segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Dom Joaquim: um Semeador do Pai entre nós

 Dom Joaquim: um Semeador do Pai entre nós
"Eis que o semeador saiu para semear. E ao semear...”
(cf. Mt 13, 3-8).
Assim foi e fez Dom Joaquim em nosso meio,
Num tempo tão curto, mas tão intenso e fecundo,
Como incansável semeador, noite e dia, literalmente.
Semeou com ardor e sem cansaço, testemunhamos.

Crendo que a figura deste mundo passa, porque o tempo é breve,
Fez ressoar as palavras do Apóstolo Paulo.
Visitas Pastorais em todas as paróquias e capelas,
Exortando-nos para o essencial e indispensável,
Para que nossa fé seja mais luminosa.

Reuniões, formação, motivação, retiros, pregação,
Bebendo na Sagrada Fonte da Palavra Divina,
Motivando-nos para que também o mesmo façamos,
Para que nossa esperança não se torne uma ilusão,
Da vida, fuga, ausência de compromissos, evasão, mas
Caridade autêntica vivida, do Reino de Deus participando.

Semeou palavras que caíram em nossa mente
E fincaram raízes profundas nas entranhas do coração,
Frases que jamais serão esquecidas, por nós, hoje repetidas:
“Deus nos ama e nos criou por amor,
Para sermos felizes fazendo os outros felizes”
Nisto acreditou, e mais que proclamou, realizou.

Semeou e regou o coração de padres e agentes
Para a realização da tríplice missão que nos é confiada:
Santificar, ensinar e governar a Igreja que somos.
Semeou as sementes do Espírito, os indispensáveis sete dons,
Para não sucumbirmos às armadilhas dos pecados capitais
Que nos escravizam, roubam nossa alegria e dignidade.

Tão pouco tempo entre nós para ficar para sempre!
Fez história muito mais pelo que virá das sementes lançadas,
Do que as flores e frutos visíveis e saboreados.
Dom Joaquim semeou no chão de nosso coração.
Agora cabe torná-lo fértil, e não beira de caminho,
Terreno pedregoso e espinhoso, com a força da Oração.

Se não viu, no chão da Igreja e da cidade, o jardim florescer,
Teve a coragem, como Pastor do rebanho, a ele, pela Igreja confiado,
A melhor semente lançar, para que não dominem as trevas do pecado.
Se não viu, no chão da Igreja e da cidade, os frutos produzir,
Não teve medo de assumir a vocação profética em todos os âmbitos,
Fazendo a Luz Divina reluzir, em atenção à ordem do Senhor.

Não viu quase nada do que aqui plantou,
Mas no céu, cremos, vê e contempla nossa caminhada,
E espera tão apenas que não recuemos.
Coragem, nos dizia, palavra tão simples e forte.
Que a sua memória seja para nós a motivação necessária
Para o bom combate da fé e esperança e caridade viver. Amém!


PS: Publicado no jornal Folha Diocesana – Edição nº 204, repostado hoje em oração por ele por sua passagem para a eternidade (01/09/13).

Ó Espírito Santo de Deus!

                                                         


Ó Espírito Santo de Deus!

Supliquemos a presença e a ajuda do Espírito
Para os sinais dos tempos sabermos interpretar;
A reconciliação com o próximo realizar
E da corrente do pecado, a liberdade alcançar.

Com o Espírito Santo de Deus
Discernimento e interpretação;
Reconciliação e comunhão;
Vida nova e a alegria da libertação.

PS: Inspirado em Romanos 7,18-25. 

A sagrada missão de Proclamar a Palavra

                                                               

A sagrada missão de Proclamar a Palavra

No mês de setembro, a Igreja dedica de modo especial à Sagrada Escritura, e renovemos a partir do Livro do Deuteronômio, a alegria, o zelo e o ardor na proclamação da Palavra Sagrada, acompanhado do testemunho de nossa fé; por mais difíceis que sejam os momentos por que passamos, considerando o cenário nacional, marcado pela crise ética, moral, política, econômica e social, à luz da Sagrada Escrituras, somos desafiados a decifrar o mundo, e a dar razão de nossa esperança contra toda falta de esperança, sobretudo porque cremos no Cristo Ressuscitado, e por Ele fomos enviados.

Neste sentido, as palavras do Bispo Santo Agostinho muito podem nos ajudar: A Sagrada Escritura é para nos ajudar a decifrar o mundo; para nos devolver o olhar da fé e da contemplação, e transformar a realidade numa grande revelação de Deus”.

A Sagrada Escritura é uma luz que nos ajuda a percorrer os caminhos sombrios e obscuros, em meio aos sinais de pecado e morte em que nos encontramos; acompanhada do olhar da fé, em salutar espiritualidade; contemplando a ação e a intervenção de Deus, que conosco caminha.

A Palavra proclamada exige, de quem a proclama e de quem a acolhe, renovados compromissos na transformação da realidade, participando da construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário, assistidos pela presença do Espírito Santo que nos foi enviado.

A Palavra irradia luz, fermenta um novo céu e uma nova terra, e devolve o gosto e o sentido da vida, com sua sacralidade e dignidade, desde a concepção ao declínio natural; e não permite que vacilemos na fé, esmoreçamos na esperança e esfriemos na caridade.

Também nos alimenta e nos fortalece, para que sejamos pacientes na tribulação, resistentes na tentação de desanimar e em nada mais acreditar, e assim, tomarmos e carregarmos com fidelidade nossa cruz com uma fé verdadeiramente Pascal.

No exercício do Ministério Episcopal, tenho experimentado a graça de, como Apóstolo do Senhor, proclamar Sua Palavra, que devolve de fato o olhar da esperança de nossas comunidades, que também sentem, no dia a dia, dificuldades e provações, mas acolhendo a Palavra com fé, vejo nelas inflamada a chama da fé, da esperança e da caridade.

Multipliquemos espaços de leitura, meditação, oração e contemplação da Palavra divina, para que ela seja sempre o pão, que sacia a nossa fome de justiça e nos alimenta, para que nunca nos refugiemos ou recuemos em sagrados compromissos com a Boa-Nova do Reino de Deus.

PS: ano de 2020

O Espírito Santo nos conduz na missão

                            

O Espírito Santo nos conduz na missão

Reflexão à luz da passagem do Evangelho de Lucas (Lc 4,16-30), oportuna para refletirmos sobre a missão de Jesus, uma missão divina, libertadora, inauguradora de um novo tempo, de uma nova realidade.

Com Ele, o Ano da graça é instaurado, a alegria, a paz, a vida em plenitude nos é alcançada por Sua presença e ação em nosso meio, pois Ele age sendo a própria presença da Palavra de Deus com a unção do Espírito Santo.

A missão de Jesus é a missão da Igreja, que ungida pelo Espírito Santo, alimenta-se e encarna a Palavra de Deus na vida.

Reflitamos:

- Quais as realidades que nos desafiam?
- De que modo comunicamos a Boa-Nova de Jesus?

- Sentimo-nos como um corpo em comunhão de carismas, diferentes ministérios empenhados em prol da vida e na edificação da comunidade?

- Quanto mais formos unidos, maior será a eficácia da Evangelização. Sendo assim, como vivemos a solidariedade, a responsabilidade e a coparticipação em nossa comunidade?

- Como acolhemos a Palavra de Deus? O que ela provoca em cada um de nós? Ela nos alegra, ilumina, alimenta?
- Esvaziamos a eficácia da Palavra de Deus, ouvindo-a sem praticá-la?      

- Cremos que o anúncio não é apenas para o outro que está ao nosso lado?

Renovemos nossas motivações, para que sejamos autênticos discípulos missionários do Senhor, seguindo-O, decidida e apaixonadamente, pois somente Ele tem palavras de vida eterna, como bem disse o Apóstolo Pedro (Jo 6,68).

Oremos:

“Deus eterno e todo-poderoso, dirigi a nossa vida segundo o Vosso Amor, para que possamos, em nome do Vosso Filho, frutificar em boas obras. Por N. S. J. C. Amém.”

Rezando com os Salmos - Sl 76 (77)

 


Inabalável e incondicional confiança no Senhor

 “–1 Ao maestro do coro. Segundo a melodia ‘Iditun’.
Salmo de Asaf. 

–2 Quero clamar ao Senhor Deus em alta voz,
em alta voz eu clamo a Deus: que Ele me ouça!
=3 No meu dia de aflição busco o Senhor;
sem me cansar ergo, de noite, as minhas mãos,
e minh'alma não se deixa consolar.

–4 Quando me lembro do Senhor, solto gemidos,
e, ao recordá-Lo, minha alma desfalece.
–5 Não me deixastes, ó meu Deus, fechar os olhos,
e, perturbado, já nem posso mais falar!

–6 Eu reflito sobre os tempos de outrora,
e dos anos que passaram me recordo;
–7 meu coração fica a pensar durante a noite,
e de tanto meditar, eu me pergunto:

–8 Será que Deus vai rejeitar-nos para sempre?
E nunca mais nos há de dar o seu favor?
–9 Por acaso, Seu amor foi esgotado?
Sua promessa, afinal, terá falhado?

–10 Será que Deus se esqueceu de ter piedade?
Será que a ira Lhe fechou o coração?
–11 Eu confesso que é esta a minha dor:
‘A mão de Deus não é a mesma: está mudada’

–12 Mas, recordando os grandes feitos do passado,
Vossos prodígios eu relembro, ó Senhor;
–13 eu medito sobre as Vossas maravilhas
e sobre as obras grandiosas que fizestes.

–14 São santos, ó Senhor, Vossos caminhos!
Haverá deus que se compare ao nosso Deus?
–15 Sois o Deus que operastes maravilhas,
Vosso poder manifestastes entre os povos.
–16 Com Vosso braço redimistes vosso povo,
os filhos de Jacó e de José.

–17 Quando as águas, ó Senhor, Vos avistaram,
elas tremeram e os abismos se agitaram
=18 e as nuvens derramaram suas águas,
a tempestade fez ouvir a Sua voz,
por todo lado se espalharam Vossas flechas.

=19 Ribombou a vossa voz entre trovões,
Vossos raios toda a terra iluminaram,
a terra inteira estremeceu e se abalou.

=20 Abriu-se em pleno mar Vosso caminho
e a Vossa estrada, pelas águas mais profundas;
mas ninguém viu os sinais dos Vossos passos.
–21 Como um rebanho conduzistes Vosso povo
e o guiastes por Moisés e Aarão.”
 

Com o Salmo 76(77), o salmista lembra as maravilhas do Senhor:

“Confrontando a dolorosa situação presente com o passado glorioso do povo, o salmista reza, e certo de que Deus renovará os prodígios do seu amor (v.11ss), reencontra a esperança no Pastor de Israel (v. 21).”  (1)

O Apóstolo Paulo também nos exorta a manter firme confiança no Senhor em todos os momentos, sobretudo nos mais adversos:

“Em tudo somos atribulados, mas não abatidos; postos em apuros, mas não desesperançados; perseguidos, mas não desamparados; derrubados, mas não aniquilados; por toda a parte e sempre levamos em nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo.” (cf. 2Cor 4,8-10).


Oremos:

Ó Deus, renovai e fortalecei nossa confiança em Vós, a fim de que tenhamos resistência na tentação, paciência na tribulação e sentimentos de gratidão na prosperidade. Por N. S. J.C. Amém.



(1) Comentário da Bíblia Edições CNBB – pág. 790

Dai-nos, Senhor, um “olhar de pomba”

                                                           


Dai-nos,  Senhor, um “olhar de pomba”

Retomemos um parágrafo da Exortação Verbum Domini, sobre a importância do Espírito Santo na vida da Igreja e no coração dos fiéis, na compreensão da Sagrada Escritura.

“Conscientes deste horizonte pneumatológico, os padres sinodais quiseram lembrar a importância da ação do Espírito Santo na vida da Igreja e no coração dos fiéis relativamente à Sagrada Escritura: sem a ação eficaz do «Espírito da Verdade» (Jo 14, 16), não se podem compreender as palavras do Senhor.

Como recorda ainda Santo Irineu: «Aqueles que não participam do Espírito não recebem do peito da sua mãe [a Igreja] o alimento da vida; nada recebem da fonte mais pura que brota do corpo de Cristo». 

Tal como a Palavra de Deus vem até nós no corpo de Cristo, no corpo eucarístico e no corpo das Escrituras por meio do Espírito Santo, assim também só pode ser acolhida e compreendida verdadeiramente graças ao mesmo Espírito.

Os grandes escritores da Tradição cristã são unânimes ao considerar o papel do Espírito Santo na relação que os fiéis devem ter com as Escrituras.

São João Crisóstomo afirma que a Escritura «tem necessidade da revelação do Espírito, a fim de que, descobrindo o verdadeiro sentido das coisas que nela se encerram, disso mesmo tiremos abundante proveito». 

Também São Jerônimo está firmemente convencido de que «não podemos chegar a compreender a Escritura sem a ajuda do Espírito Santo que a inspirou». 

Depois, São Gregório Magno sublinha, de modo sugestivo, a obra do mesmo Espírito na formação e na interpretação da Bíblia: «Ele mesmo criou as Palavras dos Testamentos Sagrados, Ele mesmo as desvendou».

Ricardo de São Víctor recorda que são necessários «olhos de pomba», iluminados e instruídos pelo Espírito, para compreender o texto sagrado.

Desejaria ainda sublinhar como é significativo o testemunho a respeito da relação entre o Espírito Santo e a Escritura que encontramos nos textos litúrgicos, onde a Palavra de Deus é proclamada, escutada e explicada aos fiéis. É o caso de antigas orações que, em forma de epiclese, invocam o Espírito antes da proclamação das leituras: «Mandai o Vosso Espírito Santo Paráclito às nossas almas e fazei-nos compreender as Escrituras por Ele inspiradas; e concedei-me interpretá-las de maneira digna, para que os fiéis aqui reunidos delas tirem proveito».

De igual modo, encontramos orações que, no fim da homilia, novamente invocam de Deus o dom do Espírito sobre os fiéis: «Deus salvador (…), nós Vos pedimos por este povo: Mandai sobre ele o Espírito Santo; o Senhor Jesus venha visitá-lo, fale à mente de todos e abra os corações à fé e conduza para Vós as nossas almas, Deus das Misericórdias». Por tudo isto, bem podemos compreender que não é possível alcançar o sentido da Palavra, se não se acolhe a ação do Paráclito na Igreja e nos corações dos fiéis.”(1)

Fundamental que invoquemos o Espírito Santo para melhor compreensão da Sagrada Escritura, e colocá-la em prática:

“Vinde Espírito Santo”
“Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
 e acendei neles o fogo do Vosso Amor.
Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado
e renovareis a face da terra.


Oremos:
Ó Deus que instruíste os corações dos vossos fiéis,
com a luz do Espírito Santo,
fazei que apreciemos retamente todas as coisas
segundo o mesmo Espírito
e gozemos da sua consolação.
Por Cristo Senhor Nosso. Amém”
 

 

(1) Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini – Papa Bento XVI – 2010 – parágrafo 16

Confesso...

                                                                

Confesso...
“Confessai, pois, uns aos
outros os vossos pecados” (Tg 5,16)

Quando fico sozinho com meu mal, fico totalmente só, apesar da devoção e oração comum, apesar de toda comunhão no servir.

É possível que eu não sinta romper aquela última barreira que nos separa da comunhão, porque vivemos juntos como pessoas crentes e piedosas, e não como pessoas descrentes e pecadoras.

A comunhão piedosa não permite que eu me sinta pecador, por isto preciso esconder o pecado de mim mesmo e da comunidade.

É inimaginável o pavor que sentiria, como cristão piedoso, se visse aparecer de repente um pecador de verdade diante de mim. Contento-me em ficar sozinho com meu pecado, na mentira, na hipocrisia.

Tenho dificuldade de compreender a Sagrada Escritura quando diz: “Tu és pecador, um grande pecador incurável; e agora, como pecador que tu és, chega-te a teu Deus que te ama. Ele te quer tal como és. Não quer nada de ti, nem sacrifício nem obra. Ele quer a ti somente. ‘Meu filho, dá-me o teu coração” (Pv 23,26).

Mas Deus veio a mim para me salvar, porque pecador sou. Diante de Deus não posso me ocultar. Diante d’Ele, nada vale a máscara que uso perante as pessoas.

Deus quer ver-me assim como sou, quer ser misericordioso comigo. Já não tenho necessidade de mentir para mim mesmo nem para o irmão, como se não tivesse pecado: sou pecador e agradeço a Deus por isso, pois Ele ama o pecador, mas odeia o pecado.

Cristo tornou-se nosso irmão na carne, para que crêssemos n’Ele. N’Ele veio o amor de Deus ao pecador: a miséria do pecador e a misericórdia de Deus – eis a verdade do Evangelho de Jesus Cristo.

Por esta razão autorizou os seus a ouvir a confissão dos pecados e a perdoá-los em Seu nome: “Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,23).

O irmão-ministro que perdoa está no lugar de Cristo e perante ele já não preciso fingir. Perante ele, e mais ninguém no mundo, posso ser o pecador que sou, pois neste momento reina, de modo sublime, a verdade de Jesus e Sua misericórdia.

Cristo tornou-se nosso irmão para nos ajudar; e agora o irmão se tornou um Cristo, age “in persona Christi”, no poder de sua missão.
O irmão está diante de mim como o sinal da verdade e da graça de Deus: ajuda-me, ouve minha confissão em lugar de Cristo e em lugar d’Ele me perdoa; guarda o segredo de confissão tão bem como Deus o guarda. Assim, quando me confesso ao irmão, confesso-me a Deus.

Na confissão que faço acontecem irrompimentos:

a) o irrompimento (reconstrução, resgate, restauração) da comunhão: o pecado queria ficar a sós comigo para me afastar da comunhão, pois quanto mais solitário a pessoa o for, mais destruidor será o poder do pecado em sua vida, e quanto mais profundo o envolvimento com o pecado, mais desesperadora se torna a solidão. Assim é o pecado, faz questão de permanecer no anonimato, por isto teme a luz. Na confissão, à luz do Evangelho, sinto irromper nas trevas e no fechamento do coração. Todas as coisas ocultas que tinha, agora ficam manifestas. O pecado uma vez expresso e confessado, já não tem poder, pois foi manifesto como pecado e julgado como tal, e já não tem o poder de dilacerar a comunhão. Sinto que o mal foi tirado e agora me encontro na comunhão dos pecadores que vivem na graça de Deus, e sinto que reencontrei a comunhão justamente na confissão.

b) o irrompimento para a cruz (abertura, aceitação): sendo a soberba a raiz de todo pecado, quero viver para mim mesmo, tendo direito a mim mesmo, a meu ódio e minha cobiça, minha vida e minha morte. A confissão a um irmão é a mais profunda humilhação, pois machuca, torna-me pequeno, abate a soberba horrivelmente. Por esta humilhação ser tão amarga, creio que posso evitar a confissão diante do irmão.

Mas foi o próprio Jesus Cristo que sofreu publicamente em nosso lugar a morte vergonhosa do pecador. Não Se envergonhou de ser crucificado como malfeitor. E nesta Cruz temos a destruição de toda soberba; na confissão sinto irromper a autêntica comunhão da Cruz de Jesus Cristo e nela aceito a minha cruz.

Experimento na confissão a Cruz de Cristo como salvação e bem-aventurança. Morre em mim o homem velho, tenho parte na Ressurreição de Cristo e na vida eterna.

c) o irrompimento (inauguração) para a nova vida“Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova” (2 Cor 5,17). Pela confissão sinto que Cristo fez um novo começo. Ao confessar entrego tudo para seguir o Senhor como fizeram os primeiros discípulos. A partir deste momento alcanço vitória sobre vitória, e na confissão, renova-se o que aconteceu no dia do Batismo: fui salvo das trevas para o Reino de Jesus Cristo. Sinto-me envolvido por uma mensagem de imensa alegria. Sinto que a confissão é a renovação da alegria batismal –“De tarde vem o pranto nos visitar, de manhã gritos de alegria vem nos saudar” (Sl 30,6).

d) o irrompimento (abertura) para a certeza: Muitas vezes me parece mais fácil confessar perante Deus do que diante de um irmão; é que Deus é santo e sem pecado e o irmão pecador como eu, conhece tanto quanto eu a noite do pecado secreto por experiência própria. Muitas vezes vivo na auto-absolvição e não na real absolvição dos pecados; a primeira não leva o rompimento com o pecado. Na presença do irmão, o pecado deve vir à luz. Deste modo a confissão dos pecados ao irmão é graça. Quando ouço o irmão dizer “Eu te absolvo”, sinto que a confissão foi feita e pela absolvição dada pelo Senhor tenho a certeza do perdão divino.

Concluindo: numa confissão bem feita sinto a oferta da graça, da ajuda divina a mim que sou um pecador. Sinto que a confissão é um ato em nome de Cristo, completo em si mesmo, sendo praticado na comunidade, sempre que exista sincero desejo.

Reconciliado com Deus e com as pessoas, quero receber o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, lembrando as Palavras do Senhor, segundo as quais não posso me apresentar diante do Altar se o coração não estiver reconciliado com o irmão. Esta ordem se aplica a cada culto, a cada oração e muito mais para a autêntica participação da Santa Ceia do Senhor.

Para participar da Ceia do Senhor devo afastar de mim toda ira, discórdia, inveja, conversa maliciosa e atitudes desleais, uma vez que, a Celebração da Eucaristia é festa para a comunidade cristã da qual faço parte.

Reconciliada no coração com Deus e com os irmãos, a comunidade recebe a dádiva do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, e nela, o perdão, a nova vida e a Bem-Aventurança, expressão da comunhão cristã. Por ora, unidos no Corpo e Sangue na Mesa do Senhor.

  
PS: Livre Adaptação do Texto “Vida em Comunhão” (D. Bonhoeffer). 

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