segunda-feira, 5 de maio de 2025

Santo Estêvão, protomártir do Senhor, “sua arma era a caridade...”

                                                      

         Santo Estêvão, protomártir do Senhor, “sua arma era a caridade...”

Sejamos enriquecidos por um dos Sermões de um dos  Sermões escrito pelo Bispo São Fulgêncio de Ruspe  (Séc. VI):

Ontem, celebrávamos o nascimento temporal de nosso Rei eterno; hoje celebramos o martírio triunfal do seu soldado.

Ontem o nosso Rei, revestido de nossa carne e saindo da morada de um seio virginal, dignou-Se visitar o mundo; hoje o soldado, deixando a tenda de seu corpo, parte vitorioso para o céu.

O nosso Rei, o Altíssimo, veio por nós na humildade, mas não pôde vir de mãos vazias. Trouxe para Seus soldados um grande dom, que não apenas os enriqueceu imensamente, mas deu-lhes uma força invencível no combate: trouxe o dom da caridade que leva os homens à comunhão com Deus.

Ao repartir tão liberalmente o que trouxera, nem por isso ficou mais pobre: enriquecendo do modo admirável a pobreza dos Seus fiéis, Ele conservou a plenitude dos Seus tesouros inesgotáveis.

Assim, a caridade que fez Cristo descer do céu à terra, elevou Estêvão da terra ao céu. A caridade de que o Rei dera o exemplo logo refulgiu no soldado.

Estêvão, para alcançar a coroa que seu nome significa, tinha por arma a caridade e com ela vencia em toda parte. Por amor a Deus não recuou perante a hostilidade dos judeus, por amor ao próximo intercedeu por aqueles que o apedrejavam. 

Por esta caridade, repreendia os que estavam no erro para que se emendassem, por caridade orava pelos que o apedrejavam para que não fossem punidos.

Fortificado pela caridade, venceu Saulo, enfurecido e cruel, e mereceu ter como companheiro no céu aquele que tivera como perseguidor na terra.  Sua santa e incansável caridade queria conquistar pela Oração, a quem não pudera converter pelas admoestações.

E agora Paulo se alegra com Estêvão, com Estêvão frui da glória de Cristo, com Estêvão exulta, com Estêvão reina. Aonde Estêvão chegou primeiro, martirizado pelas pedras de Paulo,  chegou depois Paulo, ajudado pelas Orações de Estevão.

É esta a verdadeira vida, meus irmãos, em que Paulo não se envergonha mais da morte de Estêvão, mas Estevão se alegra pela companhia de Paulo, porque em ambos triunfa a caridade. Em Estêvão, a caridade venceu a crueldade dos perseguidores, em Paulo, cobriu uma multidão de pecados; em ambos, a caridade mereceu a posse do Reino dos céus.

A caridade é a fonte e origem de todos os bens, é a mais poderosa defesa, o caminho que conduz ao céu.  Quem caminha na caridade não pode errar nem temer.  Ela dirige, protege, leva a bom termo.

Portanto, meus irmãos, já que o Cristo nos deu a escada da caridade pela qual todo cristão pode subir ao céu, conservai fielmente a caridade verdadeira, exercitai-a uns para com os outros e, subindo por ela, progredi sempre mais no caminho da perfeição.”

Reflitamos sobre o martírio do diácono Santo Estêvão, a quem a Sagrada Escritura chama de "homem cheio de fé e do Espírito Santo". 

Os Santos Padres tecem grandes elogios a Santo Estêvão, pondo em relevo suas virtudes: pureza, zelo apostólico, firmeza e constância, grande amor ao próximo, verdadeiramente heroico, rezar pelos próprios assassinos. 

Chamado de protomártir por ter sido o primeiro a derramar seu sangue em testemunho da fé em Jesus Cristo. 

Seu nome em grego significa "coroa", e evoca a ideia de martírio, porque nos séculos a seguir a coroa foi símbolo do martírio. Sua paixão é de fundamental importância por não ter nada de fabuloso ou lendário. 

Sua Oração com certeza mereceu a conversão de São Paulo, pois, como disse Santo Agostinho, "Se Estêvão não tivesse rezado, a Igreja não teria o grande São Paulo!".

Somos convidados a aprender com os Santos e mártires, que deram corajoso testemunho da fé. Santo Estêvão é, por tudo que se disse, um exemplo para que cresçamos em maior fidelidade ao Senhor.

Talvez não tenhamos que viver semelhante martírio, mas cada um em sua própria história pode também desenvolver virtudes tão invejáveis e desejáveis.

Sejamos como Estêvão, homens e mulheres cheios de fé e do Espírito Santo no testemunho do Ressuscitado, em incondicional amor ao Pai.

Santo Estêvão, um exemplo para o nosso discipulado.

O mundo e a Igreja precisam de “Estêvãos”.

 

PS: No dia 26 de dezembro, proclama-se Atos dos Apóstolos (At 6,8-10;7,54-59), e na segunda-feira da terceira semana da Páscoa (At 6,8-15)

Uma súplica ao Bom Pastor

                                                         

Uma súplica ao Bom Pastor

Senhor Jesus, Divino Bom Pastor,
Vós que tendes sempre uma Palavra
Em todas as circunstâncias de nossa existência,
Mas, sobretudo nos momentos difíceis,
Em que precisamos do Vosso colo, da Vossa ternura,

Como Bispo, ansiando ser Sinal do Bom Pastor,
Levando Vossa Palavra através das minhas reflexões,
Para amenizar dores, renovar forças,
Reavivar a chama da fé,
Renovar a esperança
No mais profundo da alma dos que a mim confiais,
Para que a caridade se inflame,
Como é próprio de quem em Vós crê,
A Vós recorro e suplico:

Que eu use das forças das palavras para levar a Palavra...
Palavras que são como passaportes para novas fronteiras
Do ainda não conhecido, ampliando nossos horizontes.
Das palavras que passam, cheguemos a Vós,
Palavra que não passa,
E caminhando entre elas,
O Encontro verdadeiro convosco,
Que sois a Fonte inexaurível de Paz.

Ó Bom Pastor,
Palavra Encarnada do Pai
Que sinal de Vós eu seja,
Apesar de minha fraqueza e do rebanho a mim confiado.

Que falando, pregando, escrevendo,
Propicie o Encontro pela alma tão desejado:
O Encontro Divino tão necessário.
Que eu saiba silenciar para Vossa Palavra
Ouvir, acolher e por ela me deixar transformar,
Para que não sendo mero ouvinte,
Possa ajudar a tantos outros.
A também a se transformar.

Ó Divino e amado Bom Pastor,
Somente Vós tendes Palavra de Vida Eterna.

Amém! Aleluia!

Em poucas palavras...

                                                          


Servos do Bom Pastor

“Os ministros ordenados são também responsáveis pela formação na oração dos seus irmãos e irmãs em Cristo.

Servos do Bom Pastor, são ordenados para guiar o povo de Deus até às fontes vivas da oração: a Palavra de Deus, a Liturgia, a vida teologal, o «hoje» de Deus nas situações concretas”  (1)

 

 

(1) Catecismo da Igreja Católica parágrafo n. 2686 – citando PO 4-6

Mensagem do Papa Francisco - Dia Mundial de Oração pelas vocações - 2023

 


Síntese da Mensagem do Papa Francisco para o 60º Dia Mundial De Oração Pelas Vocações (30 de abril de 2023 - IV Domingo de Páscoa)

Vocação: graça e missão

Para o sexagésimo Dia Mundial de Oração pelas Vocações, instituído por São Paulo VI em 1964, durante o Concílio Ecuménico Vaticano II, o Papa Francisco nos apresenta uma mensagem com o Tema – “Vocação: graça e missão”.

Trata-se de preciosa ocasião para redescobrir, maravilhados, que a chamada do Senhor é graça, dom gratuito e, ao mesmo tempo, é empenho de partir, sair para levar o Evangelho.

No decurso da nossa vida, esta chamada, é inscrita nas fibras do nosso ser e portadora do segredo da felicidade, e nos alcança pela ação do Espírito Santo, de maneira sempre nova, ilumina a nossa inteligência, infunde vigor na vontade, enche-nos de admiração e faz arder o nosso coração, afirma o Papa.

Neste sentido, dá testemunho pessoal – “Assim aconteceu comigo em 21 de setembro de 1953, quando, a caminho da festa anual do estudante, senti o impulso de entrar na igreja e me confessar. Aquele dia mudou a minha vida, dando-lhe uma fisionomia que dura até hoje...”

Afirma que a vocação é uma “combinação entre a escolha divina e a liberdade humana”, uma relação dinâmica e estimulante que tem como interlocutores Deus e o coração humano.

Apresenta-nos a vocação de Santa Teresa do Menino Jesus - «Encontrei finalmente a minha vocação! A minha vocação é o amor! Sim, encontrei o meu lugar na Igreja (…): no coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor».

Toda vocação implica em missão, afirma o Papa – “Eu sou uma missão nesta terra”, e esta chamada inclui o envio.

A chamada divina ao amor é uma experiência que não se pode calar. «Ai de mim, se eu não evangelizar!»: exclamava São Paulo (1 Cor 9, 16). E a 1ª Carta de João começa assim: «O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida [feito carne] (…), isso vos anunciamos (…) para que a nossa alegria seja completa» (1, 1.3.4).

Há uma missão comum para todos os cristãos: “...testemunhar com alegria, em cada situação, por atitudes e palavras, aquilo que experimentamos estando com Jesus e na sua comunidade, que é a Igreja. E traduz-se em obras de misericórdia materiais e espirituais, num estilo de vida acolhedor e sereno, capaz de proximidade, compaixão e ternura, em contracorrente à cultura do descarte e da indiferença. Fazer-nos próximo como o bom samaritano (cf. Lc 10, 25-37) permite-nos compreender o «núcleo» da vocação cristã: imitar Jesus Cristo que veio para servir e não para ser servido (cf. Mc 10, 45).”

Apresenta-nos um ícone evangélica para a missão que é a experiência dos dois discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 32).

Podemos ver neles o que significa ter «corações ardentes e pés ao caminho».

Deste modo, uma vocação somente se revela plenamente com a sua própria verdade e riqueza, se vivida na relação com todas as outras – “Neste sentido, a Igreja é uma sinfonia vocacional, com todas as vocações unidas e distintas em harmonia e juntas «em saída» para irradiar no mundo a vida nova do Reino de Deus.”

Finalizando, exorta que as iniciativas de oração e animação pastoral ligadas a este Dia reforcem a sensibilidade vocacional nas nossas famílias, nas paróquias, nas comunidades de vida consagrada, nas associações e nos movimentos eclesiais.

Suplica ao Espírito do Ressuscitado que nos faça sair da apatia e nos dê simpatia e empatia, para vivermos cada dia regenerados como filhos de Deus-Amor (cf. 1 Jo 4, 16) e sermos, por nossa vez, geradores no amor, com a capacidade de levar a vida a todos os lugares, especialmente onde há exclusão e exploração, indigência e morte; e deste modo serão alargados os espaços de amor e Deus reinará cada vez mais neste mundo. 

Conclui invocando a presença e proteção de Maria, e retoma a oração composta por São Paulo VI para o 1º Dia Mundial das Vocações (11 de abril de 1964):

“Ó Jesus, divino Pastor das almas, que chamastes os Apóstolos para fazer deles pescadores de homens, continuai a atrair para Vós almas ardentes e generosas de jovens, a fim de fazer deles vossos seguidores e vossos ministros; tornai-os participantes da vossa sede de redenção universal, (…) abri-lhes os horizontes do mundo inteiro, (…) para que, respondendo à vossa chamada, prolonguem aqui na terra a vossa missão, edifiquem o vosso Corpo místico, que é a Igreja, e sejam “sal da terra”, “luz do mundo” (Mt 5, 13)”.

 

PS: Se desejar, confira a mensagem na integra:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/vocations/documents/20230430-messaggio-60-gm-vocazioni.html

Mensagem do Papa Francisco - 2017: “Impelidos pelo Espírito para a missão”

“Impelidos pelo Espírito para a missão”

No 4º Domingo da Páscoa, “Domingo do Bom Pastor”, celebramos também o Dia Mundial de Oração pelas Vocações.

Retomemos a mensagem do Papa Francisco (2017), para o 54º Dia Mundial de Orações pelas vocações que tinha como tema: “Impelidos pelo Espírito para a missão”.

O Papa se detém na dimensão missionária da vocação cristã: “Quem se deixou atrair pela voz de Deus e começou a seguir Jesus, rapidamente descobre dentro de si mesmo o desejo irreprimível de levar a Boa-Nova aos irmãos, através da evangelização e do serviço na caridade...”, e assim, todos os cristãos são constituídos missionários do Evangelho.

Como missionários, os cristãos são enviados ao mundo como Profetas da Palavra do Senhor e testemunhas do Seu amor, superando todo desânimo, pessimismo, passividade de uma vida cansada e rotineira, confiantes no próprio Deus, "que vem purificar os nossos «lábios impuros», tornando-nos aptos para a missão.  'f'oi afastada a tua culpa e apagado o teu pecado!' Então, ouvi a voz do Senhor que dizia: 'Quem enviarei? Quem será o nosso mensageiro?' Então eu disse: 'Eis-me aqui, envia-me' (Is 6, 7-8)".

Retomando o que afirmou na Catequese de 30 de janeiro de 2016, em virtude do Batismo, cada cristão é um «cristóforo», ou seja, «um que leva Cristo» aos irmãos. E isto vale, de forma particular, para as pessoas que são chamadas a uma vida de especial consagração e também para os sacerdotes, que generosamente responderam «eis-me aqui, envia-me».

Portanto, “com renovado entusiasmo missionário, são chamados a sair dos recintos sagrados do templo, para consentir à ternura de Deus de transbordar a favor dos homens (cf. Francisco, Homilia na Missa Crismal, 24 de março de 2016). A Igreja precisa de sacerdotes assim: confiantes e serenos porque descobriram o verdadeiro tesouro, ansiosos por irem fazê-lo conhecer jubilosamente a todos (cf. Mt 13,44)”.

Para a realização da missão cristã, o Papa apresenta estas questões:
Que significa ser missionário do Evangelho?
- Quem nos dá a força e a coragem do anúncio?
- Qual é a lógica evangélica em que se inspira a missão? 

Em seguida, oferece respostas a estas questões contempladas em três cenas evangélicas:

 - Jesus é ungido pelo Espírito e enviado.
O início da missão de Jesus na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4, 16-30) - Ser discípulo missionário significa participar ativamente na missão de Cristo, que Ele próprio descreve na sinagoga de Nazaré, e esta é também a nossa missão: ser ungidos pelo Espírito e ir ter com os irmãos para lhes anunciar a Palavra, tornando-nos um instrumento de salvação para eles.

- Jesus vem colocar-Se ao nosso lado no caminho.
O caminho que Ele, Ressuscitado, fez com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35). O cristão não carrega sozinho o encargo da missão, experimentando,  mesmo nas fadigas e incompreensões, – que "Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele, e sente que Jesus está vivo com ele, no meio da tarefa missionária".

- Jesus faz germinar a semente.
A parábola da semente (cf. Mc 4, 26-27). Não se pode deixar levar por um certo frenesim de poder, pelo proselitismo ou o fanatismo intolerante. Ao contrário, é preciso rejeitar a idolatria do sucesso e do poder, a preocupação excessiva pelas estruturas e uma certa ânsia que obedece mais a um espírito de conquista que de serviço.

A semente do Reino, embora pequena, invisível e às vezes insignificante, cresce silenciosamente graças à ação incessante de Deus, que supera as nossas expetativas e nos surpreende com a sua generosidade, fazendo germinar os frutos do nosso trabalho para além dos cálculos da eficiência humana.

Confiantes no Evangelho e abertos à ação silenciosa do Espírito, que é o fundamento da missão, promover a Pastoral Vocacional.

Para isto é preciso oração assídua e contemplativa, alimentando a vida cristã com a escuta da Palavra de Deus, cuidando da relação pessoal com o Senhor na adoração eucarística, «lugar» privilegiado do encontro com Deus.

Exorta que as comunidades paroquiais, associações e aos numerosos grupos de oração presentes na Igreja, continuem a pedir, sem desânimo, ao Senhor, que mande operários para a sua messe e nos dê sacerdotes enamorados do Evangelho, capazes de se aproximar dos irmãos, tornando-se assim sinal vivo do amor misericordioso de Deus. Implorar do Alto novas vocações ao sacerdócio e à vida consagrada.

É preciso incentivar novas vocações: "... é possível ainda hoje voltar a encontrar o ardor do anúncio e propor, sobretudo aos jovens, o seguimento de Cristo".

Conclui apresentando-nos Maria Santíssima, Mãe do nosso Salvador, como modelo de resposta ao chamado de Deus, pois teve a coragem de abraçar este sonho de Deus, pondo a sua juventude e o seu entusiasmo nas mãos d’Ele.

Pede sua intercessão para que obtenhamos a mesma abertura de coração, a prontidão em dizer o nosso «Eis-me aqui» à chamada do Senhor e a alegria de nos pormos a caminho, como Ela (cf. Lc 1, 39), para anunciá-Lo ao mundo inteiro.



PS: Desejando conferir a mensagem na íntegra, acesse:

Mensagem do Papa Francisco - 2018 - “Escutar, discernir, viver a chamada do Senhor”


“Escutar, discernir, viver a chamada do Senhor”

Retomemos a Mensagem do Papa para 55º Dia Mundial de Oração pelas Vocações (2018).

A Mensagem do Papa tem como tema: Escutar, discernir, viver a chamada do Senhor”, da qual destaco alguns parágrafos:

“Não estamos submersos no acaso, nem à mercê duma série de eventos caóticos; pelo contrário, a nossa vida e a nossa presença no mundo são fruto duma vocação divina.

Também nestes nossos agitados tempos, o mistério da Encarnação lembra-nos que Deus não cessa jamais de vir ao nosso encontro: é Deus conosco, acompanha-nos ao longo das estradas por vezes poeirentas da nossa vida e, sabendo da nossa pungente nostalgia de amor e felicidade, chama-nos à alegria.

Na diversidade e especificidade de cada vocação, pessoal e eclesial, trata-se de escutar, discernir e viver esta Palavra que nos chama do Alto e, ao mesmo tempo, que nos permite pôr a render os nossos talentos, faz de nós também instrumentos de salvação no mundo e orienta-nos para a plenitude da felicidade”.

Estes três aspectos – escuta, discernimento e vida – servem de moldura também ao início da missão de Jesus: passados os quarenta dias de oração e luta no deserto, visita a sua sinagoga de Nazaré e, aqui, põe-Se à escuta da Palavra, discerne o conteúdo da missão que o Pai Lhe confia e anuncia que veio realizá-la «hoje» (cf. Lc 4, 16-21).

“Escutar:
A chamada do Senhor – fique claro desde já – não possui a evidência própria de uma das muitas coisas que podemos ouvir, ver ou tocar na nossa experiência diária. Deus vem de forma silenciosa e discreta, sem Se impor à nossa liberdade. Assim pode acontecer que a sua voz fique sufocada pelas muitas inquietações e solicitações que ocupam a nossa mente e o nosso coração.

Por isso, é preciso preparar-se para uma escuta profunda da sua Palavra e da vida, prestar atenção aos próprios detalhes do nosso dia-a-dia, aprender a ler os acontecimentos com os olhos da fé e manter-se aberto às surpresas do Espírito...

Também Jesus foi chamado e enviado; por isso, precisou de Se recolher no silêncio, escutou e leu a Palavra na Sinagoga e, com a luz e a força do Espírito Santo, desvendou em plenitude o seu significado relativamente à sua própria pessoa e à história do povo de Israel...

Mas, como sabemos, o Reino de Deus vem sem fazer rumor nem chamar a atenção (cf. Lc 17, 21), e só é possível individuar os seus germes quando sabemos, como o profeta Elias, entrar nas profundezas do nosso espírito, deixando que este se abra ao sopro impercetível da brisa divina (cf. 1 Re 19, 11-13)”.

“Discernir:
Na sinagoga de Nazaré, ao ler a passagem do profeta Isaías, Jesus discerne o conteúdo da missão para a qual foi enviado e apresenta-o aos que esperavam o Messias: «O Espírito do Senhor está sobre Mim; porque Me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-Me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar o ano favorável da parte do Senhor» (Lc 4, 18-19).

De igual modo, cada um de nós só pode descobrir a sua própria vocação através do discernimento espiritual, um «processo pelo qual a pessoa, em diálogo com o Senhor e na escuta da voz do Espírito, chega a fazer as opções fundamentais, a começar pela do seu estado da vida» (Sínodo dos Bispos – XV Assembleia Geral Ordinária, Os jovens, a fé e o discernimento vocacional, II.2)....

Também, hoje, temos grande necessidade do discernimento e da profecia, de superar as tentações da ideologia e do fatalismo e de descobrir, no relacionamento com o Senhor, os lugares, instrumentos e situações através dos quais Ele nos chama. Todo o cristão deveria poder desenvolver a capacidade de «ler por dentro» a vida e individuar onde e para quê o está a chamar o Senhor a fim de ser continuador da sua missão”.

“Viver:
Por último, Jesus anuncia a novidade da hora presente, que entusiasmará a muitos e endurecerá a outros: cumpriu-se o tempo, sendo Ele o Messias anunciado por Isaías, ungido para libertar os cativos, devolver a vista aos cegos e proclamar o amor misericordioso de Deus a toda a criatura. Precisamente «cumpriu-se hoje – afirma Jesus – esta passagem da Escritura que acabais de ouvir» (Lc 4, 20).

A alegria do Evangelho, que nos abre ao encontro com Deus e os irmãos, não pode esperar pelas nossas lentidões e preguiças; não nos toca, se ficarmos debruçados à janela, com a desculpa de continuar à espera dum tempo favorável; nem se cumpre para nós, se hoje mesmo não abraçarmos o risco duma escolha. A vocação é hoje! A missão cristã é para o momento presente! E cada um de nós é chamado – à vida laical no matrimônio, à vida sacerdotal no ministério ordenado, ou à vida de especial consagração – para se tornar testemunha do Senhor, aqui e agora.

O Senhor continua hoje a chamar para O seguir. Não temos de esperar que sejamos perfeitos para dar como resposta o nosso generoso «eis-me aqui», nem assustar-nos com as nossas limitações e pecados, mas acolher a voz do Senhor com coração aberto. Escutá-la, discernir a nossa missão pessoal na Igreja e no mundo e, finalmente, vivê-la no «hoje» que Deus nos concede”.

Finaliza a Mensagem pedindo à Maria Santíssima, “a jovem menina de periferia que escutou, acolheu e viveu a Palavra de Deus feita carne”, para nos guardar e nos acompanhar sempre em nosso caminho.




domingo, 4 de maio de 2025

Testemunhar a vida nova do Ressuscitado (IIIDTPC)

Testemunhar a vida nova do Ressuscitado 

“Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?”
“Simão, filho de João, tu me amas?”
“Simão, filho de João tu me amas?”
“Apascenta minhas ovelhas.”
“Segue-me”. 

A Liturgia da Palavra do 3º Domingo da Páscoa (ano C) nos convida à reflexão sobre a presença e ação do Ressuscitado no seio da comunidade, que dá coragem, confiança e garante a esperança vitoriosa e a pesca frutuosa, plena de êxito. 

A missão da comunidade dos que creem, é testemunhar e concretizar a missão de Jesus Ressuscitado, que tem garantia de êxito, pois conta com a Sua presença, Palavra e Pão em cada Eucaristia celebrada. 

A passagem da primeira Leitura (At 5, 27b-32.40b-41) nos apresenta o testemunho da comunidade de Jerusalém. Testemunhar a Vida Nova do Ressuscitado é pôr-se em obediência primeira e incondicional a Deus. 

Impressiona-nos a coragem e o testemunho de Pedro, enfrentando a mesma oposição enfrentada por Jesus. São lapidares as palavras de Pedro: – “deve obedecer-se antes a Deus do que aos homens” (At 5,29). 

Animados pelo Espírito, devemos manter a fidelidade ao Senhor no caminho, enfrentando os opositores. De fato, a proposta de Jesus não é um caminho fácil, pois passa pela cruz. Não é um caminho marcado pela facilidade de glórias, aplausos, confetes, honras, popularidade. 

Sua proposta não faz pacto com esquemas egoístas, injustos e opressores. Sua mensagem, em todo tempo, é questionante, transformadora, revolucionária, pois coloca em causa tudo o que gera injustiça, opressão, sofrimento e morte. 

Na segunda Leitura (Ap 5,11-14), o autor do Apocalipse nos apresenta Jesus como o “Cordeiro imolado”, que venceu a morte e trouxe para nós a libertação definitiva. 

A comunidade, vivendo em contexto de perseguição, martírio, sofrimento, deve se manter fiel e confiante na esperança da vitória. Ela testemunha o Cordeiro vitorioso que é Cristo Jesus. O Cordeiro imolado é vencedor da morte. 

A mensagem pode ser resumida numa frase: – “Não tenhais medo, pois a vossa libertação está para chegar”. Uma mensagem para revigoramento da fé, renovação da esperança e fortalecimento da capacidade de lutar contra toda e qualquer forma de injustiça, egoísmo, sofrimento e pecado. 

A comunidade eleva louvores e expressa sua gratidão pelo dom do Ressuscitado, Sua centralidade, Sua vitória, pois n’Ele está a nossa vitória! 

Com a passagem do Evangelho (Jo 21,1-19), vemos os discípulos em missão e a exigência para levar adiante esta missão.   

A tríplice confissão de amor pedida a Pedro, condição para cumprir com fidelidade a missão pelo Ressuscitado confiada. 

Para presidir a comunidade é imprescindível o amor, a lógica da doação e do serviço. 

Crer em Sua presença é escrever uma história de amor em nosso cotidiano, para além de nossas debilidades e fraquezas, como assim nos falou o Papa São João XXIII -  “Não basta ser iluminados pela fé e inflamados pelo desejo do bem para impregnar de princípios sadios uma civilização... é necessário inserir-se em suas instituições” (Pacem in Terris, 148). 

Quanto mais amarmos, mais revigorados seremos e mais a luz do Ressuscitado resplandecerá. 

Esta presença somente é reconhecida por quem ama, fazendo de sua vida doação e serviço, assim como fez Jesus. Presença que nos faz passar da noite do fracasso para o amanhecer do êxito da vitória. 

A escuridão da noite e da morte foi iluminada na madrugada da Ressurreição. As aparentes derrotas preanunciaram a vitória! Com Jesus nossa pesca será abundante!

Aprofundando a riquíssima linguagem simbólica do Evangelho, vemos que, em três grandes partes, João nos apresenta a terceira aparição do Ressuscitado: a pesca, a refeição e a investidura de Pedro. 

Os sete Apóstolos voltam à sua atividade cotidiana: 

Sete indica totalidade – uma Igreja toda em missão. 

Pescar revela a missão da Igreja – pescar aqueles que se encontram mergulhados no mar do sofrimento e da escravidão. 

Noite sem nada pescar – noite como tempo das trevas, da escuridão, da ausência de Jesus. Sem Jesus tudo é um fracasso irremediável - “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo, 15,5). 

Êxito da pesca – garantida pela presença do Ressuscitado e confiança em Sua Palavra. 

Rede com 153 peixes – número marcado pelo simbolismo – resultado da soma dos 17 primeiros algarismos – 10 + 7 = totalidade, todos os peixes conhecidos. Significa a plenitude e a universalidade da Salvação. 

O discípulo amado reconhece Jesus, o Ressuscitado – amar é condição para reconhecer Sua presença. 

Comer com os discípulos – prefigura-se a Eucaristia – “Os pães com que Jesus acolhe os discípulos em terra são um sinal do Amor, do serviço, da solicitude de Jesus pela Sua comunidade em missão no mundo: deve haver aqui uma alusão à Eucaristia, ao Pão que Jesus oferece, à vida com que Ele continua a alimentar a comunidade em missão” (1). 

Reflitamos: 

- De que modo estamos realizando a missão do Ressuscitado a nós confiada no dia de nosso Batismo?

- Quais são os sinais da presença do Ressuscitado em nossa comunidade? 

- Quais são as dificuldades, oposições que enfrentamos no testemunho do Cristo Ressuscitado?

- De que modo somos “pescadores de homens do mar do sofrimento e da escravidão”? 

- Ontem a Pedro, hoje a nós: Amamos o Senhor a ponto de entregar a nossa vida por Ele?

- O que somos capazes de sofrer por amor a Jesus e a Sua Igreja? 

- Quais são as forças que renovam e nutrem a nossa esperança? 

- De que modo vivemos a caridade, como expressão de que somos discípulos missionários d’Aquele que é a Epifania do Amor de Deus pela humanidade, Jesus? 

Concluindo, somos enviados ao mundo para o resgate de humanidade, do mar do sofrimento e da escravidão. Nisto consiste “sermos pescadores de homens”. 

É Páscoa! Ele está em nosso meio.
“Alegremo-nos e n’Ele exultemos”. 
Pelo Senhor, fomos escolhidos, amados, enviados.
Por Ele assistidos, acompanhados, nutridos. 
A Ele toda fidelidade, entrega, amor e doação.
Com Ele, servir, testemunhar, nossa missão. 
Amar o Amado sempre, em fidelidade ao Pai,
que nos enviou o Santo Espírito de Amor.
Amém. Aleluia!
 

 

(1) Fonte: www.dehonianos.org

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