terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

XXIX MENSAGEM PARA O DIA MUNDIAL DO DOENTE (2021)

 

“Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos” 

A Mensagem do Papa Francisco para o XXIX Dia Mundial do Doente, em 11 de fevereiro, quando se celebra a Memória de Nossa Senhora de Lurdes, tem como lema a passagem do Evangelho de Mateus – “Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos” (Mt 23, 8), na qual reflete sobre a relação de confiança que deve estar na base do cuidado dos doentes

Ao longo da mensagem, retrata o momento que vivemos marcado pela pandemia do coronavírus, em que retrata a realidade dos doentes e suas famílias, de muitos que se colocam a serviço deles, destacando os profissionais da saúde, no carinho, solidariedade e cuidado, de modo especial os mais pobres e marginalizados.

À luz da passagem do Evangelho de Mateus (Mt 23,1-12), exorta para que a fé não fique reduzida a “exercícios verbais estéreis”, com o grave risco de derrapar na idolatria de si mesmo.

Apresenta a atitude oposta à hipocrisia, que consiste no escutar, estabelecer uma relação direta e pessoal, sentir empatia e enternecimento, deixar-se comover pelo seu sofrimento, pondo-se a servir aos que mais precisam (cf. Lc 10, 30-35).

A doença evidencia duas realidades humanas: a vulnerabilidade e a necessidade natural que temos uns dos outros.

Apresenta-nos a figura emblemática de Jó, que experimenta a fragilidade extrema, mas rejeita toda a hipocrisia, escolhendo o caminho da sinceridade para com Deus e os outros, com o grito instante a Deus que lhe responde abrindo um novo horizonte.

Destaca a importância da proximidade pessoal e comunitária, em relação ao enfermo, como um bálsamo precioso, que dá apoio e consolação, como se contempla na figura do bom Samaritano, de modo que o amor fraterno em Cristo gera uma comunidade capaz de curar, e não abandona ninguém, mas inclui e, sobretudo, os mais frágeis.

Esta proximidade implica em solidariedade fraterna, que se expressa no serviço de muitos modos e o serviço nunca é ideológico, uma vez que não servimos ideias, mas pessoas.

Deste modo, é preciso um pacto baseado na confiança e respeito mútuo, sinceridade e disponibilidade, entre as pessoas carecidas de cuidados e aqueles que as tratam, superando toda e qualquer barreira defensiva, colocando no centro a dignidade da pessoa doente, com o profissionalismo dos agentes de saúde na manutenção de bom relacionamento com as famílias dos doentes.

Esta relação com a pessoa doente encontra uma fonte inesgotável de motivações e energias na caridade de Cristo, pois como se vê muitas vezes no evangelho, as curas de Jesus “nunca são gestos mágicos”, mas fruto de um encontro, uma relação interpessoal, em que o dom de Deus, oferecido por Jesus, corresponde a fé de quem O acolhe, como Ele repetiu com frequência – “A tua fé te salvou”.

Assim é concebida uma sociedade mais humana, em que o Mandamento do Amor se vê realizado no cuidado dos doentes, dos mais frágeis e atribulados, de modo que ninguém fique sozinho, excluído ou abandonado.

Encerra a mensagem concedendo a bênção a todas as pessoas doentes, os agentes da saúde e quantos se prodigalizam junto dos que sofrem, confiando-os a Maria, Mãe de Misericórdia e Saúde dos Enfermos, e com a sua intercessão a fim de sejam sustentados na fé e esperança para ajudar e a cuidar uns dos outros com amor fraterno.

 

PS: Se desejar, confira a mensagem na integra:

XXVIIIMENSAGEM PARA O DIA MUNDIAL DO DOENTE (síntese) (2020)



XXVIII Mensagem para Dia Mundial do Doente (síntese)

Celebrando o XXVIII Dia Mundial do Doente, no dia 11 de fevereiro, o Papa Francisco nos agraciou com uma mensagem, cujo lema encontra-se no Evangelho de Mateus: Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos” (Mt 11, 28).

Ao pronunciar estas Palavras, Jesus tem diante de Seus olhos as pessoas que encontra todos os dias pelas estradas da Galileia: gente simples, pobres, doentes, pecadores, marginalizados pelo ditame da lei e pelo opressivo sistema social:

“...A quem vive na angústia devido à sua situação de fragilidade, sofrimento e fraqueza, Jesus Cristo não impõe leis, mas, na Sua misericórdia, oferece-Se a Si mesmo, isto é, a sua pessoa que dá alívio. A humanidade ferida é contemplada por Jesus com olhos que veem e observam, porque penetram em profundidade: não correm indiferentes, mas param e acolhem o homem todo e todo o homem segundo a respetiva condição de saúde, sem descartar ninguém, convidando cada um a fazer experiência de ternura entrando na vida d’Ele”.

Sobre a condição do doente e sua família, lembra o Papa “...na doença, a pessoa sente comprometidas não só a sua integridade física, mas também as várias dimensões da sua vida relacional, intelectiva, afetiva, espiritual; e por isso, além das terapias, espera amparo, solicitude, atenção, em suma, amor. Além disso, junto do doente, há uma família que sofre e pede, também ela, conforto e proximidade.

Apresenta o papel da Igreja como uma estalagem do Bom Samaritano que é Cristo” (cf. Lc 10,34): “...a casa onde podeis encontrar a sua graça, que se expressa na familiaridade, no acolhimento, no alívio. Nesta casa, podereis encontrar pessoas que, tendo sido curadas pela misericórdia de Deus na sua fragilidade, saberão ajudar-vos a levar a cruz, fazendo, das próprias feridas, frestas através das quais divisar o horizonte para além da doença e receber luz e ar para a vossa vida”.

Destaca o importante serviço nesta obra de restabelecimento dos irmãos desempenhado pelos profissionais da saúde – médicos, enfermeiros, pessoal sanitário, administrativo e auxiliar, voluntários, pondo em ação as respectivas competências e fazendo sentir a presença de Cristo, que proporciona consolação e cuida da pessoa doente tratando das suas feridas.

Chama a atenção de todos para que se coloque a pessoa acima do adjetivo doente, de modo que toda atividade tenha em vista a dignidade e a vida da pessoa sem qualquer cedência a atos de natureza eutanásica, de suicídio assistido ou supressão da vida, nem mesmo se for irreversível o estado da doença.

Daí a necessidade de abertura à dimensão transcendente, que pode oferecer o sentido pleno da profissão, lembrando que a vida é sagrada pertence a Deus, sendo, por conseguinte, inviolável e indisponível (cf. Instr. Donum vitae, 5; Enc. Evangelium vitae, 29-53):

“A vida há de ser acolhida, tutelada, respeitada e servida desde o seu início até à morte: exigem-no simultaneamente tanto a razão como a fé em Deus, autor da vida. Em certos casos, a objeção de consciência deverá tornar-se a vossa opção necessária, para permanecerdes coerentes com este ‘sim’ à vida e à pessoa... Quando não puderdes curar, podereis sempre cuidar com gestos e procedimentos que proporcionem amparo e alívio ao doente”.

O Papa enfatiza o fato de que, infelizmente, em alguns contextos de guerra e conflitos violentos, são atacados o pessoal sanitário e as estruturas que se ocupam da recepção e assistência dos doentes; e em algumas áreas, o próprio poder político pretende manipular a seu favor a assistência médica, limitando a justa autonomia da profissão sanitária.

Destaca o fato de muitos pelo mundo viverem sem possibilidades de acesso aos cuidados médicos, porque vivem na pobreza, e que os governos não podem sobrepor o aspecto econômico sobre o aspecto da justiça social, conciliando os princípios da solidariedade e subsidiariedade, na salvaguarda e restabelecimento da saúde.

Agradece aos voluntários que se colocam ao serviço dos doentes, procurando em não poucos casos suprir carências estruturais e refletindo, com gestos de ternura e proximidade, a imagem de Cristo Bom Samaritano.

Concedendo a Bênção Apostólica, finaliza confiando os enfermos, seus familiares e todos os profissionais da saúde à Virgem Maria - Saúde dos Enfermos.


PS: Se desejar, leia a mensagem na integra:

Mensagem para o XXVII Dia Mundial do Enfermo (2019)

“Recebestes de graça, dai de graça”

Retomemos a Mensagem do Papa Francisco para o XXVII Dia Mundial do Enfermo – 11/2/2019.

Iluminado pela passagem do Evangelho: “Recebestes de graça, dai de graça” (Mt 10,8), palavras pronunciadas por Jesus, quando enviou os Apóstolos a espalhar o Evangelho, para que, através de gestos de amor gratuito, se propagasse o Seu Reino

O Papa acena para o cuidado dos doentes, que precisa de profissionalismo e ternura, de gestos gratuitos, imediatos e simples, como uma carícia, pelos quais fazemos sentir ao outro que ele nos é “querido”.

Sendo a vida um dom de Deus, como adverte São Paulo: – “que tens tu que não tenhas recebido?» (1 Cor 4, 7), a existência não pode ser considerada como mera possessão ou propriedade privada, sobretudo à vista das conquistas da medicina e da biotecnologia, que poderiam induzir o homem a ceder à tentação de manipular a «árvore da vida» (cf. Gn 3, 24).

Outro aspecto é a postura que se deve ter contra a cultura do descarte e da indiferença, prover novos vínculos e várias formas de cooperação humana entre povos e culturas.

Cita o testemunho de Santa Madre Teresa de Calcutá, um modelo de caridade que tornou visível o amor de Deus pelos pobres e os doentes.

Retoma parte da Homilia quando de sua canonização: “Madre Teresa, ao longo de toda a sua existência, foi uma dispensadora generosa da misericórdia divina, fazendo-se disponível a todos, através do acolhimento e da defesa da vida humana, dos nascituros e daqueles abandonados e descartados. (...) Inclinou-se sobre as pessoas indefesas, deixadas moribundas à beira da estrada, reconhecendo a dignidade que Deus lhes dera; fez ouvir a sua voz aos poderosos da terra, para que reconhecessem a sua culpa diante dos crimes (…) da pobreza criada por eles mesmos. A misericórdia foi para ela o ‘sal’, que dava sabor a todas as suas obras, e a ‘luz’ que iluminava a escuridão de todos aqueles que nem sequer tinham mais lágrimas para chorar pela sua pobreza e sofrimento. A sua missão nas periferias das cidades e nas periferias existenciais permanece nos nossos dias como um testemunho eloquente da proximidade de Deus junto dos mais pobres entre os pobres” (Homilia, 4/IX/2016).

Ela nos ensina a viver o amor gratuito para com todos, sem distinção de língua, cultura, etnia ou religião. O seu exemplo continua a guiar-nos na abertura de horizontes de alegria e esperança para a humanidade necessitada de compreensão e ternura, especialmente para as pessoas que sofrem.

Acena para a gratuidade humana, como o fermento da ação dos voluntários, que têm tanta importância no setor socio-sanitário e que vivem de modo eloquente a espiritualidade do Bom Samaritano.

Exorta a todos, nos vários níveis, promover a cultura da gratuidade e do dom, indispensável para superar a cultura do lucro e do descarte – “A alegria do dom gratuito é o indicador de saúde do cristão”.

Finaliza com a bênção e nos confiando a Maria, “Salus infirmorum”, para que Ela nos ajude a partilhar os dons recebidos, com o espírito do diálogo e mútuo acolhimento, a viver como irmãos e irmãs, cada um atento às necessidades dos outros, a saber dar com coração generoso, a aprender a alegria do serviço desinteressado.

Mensagem para o XXXI Dia Mundial do Doente (síntese)

 


Mensagem para o XXXI Dia Mundial do Doente (síntese) 


«Trata bem dele!» -
A compaixão como exercício sinodal de cura 

O XXXI Dia Mundial do Doente celebrado no dia 11 de fevereiro de 2023, e o Papa Francisco nos oferece uma mensagem, com o título: «Trata bem dele!» - A compaixão como exercício sinodal de cura.

A doença que faz parte da experiência humana, pode se tornar desumana, se vivida no isolamento ou no abandono.

Por isto é preciso caminhar junto, em pleno percurso sinodal que estamos vivendo como Igreja – é preciso “...refletir sobre o fato de podermos aprender, precisamente através da experiência da fragilidade e da doença, a caminhar juntos segundo o estilo de Deus, que é proximidade, compaixão e ternura.”

Um dos textos citados na Mensagem é o Livro do Profeta Ezequiel que nos oferece um grande oráculo, que constitui um dos pontos culminantes de toda a Revelação – “Sou Eu que apascentarei as minhas ovelhas, sou Eu quem as fará descansar – oráculo do Senhor Deus. Procurarei aquela que se tinha perdido, reconduzirei a que se tinha tresmalhado; cuidarei a que está ferida e tratarei da que está doente (...). A todas apascentarei com justiça” (34, 15-16).

É preciso aprender com Deus, a fim de que sejamos uma comunidade que caminha em conjunto, capaz de não se deixar contagiar pela cultura do descarte:

“Não tem valor só o que funciona, nem conta só quem produz. As pessoas doentes estão no âmago do povo de Deus, que avança juntamente com eles como profecia duma humanidade onde cada qual é precioso e ninguém deve ser descartado.”

Remete-nos à Encíclica Fratelli Tutti, pois esta propõe uma leitura atualizada da parábola do Bom Samaritano (cf. nº 56), pois pode nos iluminar como ponto de mudança para sairmos das «sombras dum mundo fechado» (cap. I) e «pensar e gerar um mundo aberto» (cap. III).

O Papa destaca a profunda conexão entre esta parábola de Jesus e as múltiplas formas em que é negada hoje a fraternidade, sobretudo em relação aos que mais precisam, como na doença pois “...nunca estamos preparados para a doença; e muitas vezes nem sequer para admitir a idade avançada. Tememos a vulnerabilidade, e a invasiva cultura do mercado impele-nos a negá-la. Não há espaço para a fragilidade...Todos somos frágeis e vulneráveis; todos precisamos daquela atenção compassiva que sabe deter-se, aproximar-se, cuidar e levantar. Assim, a condição dos enfermos é um apelo que interrompe a indiferença e abranda o passo de quem avança como se não tivesse irmãs e irmãos.” (grifos meus)

No Dia Mundial do Doente não convida apenas à oração e à proximidade com os que sofrem. É também momento oportuno para a sensibilização do povo de Deus, das instituições de saúde e toda a sociedade civil para uma nova forma de avançar juntos.

Afirma o Papa que a Palavra de Deus é oportuna na denúncia, mas também na apresentação de propostas na prática da fraternidade, no nível mais próximo uns dos outros, bem como um tratamento organizado realizado pelo ministério de sacerdotes, no trabalho de operadores de saúde e agentes sociais, no empenho de familiares e voluntários, graças aos quais cada dia, em todo o mundo, o bem se opõe ao mal.

A pandemia aumentou o sentimento de gratidão por tantos que trabalham em prol da saúde, assim como a investigação médica, mas ao sair desta tragédia coletiva, é necessário que cada país realize uma busca ativa de estratégias e recursos a fim de serem garantidos a todo o ser humano o acesso aos cuidados médicos e o direito fundamental à saúde.

Aprendamos com a recomendação do samaritano ao estalajadeiro - «Trata bem dele!» (Lc 10, 35), e acolhamos a Palavra de Jesus que nos diz a cada um de nós - «Vai e faz tu também o mesmo», pois efetivamente «fomos criados para a plenitude que só se alcança no amor. Viver indiferentes à dor não é uma opção possível» (Fratelli Tutti nº 68), conclui o Papa.

Conclui nos concedendo a Bênção Apostólica, confiando-nos à intercessão de Maria, Saúde dos enfermos: todos os doentes; os que cuidam deles em família, com o trabalho, a investigação médica e o voluntariado; os que se esforçam por tecer laços pessoais, eclesiais e civis de fraternidade. 

 

PS: Se desejar, confira a mensagem na integra

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/sick/documents/20230110-giornata-malato.html

 

Prática religiosa agradável ao Senhor

                                                            


Prática religiosa agradável ao Senhor

Vejamos o que nos diz Jesus na passagem sobre a prática religiosa que agrada a Deus (Mc 7,1-13), proclamada na terça-feira da 5ª Semana do Tempo Comum.

Esta pressupõe o contínuo esforço de conversão, para que tenhamos pureza de coração, pois como o próprio Senhor disse: “somente os puros de coração verão a Deus” (Mt 5,8).

Já Moisés, na passagem do Livro do Deuteronômio  (Dt 4,1-2.6-8), acentuou o compromisso do Povo com a Palavra de Deus e Sua Aliança, numa sincera acolhida e vivência de Sua Lei. Não se pode adaptar, amenizar, suprimir e nada acrescentar à Palavra de Deus.

A Lei Divina deve ser vivida como expressão de gratidão a Deus; ainda mais porque ela é garantia de felicidade e liberdade, para concretizar os sonhos e esperanças do Povo Eleito e amado por Deus. Não se pode adulterar a Palavra de Deus ao sabor dos interesses pessoais.

Alguns perigos que nos acompanham e que devemos evitar:

- esvaziarmos a radicalidade da Palavra;
- cortarmos (omitirmos) seus aspectos mais questionadores;
- fazermos ou dizermos coisas que não procedem de Deus;
- cairmos num ativismo em que sacrificamos o tempo do silêncio orante diante de Deus, na acolhida de Sua Palavra;
- esvaziamento por causa do cansaço, da perda do sentido e, consequente, falta de espiritualidade e intimidade com a Palavra de Deus.

Também na Carta de São Tiago (Tg 1,17-18.21-22.27), vemos a inseparável relação  entre fé e obras. A fidelidade aos ensinamentos de Cristo nos compromete com o próximo (representado na figura do órfão e da viúva).

E nisto consiste a verdadeira religião, pura e sem mancha: solidariedade vivida e vigilância, para não se contaminar com os contravalores que o mundo apresenta.

É preciso, portanto, superar a frieza, o legalismo e o ritualismo religioso, procurando viver uma Religião comprometida com o Reino por Jesus inaugurado.

O autor da Carta nos exorta a não sermos meros ouvintes da Palavra, mas praticantes da mesma, não nos enganando a nós mesmos.

A Palavra de Deus quer encontrar no coração humano a frutuosa acolhida, portanto, há um itinerário da Palavra: acolher, acreditar, anunciar e testemunhar a Palavra de Deus, que nos garante vida e felicidade plena.

Voltando à passagem do Evangelho, Jesus nos convida à pureza de coração. Seus discípulos não podem  apenas “parecer”, mas é preciso “ser” sinal vivo da presença de Deus. Não basta parecer justo, tem que ser justo; não basta parecer piedoso, tem que ser piedoso; não basta parecer verdadeiro, tem que ser verdadeiro...

Mais que uma “carapaça exterior” é preciso de uma “coluna vertebral interior”. A religião não vive de aparências, e exige de cada crente uma sólida e forte estrutura para suportar o peso da cruz, a coragem do testemunho, a coerência de vida, o esforço contínuo de conversão, a solidariedade constante, caminho que não tem volta e tem apenas um destino: o céu.

Os mestres da Lei e os fariseus tinham aproximadamente 613 preceitos a cumprir (365 proibições e 248 prescrições). O povo simples, por não os conhecer, nem os praticar, era considerado impuro, e este será um tema de grande polêmica entre Jesus e os fariseus em vários momentos.

Para Jesus importa a pureza interior, a pureza do coração que é a sede de todos os sentimentos, desejos, pensamentos, projetos e decisões.

Jesus afirma: o que torna o homem impuro é o que sai de seu coração (apresenta uma longa lista) e não o que entra pela sua boca.

É do coração humano puro que nasce uma autêntica religião, a religião do coração, da intimidade profunda com Deus.

As Leis da Igreja não têm fins em si mesmas, mas garantem a nossa comunhão com Deus e com o próximo, na concretização do Reino.

É preciso que demos mais tempo à Palavra de Deus, em frutuosa Oração e reflexão que fará brotar novas atitudes e compromissos com Deus e o Seu Projeto para a Humanidade.

É sempre tempo de cultivar maior intimidade e compromisso com a Palavra de Deus.

Cristãos de coração

                                                                        

Cristãos de coração

Ouvimos a passagem do Evangelho de Marcos (Mc 7,1-13) proclamado na terça-feira da 5ª semana do Tempo Comum, que nos convida a refletir sobre como ser cristãos de coração e não apenas cristãos de palavras.

Um povo que honra a Deus apenas com os lábios, mas não o faz com o coração, encontra-se longe d’Ele, como dissera o Profeta Isaías, e o próprio Jesus.

Somos de palavras quando vivemos uma religiosidade de mero cumprimento de preceitos, normas e rituais, como se eles em si já nos alcançassem resultados, respostas, soluções sem maiores compromissos, como que num ritual de magia com matizes de superstição.

Quando somos cristãos de coração, amamos a Deus sobre todas as coisas, com nossa alma, força e entendimento, e este amor se torna concreto quando o expressamos também em relação ao nosso próximo.

Cristãos de coração, somos quando temos consciência de que somos templos de Deus, e que Ele também habita no nosso próximo, e assim nos reconhecemos santuários onde Deus habita, porque também criados por Ele, obra de Suas mãos, o sopro de vida d’Ele acolhido, feitos à Sua imagem e semelhança.

Cristãos de coração, seremos sempre se a nossa vida for marcada pela misericórdia e as obras que a expressem, tanto corporais como as espirituais.

Cristãos de coração, seremos, quando soubermos valorizar a pessoa humana e não medirmos esforços na promoção de sua dignidade, desde a concepção até o seu declínio natural.

E o seremos também quando soubermos falar menos, agir mais, e se for preciso falar ou calar, que seja  apenas o necessário, e para isto, precisamos de sobriedade e da sabedoria que nos vem do  Espírito.

Cristãos de coração, e não de palavras, não separa o culto celebrado da vida, ao contrário, celebra o que vive, e empenha-se em viver cada vez mais o que celebrou no Altar, encurtando a distância entre a fé e a vida, o culto e o cotidiano.

Cristãos de coração procuram viver inseparavelmente as virtudes divinas da fé, da esperança e da caridade, esperando, renovando e vivendo compromissos, na espera de um novo céu e de uma nova terra, aguardando ansiosamente a vinda gloriosa do Senhor, mas sem fazer da sua religião uma evasão, uma alienação do tempo presente, como uma fuga para o lugar nenhum.

Cristãos de coração vivem a solidariedade e a generosidade, com irrenunciáveis e inadiáveis compromissos fraternos, iluminados pela Palavra Divina, revigorados pela Santa Eucaristia, Alimento da caminhada e Pão de Eternidade.

Deus quer tão apenas nossa resposta de amor

                                                 

Deus quer tão apenas nossa resposta de amor

Voltemo-nos para a passagem do Livro de Gênesis (Gn 22,1-19), em que retrata o sacrifício de Abraão oferecendo seu filho único, Isaac, e sejamos enriquecidos pela Homilia do Presbítero Orígenes (séc. III).

Abraão tomou a lenha do sacrifício e colocou-a sobre os ombros de seu filho Isaac. Tomou na mão o fogo e o cutelo, e foram ambos juntos.

Ora, Isaac, carregando a lenha para o próprio holocausto, é uma figura de Cristo carregando Sua Cruz. No entanto levar a lenha para o holocausto é ofício de sacerdote.

Torna-se então ele mesmo a vítima e o sacerdote. O que se segue: e foram ambos juntos refere-se a essa realidade, porque Abraão, como sacrificador, leva o fogo e o cutelo; mas Isaac não vai atrás e sim a seu lado, para que se veja que, juntamente com ele, exerce igual sacerdócio.

E depois? Disse Isaac a seu pai Abraão: Pai! Neste momento, uma palavra assim parece uma tentação. Como terá abalado o coração paterno esta palavra do filho que ia ser imolado!

Mesmo endurecido pela fé, Abraão responde com voz branda: Que queres, filho? E ele: Vejo o fogo e a lenha, mas onde está a ovelha para o holocausto? Abraão respondeu: Deus providenciará uma ovelha para o holocausto, meu filho.

Impressiona-me a resposta cuidadosa e prudente de Abraão. Não sei o que via em espírito, pois responde olhando para o futuro e não para o presente: Deus mesmo providenciará uma ovelha. Assim fala do futuro ao filho que indaga pelo presente. O Senhor providenciava para Si um cordeiro em Cristo.

Abraão estendeu a mão para pegar a faca e imolar o filho. O Anjo do Senhor chamou-o do céu, dizendo: Abraão, Abraão. Respondeu ele: Eis-me aqui. Tornou o Anjo: Não toques no menino nem lhe faças nenhum mal. Agora sei que temes a Deus.

Comparemos estas palavras com as do Apóstolo a respeito de Deus: Ele não poupou Seu Filho, mas entregou-O por todos nós. Vede Deus rivalizando com os homens em magnífica generosidade. Abraão, mortal, ofereceu a Deus o filho mortal, que não morreria então. Deus entregou à morte por todos o Filho imortal.

Olhando Abraão para trás, viu um carneiro preso pelos chifres entre os espinhos. Dissemos acima, creio, que Isaac figurava Cristo e, no entanto, também o carneiro parece figurar Cristo.

É muito importante ver como ambos se relacionam a Cristo: Isaac que não foi morto e o carneiro que o foi. Cristo é o Verbo de Deus, mas o Verbo Se fez carne.

Padece, portanto, Cristo, mas, na carne; morre enquanto homem do qual o carneiro é figura; já dizia João: Eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.

O Verbo, porém, permanece incorrupto, isto é, Cristo segundo o espírito; a imagem deste é Isaac. Por isto Ele é vítima e também pontífice segundo o Espírito. Pois aquele que oferece a vítima ao Pai, segundo a carne, este mesmo é oferecido no altar da Cruz.”

Roguemos a Deus que tenhamos a mesma coragem e fidelidade de Abraão, e também ofereçamos a Deus o melhor de nós para que o Seu Reino aconteça.

Somente assim daremos sentido à nossa vida, nosso sal não perderá o seu sabor, e a nossa luz resplandecerá nas sombras e nos momentos obscuros que tenhamos que enfrentar, e a luz de Deus comunicar.

Cremos que Deus está sempre pronto a dar o Seu Filho em Alimento na Eucaristia, para nos fortalecer no carregar de nossa cruz.

Ontem como hoje, Deus não cessa de nos amar, pois é próprio de Seu amor a eternidade: Deus nos amou ontem, hoje e sempre. Que o mesmo o façamos, com toda nossa força, alma, coração e entendimento.

O Amor de Deus pede de nós tão apenas amor e não sacrifícios: “Quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9, 13), confirmou-nos o Seu Filho Amado. 

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