quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

“Amor Líquido” (Capítulo I)

                                                               


“Amor Líquido” 

“Apaixonar-se e desapaixonar-se” – capítulo I

Bauman, neste capítulo, nos ajuda a refletir sobre a liquidez do amor, no líquido mundo moderno não há lugar para relações duradouras:

 “Afinal, a definição romântica do amor como ‘até que a morte nos separe’ está decididamente fora de moda, tendo deixado para trás seu tempo de vida útil em função da radical alteração das estruturas de parentesco, às quais costumava servir e de onde extraía seu vigor e sua valorização...

Em vez de haver mais pessoas atingindo mais vezes os elevados padrões do amor, esses padrões foram baixados. Como resultado, o conjunto de experiências às quais nos referimos com a palavra amor expandiu-se muito. Noites avulsas de sexo são referidas pelo codinome de ‘fazer amor’” (p. 19).

Ao falar da natureza do amor, afirma que o amor é afim à transcendência; possui impulso criativo e como tal carregado de riscos, pois o fim de uma criação nunca é certo. Também porque em todo amor há pelo menos dois seres, cada qual a grande incógnita na equação do outro (p.21).

Amar significa abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo, numa amálgama irreversível.

Deste modo, esta abertura é a admissão a liberdade no ser, uma liberdade que se incorpora no outro, o companheiro no amor.

Citando Erich Fromm, diz – “A satisfação no amor individual não pode ser atingida... sem a humildade, a coragem, a fé e a disciplina verdadeiras” (p.21)porque “sem humildade e coragem não há amor.

Essas duas qualidades são exigidas, em escalas enormes e contínuas, quando se ingressa numa terra inexplorada e não mapeada. É a esse território que o amor conduz ao se instalar entre dois ou mais seres humanos” (p. 22).

Para Bauman, o amor pode ser, e frequentemente é, tão atemorizante quanto a morte. A diferença é que o amor encobre essa verdade com a comoção do desejo e do excitamento:

“Assim, a tentação de apaixonar-se é grande e poderosa, mas também o é a atração de escapar. E o fascínio da procura de uma rosa sem espinhos nunca está muito longe, e é sempre difícil de resistir” (p. 23).

Neste sentido, o amor é a vontade de cuidar, e de preservar o objeto amado: “Um impulso centrífugo, ao contrário do centrípeto desejo. Um impulso de expandir-se, ir além, alcançar o que ‘está lá fora’. Ingerir, absorver e assimilar o sujeito no objeto, e não vice-versa, como no caso do desejo.

Amar é contribuir para o mundo, cada contribuição sendo o traço vivo do eu que ama. No amor, o eu é, pedaço por pedaço, transplantado par ao mundo.

‘’O eu que ama se expande doando-se ao objeto amado. Amar diz respeito à autossobrevivência através da alteridade. E assim o amor significa um estímulo a proteger, alimentar, abrigar; e também à carícia, ao afago e ao mimo, ou a -ciumentamente – guardar, cercar, encarcerar. Amar significa estar a serviço, colocar-se à disposição, aguardar a ordem. Mas também pode significar expropriar e assumir a responsabilidade. Domínio mediante renúncia, sacrifício resultante em exaltação. O amor é irmão xifópago da sede de poder – nenhum dos dois sobreviveria à separação” (p. 24).

Mas no líquido mundo moderno, que detesta tudo o que é sólido e durável, tudo que não se ajusta ao uso instantâneo, não há lugar para amor duradouro, sólido, como nos fará compreender nas páginas seguintes ao abordar novas formas de relacionamentos como nas redes virtuais, “chats”, em que se entra e sai quando se deseja, mantem-se enquanto se quiser determinado relacionamento; relacionamentos como “livro de bolso” (relações que são guardadas no “bolso’ e podemos nos utilizar delas quando for preciso); CSS – casais semisseparados.

Permite-nos ver como os relacionamentos refletem o líquido mundo moderno, com relações descartáveis, liquefazendo a solidez também do amor, daí a consequência da fragilização dos laços humanos.

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