seus preceitos,
e de mim não afastei Sua justiça.
– 24 Diante d’Ele tenho sido sempre reto
e conservei-me bem distante do pecado.
– O Senhor recompensou minha justiça
e a pureza que encontrou em minhas mãos.

– 25 Ó Senhor, Vós sois fiel com o fiel,
sois correto com o homem que é correto;
– 26 sois sincero com aquele que é sincero,
mas arguto com o homem astucioso.
– 27 Pois salvais, ó Senhor Deus, o povo humilde,
mas os olhos dos soberbos humilhais.

– 29 Ó Senhor, fazeis brilhar a minha lâmpada;  
ó meu Deus, iluminai as minhas trevas.
– 30 Junto convosco eu enfrento os inimigos,
com Vossa ajuda eu transponho altas muralhas.


– 31 São perfeitos os caminhos do Senhor,
Sua Palavra é provada pelo fogo;
– nosso Deus é um escudo poderoso
para aqueles que a Ele se confiam.

– 32 Quem é deus além de Deus nosso Senhor?
Quem é Rochedo semelhante ao nosso Deus?
– 33 Foi esse Deus que me vestiu de fortaleza
e que tornou o meu caminho sem pecado.

– 34 Tornou ligeiros os meus pés como os da corça
e colocou-me em segurança em lugar alto;
– 35 adestrou as minhas mãos para o combate,
e os meus braços, para usar arcos de bronze.

= 36 Por escudo Vós me destes Vossa ajuda;
com a Vossa mão direita me amparastes,
e a Vossa proteção me fez crescer.
– 37 Alargastes meu caminho ante meus passos,
e por isso os meus pés não vacilaram.

– 38 Persegui meus inimigos e alcancei-os,
não voltei sem os haver exterminado;
– 39 esmaguei-os, já não podem levantar-se,
e debaixo dos meus pés caíram todos.

– 40 Vós me cingistes de coragem para a luta
e dobrastes os rebeldes a meus pés.
– 41 Vós fizestes debandar meus inimigos,
e aqueles que me odeiam dispersastes.

– 42 Eles gritaram, mas ninguém veio salvá-los;
os seus gritos o Senhor não escutou.
– 43 Esmaguei-os como o pó que o vento leva
e pisei-os como a lama das estradas.

– 44 Vós me livrastes da revolta deste povo
e me pusestes como chefe das nações;
– serviu-me um povo para mim desconhecido,
45 mal ouviu a minha voz, obedeceu.

= Povos estranhos me prestaram homenagem,
46 povos estranhos se entregaram, se renderam
e, tremendo, abandonaram seus redutos.

– 47 Viva o Senhor! Bendito seja o meu Rochedo!
E louvado seja Deus, meu Salvador!
– 48 Porque foi Ele, o Senhor, que me vingou
e os povos submeteu ao meu domínio;

= libertou-me de inimigos furiosos,
49 me exaltou sobre os rivais que resistiam
e do homem sanguinário me salvou.
–50  Por isso, entre as nações, Vos louvarei,
cantarei salmos, ó Senhor, ao Vosso nome.

= 51 Concedeis ao Vosso rei grandes vitórias
e mostrais misericórdia ao Vosso Ungido,
a Davi e à sua casa para sempre.”

O Salmo 17(18) é uma ação de graças pela salvação e pela vitória, e poderemos rezá-lo agradecendo a Deus, sempre presente em nossos combates cotidianos, sem o quê, não teríamos razão alguma para manter viva a esperança de um novo tempo, ou vitória. No entanto, como afirmou Paulo, com Cristo, somos mais que vencedores:

“Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, angústia, a perseguição, a fome, a nudez, os perigos, a espada? Segundo está escrito: ‘Por sua causa somos postos à morte o dia todo, somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro’. Mas em tudo isto somos mais que vencedores, graças Àquele que nos amou.” (cf. Rm 8,35-37).

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