quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

“Amor Líquido” (Capítulo III)


“Amor Líquido” 

“Sobre a dificuldade de amar o próximo” – capítulo III

É retratado neste capítulo a dificuldade de estabelecer relacionamentos duradouros, a fluidez nas relações, o medo do apego nas relações, as relações virtuais e os conceitos de mixofobia e mixofilia em tempos de modernidade líquida.

Como tudo isto pode ser entendido à luz do preceito do amor ao próximo que é o ato de origem da humanidade, pois “todas as outras rotinas da coabitação humana, assim como suas ordens pré-estabelecidas ou retrospectivamente descobertas, são apenas uma lista (sempre incompleta) de notas de rodapé a esse preceito. Se ele fosse ignorado ou abandonado, não haveria ninguém para fazer essa lista ou refletir sobre sua incompletude” (p. 98).

Bauman acentua a necessidade que possuímos de ser amados – “O amor-próprio é construído a partir do amor que nos é oferecido por outros. Se na sua construção forem usados substitutos, eles devem parecer cópias, embora fraudulentas desse amor. Outros devem nos amar primeiro para que comecemos a amar a nós mesmos” (p. 100).

Trona-se inconcebível qualquer violação da negação dignidade humana, pois “aquele que busca a sobrevivência assassinando a humanidade de outros seres humanos sobreviver à morte de sua própria humanidade”, e ainda, “a negação da dignidade humana deprecia o valor de qualquer causa que necessite dessa negação para afirmar a si mesma” (p. 103).

Cita Ludwig Wittgenstei, que observou em meio à segunda Guerra: “Nenhum clamor de tormento pode ser maior que o clamor de um homem. Ou mais uma vez, ‘nenhum’ tormento pode ser maior do que aquilo que um único ser humano pode sofrer. O planeta inteiro não pode sofrer tormento maior do que uma ‘única’ alma” (p. 102).

Para Bauman, “o valor, o mais precioso dos valores humanos, o atributo ‘sine qua non’ de humanidade, é uma vida de dignidade, não a sobrevivência a qualquer custo” (p. 105).

Outra questão que Bauman nos apresenta neste líquido mundo moderno, é o medo do outro, que se apresenta como perigo, daí a construção de “bunkers”, condomínios cada vez mais fechados com segurança (cf. p. 120, p. 130-133 refere-se a São Paulo).

Quanto às cidades, assim resume: “As cidades se tornaram depósitos de lixo para problemas gerados globalmente. Os moradores das cidades e seus representantes eleitos tendem a ser confrontados com uma tarefa que nem por exagero de imaginação seriam capazes de cumprir: a de encontrar soluções locais para contradições globais” (p. 124).

Finalmente a cidade atrai e repele, numa ambígua experiência: enquanto mixofobia se tem medo de se misturar, do diferente, do outro. Enquanto mixofilia, cria possibilidades do encontro:

“A cidade favorece a mixofobia do mesmo modo e a mesmo tempo que a mixofilia. A vida urbana é intrínseca e irreparavelmente ambivalente” (p. 135).

Deste modo há uma coexistência de ambas em toda cidade e dentro de cada um de seus habitantes – “Trata-se reconhecidamente de uma coexistência problemática, cheia de som e fúria, embora signifique muito para as pessoas que se encontram na ponta receptiva da ambivalência líquido-moderna” (p. 136).

Daqui decorre a necessidade de criação de espaços mixófilos, em que todas as categorias de moradores seriam tentadas a frequentar e  compartilhar de modo regular e consciente (p.137).

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