A lenha apanhada com todo carinho e colocada de modo que facilitasse o seu acender. O sopro suave daquelas viúvas fez com que imediatamente acendesse o fogo.
Chaleira com água pela metade, bule preparado e o mancebo com seu coador esperando a água a ser vertida para coar aquele café torrado e moído pelas suas próprias mãos.
Abaixo do fogão, o forno continha um pão já assado, pronto para ser comido. Pão ou bolo de fubá, não sei bem ao certo, não dava para ver, mas um dia havia comentado que o cheiro exalava deliciosamente daquela casa tão simples, tão singela, na encosta de um morro.
Quem são estas viúvas ali conversando como que num entoar de canto de louvor, tamanho entusiasmo com que são tomadas na troca de palavras e de olhares, multiplicação de gestos tão suaves que não apenas atingem o olhar, mas como que tocam, marcam o coração de quem vê?
São as viúvas mencionadas incontáveis vezes na Sagrada Escritura, (cf. 1Rs 17,10-16) ; Mc 12,38-44).
Muito mais do que duas viúvas, refere-se àquelas pessoas que nada retêm para si, e oferecem a Deus e ao próximo o melhor que possuem.
Que acolhem os profetas, como a presença e visita do próprio Deus.
Que confiam na providência de Deus, que rompem o limite do intransponível.
Que renovam a esperança, onde já não mais parecia possível, porque com Deus estão.
Que têm olhar ultrapassando o horizonte da morte com sinais luminosos de vida.
Que não esperam nada em troca quando oferecem o melhor de si para que outro fique bem.
Que se sentem enriquecidos quando dão de sua pobreza, que por amor se tornam riqueza.
Que oferecem o máximo que possuem ainda que para o olhar humano nada pareça.
Que dão até mesmo o que possuem para viver, na grandeza de generosidade.
Que vivem a generosidade como expressão do amor e da alegria, sem coerção.
Que pautam a existência pelo despojamento, entrega, doação, radicalidade de amor.
Que sentem o coração palpitar incessantemente de alegria, porque sabem que quem em Deus confia, nada falta: abundância, vida plena. Aleluia!
Evidentemente que elas nunca se encontravam como tal descrito, mas as encontramos em nossas comunidades: mulheres e também homens anônimos multiplicando a história de gratidão, graça e gratuidade.
Comprometidos e comprometidas nas pastorais, serviços e movimentos; pessoas que não se calam e nem se curvam diante da ditadura da economia homicida da acumulação, da exploração, do consumo, das necessidades ilusórias criadas.
Em tantos lares, ensinando seus filhos que a vida é bela, não porque fazemos grandes coisas dignas de “guiness book”, mas porque é feita de pequenos gestos de amor, que se tornam deliciosas e esperadas páginas no maior livro: O Livro da Vida, do qual Deus é o Autor.
Aproximando-se mais um fim de ano litúrgico, avaliemos o quanto de amor, generosidade temos vivido.
Que nos silenciemos e continuemos contemplando a conversa daquelas viúvas. E sem réplicas inúteis, buscando diretamente os textos sagrados, deixemo-nos questionar por exemplos de tão belos perenes da história da humanidade.
Quanto podemos com elas aprender para que possamos o mundo mudar, transformar, sendo sal, fermento e luz.
Vamos tomar um café com elas, comer um pedaço de bolo ou pão assado, ou nada comer e beber, mas no caminho de santidade nos colocarmos e a conversão buscarmos, sem jamais desistirmos.
Que nos convertamos, vendo tão belos testemunhos à alegria do pão partilhado, pois somente este é que sacia a nossa fome. Somente a água partilhada é que sacia a sede que possuímos...
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