segunda-feira, 11 de novembro de 2024

O Senhor caminha conosco

O Senhor caminha conosco

Senhor, Vós sois nosso companheiro na estrada,
Seja ela fácil ou não, com pedras ou espinhos.

Senhor, Vós que sois nosso companheiro na estrada,
Aquecei nossos corações com a Vossa Palavra.

Senhor, Vós que sois nosso companheiro na estrada,
Em tempos de provação, fortalecei nossa fé.

Senhor, Vós que sois nosso companheiro na estrada,
Nos tempos sombrios que vivemos, reanimai nossa esperança.

Senhor, Vós que sois nosso companheiro na estrada,
Em tempos de partilha e solidariedade, ensinai-nos a santa caridade.

Senhor, Vós sois nosso companheiro na estrada,
Sentimos Vossa presença caminhando com a nossa comunidade.

Senhor, Vós sois nosso companheiro na estrada,
Vos reconhecemos nas Escrituras e no partir do Pão.

Senhor, Vós sois nosso companheiro na estrada,
Ficai conosco, porque a tarde cai.

Senhor, Vós que sois nosso companheiro na estrada,
Refazei-nos do cansaço para novo caminhar.

Senhor, Vós que sois nosso companheiro na estrada,
Abri nossos olhos, aquecei nosso coração.

Senhor, Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo, sois nosso companheiro na estrada, ontem, hoje e sempre. 
Amém. Aleluia! 

PS: passagem do Evangelho de Lucas (Lc 24,14-35)

A exigência do perdão

                                                             

A exigência do perdão

“Prestai atenção: se o teu irmão pecar, repreende-o.
Se ele se converter, perdoa-lhe.” (Lc 17,3) 

Na segunda-feira, da 32ª Semana do Tempo Comum, ouvimos a passagem do Evangelho, que nos convida a refletir sobre a misericórdia expressa no perdão vivido, consistindo numa das maiores exigências da fé que professamos (Lc 17, 1-6).

Somos eternos aprendizes da misericórdia divina, que é um dos valores evangélicos mais importantes, e que nos interpela constantemente.

Se fé no Senhor professamos, somos capazes de perdoar verdadeiramente, porque somente quem acredita no Deus misericordioso, com a experiência de também por Ele ser amado e perdoado, se capacita para agir verdadeiramente com misericórdia, na prática do perdão. Tão somente amados e perdoados podemos amar e ser amados.

Mas é preciso que compreendamos o perdão não como esquecimento, o deixar de lado, numa aparência de que nada mais se sente e que nenhuma cicatriz tenha deixado na alma.

O verdadeiro perdão não pode negar a verdade nem a responsabilidade da pessoa diante dos pecados cometidos. Neste sentido, perdoar é muito mais que não querer a punição para quem é culpado, mas exige que se criem reais condições para que o pecador se reerga com possibilidade de reparação do mal realizado.

Aprendizes da misericórdia divina o somos, até o último suspiro de nossa existência, para que então sejamos misericordiosos como o Pai, entendendo a misericórdia,  antes de tudo, na capacidade de colaboração com a Salvação das pessoas, concedendo o perdão, quando necessário.

Com isto, evidencia-se que Deus abomina o pecado, mas quer que o pecador se converta e viva. Porém, o perdão recebido exige novas posturas, com novos pensamentos, sentimentos e atitudes.

Deste modo, para que mal e o pecado não floresçam, o perdão divino jamais pode ser compreendido com sinônimo de conivência e permissividade.

O perdão vivido faz nascer a semente da vida, que não pode morrer no coração do pecador que se propõe, contrito, por num caminho de contínua conversão e uma nova vida, porque experimentou a realidade do amor e do perdão divinos que nos libertam das amarras e da escravidão do pecado, e nos faz verdadeiramente livres.

“Entranhas de misericórdia”

                                                    

                              “Entranhas de misericórdia”

Das Cartas de Sulpício Severo, temos um breve relato deste luminar da fé, o Bispo São Martinho (Séc. V); um homem pobre e humilde, cuja memória celebra-se no dia 11 de novembro.

“Martinho soube com muita antecedência o dia da sua morte e comunicou aos irmãos estar iminente a dissolução de seu corpo.

Entretanto, surgiu a necessidade de ir à Diocese de Candax, pois os eclesiásticos desta Igreja estavam em discórdia. Desejando restabelecer a paz, embora não ignorasse o fim de seus dias, não recusou partir, julgando que seria um excelente fecho de suas obras deixar a Igreja em paz.

Demorou-se por algum tempo na aldeia e na Igreja aonde fora, e a paz voltou para os clérigos. Quando já pensava em regressar ao mosteiro, começaram de repente a faltar-lhe as forças e, chamando os irmãos, disse-lhes que ia morrer.

Diante disto todos se entristeceram grandemente, chorando e dizendo, a uma só voz: 'Por que, pai, nos abandonas? A quem nos entregas, desolados? Lobos vorazes invadem teu rebanho; quem, ferido o pastor, nos livrará de seus dentes?

Sabemos que desejas a Cristo, mas teus prêmios já estão seguros e não diminuirão com o adiamento! Tem compaixão de nós, a quem desamparas!'

Comovido com estas lágrimas, ele que sempre possuíra entranhas de misericórdia, também chorou, segundo contam.

Voltando-se então para o Senhor, respondeu aos queixosos somente com estas palavras: 'Senhor, se ainda sou necessário a Teu povo, não recuso o trabalho. Que se faça Tua vontade'.

Que homem incomparável! O trabalho não o vence, a morte não o vencerá! Ele, que não se inclinava para nenhum dos lados, não temeria morrer e nem recusaria viver!

No entanto, olhos e mãos sempre erguidos para o céu, não abandonava a Oração o espírito invicto; e quando os Presbíteros, que se haviam reunido junto dele, lhe pediram aliviar o frágil corpo, virando-o para o lado, disse:

'Deixai-me, deixai-me, irmãos, olhar para o céu de preferência à terra, para que o espírito já se dirija ao caminho que o levará ao Senhor'.

Dito isto, viu o demônio ali perto. 'Por que estás aqui, fera nefasta? Nada em mim, ó cruel, encontrarás! O seio de Abraão me acolhe'.

Com estas palavras entregou o espírito ao céu. Martinho, feliz, é recebido no seio de Abraão; Martinho, pobre e humilde, entra rico no céu".

Somente um homem assim, um pastor com “entranhas de misericórdia”, poderia ser um grande pacificador.

Somente com entranhas de misericórdia:

- cuida do rebanho não por obrigação externa, mas como expressão de amor pelo Bom Pastor, que quer uma resposta de amor para o cuidado do rebanho;

- envolvidos pelo Amor de Deus, que não se vê, olha para a morte com olhar que a transcende, e por ela passando, um encontro com Deus, Amor pleno e eterno, no céu, junto a todos os que nos precederam, “no seio de Abraão”;

- o que aparentemente é impossível pode ser alcançado, como fez Maria ao conceber o Verbo pela ação do Espírito Santo de Deus, e na esterilidade e idade avançada de Isabel também se viu nascer o maior de todos os Profetas;

- é que não recuaremos do combate da fé, de tal modo que ela será solificada e enraizada na Divina Fonte do Amor, Cristo Jesus.

Partícipes do Banquete do Amor, a Eucaristia, que nosso coração seja  como o coração de São Martinho, com entranhas de misericórdia. Pois, também nos falou o Senhor: “Sede misericordiosos, como vosso Deus é misericordioso!” (Lc 6,36).

Em poucas palavras...

                                                       


A vida do cristão

“A fé, a verdade e a esperança devem ser alimentadas e caracterizadas por comportamentos, atitudes que, na fidelidade à doutrina e ao ensinamento transmitido, manifestem também exteriormente o rosto da fé.

A vida do cristão não é uma vida tomada ao de leve, que se adapta ao comportamento comum ou àquilo que é mais cômodo, mas é uma vida que compromete continuamente a pessoa na coragem da escolha da fé.” (1)

 

 

(1)Lecionário Comentado – Tempo Comum – Volume II – Editora Paulus – Lisboa – 2011 – pág. 763 

Comentário sobre a passagem da Leitura: Tt 1,1-9

 

Em poucas palavras...

 


A generosidade é plural

“Notemos que a generosidade, como todas as virtudes, é plural, tanto em seu conteúdo como nos nomes que lhe emprestamos ou que servem para designá-la.

Somada à coragem, pode ser heroísmo.

Somada à justiça, faz-se equidade.

Somada à compaixão, torna-se benevolência.

Somada à misericórdia, vira indulgência.

Mas seu mais belo nome é seu segredo, que todos conhecem: somada à doçura, ela se chama bondade” (1)

 

 (1)André Comte Sponville

 

 

Testemunhemos a Deus pelas obras

 


Testemunhemos a Deus pelas obras

Sejamos enriquecidos por uma homilia de um autor do segundo século.

“O Senhor usou para conosco de uma misericórdia tão grande que, primeiramente, nós, seres vivos, não sacrificássemos a deuses mortos nem os adorássemos, e levando-nos por Cristo ao conhecimento do Pai da verdade. E qual é o conhecimento que nos conduz a Ele? Não é acaso não negar Aquele por quem O conhecemos? Ele mesmo declarou: Ao que der testemunho de mim, Eu darei testemunho dele diante do Pai (cf. Lc 12,8). É este o nosso prêmio: testemunhar Aquele por quem fomos salvos.

Como O testemunharemos? Fazendo o que diz, sem desprezar Seus mandamentos, honrando-O não com os lábios só, mas de todo o coração e inteligência. Pois Isaías disse: Este povo me honra com os lábios, seu coração, porém, está longe de mim (Is 29,13).

Portanto, não nos contentemos em chamá-Lo de Senhor; isto não nos salvará. São Suas as Palavras: Não é quem me diz Senhor, Senhor, que se salvará, mas quem pratica a justiça (cf. Mt 7,21). Por isso, irmãos, demos testemunho pelas obras: amemo-nos mutuamente, não cometamos adultério, não nos difamemos uns aos outros nem nos invejemos, mas vivamos na continência, na misericórdia, na bondade.

E sejamos movidos pela mútua compaixão, não pela cobiça. Confessemo-lo por estas obras, não pelas contrárias. Não temos de temer os homens, mas a Deus. Porque o Senhor disse aos que assim procediam: Se estiverdes comigo, reunidos em meu seio e não cumprirdes meus mandamentos, Eu vos repelirei e direi: Afastai-vos de mim, não sei donde sois, operários da iniquidade (cf. Mt 7,23; Lc 13,27).

Por conseguinte, irmãos meus, lutemos, sabendo que o combate está em nossas mãos. Muitos se entregam a lutas corruptíveis, mas somente são coroados aqueles que mais tiverem lutado e combatido gloriosamente.

Lutemos, pois, também nós, para sermos todos coroados. Para isto, corramos pelo caminho reto, pelo combate incorruptível. Naveguemos em grande número para Ele e pelejemos, a fim de obter a coroa. Se não pudermos todos ser coroados, que ao menos dela nos aproximemos. Convém-nos saber que se alguém se entrega a um combate corruptível, mas é surpreendido como corruptor, é flagelado, afastado e expulso do estádio.

Que vos parece? Que deverá padecer quem corrompe o combate da incorrupção? Sobre aqueles que não guardam o caráter, se diz: Seu verme não morre, seu fogo não se extingue e serão dados em espetáculo a toda carne (Is 66,24).”

Somos exortados a testemunhar a Deus pelas obras, e não apenas pelas palavras.

Supliquemos ao Senhor que nos conceda a sabedoria do Espírito Santo, para nos iluminar e nos conduzir, sobretudo nas situações mais adversas no bom combate da fé, para que nosso testemunho se dê pelas obras, sobretudo quando nos empenhamos em viver a proposta que Ele nos apresentou no monte: as Bem-Aventuranças (Mt 5,1-12).

Com a Sabedoria divina saibamos buscar sempre as coisas do alto onde Deus habita, na fidelidade ao Bem Maior, Deus, usando as coisas que passam (bens menores), e abraçando as que não passam (nosso Bem Maior).

Nisto consiste o caminho de santidade, a que todos somos chamados e vocacionados: testemunhar uma fé inquebrantável em Deus, mantendo viva a nossa esperança, acompanhada de inflamada e generosa caridade. Amém.


PS: Oportuno para reflexão do Evangelho de Lucas (Lc 16,1-8).

domingo, 10 de novembro de 2024

Conversa ao pé do fogão

                                           

Conversa ao pé do fogão

A lenha apanhada com todo carinho e colocada de modo que facilitasse o seu acender. O sopro suave daquelas viúvas fez com que imediatamente acendesse o fogo. 

Chaleira com água pela metade, bule preparado e o mancebo com seu coador esperando a água a ser vertida para coar aquele café torrado e moído pelas suas próprias mãos.

Abaixo do fogão, o forno continha um pão já assado, pronto para ser comido. Pão ou bolo de fubá, não sei bem ao certo, não dava para ver, mas um dia havia comentado que o cheiro exalava deliciosamente daquela casa tão simples, tão singela, na encosta de um morro.

Quem são estas viúvas ali conversando como que num entoar de canto de louvor, tamanho entusiasmo com que são tomadas na troca de palavras e de olhares, multiplicação de gestos tão suaves que não apenas atingem o olhar, mas como que tocam, marcam o coração de quem vê?

São as viúvas mencionadas incontáveis vezes na Sagrada Escritura, (cf. 1Rs 17,10-16) ; Mc 12,38-44).

Muito mais do que duas viúvas, refere-se àquelas pessoas que nada retêm para si, e oferecem a Deus e ao próximo o melhor que possuem.

Que acolhem os profetas, como a presença e visita do próprio Deus.

Que confiam na providência de Deus, que rompem o limite do intransponível.

Que renovam a esperança, onde já não mais parecia possível, porque com Deus estão.

Que têm olhar ultrapassando o horizonte da morte com sinais luminosos de vida.

Que não esperam nada em troca quando oferecem o melhor de si para que outro fique bem.

Que se sentem enriquecidos quando dão de sua pobreza, que por amor se tornam riqueza.

Que oferecem o máximo que possuem ainda que para o olhar humano nada pareça.

Que dão até mesmo o que possuem para viver, na grandeza de generosidade.

Que vivem a generosidade como expressão do amor e da alegria, sem coerção.

Que pautam a existência pelo despojamento, entrega, doação, radicalidade de amor.

Que sentem o coração palpitar incessantemente de alegria, porque sabem que quem em Deus confia, nada falta: abundância, vida plena. Aleluia!

Evidentemente que elas nunca se encontravam como tal descrito, mas as encontramos em nossas comunidades: mulheres e também homens anônimos multiplicando a história de gratidão, graça e gratuidade.

Comprometidos e comprometidas nas pastorais, serviços e movimentos; pessoas que não se calam e nem se curvam diante da ditadura da economia homicida da acumulação, da exploração, do consumo, das necessidades ilusórias criadas.

Em tantos lares, ensinando seus filhos que a vida é bela, não porque fazemos grandes coisas dignas de “guiness book”, mas porque é feita de pequenos gestos de amor, que se tornam deliciosas e esperadas páginas no maior livro: O Livro da Vida, do qual Deus é o Autor.

Aproximando-se mais um fim de ano litúrgico, avaliemos o quanto de amor, generosidade temos vivido.

Que nos silenciemos e continuemos contemplando a conversa daquelas viúvas. E sem réplicas inúteis, buscando diretamente os textos sagrados, deixemo-nos questionar por exemplos de tão belos perenes da história da humanidade.

Quanto podemos com elas aprender para que possamos o mundo mudar, transformar, sendo sal, fermento e luz.

Vamos tomar um café com elas, comer um pedaço de bolo ou pão assado, ou nada comer e beber, mas no caminho de santidade nos colocarmos e a conversão buscarmos, sem jamais desistirmos.

Que nos convertamos, vendo tão belos testemunhos à alegria do pão partilhado, pois somente este é que sacia a nossa fome. Somente a água partilhada é que sacia a sede que possuímos...

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4º Bispo da Diocese de Guanhães - MG